Depois da caminhada e do registo fotográfico, umas parcas linhas.
Podia ser uma fita de cinema, mas saiu escrita para poema. E, assim, deixam de ser linhas e passam a versos (sem reverso).
CAMINHADA
Há um caminho, um trilho,
atravessado por um riacho
que, antes de ser rio, chega ao mar.
É neste que pouso o meu olhar.
Entre areia, pedras e rochedos,
limpo-a dos pés;
pontapeio-as a cada passo;
sento-me neles a descansar.
(Instante para pensar.)
Estou mais alto, mais perto do céu.
Limpo-lhe as nuvens, seco-lhe a chuva.
Deixo ficar o azul.
Esqueço tudo o resto.
Lavo a alma de qualquer dor ou protesto.
Esqueço tudo o resto.
Lavo a alma de qualquer dor ou protesto.
Fecho os olhos, ergo a cabeça, sorvo o ar.
Salga-se a mente. Vou adiante.
Para trás fica o que foi.
Da ventura não vou atrás
Da ventura não vou atrás
(por não ser certa, ser incapaz.)
Sigo com céu e mar.
Assim o afirmava António Machado, poeta castelhano, no livro Campos de Castilla, numa estrofe de "Proverbios y cantares": "se hace camino al andar" (traduzindo: "o caminho faz-se caminhando").
Nada como continuar a tirar as pedras do caminho. E ver que há razões mais fortes para caminhar.
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