segunda-feira, 30 de julho de 2012

Entre 'estadias' e 'estadas'... fico com a oferta

   Em período de férias, e mesmo antes, os anúncios publicitários das agências de viagens só falam em 'estadias'...

  Há uns tempos, conforme o atesta o Dicionário de Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo (1996), seria caso para dizer que a viagem era de barco e que a paragem (ou a 'parada', como dizem os nossos irmãos brasileiros) seria aquela que o capitão do barco determinasse em certo porto ou local de permanência.
    Poderia ainda ser o caso de a mobilidade conseguir-se num qualquer tipo de veículo e o direito (a pagar) para permanecer num determinado local.
  Para qualquer outro contexto, o termo era mesmo 'estada', nomeadamente o que dava conta de uma pessoa se manter em permanência em qualquer tempo / lugar.
   Hoje, 'estadia' é termo comum, para não dizer mesmo que 'estada' surge preterido no uso. Os dicionários lá contemplam ambas as entradas, chegando o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa () e outros de uso mais corrente, a tomar a 'estadia' como sinónimo de 'estada' e vice-versa  nas avançadas acepções numéricas contempladas nas devidas entradas.
     Mais um sinal de evolução da língua, de como esta não é estável no tempo (como estratégia de sobrevivência). Entre estádios de deriva, o tempo dirá qual a forma que o uso fará vingar.

    Para não ser acusado de purista da língua, concedo na utilização dos termos como convergentes, mas lá que os distingo no meu uso não tenho dúvida (prova de que sou do século passado). Daí que prefira as ofertas em 'estadas' superiores a qualquer número de noites. 

domingo, 29 de julho de 2012

Venha o que vier...

      Duas vozes, um filme, uma história para afirmação de um amor eterno.

      Moulin Rouge (2001) é o título de um filme, um musical realizado por Baz Luhrmann onde se pode encontrar uma composição com um dos mais belos duetos, nas vozes de Nicole Kidman (no papel de Satine) e Ewan McGregor (no de Christian): 'Come what may'.


     Composto por David Baervald para o filme 'Romeu e Julieta', o trecho acabaria por ser reescrito para um novo filme, também com cores trágicas na intriga. A letra faz lembrar Pessoa e a frase que pronunciou no fim da vida: "I know not what tomorrow will bring". Tem, contudo, origem numa outra referência da literatura: a do texto shakespeariano intitulado Macbeth

        COME WHAT MAY

Never knew I could feel like this
Like I've never seen the sky before
Want to vanish inside your kiss
Everyday I love you more and more


Listen to my heart, can you hear it sings
Telling me to give you everything
Seasons may change winter to spring
But I love you until the end of time

Come what may, come what may
I will love you until my dying day

Suddenly the world seems such a perfect place
Suddenly it moves with such a perfect grace
Suddenly my life doesn't seem such a waste
It all revolves around you

And there's no mountain too high no river too wide
Sing out this song and I'll be there by your side
Storm clouds may gather and stars may collide
But I love you until the end of time

Come what may, come what may
I will love you until my dying day
Oh come what may, come what may
I will love you

Suddenly the world seems such a perfect place...

Come what may, come what may
I will love you until my dying day


    Num futuro composto do que haja de mais desconhecido, o título da música sublinha uma certeza: a de um amor assumido como eterno, por mais trágico que se revele o destino (assim dele já fiz referência noutros apontamentos).

   Acreditando ou não na sua existência, dedicar-lhe letras de canção e cantá-lo resultam em experiências dignas de relembrança.
      

sábado, 28 de julho de 2012

'So british' ou 'too british'

     Noite para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, em Londres.

   A máxima do 'mais rápido, mais alto, mais forte' retoma-se em ano de jogos olímpicos, desta feita realizados em Londres. O lema, instituído desde 1924 por Pierre de Coubertin nos jogos da era moderna, apoia-se nas palavras latinas 'Citius, Altius, Fortius'.
    O espírito universal comunitário, livre de credos ou raças, revê-se nos cinco anéis olímpicos entrelaçados, representando os cinco continentes que se unem numa efeméride desportiva, realizada de quatro em quatro anos, para expressão dos limites psicológicos e físicos a que se dedicam muitos atletas. A música oficial de 2012 ("Survival"), interpretada pelos Muse, explora esses limites, ecoando acordes de 'We are the Champions' dos Queen, para não falar mesmo da versatilidade de registos sonoros e vocálicos representados na composição.

Vídeoclipe oficial com a música dos Muse

   Quanto à cerimónia de abertura, revelou-se tipicamente 'british', numa afirmação dos sinais contemporâneos e até imperiais da 'old England'. A terra de Sua Majestade a Rainha Isabel II está no centro de muitas heranças para a humanidade: a revolução industrial, a literatura infanto-juvenil, o pop e as 'novas ondas' musicais, o futebol, o cinema e o teatro, a moderna instituição monárquica. De tudo isto se compôs o evento artístico, com as figuras representativas dessa ilha europeia que se individualiza face ao próprio continente, para não dizer ao mundo com a sua "Commonwealth". Neste sentido, o espetáculo revelou-se "too british".


   Chegou mesmo a soar despropositado um ou outro pormenor, como o da rainha envolvida numa curta-metragem com esse agente que se dá pelo nome de Bond... James Bond (como que a precisar de alguma divulgação internacional para o novo filme de 007, prestes a estrear); o de Mr. Bean a sonhar ser vitorioso numa corrida, ao som de "Chariots of Fire", em que tudo parece valer (até o cómico devia ter limites).

     Veremos o que o evento trará. Quanto mais não seja, que se sublinhe esse pensamento-matriz que se explicita no juramento olímpico: "A coisa mais importante nos Jogos Olímpicos não é vencer, mas participar, assim como a coisa mais importante na vida não é o triunfo, mas a luta. O essencial não é ter vencido, mas ter lutado bem."

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Tudo uma questão de... trevos

    Nas arrumações do escritório, cruzei-me com uns trevos!

  Podia tê-los colocado ao lixo, mas serviram para um arranjo "artístico" - quanto mais não seja, pela reutilização feita, houve já razão para não ter dado o fim inicialmente destinado.
   Da inspiração prosseguiu-se para a criação - não sei de que tipo (poética? versificatória? livre? lúdica?).
   Do "Trifolium" pouco há a dizer, quando, comummente, respeita o nome que tem. Um trevo é planta de três folhas e, na banalidade que representa, não traz novidade. Só a certeza do que o tempo dá: o que foi tornou-se diferente, sem futuro.
   São três folhas encontradas no meio de outras tantas que compunham uma agenda com algumas notas esparsas, não no tempo das situações nem no da escrita. As agendas têm destes mistérios: a destempo, tornam-se meras folhas, funcionais apenas por servirem para registar o que a memória possa trair, no esquecimento das horas ou até dos dias que nelas não figuram.
   Tivessem estes trevos quatro folhas e a "sorte" seria outra. Talvez já não estivessem comigo, na ânsia de cumprir a realização dos desejos a que são votados. Estariam na mão de três outras pessoas, numa cadeia ou numa rede que partilhasse as energias necessárias à concretização de sonhos - quanto mais não fosse à da comunhão entre elas.
   Tivessem estes trevos quatro folhas e possivelmente eles tenderiam algo mais para uma sorte (não fosse a falta de 'v' e daria um belo anagrama de 'trevos'!), o que daria à produção escrita uma outra qualidade.

  Talvez, um dia, a sorte se cruze comigo e a criação seja digna de "artista".

domingo, 22 de julho de 2012

Reencontros

     Passa o tempo e o que parece de ontem tem já a soma dos dias, dos meses e dos anos.

    Lembro-me das caras e dos lugares que ocupavam numa sala de aula que, por mais que ainda a ocupe, de tão mudada já não é a mesma.
     Também o tempo lhes mudou a fisionomia dos corpos e dos rostos: hoje são homens e mulheres à espera do que a vida lhes possa trazer, entre os passos que vão dando, com ecos do que os mais velhos lhes foram transmitindo. Lembram-se de feitos e ditos; dizem que valeu a pena; evocam tempos que foram tão difíceis, mas que o tempo lhes comprovou serem dos mais fáceis.
     E assim se cumpre o ciclo da vida, tomado de saberes e sabores.


     Os temas de conversa são variados, na sede de partilhar o que não está a ser vivido por todos, mas que se quer participado em honra e em memória de vivências (ainda e felizmente) queridas e presentes.

    Depois de cinco anos passados, de adamastores ultrapassados, permanece o espírito jovem e alegre para as oportunidades que surgirem no caminho. Espírito são em grupo são em lugar de reencontro pleno de sabor.
     

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Amor sem fim...

    Para quem nele acredite, há vozes que o cantam.

    Há versões musicais que se tornam difíceis de avaliar quanto à qualidade. 
    Diz-se que não há amor como o primeiro e, no que toca a canções, um dueto já por si perfeito torna-se difícil, dificílimo de igualar (mesmo que isso não signifique imitar).
    A década de 80, no ano de 1981, viu um fracasso fílmico dar lugar a um sucesso musical escrito por Lionel Richie e partilhado, na voz, com Diana Ross.


     A dupla teve 'cover', doze anos depois, com Mariah Carey e Luther Vandross - duas vozes acrobáticas para uma melodia serena e romântica.

Versão ao vivo de "Endless Love" (Albert Hall, 1994)

ENDLESS LOVE

My love
There's only you in my life
The only thing that's right


My first love
You're every breath that I take
You're every step I make

And I
I want to share
All my love with you
No-one else will do

And your eyes (your eyes, your eyes)
They tell me how much you care
Oh, yes
You will always be
My endless love

Two hearts
Two hearts that beat as one
Our lives have just begun

And forever (forever)
I'll hold you close in my arms
I can't resist your charms

And I
I'd be a fool
For you, I'm sure
You know I don't mind (no, you know I don't mind)
You mean the world to me, yeah
I know I've found in you
My endless love

Whooooa
And I
I'd play the fool
For you, I'm sure
You know I don't mind (you know I don't mind)
Oh, yes
You'd be the only one
'Cause no-one can't deny
This love I have inside
And I'll give it all to you
My love (my love, my love)
My my my
My endless love

    Duas faces para uma mesma moeda, a de um texto e de uma música colocados nos primeiros vinte lugares do TOP-100 das Melodias de Sempre.

      Ganha o amor por uma das mais emotivas músicas que o cantam.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sexta-feira 13... Azar?

      Dia aziago, a sexta-feira, como diria Garrett; ainda para mais 13!

      Belo dia para começar a segunda fase de exames nacionais!
    A prova de Português do ensino secundário acompanhou o toque de entrada. Assim se compôs a segunda oportunidade para muitos que pretendem ver a classificação da primeira frase melhorada. Os resultados, não tendo sido maus (acima da média nacional em um-dois valores), não estiveram na linha do que parecia ser uma prova acessível.
    Consultado o enunciado da segunda prova, é curioso que ainda mais fácil se me afigura o exame (com uma ou duas questões mais problemáticas). Pelo menos, os meus alunos que se propuseram a realizá-lo têm quase obrigação de melhorar os resultados, a julgar pela resolução do último teste (na linha da compreensão / interpretação de um excerto de Memorial do Convento); pela do segundo, no início do segundo período (na aposta em Álvaro de Campos, segundo a fase modernista, futurista e vanguardista contemplada, precisamente com excertos de 'Ode Triunfal' e 'Ode Marítima'); pela do primeiro teste, no qual solicitei uma dissertação sobre a importância da mulher na sociedade atual (a que, no exame, correspondeu o papel dela, acrescentando-se também o do homem).
     Ainda no início do ano, uma aluna minha escrevia o seguinte na sua dissertação sobre a importância do feminino na sociedade em geral:

    "O feminino é sinónimo de origem de vida, não fosse a mulher a responsável pela gestação e por dar à luz o rebento que tanta felicidade traz às famílias. Se, até em termos morfológicos, o corpo da fêmea é dotado de tão bela realidade, é injustificável qualquer razão para ter havido tanto desprezo ou rebaixamento sociais."
(A.I.L.T.)

    Este era um parágrafo perfeitamente aproveitável para o texto de reflexão agora solicitado. Haveria que acrescentar algo para o papel masculino, é certo; mas, na desejável lógica de complementaridade e de comunhão, não faltariam argumentos e exemplos que pudessem ir ao encontro do enunciado proverbial de que "por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher" (para não assumir que o contrário também é verdadeiro: "por trás de uma grande mulher pode e deve haver um grande homem").

     Caso para dizer que mais coincidente não podia ter sido o trabalho deste ano, assim o tenham os alunos recuperado e conseguido provar. Nesta ordem de ideias, este não foi um dia de grande azar (pelo menos, no que toca a este aspeto).

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Para quem precisa de acreditar

      Na falta de confiança, no rumo das incertezas, no futuro que amedronta, para tudo há uma saída.

      Uma canção transporta a mensagem: "When You Believe..." (Just Believe).


    Alguém me dizia que chorava quando ouvia esta canção. Acredito (pois o mesmo se passou quando a escutei pela primeira vez e procurei disfarçar a lágrima que caía mal as luzes do cinema abriram para dar saída aos espectadores do "Príncipe do Egipto"). 
    Já lá vão muitos anos e a força da letra, da música e das vozes mantém-se. Por ironia, uma das intérpretes parece que se esqueceu do que (nos) quis transmitir.

        WHEN YOU BELIEVE

Many nights we prayed
With no proof anyone could hear
In our hearts a hope for a song
We barely understood
Now we are not afraid
Although we know there's much to fear
We were moving mountains
Long before we knew we could, whoa, yes 

There can be miracles
When you believe
Though hope is frail
It's hard to kill
Who knows what miracles
You can achieve
When you believe somehow you will
You will when you believe 

[Mmmmmmmmmyeah]
Mmmyeah
In this time of fear
When prayer so often proves in vain
Hope seems like the summer bird
Too swiftly flown away
Yet now I'm standing here
My hearts so full, I can't explain
Seeking faith and speakin words
I never thought I'd say 

They don't always happen when you ask
And it's easy to give in to your fears
But when you're blinded by your pain
Can't see the way, get through the rain
A small but still, resilient voice
Says love is very near, oh [Oh]

There can be miracles (Miracles)
When you believe (Boy, when you believe, yeah) [Though hope is frail]
Though hope is frail [Its hard]
It's hard to kill (Hard to kill, oh, yeah)
Who knows what miracles
You can achieve (You can achieve, oh)
When you believe somehow you will (Somehow, somehow, somehow)
Somehow you will (I know, I know, know)
You will when you believe [When you]
(Ohoh)
[You will when you]
(You will when you believe)
[Oohoohooh]
[Oh... oh]
[When you believe]
[When you believe]


     Uma letra de fé, de esperança, na consciência das limitações, da fragilidade que elas possam evidenciar. A possibilidade de vencer está em quem acredita e na resiliência. O Óscar de 1999 para esta música também foi um sinal de como é possível crer num dom e num valor maior.
     
     Na variância do que seja o objeto da crença, esta é a mensagem a que todos nos devemos agarrar. Os sucessos a construir terão sempre mais significado se resultarem daquilo em que acreditamos.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Uma só noite

     Tradução para a letra de uma canção em voz negra.

      Já por várias vezes tenho feito referência à negritude da voz como uma das forças mágicas para algumas interpretações musicais.
     São múltiplos os exemplos, o de Jennifer Hudson é mais um para uma música que já teve várias versões, uma das mais recentes com o filme Dreamgirls, numa interpretação de Beyoncé ritmada para espetáculo de dança.


     Prefiro a de Jennifer Hudson, em jeito de balada e numa interpretação fortemente emotiva, para uma canção datada de 1981 aparecida num musical da Broadway (na voz de Effie White) e que veio a figurar no filme homónimo surgido em 2006.


      ONE NIGHT ONLY

You want all my love and my devotion
You want my loving so, right on the line
I had no doubts that I could love you, forever
The only trouble is, you really don't have the time

You've got one night only, one night only
That's all we have to spare
One night only, lets not pretend to care
One night only, one night only come on big baby come on
One night only, we only have 'till dawn

When the morning this feeling will be gone
Has no chance going on
Something so right has got no chance to live
So lets forget about chances, Its one night I will give

One night only, one night only you'll be the only one
One night only, then you'll have to run
One night only, one night only there's nothing more I say
One night only, once get in the way

One night only, one night only, one night only



      Registos de romantismos típicos do R&B.
      

domingo, 8 de julho de 2012

Não há duas sem três... ou sem quatro.

      Do herói Homem Aranha às escolhas da vida... herói e tema para uma tarde.

      Em tempo de quarto filme do Homem Aranha (The Amazing Spider-Man), a tarde de hoje foi passada frente à televisão - como já não o fazia há mais do que tempo -, vendo ainda a que foi a terceira película (que perdi no circuito cinéfilo).
      O efeito não terá sido, por certo, o mesmo, mas não deixou de me prender por uma intriga feita do previsível (com o herói a vencer as forças perversas, bem como a salvar a sua amada), dos efeitos técnicos e sonoros marcantes, para não falar também de duas linhas temáticas de interesse: uma, até os heróis têm de fazer escolhas difíceis, mesmo quando há que recusar o que lhes possa dar maior força e/ou tornar mais invencíveis e admirados; outra, até forças contrárias ao herói não deixam de merecer perdão, nomeadamente o deste último.


         Para tudo é necessário ter preparação.
      Peter Parker (Tobey Maguire), o discreto fotógrafo-repórter que protege a cidade, é tentado a assumir-se com poderes ainda mais extraordinários, mas tem de fazer uma escolha: manter-se tal como é ou passar a revelar algo que o descaracteriza. É verdade que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e não é menos certo que o super-herói demonstra ter valores bem sólidos, como o amor por Mary Jane Watson (a namorada ruiva, na versão fílmica das três primeiras produções) e a amizade por Harry Osborn (James Franco).
      Entre os vilões, há um repórter rival (chamado Eddie Brock) tanto na função jornalística como no interesse por uma jovem admiradora que, uma vez salva pelo Homem-Aranha, nutre por este último uma admiração sem par. Há ainda o Homem-Areia (a personagem Flint Marko), que, no final, mais não é do que uma vítima, um pai que quer salvar a filha a todo o custo, mesmo que isso signifique manter-se no papel de foragido, depois de já ter sido preso e ter sido acusado (injustamente) de matar o tio de Peter Parker - a verdade é que foi cúmplice e se encontrava no local e no momento errados; por isto, acaba por ser perdoado. Há, por fim, Harry Osborn que, morrendo, não deixa de descobrir o verdadeiro significado da amizade, para lá dos interesses e dos sentidos de vingança (sem sentido) que o fizeram agir contra o seu velho amigo de escola.

     Pelas fragilidades que o herói revela, pelas escolhas que faz, pelo exemplo mais alto que atribui à amizade e ao amor, pela sensibilidade e pelo perdão que o liberta da maior das tensões internas, este foi um filme bom de se ver numa tarde de sábado a cheirar a autêntico fim de semana. Além disso, foi mais um exemplo de ficção para o qual não deixar de ver muita realidade.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Da ficção(?) tornada realidade(?)

    O dia é universalmente celebrado pela independência dos Estados Unidos da América, ocorrida em 1776; este ano pode ter-se escrito uma nova página da História da Humanidade.

     A possível descoberta do Bosão de Higgs (genericamente, uma partícula subatómica que confere massa às restantes partículas), também conhecida como a "partícula de Deus", revela-se um passo crucial para a compreensão do universo.
    Segundo o CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), trata-se de uma partícula nova com características de massa e comportamento semelhante ao Bosão de Higgs: partícula resultante da colisão de outras que, sem massa, se deslocam à velocidade da luz num campo supostamente vazio, conferindo à primeira uma massa visível.

    
      Mais um passo gigante para o Homem.
    E o que era ficção (ou nem tanto) assume-se como realidade. Basta para tanto ler o excerto transcrito da obra Anjos e Demónios, de Dan Brown, romance que inspirou filme homónimo.
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    "- O que significa LHC? - perguntou, esforçando-se por não parecer nervoso.
     - Large Hedron Collider - respondeu Kohler. - É um acelerador de partículas.
     Acelerador de partículas? Langdon conhecia vagamente o termo. Ouvira-o pela primeira vez durante um jantar com alguns colegas na Dunster House, em Cambridge. Um dos membros do grupo, um físico chamado Bob Brownell, aparecera no tal jantar lívido de raiva.
    - Cancelaram-no, os filhos da mãe! - desabafara.
    - Cancelaram o quê? - perguntaram eles em coro
    - O SSC!
    - O quê?
    - O Superconducting Super Collider.
    Alguém encolhera os ombros. (...)
    Quando, finalmente, acalmara um pouco, Brownell explicara que um acelerador de partículas era um grande tubo circular ao longo do qual eram aceleradas partículas subatómicas. Ímanes distribuídos por toda a circunferência do tubo eram ligados e desligados em rápida sucessão de modo a "empurrarem" as partículas até que elas atingiam velocidades tremendas. Na aceleração máxima, as partículas circulavam pelo tubo a mais de duzentos e noventa mil quilómetros por segundo.
   - Mas isso é quase a velocidade da luz! - exclamara um dos professores.
   - Pois é - dissera Brownell. Explicara então que acelerando duas partículas em direcções opostas e fazendo-as colidir, os cientistas conseguiam decompô-las nas suas partes constituintes e ter um vislumbre dos componentes fundamentais da natureza.
   - Os aceleradores de partículas - concluíra Brownell - são essenciais para o futuro da ciência. A colisão de partículas é a chave para a compreensão dos elementos com que foi construído o Universo. (...)

   -  O CERN tem então um acelerador de partículas?, pensava Langdon enquanto o elevador continuava a descer. Um tubo circular para esmagar partículas. (...)
     - O tal acelerador de partículas, fica algures neste túnel? - perguntou Langdon, em voz baixa. (...)
     - Aí o tem.
     Langdon olhou para o tubo, confuso.
     - Aquilo é o acelerador? - O artefacto não se parecia nada com o que imaginara. Com cerca de noventa centímetros de diâmetro, corria em linha recta, horizontalmente, a todo o comprimento visível do túnel, antes de desaparecer na escuridão."

in Dan Brown ([2000] 2005: 72-74) - Anjos e Demónios
cap. XV, 2ª ed., Lisboa, Bertrand Editora
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   Uma possibilidade à espera de confirmação. Cinquenta anos passaram desde a formulação da hipótese e a criação de condições para a constatação da possibilidade. É interessante o cenário, a descoberta, particularmente nos tempos em que se quer tudo tão imediato.