Assistir a concursos televisivos nem sempre se revela um ato muito instrutivo ou esclarecedor.
Assim o escrevo por, na emissão de hoje do Joker (na RTP1), não ter encontrado informação completamente correta nem título de obra adequado. Nada incomum!
Sempre aprendi que, na escrita manual, os títulos de livros se sublinham (ou se colocam em itálico, na redação digital); aspas são para títulos de partes / segmentos dos mesmos (por exemplo, subtítulos, episódios, capítulos, entre outros). Consequentemente, Os Maias é um romance queirosiano onde se encontra o "Episódio do Hotel Central" ou, então, Amor de Perdição é uma novela camiliana composta por vinte capítulos, além da "Introdução" e da "Conclusão".
Pior do que isto é errar o próprio título, conforme se lê na foto seguinte:
Estamos a precisar de ler melhor Os Lusíadas, certo? (Foto VO)
Camões escreveu Os Lusíadas (com o determinante a integrar o título) e, portanto, não se pode referenciar a epopeia quinhentista como "Lusíadas", mas, sim, "Os Lusíadas", se com aspas se quer sinalizar o título.
Quando se deveria ter escrito que, em "Os Lusíadas" (sem aglutinação da preposição 'em' e do determinante 'os'), há um deus que se opõe à navegação dos portugueses, já agora registe-se que este último não foi o único. Só o terá sido no universo dos quatro deuses mencionados na questão lançada ou no destaque que, no Canto I, no "Consílio dos Deuses do Olimpo" se dá à voz de um, apesar de o narrador explicitar a dissonância "Quando os Deuses, por ordem respondendo / Na sentença um do outro difiria" (I - 30, vv 2-3). Prova maior da falha do "único" está uns cantos mais adiante: acrescente-se a Baco (protagonista da oponência à causa lusa) o deus Neptuno, Éolo e outras divindades marinhas que, no episódio da "Tempestade" (canto VI), convergem na decisão de dificultar a vida aos nautas, antes de estes cumprirem o objetivo de chegar à Índia.
Em suma, leia-se melhor a obra épica camoniana e daí decorra, no mínimo, a capacidade de identificar convenientemente o título e a de não tirar conclusões apressadas e inconsistentes.
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