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domingo, 3 de novembro de 2024

Da ilusão do poder

    No cruzamento de várias teorias sobre o poder nas organizações, há (tem de haver) sempre o momento da relativização, da discussão e da contestação do mesmo.

      Autores como French Jr. e Raven, no final dos anos cinquenta, identificaram cinco tipos de poder assentes numa perspetiva social (tendo em conta a fonte de poder, bem como a relação entre o seu portador e um outro agente / ator organizacional): poder de recompensa, coercitivo, legítimo, do especialista e de referência. 
       A ilustração seguinte exemplifica bem, no foco do portador, o que se denomina de coercitivo:


Uma reflexão "poderosa" acerca do exercício de poder

    Há algum sentido de justiça e de recompensa, pelo foco de uma contingência que o portador não considerou e, nesse sentido, o fez perder autoridade legítima / legitimada (por mais racional-legal ou tradicional que fosse, de acordo com o modelo organizacional de Weber). 
     Sem o poder de especialista ou de referência configurado, num eventual exercício de controlo de recursos (raros), pode lá uma flor ou planta  sobreviver com "líderes" do calibre de Calvin!
      Reconheça-se que, nas organizações, existem sentidos difusos de poder, a vários níveis; de partilha, de concertação em que a comunicação pode e faz a diferença. Entenda-se que nenhum "poderoso" tudo controla e que fatores contingenciais podem contribuir para a regulação de excessos. 

       Neste mundo, tem de haver (esperança vã?) chuva a limpar quem se revela ditadorzeco e manipulador de opinião, com evidentes sinais de egocentrismo, de atos e de linguagem rude, grosseira, desacreditada pelos valores democráticos, de participação e inclusão (mesmo quando alguém o[s] legitima para o exercício de poder).

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Depois do confinamento, o confinamento.

      Passa o tempo. O que muda?

      Mudaram os dias, as semanas, os meses e o ano. Mudou o clima. Como diria Camões, "Todo o mundo é composto de mudança".
      Passado o confinamento geral anterior, vem aí o confinamento, de novo. Dizem que é geral, mas até o sentido do 'geral' mudou. O certo é que também mudou (para muitos mais) o número de infetados, de internados, de mortos. Parece é que não mudou o comportamento inconsciente de algumas pessoas, das que promovem e insistem em celebrações, festas, ajuntamentos e proximidades impensáveis.
    Até ao final do mês (por ora), voltamos a um mesmo que não é bem o mesmo; permanecem a preocupação, o distanciamento, o isolamento, o receio, a angústia. 
      Apetece já a mudança, que não pode acontecer.
      Por isso...

Estratégias de sobrevivência 

       Digamos que a perspetiva é já outra. Vamos em frente, com a esperança de que é possível fazer melhor, para todos nós.

      Aproveita, Snoopy, enquanto não te mandam para dentro da casota!

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Na onda do desenho animado

          Depois da Mafalda, é tempo do Calimero!

         Cansa-me o discurso daqueles que estão "sempre no corte", que não veem nada de bom nos outros e que estão sempre à espera da primeira falha. Também não aprecio os que sistematicamente dizem que não têm, não podem, não conseguem; dos que se sentem perseguidos pelo universo; dos que passam sempre ao lado e perdem, sem encontrarem forma de ir ao encontro das oportunidades. Outros fazem-no; eles nunca podem.
          É com estes últimos que me lembro do Calimero ("That's an injustice! Yes, that is!).

Calimero: o pintainho negro do "That's an injustice!"

        Trata-se de um desenho animado, de criação italiana, que apareceu na minha infância, por via da televisão, e que mais não era do que um infeliz pintainho, meigo, inofensivo, por vezes algo ingénuo. Era o único negro numa família de galos amarelos; terminava os episódios caminhando pesarosamente, com metade da sua branca casca de ovo na cabeça, e lamentando-se pelo infortúnio que lhe cabia. Os olhinhos descaídos, prestes a chorar, eram a expressão do "coitado" que parecia.
       Nascido das mãos de Nino e Toni Pagot, mais Ignazio Colnaghi, nos anos 60 do século passado (1963), Calimero fazia dupla com a sua eterna noiva Priscila e, junto com o pássaro esverdeado Valério, a pata Susi, o pato Piero e a ave Rosella, todos viviam aventuras e resolviam mistérios. Porém, no final, lá ficava o pintainho sozinho, assumindo as injustiças no percurso da vida.

        Há quem fale do 'Síndrome do Calimero', para os que se acham sempre vítimas de tudo e de todos. Às vezes também me apetece fazer de Calimero. O problema é que ninguém resolve por mim o que tenho de fazer. Ai!!!!!

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Quino: criador, crítico, cartoonista

      A morte chegou aos oitenta e oito anos e vai ficar na memória pela criança que criou.

    É incontornável a associação do argentino Joaquín Salvador Lavado (Quino) à criação da Mafaldinha, essa figura imaginada para um anúncio publicitário (que não chegou a ser difundido) a uma marca de eletrodomésticos. Não publicitou nada, mas acabou por conquistar o mundo da BD e do cartoon.
      Nascido em Espanha, aos dezoito anos (1954) Quino passou a viver em Buenos Aires, em condições que se diz terem sido precárias; cerca de dez anos depois veria algum sucesso com o nascimento dessa criatura infantil na idade, mas adulta nas reflexões - uma menina que quer ser tradutora da ONU (para transformar, no governo do mundo, os insultos em elogios); odeia sopa; idolatra os Beatles; gosta muito da paz, dos direitos das crianças e de ler.
      Com os olhos e as falas desta desconcertante personagem, sábia e contestatária, emerge muito do pensamento do autor, numa reflexão atenta e crítica da atualidade não só argentina como também internacional, com temas como a (des)ordem e o (des)governo do mundo; a luta de classes, o capitalismo e o comunismo; a pobreza e as injustiças sociais; a liberdade e a reivindicação de direitos, entre outros.
        Em tempos de gripes e de contágios, uma tira do diálogo Mafalda-Filipe é bem exemplificativa de uma atualidade e pertinência evidentes:

Tira da Mafalda 1 - Quino

        Ao contrário do Filipe, hoje gostaria de evitar algumas "modernices" nos sacrifícios que se nos impõem. Apetece-me ser Mafalda e gritar:

O grito da revolta da Mafalda em tempos de contágio

    Distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades (2014), eis um crítico do mundo a ver a balbúrdia deste e a reconhecer que não deixa de valer a pena nele viver. RIP.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

"Ridendo castigat mores"

    Máxima vicentina acompanhada de tabefe, lambada, estalo ou bofetada valente (de luva branca não é, até por ser azul). Em tempos talvez tenha funcionado. Hoje, tenho dúvidas.

    Pelo menos para aqueles que aprenderam de vez a corrigir o erro, é possível que um valente tabefe tenha sido um santo remédio. Para os que não deixaram de o cometer, foi pedagogia falível. Ainda assim, sorrio com a imagem:


    Por cómico que seja, a vontade às vezes é muita - passar das palavras aos atos. Não sei se é razão para heroísmos, mas, por certo, é motivo de desgaste, de cansaço, de consciência de que não adianta falar sempre no mesmo e às vezes a uma mesma pessoa. Daí ter de se criar a versão contrária do "Água mole em pedra dura tanto dá até que fura".
   Não fura nem furará, quando tantos ignoram e/ou relativizam a questão. Pena que estes não saibam que a ignorância e/ou relativização neste domínio é apre(e)ndida e aplicada, depois, a muitas outras situações que também não serão levadas a sério (por mais que as queiramos ou venhamos a ver como tal).
    Será que a vítima aprendeu como se escreve 'bateste' (TU bateSTE)? Para que não se pense que é apenas uma questão de hífen, bom seria considerar que a gramática daria uma ajudazita importante, caso a morfologia fosse sistematicamente trabalhada (tal como em 'estudaste > TU estudaSTE', 'cresceste > TU cresceSTE', 'sorriste > TU sorriSTE'). Dar-se-ia conta da terminação verbal na segunda pessoa gramatical, e não de uma construção sintática associada à pronominalização (com 'te').
     Uma questão de domínios gramaticais com relações evidentes na leitura e na escrita - o que não significa, portanto, deixar de trabalhar morfologia e sintaxe. Se o bom desempenho daqueles domínios programáticos depende destes domínios linguísticos é neles que interessa apostar (quanto mais não seja para não ver anúncios tão mal escritos).

     Agora veja-se o peso que a gramática tem nos programas de ensino do Português, nomeadamente no Ensino Secundário! Só falta ouvir dizer que a questão crítica evidenciada é para alunos do ensino básico. Alguém está a precisar de uma valentíssima bofetada, para ver se acorda para o mundo e para a realidade. Belo pensamento para começar fevereiro!

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Em tempo de calor...

    Dia da criança, dia de abertura da época balnear. Dia também para se brincar com a língua.

   Inspirada em expressões idiomáticas entendidas à letra, Mariana Crisóstomo criou ilustrações para expressões portuguesas, na linha do que podem ser registos cómicos (explorando o sentido literal que a expressão, por certo, hoje não tem).
    A ilustradora e designer gráfica partiu, por exemplo, da expressão "tirar o cavalinho da chuva" e, assim, compôs a imagem seguinte:

"Tirar o cavalinho da chuva" in http://observador.pt/topico/junkhead/

    Talvez na sua origem, em tempos em que o cavalo era o meio de transporte mais comum, houvesse alguma significação próxima do dito literal: o animal era abrigado nos momentos de paragem ou de descanso mais prolongado; contrariamente, uma permanência breve era sintomática quando o equídeo era amarrado à porta de casa; ainda assim, quando passava mais tempo do que o previsto, o anfitrião acabava por aconselhar que o cavalo fosse 'tirado da chuva' (para não sofrer consequências com a demora e/ou o mau tempo).
     Atualmente, a expressão refere-se a uma situação em que há a necessidade de desistir de uma ideia ou vontade (qualquer que ela seja), dissuadindo-se de qualquer pretensão que vá no sentido contrário.

     Fica o apontamento - entre o significado literal e o sentido atribuído pelo uso -, na crença de que o conhecimento deste último coloca o primeiro no registo de um cómico que se atualiza no grafismo da designer que se dá a conhecer como "junkhead".

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Realidade... a quanto obrigas!

     É um facto que a realidade está muito longe de ser simples ou favorecedora do que haja simplesmente de bom.

     Assim o propõe o cartoonista americano Bill Watterson numa das vinhetas da sua banda desenhada com as personagens Calvin & Hobbes (o jovem rapaz de seis anos que se faz acompanhar do seu tigre de estimação), numa frase com variedade do português do Brasil.
     Só espero que a minha resposta não esteja a simplificar demasiado... nem a complicar... para ficar pela virtude.

      Q: Boa noite, Vítor.
      Hoje gostaria de lhe pedir uma ajuda em relação à análise sintática da frase " Observar a realidade dos desfavorecidos é um dos temas da sua poesia!" (a propósito do estudo de Cesário Verde). "Observar a realidade dos mais desfavorecidos" é o sujeito da frase, certo? E "dos desfavorecidos" será complemento ou modificador do nome? Parece-me que será modificador restritivo, mas nem todos os colegas concordam.
        Grata pela atenção e um bem-haja por todo o trabalho desenvolvido.

      R: Viva.
      Muito obrigado pelas palavras que me dirige e que, naturalmente, me deixam contente por poder ajudar alguém com estes meus contributos.
    Genericamente, e no que respeita aos complementos de nome, houve já apontamentos que trataram a questão e apontaram para uma tipologia de nomes implicados. O que está em causa é o facto de, similarmente aos verbos, haver nomes que selecionam argumentos (os quais, no sintagma nominal, funcionam como complementos - função sintática interna). Tais nomes apresentam um sentido que implica uma relação com outra entidade – p. ex. ‘amigo / pai / filho / irmão’ (> de alguém); ‘fatia’ (de alguma coisa); ‘autor’ (> de alguma coisa / obra); ‘consequência’ (> de algo). 
    Quanto ao exemplo proposto, começo por confirmar que o segmento ‘Observar a realidade dos mais desfavorecidos’ é efetivamente o sujeito sintático da frase matriz (com a configuração de uma subordinada não finita infinitiva), para o predicado ‘é um dos temas da sua poesia’.
    No interior desse sujeito encontra-se um grupo nominal (‘a realidade dos desfavorecidos’) cujo núcleo (‘realidade’) se encontra expandido pelo segmento ‘dos desfavorecidos’.
    O nome ‘realidade’ não é considerado em nenhuma das tipologias anteriormente referidas. Ainda que não exaustivamente, retomo aqui os casos mais comumente mencionados para nomes que selecionam complementos:
. nomes relacionados com situações eventivas, com participantes (ex.: casamento, chegada, invasão) ou com localização temporal e espacial específica (ex.: boda, concerto, cortejo, doença, espetáculo, evento, férias, tempestade, noite, dia, capital, presidente, rei);
. nomes que denotam estados psicológicos de um experienciador (ex.: alegria, amor, angústia, desejo, fúria, medo , temor):
. nomes de parentesco (ex.: pai, mãe, filho, irmão, tio, avô…);
. nomes respeitantes a relações institucionais ou sociais (ex.: amigo, colega, companheiros, professor, sócio) ou noções relativas ao âmbito de atuação ou de responsabilidade de alguém (ex.: chefe, ministro, porteiro, criado, dono, proprietário);
. nomes associados a representações visuais ou gráficas (ex.: descrição, desenho, fotografia, imagem, quadro, radiografia…);
. nomes que representam obras culturais (ex.: artigo, capítulo, filme, história, livro, ópera, quarteto, relatório, sinfonia, trabalho) associadas a um autor (no papel semântico de agente);
. nomes que denotam relações do tipo parte-todo (ex.: final, início, suplemento, braço, …) ou propriedades de pessoas ou objetos (ex.: altura, conteúdo, contorno, idade, extensão, forma, força, medida, peso, preço).
       Em nenhum destes casos cabe o termo 'realidade'. 
   Mesmo que fosse considerado o cenário de estarmos próximos de uma nominalização de qualidade (também tipicamente orientado para a complementação de nomes, construídos a partir de um adjetivo: ‘real’ > realidade), tal não se efetiva segundo o sentido transmitido pelo enunciado proposto. O segmento ‘a realidade dos desfavorecidos’ não significa necessariamente que ‘Os desfavorecidos são reais’ (tal como em ‘a beleza da jovem’, que apresenta um nome expandido por um complemento, por o núcleo nominal se associar ao adjetivo ‘bela’ e permitir a paráfrase ‘A jovem é bela’); antes, que os desfavorecidos apresentam ou vivem uma realidade com um determinado conjunto de características.
     Assim, ‘realidade’ é um nome seguido de um modificador (grupo preposicional) que o restringe em termos de significado, mas que não está nele implicado em termos de estrutura argumental.

     E depois da realidade (ainda por cima 'dos desfavorecidos'), prefiro, à moda de Cesário, enveredar pelo caminho da transfiguração do real... pelas sugestões e alternativas que esta possa trazer (desejavelmente menos desfavorecida).

terça-feira, 23 de julho de 2013

Avaliação: sentidos, oportunidades e práticas

     A convite de uma colega e de uma instituição de ensino privado, a avaliação foi motivo e objeto para um encontro de formação profissional.

     Durante duas manhãs, num total de seis horas, o tema para uma formação de professores (de vários grupos disciplinares) vai orientar-se para questões de avaliação. Começando hoje e terminando amanhã, cerca de vinte docentes do Colégio Dom Dinis (Porto) irão trabalhar comigo numa temática focada ora em desempenhos associados à recolha de informações necessárias à tomada de decisões ora numa das dimensões fulcrais do processo educativo (nos seus mais diversos níveis de análise).
      Com o título "Avaliação: sentidos, oportunidades e práticas", tratar-se-á de  refletir sobre o papel da avaliação enquanto fase fundamental do desenvolvimento curricular; exigência social relacionada com desempenhos institucionais, docentes e discentes; construção de pontos de referência; abordagem sistémica e processual; forma de estruturar o ensino-aprendizagem (ao nível mínimo, essencial e de mestria); práticas e testagens focadas na norma / em critérios; domínio reflexivo dominantemente formativo e alternativo, no que às práticas docentes mais exigentes, diversificadas, interativas e atentas à diferenciação diz respeito.
       Nesta formação, parte-se com a perspetivação dos seguintes objetivos:


        Visa-se a abordagem dos seguintes conteúdos:


    E, para começo de trabalho, nada como partir das representações docentes relativamente ao que é entendido por avaliação, num jogo de papéis mais abrangente e situando a reflexão em termos de avaliadores e avaliados - o que permitirá sempre partir de questões como "Quem avalia?", "O que é avaliado?" e "Quem é avaliado?"
    Depois, será bom antever o que se quer ver tratado neste encontro formativo - entre as palavras / expressões que se associa ou se nega, não se deixa de refletir sobre o(s) sentido(s) que a avaliação tem para cada profissional.
  Independentemente dos que aqui forem encontrados, outros haverá, por certo, segundo os níveis de análise associados às organizações educativas; a rede de conceitos dos esquemas, das estratégias e dos expedientes; a lógica das orientações para a ação e a das a(tua)ções propriamente ditas. Destas últimas e da contextualização específica e contingencial que as marca, há espaço suficiente para o que a modalidade de avaliação formativa alternativa admite - globalmente, na conceção do que seja uma avaliação para ou focada na aprendizagem; especificamente, na abordagem avaliativa orientada para dinâmicas e formações não regulares e/ou implicadas na diferenciação.

     Mais do que encarar o tema como domínio problemático ou crítico, é o sentido de instrumento para o desenvolvimento pessoal, interpessoal e organizacional que se procurará relevar nesta formação, preocupada em dar resposta a um desafio: toma a avaliação como oportunidade de regulação, monitorização do ensino e da aprendizagem em práticas pedagógicas de natureza interativa e a todo o tempo adaptadas ou adaptáveis.
      

sábado, 17 de novembro de 2012

O poder do coletivo... gramatical

       Porque há reducionismos que não podem perpetuar-se...

      Q: Eu sempre ouvi dizer que um nome coletivo se encontra no singular. Como é que entende que este subtipo de nome apareça nos nomes contáveis, no Dicionário Terminológico?

      R: Começo por fazer um pequeno reparo: o nome coletivo surge, no Dicionário Terminológico, tanto nos nomes contáveis (diferenciáveis em partes singulares ou plurais no seio de um todo, sendo o plural marca de quantificação) como nos não contáveis (não distintivas do todo pelas suas partes, sendo o plural marca típica de qualificação).
      Depois, haverá que reconhecer que, por exemplo, o nome coletivo 'turma' não deixa de ter o plural 'turmas' (tal como equipa / equipas, rebanho / rebanhos, cardume / cardumes, bando / bandos, povo / povos), no entendimento de entidades grupais homogéneas diferenciadas. Acontece, sim, que certos nomes coletivos não admitem, por norma, plural, como é o caso de 'flora', 'fauna': posso falar em diferentes tipos de equipas, diferentes tipos de turmas, diferentes tipos de cardumes, mas não de diferentes tipos de faunas ou de floras (só de fauna ou de flora).
     O facto de a forma singular de uma palavra significar por si só um conjunto de entidades (noção generalizada de nome coletivo) não impede que, sendo possível, se fale dessa palavra na sua variação quanto ao número, para referir diferentes conjuntos dessas entidades homogéneas.

         ... particularmente aqueles que pretendem anular continuidades lógicas que não podem ser anuladas (porque todos as produzimos).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Polissemias...

     Mais um exemplo gramatical na BD da Mafalda.

   Já foram aqui utilizados alguns exemplos de como a banda desenhada reflete dados linguísticos de interesse.
     O próximo parece-me demasiado atual, em termos do contexto crítico que todos vivemos:


     Pela zona comum de significado, numa proximidade semântica que deixa antever uma origem etimológica igual, a designação do dedo e o dado informativo que serve de indicação, guia ou roteiro são um caso a considerar na abordagem da polissemia.
     O mesmo vale para o domínio químico, no qual também se utilizam indicadores (substâncias utilizadas para conhecer a natureza de um elemento quanto ao seu carácter de ácido-base ou de óxido-redutor).
     
       Diria, em síntese, que há indicadores tão ácidos que mais parecem indicaDORES.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cada um sabe as linhas com que se cose

         Assim o diz o povo.

        Contudo, entre o 'coser' com fio e o 'cozer' com fogo, ainda há quem se queira 'queimar'.

Tira publicada na edição de hoje do Jornal de Notícias

     Um exemplo clássico de como a homofonia pode motivar o erro. Por clássico que seja, parece que ainda não há resolução... e pior ainda quando propagado por meios de comunicação social que, mesmo em banda desenhada, deviam pautar-se pelo bom exemplo. Não é aqui o caso.
    Já no latim se assumia a diferença entre 'consuĕre' (no latim clássico, entretanto vulgarizado para 'cosēre') e 'coquĕre' (vulgarizado como 'cocēre'), conforme a linha ou o lume, respectivamente. Reside, portanto, já no latim a distinção ortográfica entre a linha do 's' e o lume do 'c'.

     A botão linha se dá - razão pela qual se cose.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um feriado... romântico

     A tese romântica de que o poeta morre com a nação dá nisto: um abençoado feriado.

     Dizer que 1580 é data da perda da independência portuguesa, ficando o país sob o domínio filipino por um período de sessenta anos de governo dual, não é dado contestável.
     Certa a morte de Camões, já a data de nascimento levanta muitas incertezas (uma boa oportunidade para se trabalhar a modalidade epistémica, enquanto mecanismo linguístico da expressão da possibilidade ou probabilidade).

in Das Palavras aos Actos (manual de 10º ano de Português), Porto, Edições ASA

         Resta a evidência de um abençoado feriado.
     Quanto ao dia de Portugal, talvez devesse ser o dia 1 de Dezembro (o da Restauração da Independência, hoje mais lembrado pelo Dia Mundial da SIDA). 
      Se ainda o descobrem, tiram-nos o desejado descanso deste dia, a título da concentração / redução de feriados.

     
Bem razão tinha um outro nosso escritor, Eça de Queirós ("Somos invariavelmente românticos"), cuja data de nascimento ou morte bem que também poderia ser feriado - isto para quem pense que ando a dar ideias para tirar feriados (sempre fica a proposta de criação de um outro).


terça-feira, 17 de março de 2009

Linguística na BD

       Dois exemplos da Mafaldinha...

      ... para mostrar como os Complementos do Adjectivo são funcionais... até na BD.

      Primeiro
      Segundo

      Agora, até estou interessado... (não digo em quê!);
      fico até ansioso... (também não digo por quê!).

      Tal como alguns verbos, também há adjectivos que se fazem acompanhar das preposições que introduzem a complementação destes últimos (ansiar por > ansioso por; interessar-se por / em > interessado por / em).