Assim também o pensou Camões, como o sugere, por exemplo, "Endechas a Bárbara Escrava":
("Endechas a Bárbara Escrava" e o soneto "Ondados fios d'ouro reluzente")
Espera . Procura . Encontros, Desencontros e Reencontros . Passagem com muitas Viagens . Angústias e Alegrias . Saberes e Vivências . Partilhas e Confidências . Amizades sem fim
Serão sempre bem-vindas, quando feitas em consciência.
Não é o que se passa quando se apresenta rodapés televisivos como o seguinte, tão comuns aos nossos olhos (na variedade polifacetada com que nos surgem):
Agende-se a vacina da língua (para quem já 'ESTEVE' e 'ESTÁ' infetado com o vírus da incorreção).
Jornal da Tarde, na RTP1. Hoje. À hora da foto. (Foto VO)
Vai mal a utilização da língua em circuitos de comunicação responsáveis pela sua qualidade. Maltratá-la, com a frequência com que tem sido, impõe que se cumpra formação e informação - que deviam ser pressupostas -, a bem de quem a deve dominar na perfeição do "Bom Português". Contrariamente à versão que diz "À mulher de César não basta ser honesta; deve parecer honesta", este é um claro caso em que o parecer não chega. Deve primar pelo ser.
Em consciência, deve assumir-se que alguém não só deve escolher o local de vacinação como também precisa de escolher bem a vacina urgente a tomar: a da língua e a da sua correção (tanto oral como escrita). Isto é no que dá falar com reduções, como a do verbo '(es)tar'. A um pequeno e breve passo se escreve 'teve' - ou outras variações correlatas em pessoa e número -, não a forma do verbo ter, mas a do 'tar' que alguém errada e afetadamente produz.
Por isso eu digo que se deve falar bem para se escrever melhor.
Ora, conclua-se: quem está (ou fala de modo) afetado precisa de ser vacinado. Isto no dia da família da língua portuguesa. Era escusado!
Nem as decisões são necessariamente pacíficas nem sempre são seguidas da mesma função sintática (interna).
Perguntam-me qual é a função e digo que tudo depende da expansão.
R: Depende do que vier na expansão à direita.
O nome 'decisão(ões)' associa-se ao verbo 'decidir', tipicamente de natureza transitiva (Alguém DECIDE alguma coisa). Se o verbo seleciona um complemento (direto), o mesmo sucede com o nome respetivo. Acontece que a estrutura argumental do verbo 'decidir' implica um agente (quem decide) e um tema (o que é decidido). Logo, caso o nome 'decisão(ões)' seja expandido à direita por esse agente e/ou tema, ter-se-á um complemento de nome, como se verifica em i, ii, iii:
(i) A decisão ministerial foi polémica. (< O Ministério decide algo.)
(ii) Os alunos respeitaram a decisão do professor. (< O professor decidiu algo.)
(iii) A decisão de libertação foi a adotada pelo juiz. (< O juiz decidiu libertar o prisioneiro.)
Todavia, há expansões que não correspondem a tais papéis semânticos. Nestes casos, estaremos perante modificadores do nome. É o que se verifica em iv e v:
(iv) A decisão correta nem sempre é fácil de ser tomada.
(v) Não vou aceitar uma decisão injusta.
Estes últimos sublinhados não correspondem aos papéis semânticos anteriores (são antes avaliações / apreciações relativas à 'decisão'), pelo que configuram modificadores do nome (no caso, restritivos).
Concluindo, a bem da função, veja-se o que vem a seguir à decisão.