A vontade de ver um filme é seguramente motivada pela obra.
Melhor do que O Código Da Vinci, Anjos e Demónios vence quer enquanto livro quer enquanto filme. Esta foi a ordem de leitura dos romances, contrária à da publicação de ambas as obras nos Estados Unidos da América. Caso para dizer que, à data de publicação dos originais americanos e à primeira, se conseguiu algo melhor do que com a segunda, mesmo que esta última não desmereça o apreço do leitor.
Com maior rapidez de acção e valorização de efeitos técnicos e cinematográficos, no filme fica, contudo, a sensação de faltar algo, particularmente para quem leu e apreciou bastante o livro. Diria que o ritmo da procura, da descoberta, da reflexão e das construções mentais para a resolução dos enigmas, a que o livro obriga, é pouco compatível com o do filme: demasiado rápido, por vezes alucinante, e limitado essencialmente ao visual.
No final, a sensação é a de que algo mudou na história, o que aliás se confirma pela releitura da narrativa: a relação CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire) – Vaticano não surge tão bem articulada ou fundamentada, a explicação para o comportamento da figura do “camerlengo” sai menos desenvolvida, a evolução da trama centrada nos “preferitti” surge alterada (valorizando um mártir), o final do romance é substituído por um guião que menoriza a discussão ciência-religião, bem como a própria relação entre Robert -Vitória.
Enfim, mais um filme baseado num livro… com alterações substanciais na história lida.
O filme fica, portanto (e à semelhanças do sucedido com O Código Da Vinci), muito aquém do romance. O ritmo do cinema é mais voraz, menos envolvente na descodificação das pistas, as quais são melhor acompanhadas e representadas pelo leitor (que parece participar mais proximamente da acção prioritariamente levada a cabo por Langdon) comparativamente ao espectador.
Mais um caso para preferir a leitura.
Não li nem vi nenhum dos livros ou filmes referidos. Normalmente parece-me que os livros são melhores do que os filmes. Não conheço caso nenhum em que possa dizer com certeza que o filme me agradou mais do que o livro. Contudo, tenho três filmes na memória saídos de livros: o extraordinário 'A Festa de Babette', que ganhou aqui há anos o óscar do melhor filme estrangeiro (o livro - na verdade é um conto - é da dinamarquesa autora também do texto autobiográfico que deu origem ao 'África Minha'. Denisen, creio, prémio Nobel); 'A Casa dos Espíritos', filmado em parte no Alentejo, e que revi recentemente; e 'O Nome da Rosa'. Este filme é para mim de culto. Quando li o livro disse cá para mim que o havia de reler. A verdade é que nunca o fiz, mas o filme devo-o ter visto pelo menos uma vez por ano...
ResponderEliminarSerá sempre um assunto bom para conversa, este.
Creio que a autora da obra que deu lugar ao filme 'Out of África' foi a escritora Karen Blixen.
ResponderEliminarBons livros e bons filmes, sem dúvida, os mencionados. Concordo que, genericamente, há dificuldade em achar filmes que sejam melhores do que os livros em que os primeiros se baseiam. Acho que só passei uma vez por essa experiência: com "O Carteiro do Pablo Neruda". A obra de António Skármeta não me fascinou tanto quanto o filme de Michael Radford. As diferenças entre o filme e a obra são variadas e mais do que evidentes (o nome das personagens é apenas um mero exemplo). Na memória mantenho o registo de maior sensibilidade no filme.
Tal como lhe tinha dito, vou deixar o meu comentário sobre o filme 'Anjos e Demónios'.
ResponderEliminarNo meu ponto de vista, está muito melhor que 'O Código Da Vinci', não só pela história estar bastante próxima do livro como também pelo próprio enredo.
Tem duas situações que diferem do livro (penso que para melhor) e que tornam o filme empolgante até ao fim. O único senão que eu apontaria é o facto de se perder alguma informação histórica, dados que o livro nos dá, mas que no filme não são mencionados.
É um bom filme.
Pois a memória traiu-me, é Blixen, sim, logo que vi o nome, reconheci...
ResponderEliminarDe qualquer modo fui investigar de que arcano tinha saído o Denisen e deu isto: «Karen Christence von Blixen-Finecke, mais conhecida pelo pseudônimo de Isak Dinesen»!! Santo Agostinho tem um texto extraordinário sobre a memória que explica isto tudo...
ResponderEliminarOra muito bem... estamos sempre a aprender. Grato pela informação acerca do pseudónimo.
ResponderEliminar