Espera . Procura . Encontros, Desencontros e Reencontros . Passagem com muitas Viagens . Angústias e Alegrias . Saberes e Vivências . Partilhas e Confidências . Amizades sem fim
domingo, 15 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
História(s) que a língua nos dá.
Provas de que, na língua, o tempo faz diferença.
A propósito de conquistas do século XII, aparece, num documento do século XVII, um dado descrito nos seguintes termos:
"Ganharão-se as Villas de Abrãtes e Torres Novas, ambas muyto fortes em o sitio, fermeza de muros e castellos (...)."
(Frei António Brandão, in Monarquia Lusitana, 1632)
Para além de questões ortográficas e da representação mais ou menos próxima de realizações fónicas, destaco a colocação pronominal clítica na primeira forma verbal: no contexto actual da mesóclise ('ganhar-se-ão'), há registo escrito de que há quase quatro séculos se fazia (dizia?) o que os alunos hoje em dia teimam em usar nos seus discursos orais / escritos.
Tratando-se de um caso crítico a privilegiar no trabalho de língua, o que hoje se explica como uma evidência de composição histórica na língua portuguesa, com repercussões morfossintácticas (aproximando a conjugação pronominal de verbos no futuro e no condicional), parecia mais natural, menos complexo em estádios linguísticos anteriores.
Quantos alunos não gostariam que retomássemos esse tempo (pelo que dizem e pelo que escrevem).
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Quando a solução está ao alcance dos nossos olhos
Já lá vai algum tempo, quando um grupo de alunos apresentou o seu contrato de leitura baseado n' O Símbolo Perdido, de Dan Brown.
Terminei hoje a leitura deste livro.
As férias dão para pôr em dia o que nem sempre se consegue fazer ao longo de todo um ano de trabalho (com muitas escritas e muitas leituras... de outro tipo). Do ano lectivo findo e do contrato ficaram um ponto de motivação e uma pista de interesse para ir ao encontro deste romance.
Não deixei de ficar "agarrado" pela história e pelas curiosidades que nela fui (re)encontrando:
. a maçonaria aborda a crença num ser superior: o Ser Supremo ou Grande Arquitecto do Universo (designação mais hiperonímica para Deus, Alá, Buda ou Jesus);
. os símbolos maçónicos associam-se a uma linha interpretativa: a da transformação (caveira, enxofre e sal, ampulheta, vela);
. 'symbolon' era o termo grego para uma tábua de argila onde se registava informação secreta - tábua que, depois de partida em pedaços, era espalhada por diferentes locais (só a junção das diferentes partes permitira acesso à informação - tal como nos 'símbolos'); 'lenda' e 'legenda' provêm do mesmo étimo latino ('legenda'); o termo 'álcool' tem origem no árabe 'al-kuhl'; 'talismã' provém do grego 'telesma', a significar 'completo'; a palavra 'noética' deriva do grego antigo 'nous', normalmente traduzido por 'conhecimento interior' ou 'consciência intuitiva' (embora de intuição me pareça que tem muito pouco);
. na formação da palavra 'sacrifício' há quem leia o jogo 'sacra-sagrado' e 'facere-fazer'; 'sincera' era a obra que escultores (desde os tempos de Miguel Ângelo) não dissimulavam com cera - 'sin cera' - e pó de pedra (nas rachas ou falhas); a palavra mágica 'abracadabra' remonta a um antigo misticismo aramaico ('avrah KaDabra') que significa 'eu crio, enquanto falo'; 'apocalipse' significa, literalmente e conforme o apontavam os antigos, 'revelação' (não necessariamente com o actual sentido interpretativo do fim cataclísmico do mundo); 'Elohim' é a palavra hebraica para Deus no Antigo Testamento (ser plural - e pluribus unum -, ou seja, "De muitos um só", numa convergência de forças);
. o número '33' era considerado, no tempo de Pitágoras, o mais elevado de todos os Números Mestres, o mais sagrado, o símbolo da Verdade Divina (tal como os maçons escolheram o trigésimo terceiro como o grau mais elevado); o 8 é o símbolo do infinito, após uma rotação, e o número da destruição em numerologia;
. "a mente senta-se no cimo do corpo físico como uma pedra de fecho de ouro. A Pedra Filosofal. Através da escadaria da coluna vertebral, a energia ascende e descende, circulando, ligando a mente celeste ao corpo físico" (pág. 482) - será este um mistério antigo?
Mais do que se lê na epígrafe ("Viver no mundo sem ter a consciência do significado desse mesmo mundo é como deambular por uma enorme biblioteca sem tocar nos livros" - in The Secret Teachings of All Ages), o poder da linguagem pressente-se e ressalta numa obra cuja intriga é feita de ingredientes como a vingança, a evolução e a mudança retomando o passado, as escolhas e os dilemas que condicionam a acção humana, os sentidos de poder (antigos e contemporâneos) em confronto, os laços familiares que se atam e desatam, as redescobertas no percurso da vida e da História do Conhecimento, o entendimento do símbolo a convidar continuamente à junção de peças que trazem "luz" e significado àquele que "lê" sinais. Como também se lê no romance, "A língua pode ser bastante hábil a esconder a verdade" (pág. 232).
Depois de ter lido O Código Da Vinci e Anjos e Demónios, não se pode dizer que este livro seja uma grande novidade na construção narrativa. Lê-se bem em tempo de descanso e aguarda-se sempre pela novidade que cada capítulo traz, pela(s) mudança(s) de rumo que se impõe(m).
Em tempo de reconstrução e retoma de velhos mitos, coloca-se Washington no caminho da "The Promissed Land", com a tónica da esperança e da afirmação do Homem como fonte de poder, de saber e de (re)criação / transformação de ideais. Nisso se revê a própria personagem principal (Robert Langdon), pela (re)descoberta do que conhece e pela oportunidade que lhe é dada para mais aprender.
Em tempo de reconstrução e retoma de velhos mitos, coloca-se Washington no caminho da "The Promissed Land", com a tónica da esperança e da afirmação do Homem como fonte de poder, de saber e de (re)criação / transformação de ideais. Nisso se revê a própria personagem principal (Robert Langdon), pela (re)descoberta do que conhece e pela oportunidade que lhe é dada para mais aprender.
Como o próprio livro o assume, na voz de Trish (personagem cooperante de Katherine Solomon), "O conhecimento é uma ferramenta e, como todas as ferramentas, o seu impacto está nas mãos do utilizador" (pág. 96).
sábado, 7 de agosto de 2010
Represas sem espinhos
Ao vivo se revelam os verdadeiros artistas, sem os efeitos especiais e milagrosos de alguns arranjos tecnológicos..
Numa programação / animação de férias que trouxe muitos nomes sonantes da música a Espinho, Luís Represas foi sensação.
Um palco em plena Alameda 8, muita gente a assistir, para duas horas de espectáculo em que luz, música e voz(es) deram para ver quem sabe cantar e tocar, em directo, ao vivo e a cores. E cá vai uma do repertório ('Entre mim e eu') - entre tantas outras dos tempos dos Trovante ou do já longo percurso a solo do cantor -, que saiu bem mais animada com a força dos instrumentais e do coro de vozes que se fez ouvir à volta do palco.
Poucos são aqueles que se revelam melhores e mais fortes naquilo que já fazem bem. Luís Represas é, sem dúvida, um desses exemplos.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Melancolia e alquimia linguística
Assim se intitula uma pintura de Albrecht Dürer (séc. XVI): Melancolia I.
Encarado como o supremo espírito renascentista - artista, filósofo, alquimista e um estudante dos mistérios antigos -, Dürer concluiu a pintura apresentada em 1514, tendo esta sido considerada a obra seminal do renascimento no Norte da Europa.
A figura de asas, a representar o génio humano, está rodeada de sinais e símbolos marcados pela estranheza lógica; simboliza a tentativa falhada de a humanidade transformar o intelecto humano em poder divino, visível pela dificuldade de compreender todos os símbolos de que o génio dispõe (objectos de ciência, matemática, filosofia, natureza, geometria, carpintaria,...).
Está mesmo difícil a relação entre cada um dos objectos. Fico-me pelo quadrado mágico (por baixo do sino), com 1514 na última linha. Por que razão(ões) será, para além dos números e cálculos perfeitos?
Se por trás de Melancolia há uma alquimia linguística, que os estados de tristeza e depressão se transformem em palavras e actos de felicidade no desvelamento dos enigmas e da simbologia que o quadro encerra.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Se o tamanho interessa...
Não há estética que melhore, por mais manicure ou pedicure que se faça.
Um passeio pela cidade, até que uma montra chama a atenção:
E pronto: se o tamanho interessa, o melhor que se pode fazer é 'Extensão' (plural 'extensões), enquanto sinónimo de ampliação ou aumento no comprimento.
Já lá o dizia o latim ('extensiōne-'), pela escrita com 's'. E nisto não há acordo ortográfico que valha, pelo que a etimologia não deixará de ser critério a considerar, a par da consciência morfológica a trabalhar na escrita.
domingo, 1 de agosto de 2010
Poesia, voz e fado
Para lembrar que "Há palavras que nos beijam".
Nos versos de Alexandre O'Neill combinam-se os sons e a voz que Mariza faz chegar aos nossos ouvidos, na composição musical de Mário Pacheco. Assim se casa poesia, voz e fado.
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill, in No Reino da Dinamarca (1958)
A mesma composição surge com um outro casamento vocálico e rítmico, que pode ser encontrado neste fado de Cristina Branco:
Em cinco quadras de verso livre, alguns a rimar e outros nem por isso, ressalta uma linguagem acessível na apologia das palavras, das que são portadoras dos sinais de afetividade e felicidade; das que não dão lugar ao desgosto; das que materializam "O nome de quem se ama" (independentemente do suporte).
Entre a expressão do bem e o sentido de liberdade, surgem as palavras positivas, como se de amor, de poesia e de magia se tratasse. E na confluência destes há cor, sensações que libertam / valorizam o Homem.
Mais uma razão para se passar "Das palavras aos actos" (que, feitos de palavras que nos beijam, são menos moralistas e mais afectivos).
O açúcar está mesmo a dar...
Pode ser coincidência, mas os pacotes de açúcar andam muito sábios.
O pensamento citado é do autor de O Principezinho e tem muito que se lhe diga.
Desconfiar, então, de todos aqueles que dizem que compreendem, mas não se transformam.
O pensamento citado é do autor de O Principezinho e tem muito que se lhe diga.
Traduzindo isto, em termos de consciência e de conhecimento, só se compreende o que se interestrutura (daí a transformação que se opera naquele que integra o saber, passando-o a dominar, a compreender).
Desconfiar, então, de todos aqueles que dizem que compreendem, mas não se transformam.