Porque é agosto, é dia de sol, ...
Porque a seguir a um dia vem outro e há quem esteja já para lá do tempo (que passa sempre). É o caso de Miguel Torga.
MÁGOA
Medas de trigo ao sol - Agosto,
Tudo o calor do Sonho amadurece;
Só a verdade amargura do meu rosto
Permanece!
Até me lembro que não sou da vida!
Que não pertence à terra esta tristeza…
Que sou qualquer desgraça acontecida
Fora do seio mãe da natureza.
E contudo não sei de criatura
Que mais deseje ter esta alegria
De um fruto azedo que arrancou doçura
Do céu, das pedras e da luz do dia.
.
Leiria, 11 de Agosto de 1940.in Diário I
Sem mágoa(s), sem medas de trigo, sem querer ser "desgraça acontecida", há a consciência do que possa fazer ensombrar e perigar esta vida; mas há também palavras a combinar e a criar alguma da magia que só os eleitos conseguem trazer à escrita poética, como que peneirando, do pó da terra, o ouro vital que a ela nos liga.
Nos grãos de areia que caem no relógio, há tempo para que a poesia dos versos torguianos adoce o dia - o de hoje e o do futuro.
Porque ontem foi mais um dia para o celebrar e hoje, e sempre, faz sentido (re)lembrar.
Também em mim Torga faz sempre sentido. Gosto-lhe da prosa como da poesia.
ResponderEliminarQuem é bom no pensamento é-o em qualquer das formas de escrita (embora deva reconhecer que nem todos os escritores se notabilizassem em alguma delas).
EliminarObrigada, Vítor, por fazeres entrar na Carruagem momentos da vida de escritores que não devíamos esquecer, sobretudo para lembrar e avivar a sua obra.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de bom verão com boa maresia.
Obrigado, Dolores, por ainda viajares na Carruagem, em tempos de muita permanência no "estaleiro".
EliminarBeijinho e boas férias.