São perguntas que têm vindo a acontecer desde há algum tempo... e agora mais ainda!
Comecemos por uma delas:
Q: Vítor, na frase "O povo foi reconhecido pela sua lealdade", pode classificar- -se o sublinhado como complemento agente da passiva?
R: Não, seguramente.
Não se pode confundir ou associar o grupo preposicional 'por X ( > pela sua lealdade) a complemento agente da passiva, apesar de a frase estar configurada numa construção passiva (o complexo verbal 'foi reconhecido' confirma-o). A função sintática proposta não tem cabimento, a partir do momento em que a expressão 'a sua lealdade', desde logo, não pode ser tomada como agente, enquanto papel temático semântico. Trata-se, no fundo, da causa implicada na construção ativa subjacente: "Alguém reconheceu o povo pela sua lealdade" (> por causa da sua lealdade).
O agente da ativa ('Alguém') encontra-se elidido na frase passiva ('por alguém'), dada a sua indeterminação. Nestes contextos frásicos, o complemento agente da passiva não aparece configurado na transformação passiva. Esse 'por alguém' seria, sim, o agente do processo de reconhecimento; a lealdade é a propriedade reconhecida no objeto da ativa ('o povo'), tornado sujeito na construção passiva.
Não é, portanto, possível entender a causa da ativa (prefigurada num modificador) como agente da passiva. São funções sintáticas com papéis semânticos bem distintos.
Situação análoga encontra-se abaixo esquematizada:
O agente da ativa ('Alguém') encontra-se elidido na frase passiva ('por alguém'), dada a sua indeterminação. Nestes contextos frásicos, o complemento agente da passiva não aparece configurado na transformação passiva. Esse 'por alguém' seria, sim, o agente do processo de reconhecimento; a lealdade é a propriedade reconhecida no objeto da ativa ('o povo'), tornado sujeito na construção passiva.
Não é, portanto, possível entender a causa da ativa (prefigurada num modificador) como agente da passiva. São funções sintáticas com papéis semânticos bem distintos.
Situação análoga encontra-se abaixo esquematizada:
Frases com sintagmas e constituintes afins, mas funções sintáticas distintas
Se, no primeiro caso, o professor elogia o aluno, no segundo, as notas não elogiam o João (são, antes, a causa do elogio). Não se confunde, assim, um complemento agente da passiva (primeiro caso) com um modificador (segundo), apesar de sintagmaticamente aparecerem frases com os mesmos constituintes.
Por isto, é crítico aquele discurso que assume 'por alguém / algo / alguma coisa' como a função sintática questionada. A frase sugerida é um bom exemplo dessa generalização errada. Outras mais há. Bom será que se chame a atenção para o cuidado a ter nos exemplos a trabalhar com os alunos.
Já tive a oportunidade de abordar este problema em apontamento anterior. A mesma atenção é aqui requerida, para que não se veja sempre o grupo preposicional final da ativa ('por+X') como complemento de um agente (semanticamente ausente; sem o traço da intencionalidade e do cumprimento de uma situação verbal relacionada com uma ação ou um processo).
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