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domingo, 17 de outubro de 2021

E vão cinco... (e uns quantos mais deles!)

      Número a propósito do que está para vir (esperemos que seja mais profecia e menos perdição).

   Segundo o Tarot, nas cartas dos arcanos maiores, o cinco corresponde à figura de 'O Papa'. O simbolismo do número, na decomposição de um 4+1, sugere uma ação unitária que dirige as forças materiais; com 2+2+1, uma mediação entre duas fecundidades (a Papisa, na repetição do gérmen, sem esquecer a unidade); com 2+3, uma conjugação de energias (as da Papisa e da Imperatriz, respetivamente), combinando a fecundação de ciclos, de forças mentais associadas à comunicação e comunhão. É uma carta espiritual que evoca a descida do sagrado sobre o material; um aviso espiritual que deve encontrar eco no plano físico; um apelo para a libertação da matéria.
      Talvez um pouco de tudo isto venha a ser Quinto Império: Profecia de Perdição:

Convite para o lançamento público do romance de Manuel Maria

       Mais uma história que deu em livro, diria, parafraseando, grosso modo, um outro título do escritor (com tempo / modo verbal distintos). 
      E quanto à apresentação, acrescento que isso serão 'Contas de um outro Rosário'!
     Por ora, mais não escrevo para que fique algo para dizer proximamente (dia 30 de outubro, pelas 15:30, no Auditório Horácio Marçal - Paranhos), aquando da apresentação deste romance - o quinto do autor (e com cinco palavras no título), que tem tanto de histórico como de ficcional. 

Estudo da capa e contracapa do romance

     Assim o construiu Manuel Maria: como narrativa que recupera Pre. António Vieira da sua senda histórico-biográfica para uma dimensão nova, a de um universo em que a personagem se cruza com Adão e Eva, sem que estas últimas sejam necessariamente bíblicas.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Em 'Desafios'

       Formulado o convite, não podia dizer que não. A consideração por quem convida é mais forte.

      Solicitado um texto para fazer parte de uma publicação-conjunta online de vários autores (dirigida pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa - Porto), resultou o processo de escrita numa extensão considerada mais válida para uma publicação autónoma.    
      Honrado o compromisso, maior foi a honra por ter sido conduzida a publicitação do artigo para um caderno intitulado Desafios - Cadernos de Trans_Formação (número 29). O mote era: como se tece a ação pedagógica em tempos de COVID 19; eu glosei os "(Des)encontros e (re)aprendizagens (à distância de um clique, com toque humano)".

Um artigo disponível para leitura em

      Melhor ainda foi ver o meu contributo antecedido de um editorial com as palavras generosas do Professor Matias Alves, contextualizando, destacando pontos fulcrais da minha reflexão, citando algumas das minhas palavras, reconhecendo-lhes qualidade(s).
   Entre muitas respostas, surgiram algumas perguntas; e, no fundo, procurei reafirmar o sentido nevralgicamente pedagógico de uma situação, preferindo ver nas dificuldades oportunidades; procurando manter jovens na "rede" do trabalho, do estudo, do compromisso para que a vida apela.
     Contei ainda com a solidariedade e colaboração de alguns dos meus alunos, que se podem rever na(s) ação(ões) em que participa(ra)m. Pela cumplicidade e pela aceitação do trabalho (trabalho e mais trabalho), também muito lhes agradeço.

       Pela consideração mútua, pelo trabalho que desenvolvemos juntos e pelas identidades que fomos e vamos construindo, restam-me a gratidão e o reconhecimento pela aposta feita. Obrigado, Matias Alves.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

De novo, a oficina de escrita

       Nova edição para uma oficina de formação.

       À semelhança do já ocorrido na Escola Secundária com EB2,3 Dr. Manuel Laranjeira (Centro de Formação Aurélio da Paz dos Reis), desta feita regresso à Escola Secundária com EB3 de Gondomar (Centro de Formação Júlio Resende) com "Da Oficina de Escrita à Escrita com alguma Oficina: processualidade e dinâmicas". Dezoito formandos em oportunidade de partilha de experiências, onde escrever é verbo-chave, seja para ensinar seja para aprender.

Dispositivo de apresentação da nova edição da oficina de formação

      O programa da oficina segue o já proposto anteriormente, apesar de não se poder contar com a condição de trabalho direto com os alunos e as turmas. A calendarização solicitada não se ajusta ao contexto de operacionalização junto deles. Ainda assim, ora numa perspetiva prospetiva (de planificação de intervenções a acontecer num futuro próximo) ora num posicionamento crítico face ao já experimentado, procurar-se-á abordar o conceito de oficina de escrita numa de três possibilidades: oficina como atividade extra-aula (própria de dinâmicas de clubes, de escrita recreativa e lúdica ou de atividades de complemento associadas a modalidades de apoio educativo); oficina como atividade letiva (assente numa planificação estruturada de três a cinco aulas, focada na implementação de pressupostos da pedagogia da escrita); oficina numa dimensão de projeto, aglutinando várias disciplinas numa atuação conjunta, para avaliações alternativas, orientadas para perfis de competências / de desempenhos em dinâmicas mais integradoras e transversais.

       Quinze horas de formação presencial, mais quinze de trabalho autónomo, ultimando na partilha de experiências e iniciativas inspiradoras para novas / mais práticas de implicação de alunos e professores no domínio da escrita.Novo(s) tempo(s) de muito(s) trabalho(s).

       

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Publicação com mais de dez anos

     Retomo-a, por vezes, mas hoje revi-a no Facebook.

   Já lá vão mais de dez anos. No tempo, e em coautoria com quem também dava contributos significativos para a área da educação, esta publicação surgia como conjunto de sugestões orientado para o que eram as "aulas de substituição". Mais do que cem guiões destinados a dar algum sentido a uma dinâmica que também se podia cruzar com as áreas da Formação Cívica, do Estudo Acompanhado ou na complementaridade com atividades letivas.
     Lia-se, na "Introdução", que 

   "Desde o ano lectivo 2005-2006, o tempo escolar transformou-se num dos principais problemas que os professores têm de enfrentar. Todos passam entre 24 e 30 horas semanais na escola. Todos realizam actividades para as quais não tiveram condições de se preparar. Todos (ou quase todos) são obrigados a ocupar os alunos na ausência prevista ou imprevista de um professor. Mas não é só uma maior permanência forçada na escola. É também uma intensificação e complexificação desse tempo. Ser imprevistamente obrigado a ir dar uma aula de substituição a uma turma que não se conhece, de uma disciplina que não se domina; ou mesmo cumprir um plano de aula que um colega deixou no conselho executivo; ou ocupar um grupo mais ou menos numeroso de alunos em diferentes contextos são actividades de enorme pressão psicológica, de grande desgaste, nalguns casos até de grande sofrimento.
       O professor tende hoje a ser tratado como um faz-tudo, a ser obrigado a ensinar, a estimular e a socializar - ao fim e ao cabo as três funções verdadeiramente profissionais. Mas, para além da missão profissional, é empurrado para ser tomador de conta, guardador de crianças e jovens, para fazer o papel de auxiliar da acção educativa, de contínuo, de vigilante e de prefeito. Para fazer face a este problema plurifacetado, as escolas foram procurando e encontrando soluções diversas: a nível da organização escolar (estimulando e organizando permutas docentes dentro do mesmo conselho de turma, à semelhança do que sempre se fez no ensino profissional; distribuindo a turma por vários professores, que trabalham com pequenos grupos em diferentes locais ... ); a nível departamental (organizando um sistema de disponibilização de substituições entre os professores do mesmo departamento, disponibilizando baterias de fichas e actividades por níveis de ensino e por competências-chave); a nível individual (tendo sempre à mão vários planos de aula transversais, passíveis de serem executados em qualquer contexto educativo ).
       Mas qualquer que seja o esquema organizacional, é sempre necessário o recurso a conteúdos e estratégias com intuito pedagógico. A conteúdos que dêem sentido à acção que os alunos e os professores vão realizar. A conteúdos e actividades que possam interessar os alunos e que possam fazer deste difícil tempo de encontro forçado factor de satisfação comum. 
      E é neste contexto que surge este livro-ficheiro. Um banco de recursos da mais variada espécie e natureza, em suporte papel e em suporte digital, que será, estamos certos, um auxiliar valiosíssimo para todas as actividades de substituição.
      Acreditamos que esta publicação vai assim ao encontro de uma necessidade premente. E vai, com a inteligência e a sensibilidade dos professores, ser um instrumento ao serviço das aprendizagens dos alunos e da gratificação profissional.
      São estas as nossas convicções e os nossos votos."

     Trago o texto citado da obra em questão; trago a revisitação do Facebook e do blogue do Professor Matias Alves (um dos coautores) - Terrear.
      Pelo índice da publicação, há atividades para muitos gostos e múltiplas funcionalidades: treino da atenção, abordagem da escrita, escrita criativa, indução e gestão de conflitos, observação e visionamento, narração de histórias maravilhosas para encanto e aprendizagem. Assim se pensava e construía o trabalho para alunos do ensino básico e do secundário - cenários ensaiados, testados, implementados. Experiências práticas efetiva(da)s.
      Parece que querem usar a obra em Timor, aplicando algumas das sugestões / propostas.

    Muitas das ideias permanecem válidas, para uma publicação que, hoje, podia ser intitulada Aulas de implicação e construção de aprendizagens. Obra feita!

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Tempo(s) de muito(s) trabalho(s)

      Fecha-se mais um ciclo formativo.

     Hoje foi tempo para concluir mais uma oficina de formação. O balanço é mais do que positivo quando se veem evidências de trabalho com os alunos, dinâmicas e práticas enformadas pelos pressupostos abordados / focados nesta formação específica.
      Houve demonstrações para todos os gostos: oficinas de escrita como projeto, oficinas de escrita na prática letiva, abordagem da escrita com algumas orientações e processos oficinais na revisão e reescrita,... 


    Foi ótimo ouvir que os alunos gostaram, que se sentiram implicados; que querem repetir a experiência, que avaliaram as práticas das aulas como oportunidade de melhorar, de aperfeiçoar, de consciencializar,...
    Não foi menor a satisfação e o espírito demonstrados, não obstante as dificuldades / os constragimentos, nessas conquistas que aconteceram em aulas de várias escolas, com professores motivados no(s) trabalho(s) desenvolvido(s) e apresentado(s). E, para além de tudo, verificaram-se sentidos de ação colaborativa na planificação, na execução e no acompanhamento, na avaliação produzidos...
      No fim, resultou a partilha, a construção de uma identidade profissional que se define pelos desempenhos atentos aos problemas e orientados para a superação de algumas das múltiplas dificuldades que o processo de ensino-aprendizagem naturalmente implica.

         Passadas trinta horas, ficam o reconhecimento e o agradecimento por a mensagem ter passado das palavras aos atos.
         

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Em modo de formação...

      Dia de encontro formativo para falar de... oralidade.

     O encontro resultou de um convite para dinamizar uma sessão de formação sobre a oralidade, o papel deste domínio nas aulas de línguas e a algumas formas de a(tua)ção para o seu ensino e a sua avaliação.
      Assim, desloquei-me até à Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa do Varzim. A imponência do edifício faz-se sentir, a do nome referencial da cultura e literatura oitocentista também. A impressão foi francamente positiva, num edifício que não sofreu intervenção da Parque Escolar E. P. E.; que tem aspeto para dar e durar (contrariamente às que foram objeto de remodelação e/ou reconstrução); que deixa transparecer uma organização, um clima profissional e uma atenção à formação dignos de apontamento, até pela iniciativa desenvolvida (em termos tanto de departamento como de divulgação junto de outros docentes de escolas circundantes).

Imagem da fachada da Escola Secundária Eça de Queirós (no diploma de participação / dinamização da ação)

    Ao longo de duas horas, procurei cumprir o que anunciei como a articulação de um domínio ao serviço de outros saberes, explorando pontes que, sem descon-siderar especifici-dades do oral, contribuem para práticas de ensino-aprendizagem mais integradas (para que não se encare este último como algo mais a trabalhar e ao qual ora se resiste, pela inevitável argumentação da falta de tempo, ora se toma como menos indispensável face às exigências dominantemente escritas nas avaliações interna e externa).
    Na sequência de outras experiências formativas, de reflexões partilhadas com vários docentes, não deixaram de ser facultados materiais e instrumentos que põem em relevo a necessária atitude analítica, avaliativa das realizações fa-cultadas; a cons-trução de critérios e indicadores de de-sempenho na orien-tação dos processos de ensino-aprendizagem; a consideração de que o oral admite áreas de convergência com o escrito, de modo a que as oportunidades de trabalho criadas perspetivem ambos os domínios como as duas faces de uma mesma moeda que é a língua.
   Ainda que o encontro formativo tenha sido reduzido e pontual no tempo dispensado, fica a expectativa de que ele venha a multiplicar-se nas reflexões e nas orientações capazes de enformar futuras opções práticas. 

      Depois de ter dinamizado uma experiência com vinte horas de formação sobre este mesmo tema, senti-me, neste par de horas, como que a meter o Rossio numa betesga; ainda assim, pode ser que esta última fique sempre mais povoada com os rumores da praça.

sexta-feira, 22 de março de 2013

A um pequeno GRANDE HOMEM e ENORME PROFESSOR

     Há nomes tão grandes que não desmerecem as pessoas exemplares que os têm, por mais pequenas que nos surjam aos olhos.

     Lembro-me, enquanto estudante do ensino secundário, que era dos nomes mais citados sempre que se pretendia referenciar ou desenvolver algum trabalho sobre literatura. A História da Literatura Portuguesa era, então, título consabidamente conhecido entre os jovens que se orientavam para os cursos de Letras (como eram então conhecidos, na década de oitenta do século passado). Não quer isto dizer que os de Ciências o desconhecessem, mas havia já um sentido de identidade que os alunos dos cursos humanísticos assumiam na frequência com que ouviam falar tanto de António José Saraiva como de Óscar Lopes.
    Quando, em 1984, entrei para o curso de Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, voltei a deparar-me com o nome do Professor Doutor Óscar Lopes no momento de inscrição nos horários de Introdução aos Estudos Linguísticos. Ganhava aí a consciência da extensão maior de saber num homem: do historiador de literatura para o linguista. Copiava então um nome que já respeitava e que imaginava na grandiosidade física proporcional à imponência do saber. Verificado o horário da disciplina, mais o local, apresentei-me no anfiteatro pequeno da faculdade, então localizada na Rua do Campo Alegre, num edifício junto ao Jardim Botânico. A curiosidade era imensa: se a compatibilidade horária com outras cadeiras do plano de estudos de Português-Inglês me fez assistir e frequentar as aulas da Professora Fernanda Irene Fonseca (circunstância de que não me arrependo em absoluto), não pude deixar de me infiltrar num grupo que iria trabalhar com quem, à partida, eu gostaria de ter ficado mais tempo e mais perto.
     Recordo-me das primeiras linhas de apontamentos que tentei tirar, depois do espanto de ter visto entrar e ficar à minha frente um professor de pequena estatura, aspeto franzino, semblante aquilino e trato afável. Explicou a todos os presentes que tinha ido almoçar muito rapidamente à Alicantina e acabara por gizar, num pequeno e fino guardanapo de papel (entretanto retirado, e desdobrado, do bolso do sobretudo),  os tópicos para o tema de que ia falar: sinais e linguagem. E, para tal, nada melhor do que convocar experiências e conhecimentos de mundo.
    Tentei tirar apontamentos, sim,... tentei. Mas o assombro do que foi essa aula estava mais para apreciar o que ouvia do que para me perder na escrita. Cheguei mesmo a listar as ciências e/ou áreas de saber que foram evocadas naquela sessão de 120 minutos:  astrologia e astronomia, biologia, ciências náuticas, física, química, economia, geografia, sociologia, filosofia, medicina, música, pintura, arquitetura... Entre a angústia de pensar que era melhor registar o que ouvia (para não perder) e o prazer de escutar, de acompanhar os raciocínios e a argumentação produzidos, fiquei-me pela segunda.
    Repeti a experiência por mais cinco / seis lições, com o mesmo fascínio e, reconheço, a vontade de poder dominar só uma pequeníssima parte de todo aquele saber, conjugado com naturalidade e humildade capazes de motivar qualquer público.
     Nesta grandeza, explica-se como era possível encontrar o Professor caminhando no passeio da Avenida da Boavista, junto à parede das casas, sem qualquer nota de protagonismo e como que humildemente procurando proteção e generosamente oferecendo o espaço restante aos que com ele se cruzavam.
     Anos mais tarde, em maio de 1996, quis o destino que fizesse parte de uma comissão organizadora de homenagem a Óscar Lopes - o 1º encontro de professores de português (a língua mãe e a paixão de aprender), promovido pela Areal Editores no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos. Dava eu aulas, nessa altura, na Escola EB2,3 de S. Pedro da Cova. Assim que o Professor o soube, pediu-me que ensinasse e fizesse o melhor que pudesse por aquelas gentes de que tanto se lembrava e estimava. Assim o quis fazer, por não poder ser por menos - nessa altura, Vasco Graça Moura, que nunca tinha sido aluno direto de Óscar Lopes e todavia sempre se sentira como se o tivesse, chamou-lhe "o Professor dos Professores" (expressão de correção e rigor).
      Com Óscar Lopes ficou-me uma máxima: "O sentir liberta-se quando o pensar está bem arrumado" [in Gramática Simbólica do Português (um esboço), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1971]. Também, um princípio pedagógico-didático: "O aluno não precisa de saber exactamente para onde vai, mas o professor precisa; e, se o souber, descobrirá muito mais facilmente qual o modo mais adequado de interrogar, de estimular problemas interpretativos, e qual a melhor altura para inculcar as peças de raciocínio simbólico, e para, pouco a pouco, as articular com vantagens correlativas no domínio da precisão racional e no do apuramento da sensibilidade" (idem, pág. 8).
    Transcrevo aqui algumas das sábias palavras que ouvi há quase vinte anos e que (re)leio hoje na pertinência e no ajustamento de qualquer tempo:

      "Eu chamo a esta disciplina [falando do Português] uma superdisciplina, porque, no fundo, deveria coroar todo o ensino, ou toda a comunicação. É na língua materna que tende a confluir tudo o que se aprende, e por isso esta é, por excelência, a disciplina em que há sempre algo de novo, em que o professor, com a integridade dos seus dons, ultrapassa de longe o próprio programa. É preciso estar atento ao novo que se exprime literariamente, incluindo o mundo que se traduz em qualquer língua estrangeira (...). Por outro lado, a nossa gramática escolar tem de condizer com a mais exacta das nossas disciplinas, a matemática, que assenta não no algarismo (o algarismo decimal veio do Oriente, no século XII, com os Árabes - os Árabes! -, e só nos familiarizámos com esse sistema de numeração no século XVIII), mas nas operações mentais, que se realizam em qualquer das sete ou oito mil línguas do mundo. É indispensável que o professor de língua materna e o professor de cálculo formal (ou matemático) se compreendam um ao outro, porque, de contrário, somos nós que não nos entendemos, impotentes, perante uma grande manifestação de esquizofrenia real que já não pode vencer-se".
(Excerto da alocução do Professor Óscar Lopes,
no 1º encontro de professores de português - homenagem a Óscar Lopes,
2-3 de maio de 1996)

      Um Professor que teve a paixão de ensinar, pela paixão que teve com e pelas causas justas.
      RIP


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Do ensino para as aprendizagens

    Começou hoje a segunda edição da ação de formação já divulgada em apontamento anterior.

    Centrada na questão das estratégias e das interações, à semelhança da primeira edição serão abordadas questões acerca:
. dos pressupostos que orientam a reflexão pretendida na ação;
. da leitura crítica da centralidade do aluno no paradigma das pedagogias modernas (não diretivas);
. das representações do exercício profissional docente (pela experiência adquirida enquanto alunos; pelo exercício da profissão visibilizada na adoção de esquemas, estratégias e/ou expedientes; pelo exercício da função junto de pares);
. dos focos centrados nos ciclos de vida profissional;
. dos focos centrados nos modelos de comunicação e interação;
. de casos-problemas e sua perspetivação à luz das medidas de a(tua)ção adotadas;
. dos modelos de comunicação e interação em contexto pedagógico (ora dominantemente centrados nos professores, ora dominantemente centrados nos alunos);
. das representações e das imagens construídas nas interações (em termos da estruturação do processo de interação, em termos do discurso produzido,)
. dos fatores potenciadores de conflito nas interações.
     Uma oportunidade para partilhar reflexões, práticas, possibilidades de ação, sem esquecer o papel central do professor na gestão do ensino para as aprendizagens.

    Desta feita, um grupo de vinte e seis formandos, certamente com muito para enriquecer quinze horas de trabalho essencial ao percurso do desenvolvimento docente.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

(In)Formação (para futuro já próximo)

     Praticamente a uma semana de uma nova ação, para um segundo grupo de formação.

     O tempo corre (e cada vez mais rápido).
     "Do ensino para as aprendizagens: estratégias e interações" vai arrancar com um segundo grupo, de novo na Escola Secundária com 3º Ciclo de Gondomar - Agrupamento de Escolas de Gondomar - nº1.
      Na página do Facebook do Centro de Formação Júlio Resende está já publicitada a iniciativa.
____________________________
Curso de 15 horas, “DO ENSINO PARA AS APRENDIZAGENS: ESTRATÉGIAS E INTERAÇÕES”
Formador: Vítor Oliveira 
Calendarização: 16, 17, 18, 24 e 25 de outubro, das 19h às 22h 
Local: Escola Secundária de Gondomar


      As inscrições têm de ser encaminhadas pelas respetivas direções das entidades associadas.

     Começa, assim, a cumprir-se neste ano letivo o Plano de Formação de Escola, desenhado desde o início de setembro, com temáticas orientadas para a dimensão da educação e organização geral escolar, das tecnologias de comunicação, das didáticas específicas (neste último caso, com ações orientadas para o ensino da gramática, para a abordagem das metas de aprendizagem, para o domínio da oralidade).

domingo, 11 de julho de 2010

Ai que é já depois de amanhã!

       Não sei porquê, mas tenho a sensação de que vou fazer exame. Oxalá não reprove!

     No 1º Encontro 'A Linguística na Formação de Professores de Português' estava numa posição mais cómoda: a de espectador!
    Agora, vou ser espectador e comunicador. Espero que o seja com alguma "consciência". Impõe-se.
   Pretendo começar por dar conta de uma conversa que veio ao meu encontro no melhor dos momentos (Uma amiga dirá: nada é por acaso. E tem razão!).
    Aqui vai um pouquinho da comunicação:

    "... começo por partilhar um episódio recentemente experienciado.
    O local é uma feira do livro-outlet em Espinho. Aí captei uma conversa de dois interlocutores que se pronunciavam sobre o interesse da leitura e as vantagens desta para o melhor conhecimento da língua. Disfarçadamente procurei acompanhar o que era dito. Simulei o meu interesse por algumas páginas de livros avulsos, quando eram os ouvidos a deixarem-se levar por uma reflexão que me despertou a atenção pelo tema e pela preparação da comunicação para este encontro (que, então, se avizinhava). Mencionados alguns erros comuns na utilização da língua - como os familiares ‘bem-vindo (adjectivo, interjeição) / benvindo (nome)’, ‘traz (verbo) / trás (preposição)’, ‘comesse / come-se’, ‘adesão / aderência’), evoluiu-se para a discussão de estratégias na resolução de outros casos críticos. Um dos elementos dizia que, na escrita, tendia a substituir a palavra ‘ansioso’ por ‘perturbado’, por não conseguir «conscientemente» distinguir se na primeira devia grafar ‘s’ ou ‘c’; o outro lamentava que muitos dos nossos jovens separassem (cito) “os ‘mos’ dos verbos”, quando ele tinha aprendido uma regra fácil para evitar esse erro tantas vezes cometido: «Olhe, nada mais fácil que colocar o ‘nós’ antes do verbo, para saber que não devo separar o ‘mos’».

     Isto de contar conversas alheias não está a parecer comportamento lá muito virtuoso. Enfim!

    Tenho mais dois dias ...

sábado, 16 de maio de 2009

Porque não há duas sem três...

     No Auditório Cardeal de Medeiros da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, houve oportunidade para partilhar mais uma reflexão sobre o ensino da gramática.



     Bastantes professores de Português, todos na ânsia de saber algo sobre os novos programas do ensino básico, na partilha de reflexões sobre formas e modos de ensinar, de avaliar. Muitos abordam os comunicadores nos espaços ditos de intervalo: algumas angústias, algumas dúvidas, algumas dificuldades. Traçar caminhos, ultrapassar angústias, orientar para uma formação contínua responsável e séria, constatar a necessidade de pesquisar, de estudar, de saber mais.
    À lógica de experiências e comunicações já apresentadas, regista-se e recorda-se o que foi uma síntese do meu contributo, desta feita mais prolongado no tempo de comunicação. Destaque para tópicos de conversa centrados:
a) nos novos programas e na adopção de manuais escolares;
b) no Dicionário Terminológico (entendimento, funcionalidade, aplicação ao ensino);
c) em práticas de escrita e de ensino da gramática (articulação, gestão temporal, avaliação de desempenho e algumas evidências na progressão e evolução de competências dos alunos).

     Um (re)encontro sempre atento às necessidades docentes e a partilha de convicções, crenças, pistas de trabalho acerca do que o presente anuncia como futuro, não obstante alguns imponderáveis no trajecto e a consciência de que muitas questões colocadas se centram em tópicos que não podem ser tomados como novos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Conversas à volta da gramática


    Ora vamos lá conversar... para gramaticar (como o diria D. Francisco Manuel de Melo, no século XVII, na sua A Visita das Fontes)?


   Foi com este (sub)título que contribuí com uma comunicação, em jeito de "conversa", acerca da gramática (diria: questão séria e que me é cara para um registo de casualidade, de interacção feita pela ausência de objectivo estruturado, estratégico, tendendo para uma actividade comunicativa feita muitas vezes da "informalidade" e de uma finalidade que se fica pelo gratuito e pelo desconjuntado, conforme uma das definições de 'conversa').
      O convite partiu da Gabriela Barbosa, da Escola Secundária de Monserrate. Um grupo simpático de colegas, motivado por esta questão estruturante no trabalho da nossa disciplina, ouviu pacientemente as minhas palavras, contribuiu e enriqueceu o momento com as questões e as observações formuladas. Houve até a oportunidade de reencontrar alguém dos tempos da faculdade, desse período de 1984-89 que em muito contribuiu para a minha formação (" - bom tempo era esse! -", diria o narrador de "A Dama Pé-de-Cabra", na versão romântica de Herculano). Alguma nota de informalidade no trabalho desenvolvido entre colegas (é sempre bom estar junto dos que connosco partilham ideias, preocupações); a seriedade e a reflexão estratégica que se impõem a profissionais interessados.
     A todos o meu agradecimento por um bom momento de trabalho vivido em Viana.
     Para memória futura, deixo aqui o registo do que foi uma súmula da comunicação.

    Uma breve referência aos da Carruagem 23 (eles sabem bem quem são): Não há mar que lave a preocupação; / dele quero receber a força, a união. / Com tormenta, com bonança /cumpra-se a vida na temperança.

sábado, 28 de março de 2009

Novo Encontro - ASA


     Mais um momento para comunicar... comungar...
(Hotel Meliá, Vila Nova de Gaia)

    Algumas caras conhecidas, outras nem tanto; uns amigos (como é bom saber que eles por lá estão, a dar um sorriso e a encorajar), muitos colegas.
     A propósito do ensino da gramática, houve tempo e espaço para:
. discutir critérios de progressão relativamente ao ensino da gramática (como considerar, entre outros, o critério da frequência, por exemplo);

. esclarecer dúvidas relativamente à classificação de conectores / articuladores (e o mais importante - manipular frases, contextualizá-las, substituir por articuladores sinónimos, explorar a dimensão lógica e significativa - saiu relevado relativamente ao que possa ser uma simples classificação ou a procura de uma tabela ou um esquema que contemplem o conector em questão);

. reflectir sobre a relação de entendimentos distintos face ao ensino da gramática (talvez mais complementares do que distintos): o do conhecimento explícito autónomo, numa metodologia de carácter oficinal; o do conhecimento explícito ao serviço da dimensão funcional e significativa dos discursos;

. problematizar o ensino da gramática à luz de documentos / instrumentos que regulam a prática docente (programas, manuais, exames);

. considerar que a prática indutiva é mais legitimadora do ensino e da aprendizagem da gramática, focalizando os conhecimentos que o próprio aluno constrói (a partir de um percurso que implique uma planificação assente em: selecção e constituição de um corpus; observação / comparação / construção de generalizações; análise e problematização; treino; avaliação).

     Citando João de Barros, na Gramática de Língua Portuguesa (1540), "porque nossa tenção é fazer algum proveito aos meninos que por esta arte aprenderem, levando-os de leve a grave, e de pouco a mais" (actualizado na escrita).

     Tudo isto na sequência de um pequeno contributo a que já fiz referência, há cerca de um mês.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Encontro ASA (28/02/2009)

   Lê-se, na versão digital do Público (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1367116 - última consulta em 01.03.2009, pelas 22:46)


Carlos Reis
Novos programas de língua portuguesa vão adaptar-se às tecnologias

28.02.2009 - 14h44 Lusa

Miguel Madeira (arquivo)

     O coordenador da equipa responsável pela concepção dos Novos Programas de Língua Portuguesa, Carlos Reis, considerou hoje no Porto que as alterações metodológicas, didácticas, científicas, sociais e técnicas dos últimos anos motivam "reajustamentos" nos programas e, nalguns casos, "alterações substanciais".
     A revalorização dos textos literários, enquanto "repositórios de uma cultura, de uma memória cultural e de um legado estético" e as alterações na linguagem introduzidas pelas tecnologias de informação e comunicação são dois aspectos tidos em conta nos novos programas. Carlos Reis falava no "Encontro Pedagógico" organizado pelas edições ASA para discutir os "novos programas e desafios da Língua Portuguesa".
     "Há 20 anos, as tecnologias de informação e comunicação, os textos electrónicos e o trabalho em rede praticamente não existiam. Estes programas têm isso em conta, sendo certo que todas essas ferramentas e linguagens interferiram e interferem no modo como se fala e como se escreve e a escola tem de estar atenta a isso", sublinhou.
    Segundo Carlos Reis, a escola "estar atenta" não significa "reprimir, ignorar ou proibir", mas sim "saber trabalhar com isso de forma criteriosa, ou seja, julgando, avaliando e hierarquizando as coisas". Carlos Reis presidiu ao encontro organizado pela ASA que teve como objectivo contribuir para um maior esclarecimento sobre os novos programas e sobre os possíveis modelos da sua abordagem, bem como facultar informação prática relevante sobre o Dicionário Terminológico, contemplado nesses programas.
     O ano lectivo 2010/2011 é apontado como um ano de mudança no que respeita às práticas pedagógicas inerentes à Língua Portuguesa, no seguimento da concepção de Novos Programas para a disciplina. O programa do encontro incluiu apresentações e debates subordinados aos temas "Novos Programas de Língua Portuguesa (2.º e 3.º Ciclos)", "Manuais de Língua Portuguesa e os Novos Programas", "História de uma Aula e dos Percursos a que um Texto Levou", "Do Saber a Gramática ao Saber-fazer na Língua" e "Progressão(ões) no Ensino da Gramática".
     A elevada adesão ao encontro, cerca de 500 pessoas, levou, entretanto, a organização a promover duas novas sessões: no Porto, no dia 28 de Março, no Hotel Mélia, de Gaia; em Lisboa, ainda com data e local a definir.

    O meu pequeno contributo fica registado pelo título da comunicação que fechou o encontro dinamizado, na Fundação Cupertino de Miranda, pela Asa Editores: "Progressão(ões) no Ensino da Gramática". A aposta foi da Isabel Castiajo (uma amiga que se cruzou comigo na Escola Secundária de Gondomar). Da comunicação fica aqui uma síntese.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

2º Encontro de Linguística de Gondomar

     Mais uma iniciativa da Oficina da Língua e do Departamento de Línguas Românicas, da Escola Secundária de Gondomar. 
   
    A convite da Dolores Garrido, da Glória Poças e da Idalina Ferreira, preparei uma comunicação alusiva ao tema das histórias e da arte de as (re)contar: Com versões narrativas.
  No auditório da Biblioteca Municipal de Gondomar, numa sala cheia de professores e de alunos, participei numa mesa de comunicações, onde estiveram presentes mais duas amigas - a Ana Catarino e a Isaura Afonseca - para dar conta dos muitos sentidos da linguagem que nos une e sempre "À volta das histórias".
      Falou-se do Conde de D. Pedro, de Alexandre Herculano, de Fernanda Frazão, das (não) fronteiras na linguagem de Miguel Torga e de todos os escritores que fazem viver a língua aos nossos olhos e aos nossos ouvidos.

    Voltei a lembrar a minha "Dama Pé-de-Cabra", que há já cerca de catorze anos tinha ficado por uma prateleira do escritório.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Poema a alguém...

     Há um ano, uma aluna escrevia-me um poema e, num relatório de aula, para evitar a repetição de 'professor', chamava-me mestre da Língua Portuguesa. Eu ria-me, e ela olhava para mim como se não tivesse sido dito nada de cómico.

Orfeu Perdendo Eurídice para o Hades,
de G. Kratzenstein (1793-1860)
Pintura sobre tela
DA OBRA FEITA PESSOA

Pudesse eu ser o que em mim vês
e sentir-me-ia feliz por, neste mundo,
trazer à luz o que Orfeu não conseguiu salvar...

A Eurídice e à poesia dá
esse sentido imaculado e profundo,
essas palavras feitas de cor e alma,
esses sons de céu e mar.

Então, um lume sem fogo
dará voz ao verso, foz ao rio, nós ao ego...
reencontrado e reconhecido
por haver sempre um

TU.
(À VS)
Espinho, 15 de Fevereiro de 2008
VO

      Ser professor, às vezes, tem destas coisas: verem-nos e dizerem-nos o que nós não achamos ser.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

1º Encontro de Linguística de Gondomar

     Um encontro de Linguística... e uma Festa da Língua! E que festa!

     O Clube da Oficina da Língua da Escola Secundária de Gondomar, sob a iniciativa da Dolores Garrido, da Glória Poças e da Idalina Ferreira e com a colaboração do Departamento de Línguas Românicas, decidiu levar a cabo (e em boa hora) a organização do 1º Encontro de Linguística de Gondomar.
      Muitas escolas do concelho participaram na iniciativa. Um bom momento para se dar conta do que se vai fazendo por estas terras em prol da nossa língua e no convívio crescente dela com outras que já se fazem ouvir no espaço escolar.
      O convite para apresentar uma comunicação honrou-me. Fica aqui o registo do meu contributo.
      Transmitir as palavras que Mário Cláudio fez chegar ao encontro foi uma responsabilidade e um prazer acrescido: emprestar uma humilde voz ao pensamento elaborado e conceituado de um grande escritor (que também cita outros grandes como ele).


Momento da leitura do texto de Mário Cláudio, 
na companhia do Dr. Joaquim Barbosa, 
um dos oradores do encontro.



Fraternidade


   Só quem diariamente convive com a Língua Portuguesa, perscrutando-lhe os segredos, deduzindo-lhe os impulsos, e agradecendo-lhe as pequenas lucilações do génio, ou as penumbras subtis da alma, alcançará realizar de que humaníssima verdade se tece todo um património imaterial. Corpo vigoroso, mas vulnerável, o português que falamos e escrevemos declina a nossa própria condição, de seres que procuram quanto lhes couber na herança de uma eternidade. Se não bastar isto ao amor que lhe dedicarmos, e que mais se nutre do sentimento partilhado do que da repetida lição, que conte ao menos o afecto com que soubermos viver esse “juvenil ressoar de abelhas”, essa “graça súbita e felina”, ou essa “modulação de vagas sucessivas e altas”, que Eugénio de Andrade ouviu nos versos de Luís de Camões.
                                                                                        Mário Cláudio

     Por várias razões, foram dois dias marcantes na companhia de pessoas amigas, muitos conhecidos e outros que se deram a conhecer pelo que são e pelo que fazem. Fez-me lembrar velhos tempos, o gostinho de iniciativas que fazem aproximar pessoas, profissionais. Criar laços.

sábado, 2 de junho de 2007

Contas de um outro Rosário... feitas de amizade

     Para uma obra que me tocou, pelo que nela li e por quem a produziu. Porque as obras são de um homem e tanto elas como este são marcados pela diferença.

      “Muito se diz de boca e, quando ao pé dela se tem o coração, nem sempre há palavras que reflictam ou justifiquem os actos. Num tribunal, uma mulher grita pela inocência do marido, acusado de um crime. Leopoldo é peça nuclear na investigação deste facto narrativo. É no limiar da vivência desta personagem e da transposição por ela feita para a génese de um romance que muitas histórias se cruzam - fios de Ariadne que permitem ao leitor decifrar um labirinto romanesco composto por intrigas aparentemente desconexas; uma enfiada de acções e acontecimentos assente numa variedade de discursos, valores, dramas tão fictícios quanto reais; um jogo de tempos a todo o momento recriado e reconhecido; um desfile de personagens e experiências perspectivado pela tradição do velho sempre novo; uma referencialidade de espaços feita cenário para uma visão de fronteira a todo o tempo ultrapassada. Se com Carioca (personagem tão familiar mas não menos enigmática) se vislumbram as novidades de hoje como ditados de uma actualidade eterna, neste romance relêem-se discursos, histórias, dramas de um teatro da vida a desvelar por vozes, tempos e espaços rememoráveis.”
      Assim se lê no aparato crítico incluído na badana da capa de uma obra feita das palavras, dos actos e dos sentimentos que unem as pessoas na alegria e no sentido mais trágico da vida. Quis o destino que me aproximasse desta história; quis o espaço nela representado que eu mesmo o reencontrasse, num tempo bem distinto do da narrativa; quis um amigo que apresentasse o resultado cruzado entre algumas das suas memórias e o tom da ficção.
       Aqui fica o registo do início do romance:

    "Assalta-me o passado com a nitidez de imagens tão claras e tão reais como se assistisse à reposição de uma mesma cena pela milésima vez. A sala de audiências estava a estoirar de gente e havia mais de meia hora que o juiz, numa voz arrastada e monocórdica, lia os considerandos que haveriam de ditar a sentença. A meu lado, o cónego Luís cochilava e, de quando em quando, arregalava o olho esquerdo a perguntar se ainda demoraria muito. De súbito, um grito desesperado rompe aquele quase silêncio. Era o grito de uma mulher a quem condenavam o pai dos seus filhos:
     - Eu ainda conto tudo, eu juro que ainda conto tudo, que o meu homem está inocente!
    Instintivamente, Custódio voltou-se para trás e, acto contínuo, mergulhou a cara nas mãos para esconder da mulher alguma lágrima não contida.
     - O réu que se comporte com dignidade! – admoestou o juiz.
    O veredicto estava proferido.

    - O meu homem está inoceeeente! – grita a pobre mulher, esguedelhando-se com gestos bruscos e desordenados de mãos como gadanhas.
    Estarreci. De imediato, várias mulheres, na imediação, muito aflitas, acercaram-se dela com o propósito de a acalmar.
    - Por favor, conduzam essa mulher ao exterior – ordenou o juiz.
    O cónego Luís, desperto da letargia, com uma serenidade incomum, levanta-se e dirige-se ao magistrado, quando dois guardas do tribunal já se aprestavam a dar cumprimento à determinação:
    - Vossa Excelência, Meritíssimo Juiz, se me dá licença, eu próprio me encarrego de o fazer.
    Impávido, da sua figura, transparecia uma determinação estranha que se reflectia na cadência firme dos passos com que se dirigiu à infortunada criatura.
    - Vá lá, Rosalina, tem calma, ainda nada é definitivo. Lembra-te do que disse o advogado: haverá sempre a possibilidade de recorrer da sentença.
   -  Isto é tudo uma grande mentira, cónego Luís, isto é tudo uma grande mentira...
   -  Eu sei, filha, eu sei...
   -  O que é que sabe, cónego Luís? – perguntei eu, entretanto, que os seguira de perto até às colunatas, onde nos abrigámos da chuva que, entretanto, começara a cair abundantemente.
   - Contas de um outro rosário, Leopoldo, contas de um outro rosário."

     Desta minha apresentação, deixo aqui o texto proferido e dedicado ao Manel, a quem fico para sempre reconhecido pela oportunidade e pela honra que me foram concedidas.

terça-feira, 15 de maio de 2007

E a obra nasce...

         Foi hoje anunciada, caindo-me na caixa do correio virtual.

      Está a chegar o dia. Cerca de quinze dias nos separam do momento: no Auditório Municipal de Gondomar, pelas 21:30, darei a conhecer, ao público presente, o romance de Manuel Maria, intitulado Contas de um outro rosário.
          Capa e contracapa são hoje divulgadas; parte do meu texto de apresentação, também.

Capa e contracapa do romance Contas de um Outro Rosário (de Manuel Maria)

         Muito se conta nestas Contas... um livro que me agarrou pela história, pelos locais que recentemente visitei, pelas imagens recriadas e pelas leituras relembradas. Pelo amigo que o autor também é.

          Junho está a chegar e vai ser a minha vez de um romance apresentar. 

domingo, 28 de maio de 2006

Um gato que conseguiu voar... e eu estive lá

      A convite de uma colega, de uma formanda, de uma amiga, fiz a minha primeira apresentação de um livro em parceria com um outro amigo. Na FNAC do NorteShopping, entre familiares da autora, amigos, colegas e alguns desconhecidos (outros nem tanto), foi tempo de partilhar um livro que apreciei na mensagem e no labor de escrita.

     Diz-se que quem muito alto sobe muito baixo desce. E para quem se chama Jeremias, que dizer? É bíblico o infortúnio. São míticas as quedas,... as de Ícaro então...
      Valha-nos o facto de os gatos terem sete vidas.

     Reza assim o início da história:

     Era uma vez um gato, que vivia numa quinta lá muito longe, no interior de Portugal, e que tinha um sonho que, apesar de o podermos considerar excessivo, aéreo, tresloucado, inimaginável, soberbo, conseguiu pôr em prática.
      O Jeremias - assim se chamava o nosso herói - queria poder voar como as pombas ou as rolas que todos os dias observava, atarefadas, pela janela do minúsculo quarto que normalmente habitava.
      "Ai, se eu pudesse ser pássaro, viajaria por todo o lado, conheceria todo o Mundo e poderia escolher entre paisagens quentes de Verão ou terras frias de Inverno! Não haveria barreiras à minha vontade de ir até ao fim do Universo!" - assim suspirava continuamente o nosso amigo, sentindo-se envelhecer, preso àquele espaço tão rural quanto fechado às maravilhas do Planeta.
       E como é que ele sabia que o Mundo não começava e acabava naquele pedaço de terra perdido no meio da Serra? - perguntam vocês, e com razão, pois trata-se apenas de um gato, que só sabe caçar ratos, andar atrás das gatas, espetar as suas afiadas unhas nos tapetes, cortinas ou sofás, e dormir na maior parte do tempo da sua humilde vida. Pois bem, é que o nosso Jeremias costumava, nos longos dias de chuva, que impediam as pombas de sair das suas gaiolas, pôr-se no alpendre da casa a conversar com elas. E o que elas lhe contavam sobre o que observavam nos seus intermináveis passeios pelos ares ou, por sua vez, sobre as conversas que tinham com outras aves com que se cruzavam, era verdadeiramente fascinante, tão incrível que o nosso gato se punha logo a imaginar que era uma delas e que conseguia levantar voo em direcção à linha do Horizonte."

      Desta minha experiência, deixo aqui o texto proferido e dedicado à Patrícia Silveira, a quem fico para sempre reconhecido pela aposta, pela oportunidade e pela honra que me foram concedidas.