Fecha-se a leitura de um romance de escrita nacional.
Abre-se o conhecimento a uma personalidade seiscentista que os séculos teimam em não desvelar a larga escala. É ela a protagonista da narrativa, do início ao fim (da infância à morte).
Assim termina o romance:
"As ideias que deixara registadas em papel, as ideias que plantara no espírito de tantos e tantos homens, essas ideias ficariam, floresceriam, perdurariam e espalhar-se-iam por toda a humanidade. Ele morria, mas viveria nelas. Desaparecia como homem, é certo, mas o seu espírito eram as suas ideias, e se essas sobreviviam então ele de certo modo também sobreviveria, e o que era isso senão a verdadeira imortalidade?"
Palavras para um denominador comum: Bento de Espinosa.
Criado na comunidade luso-judaica de Amsterdão, depois de a família ter abandonado Portugal pela ação da Inquisição, Espinosa veio a desenvolver ideias altamente controversas a respeito da autenticidade da Bíblia Hebraica e da natureza do Divino, podendo afirmar-se que foi um panteísta - tomou Deus pela natureza, não os diferenciando: "Se o mundo é regido por leis naturais e tudo o que ele contém é natural, então Deus é natural." (pág. 504)
Eis um filósofo que José Rodrigues dos Santos nos dá a conhecer em O Segredo de Espinosa, obra ficcional narrativa, publicada neste ano de 2023 e inspirada em acontecimentos verídicos feitos de perseguição, de busca de verdade, de pensamento teológico, político e ético sustentado no racionalismo do século XVII.
Há um tanto de Espinosa no heterónimo pessoano Caeiro, o "guardador de rebanhos" que joga com o conceito do pensador. Também o primeiro o foi, enquanto um dos grandes filósofos de todos os tempos para o autor e jornalista português. Na opinião deste, três povos podem reclamar Espinosa como um dos seus maiores: o neerlandês, o judeu e o português.
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