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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A propósito de 'lerdismo'

      Assim alguém falava de (outro) alguém ou algo que não atava nem desatava.

      Foi então o momento de se questionar a origem da palavra. 
    Diga-se que não a encontro dicionarizada, mas faz parte daquela criatividade e potencialidade da língua, morfologicamente motivada até!
   O sufixo 'ismo' permite formar nomes abstratos tradutores do sentido de 'teoria', 'doutrina', 'movimento (artístico, estético, filosófico, político, entre outros)', 'tendência'. E porque não se trata propriamente de algo singular, é de considerar que há vários implicados na questão ou situação, mesmo quando de individualismo se trata (são muitos os que defendem este último e cada vez mais, a julgar pelo que se vai vendo a cada dia). A par da 'lerdeza' e da 'lerdice' (também nomes) ou do 'lerdíssimo' (grau superlativo absoluto sintético do adjetivo), tomaria o 'lerdismo' como mais um derivado sufixal nominal (revelador de uma tendência ou movimento caracterizador dos que são 'lerdos').
     Daí que, para se entender o potencial 'lerdismo' se recorra à base 'lerdo': caraterística depreciativa daquele que é pouco ativo, preguiçoso, que se movimenta lentamente, de modo pouco diligente. No que à inteligência e ao rasgo intelectual dizem respeito, não se distingue muito de quem se assume como parvo, estúpido, tonto, tolo; ou seja, nada esperto.
Entre a preguiça e o caracol, alguém que diga de sua justiça!
      Para quem recorre ou cria a palavra, parece que há alguns assim, ao ver que as coisas sucedem de forma vagarosa, pesada, lenta, numa espécie de inação declarada.
   Entre a hipótese dúbia de que 'lerdo' vem do castelhano trecentista, sinónimo de 'bobo'; do itálico 'lordo', a significar sujo ou porco; do francês quinhentista 'lourd', para referir o que é pesado e estúpido, não andará longe a fonte etimológica latina que, em 'lordus', apontava para movimentos lentos, numa variante de 'lurdus', isto é, aquele que tropeça, que vacila ao andar”, ou de 'luridus', cujo significado inicial era “sujo”.

      Em síntese, fiquemos pelo termo criado para denotar algo que não é desejável, mas que alguns partilham nessa condição do que ou de quem nada faz avançar, mudar, transformar, resolver o que se impõe. Contrariemos a tendência, pois!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Onde está o Ernesto?

        O tempo anda muito depressivo!

        Depois de ter sido anunciada a Dora (que me fez lembrar a letra de uma canção, em versão feminina: Não sejas má p'ra mim!) para o fim de semana passado, eis que chega, agora, a depressão Ernesto, com chuva, neve, vento e marés altas.
        Isto de as tempestades e as depressões terem nomes próprios tem a sua piada (estou à espera de uma com o meu nome)! Nem por isso é a graça dos efeitos que provocam.
         Talvez por isso, hoje, o céu estava um autêntico borrão; ou melhor, manchado de alguns borrões bem coloridos:

Borrões celestes (Foto VO)

         E lá estava ele, o sol, entre os escuros, a espreitar, como que à procura do Ernesto:

À espreita entre escuros - onde anda o Ernesto? (Foto VO)

         Lá virão mais uns dias inverniços, invernengos ou inverneiros, mesmo quando estamos no (final do) outono. Poderia escrever 'invernosos', mas apeteceu-me variar. É favor não reagir mal aos meus adjetivos, que hoje ouvi o nosso Presidente da República anunciar a sua recandidatura, para não "instabilizar" a situação nacional (pelo menos, os meus adjetivos estão dicionarizados)! 

         Deve ser do inverno que aí vem.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Uma questão de cápsulas... nem sempre pequenas

      De tão comum que é o termo, a história (da língua) dá-lhe uma outra visão.

      Alguém coloca uma dúvida que diz ser existencial. Seja! A bem da existência (duvido, logo existo).

     Q: Dúvida existencial: podemos considerar cápsula como um exemplo de extensão semântica, uma vez que o seu significado se expandiu em relação ao étimo latino?

Sistematização in CARDOSO, Ana et al. (2011: 25) - Com Textos 11, Porto, Asa
  R: Enquanto processo irregular de formação de palavras tratado no âmbito da lexicologia, entende-se por extensão semân-tica a aquisição de um novo significado por parte de uma palavra ou expressão, face a realidades e contextos novos que criam necessidades de designação, referência (e que conduzem ao recurso de termos já existentes na língua).
      Se considerarmos o sentido etimológico de 'cápsula' (termo proveniente do latim, capsula, com o significado de 'pequena caixa'), houve já extensão semântica quando se passou a designar desse modo o formato do glóbulo gelatinoso ingerível que encerra um medicamento (para um domínio mais específico); o invólucro metálico que cobre a parte cimeira do gargalo de uma garrafa (para um objeto chamado de tampa, carica - ou chapinha, para os brasileiros -, que nada se parece com caixa); a parte principal tripulada de uma aeronave (que, por mais caixa que pareça, para ser tripulada, deve ser algo bem maior do que 'pequena').
      Ainda há pouco tempo (cerca de três anos) foi noticiada a iniciativa de afundar memórias do Porto em alto mar, para serem desvendadas em 2112. Assim se depositaram livros, fotos, joias, brinquedos, poemas, garrafas de vinho, utilitários dos nossos dias e de outros já passados, dentes, cabelos e outras coisas mais no que se chamou uma cápsula do tempo. Também esta era enorme e lá está no reino de Neptuno à espera do próximo século.

      Não falei ainda das cápsulas de detergente da louça ou da roupa (que dão muito jeito), nem das de café (que tanto aprecio). Muito menos dos vasos arredondados dos laboratórios de química. É tanta a extensão semântica quanto o plasma (matéria física moldável) ser também líquido onde se encontram os glóbulos do sangue e da linfa ou um ecrã de aparelho televisivo "fino".

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Exemplos do nosso insucesso político

     A propósito dos receios da nossa Presidente da Assembleia da República.

    Apetece-me citar uma amiga, cujas palavras tive já oportunidade de comentar: "Não sou comentadora, mas..." (blogue Mariana).
   Depois de uma semana crítica no Parlamento - com deputados a discutirem se deve ou não haver referendo para a coadoção de crianças por casais do mesmo sexo (Tão absurda é a discussão!); com a decisão final a favor do referendo (Abominável decisão, como se o interesse das e pelas crianças não estivesse acima de odiosos jogos políticos!); com um orçamento que terá favorecido deputados com aumentos de mais de 90% nos subsídios de férias e de natal (tão intratável é o cenário que só o comentarei mais incisivamente quando tiver maior certeza sobre a questão, mais a unanimidade do interesse parlamentar, nada exemplar, para uma população constantemente estropiada nos seus direitos e no produto do seu trabalho); com o descrédito político generalizado, sem vislumbre alternativo para quem possa dirigir este país entre os que protagonizam discursos vazios, desacreditados, sem atos concretos para a mudança ou a esperança -, é certo que alguma coisa está a mudar: a língua, senhores! Até essa parece votada a sofrer as influências políticas do tempo: 


      Apetece-me dizer à Senhora Presidente que escusa de estar preocupada com a sua falta de criatividade ou falta de "espaços de energia" (aposto que a EDP, os chineses ou o próprio Mexia resolveriam o problema, se fosse necessário): em pouco mais de um minuto, criou um nome com derivações sucessivas, em várias etapas ('inconseguimento', que deve resultar de 'conseguimento', derivado por sua vez de 'conseguir'); um adjetivo relacional ('frustracional'); uma expressão neológica associada a um empréstimo muito antitético ('soft power') que, ao menos, tem em 'sagrado' um importante adjetivo (pelo menos é de peso) português. É obra!
      Obra maior é, por certo, falar um minuto sem nada de interessante ou importante dizer.

      Com tanta criatividade, não dá para perceber tanto medo! Seja lá o que tenha sido dito, é caso para ir em frente. O arquivilão Joker aplaude (por alguma espécie de reconhecimento, que suspeito compreender qual é)! Pena que não venha por aí um Batman, para nos livrar destes exemplos da comédia (mas de humor negro) dos dias correntes!

domingo, 30 de maio de 2010

Gramática com "muita fruta"

    Já conhecia o "frutíssimo", gelado de qualidade tão brasileira? Pois agora há um produto novo da Dan Cake!

   Eis a novidade:

   Não estou tentado a experimentar, mas fui levado a repensar o que sabia de gramática e da variação do nome quanto grau. Entre os tradicionais e conhecidos graus diminutivo e aumentativo, terá agora de se contar também com o grau superlativo absoluto sintético (que já não é propriedade exclusiva dos adjectivos), para considerar estes casos de designação nominal de alguns produtos. Ou, assim não sendo, fruta é adjectivo e este passa a ter a funcionalidade de designar entidades (no caso, das mais comestíveis).
   Provas da criatividade linguística associada ao trabalho publicitário.

   Se podia viver sem ele... o produto... o grau...? Claro que podia, mas não era a mesma coisa.