quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Questões do outro lado do oceano (VIII)

     Para novo comentário com pergunta, nova resposta.

     Mais um caso de uma frase encarada como estranha.

     Q: Em "Quem estiver ouvindo, por favor, o diretor quer falar", um professor chama a atenção da turma. Qual é a classificação sintática da oração destacada?

       R: A oração destacada funciona como um vocativo.
      Trata-se de um chamamento, marcado por uma vírgula que assinala a separação desse segmento face à oração principal ('O diretor quer falar'), ambos mediados por uma expressão de cortesia ('por favor').
        O vocativo em questão aparece configurado sob a forma de uma oração finita, com uma construção relativa sem antecedente. No fundo, o enunciador dirige-se a alguém que obedeça à condição proposta no chamamento (alguém que esteja a ouvir), no sentido de pedir atenção para o diretor (que quer falar).

       Concluo com vocativo análogo: quem tiver dúvidas, por favor, apresente-mas. Será sempre uma boa oportunidade para pensar sobre a língua (tanto para quem as coloca como para mim, que as procuro abordar).

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mestre e pupilo em relação crítica

      Balanço do filme "Um método perigoso"?

      É um deles, atendendo ao facto de a relação de Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender) ter sido apresentada como tendo degenerado de uma parceria para uma relação de antagonismo, tanto pelas considerações científicas como pela visão das relações mais íntimas. 
     Para tal muito contribuem dois pacientes: um masculino, Otto (Vincent Cassel), e uma feminina, Sabina Spielrein (Keira Knightley). Esta última, uma jovem russa diagnosticada com comportamentos psicóticos e histéricos, é internada no Hospital Psiquiátrico de Burgholzli e tratada por Jung segundo o método psicanalítico. Mrs Spielrein evolui de forma evidente, torna-se amante de Jung; posteriormente, colega e confidente de Freud; por fim, uma psicanalista de renome.

     
    De paciente a par dos médicos que a trataram, esta foi para mim a personagem marcante, nomeadamente na problematização e no compromisso entre uma visão mais convencional (apoiada numa abordagem conflitual e traumática - Freud) e a mais inconformada / holística (recetiva aos impulsos conjugados com uma dimensão espiritual - Jung) do método. 
     De resto, pouco mais há a dizer para um filme que pretende abordar duas das figuras cimeiras do estudo da mente e se reduz a um tratamento muito genérico da questão, apoiado em querelas mestre / pupilo ou nos valores da fidelidade / infidelidade a princípios e valores sociais.

    A película foi realizada por David Cronenberg, apresenta-se como um filme de época e conta com a interpretação forte de Keira Knightley.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Explicações em rede...

    Quanto não vale estas tecnologias serem aplicadas ao ensino...

    É o que se me figura pensar quando os alunos também aqui colocam questões (isto torna-se uma concorrência virtual - espero, virtuosa, também) aos centros de explicações).

    Q.: Professor, tenho uma dúvida. Li num filme 'Aonde' e fiquei confuso. Afinal é 'Onde' ou 'Aonde'?

    R.: Tudo depende da frase em que leste 'Aonde'. Estará correto, se a expressão de lugar associada depender de um verbo que seleciona a preposição 'a'. Por exemplo: 'chegar A um destino' (> Aonde chegar?), 'ir A um lugar' (> Aonde ir?), 'regressar A um local' (> Aonde regressar?), 'voltar A um sítio' (> Aonde voltar?), 'levar A um ponto' (> Aonde levar?), entre outros. Para questionares o local / sítio / lugar mencionados nos exemplos, poderás utilizar o advérbio interrogativo contraído com a preposição 'a' (Aonde).
        Já no caso de verbos que não requerem esta preposição, o interrogativo para lugar será 'onde': comer num sítio (> onde comer?), comprar num sítio (> onde comprar?), fazer num sítio (> onde fazer?), estar num sítio (> onde estar?), ficar num sítio (> onde ficar?).

      Espero ter sido esclarecedor, na indicação de que ambos os interrogativos são admissíveis, dependendo do verbo utilizado na frase lida no filme.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Canção de Natal

    Em pleno dia natalício, nada como ter uma canção apropriada.

  Alusiva à festividade, por certo, e com a esperança de que as "luzes" surjam por razões bem mais interessantes - no mínimo, as que permitem ouvir Coldplay.

   
CHRISTMAS LIGHTS

Christmas night, another fight
Tears, we cried a flood
Got all kinds of poison in
Of poison in my blood

I took my feet to Oxford Street
Trying to right a wrong
Just walk away, those windows say
But I can't believe she's gone

When you're still waiting for the snow to fall
Doesn't really feel like Christmas at all

Up above, candles on air flicker
Oh, they flicker and they float
And I'm up here holdin' on
To all those chandeliers of hope

Like some drunken Elvis singin'
I go singin' out of tune
Sayin' how I always loved you, darlin'
And I always will

Oh, when you're still waiting for the snow to fall
It doesn't really feel like Christmas at all
Still waiting for the snow to fall
It doesn't really feel like Christmas at all

Those Christmas lights light up the street
Down where the sea and city meet
May all your troubles soon be gone
Oh, Christmas lights, keep shinin' on

Those Christmas lights light up the street
Maybe they'll bring her back to me
And then all my troubles will be gone
Oh, Christmas lights, keep shinin' on

Oh, Christmas lights, light up the street
Light up the fireworks in me
May all your troubles soon be gone
Those Christmas lights keep shinin' on


    Não é simples canção de natal.
    É desejo de uma nova "luz", que se quer nascida (para quebrar as ruas da amargura) e festejada (como a entendo!)

    Como não desejá-la, "nos candelabros da esperança"!

domingo, 25 de dezembro de 2011

Mais um Natal

     Todos os anos, a 24 de dezembro celebra-se a passagem para o dia de Natal.

      Entre o tempo celebrado e o que se anuncia, há a crise, a humildade e o espírito da novidade.
   No calendário antigo, estaríamos em Fevereiro, mês da febre, do frio e da morte. Motiva-se a necessidade da mudança e a vontade movida pela esperança.


       A todos os leitores da Carruagem 23, que este seja o tempo para nascer algum sinal da ansiada esperança.

       Boas festas a todos e a todas, sem qualquer greve anunciada nestes "caminhos de ferro".

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Onde eu gostaria de estar...

        Não se trata apenas do título da canção.

     Do grupo à melodia, do espaço sugerido ao desejado, do presente ao futuro vai o intervalo da motivação. Encontro marcado com Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman e Will Champion.


      Que esta seja uma das muitas composições a encher o Dragão. Caso contrário, muitos outros motivos melódicos podem preencher "este filho da nação", tão desejoso de, por breves momentos que seja, se libertar do inferno que o persegue. 
       Os Coldplay têm imensos motivos desses para oferecer.

      Dia 18 de Maio pode vir a ser um dos momentos memoráveis, para relembrar o paraíso ... em 2012.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Cesária Évora... com 'sodade'

     Uma palavra que tanto cantou fica na memória de quem a escutou.

    'Sodade' é o sentimento e o hino para uma voz que se silenciou, aos setenta anos, na sua fonte mais genuína e autêntica: a da pessoa que fez projetar Cabo Verde para o mundo.
   Depois de um dueto com uma voz do Brasil, fica o registo deste outro divulgado há cerca de quatro anos, com mais uma voz desta feita portuguesa...
     ... Portuguesa como a língua que une todos os que a cantam, nas suas múltiplas variedades.

        
     SODADE

Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa São Tomé

Sodade sodade
Sodade
Dess nha terra São Nicolau

Si bô 'screvê' me
'M ta 'screvê be
Si bô 'squecê me
'M ta 'squecê be
Até dia
Qui bô voltà

Sodade sodade
Sodade
Dess nha terra São Nicolau


     Com a perda física de Cesária, o português perde também uma das maiores representantes do género musical da morna, aquele que a tornou La Diva aux Pieds Nus, embaixadora musical desse arquipélago atlântico ao Senegal encostado.

     Um dia para prantear, ao jeito de uma morna, a familiar 'Cize' (Cesária Évora), que pisou vários palcos do mundo sempre na ânsia de regresso ao seu Mindelo (de S. Vicente).

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Caminho, caminhar, caminhando

    Dia após dia, o tempo vai somando e passando.

    Não há tempo para nada e nem sei se o quero. Por isso, iludo-me no caminhar.

Caminho...
num passeio de pensamentos
e na companhia da solidão.

Ouço...
o rumor do mar,
o espraiar das ondas na areia,
recuando após tanta conquista.

Sob um teto de escuridão,
há focos de luz desvelando sombras,
pessoas andando a passo largo no caminho.

Vou de encontro a elas,
sombra sem orientação,
cansando-me num percurso
e tendo ninguém a quem dar a mão.

Sou direita sem esquerda
ou esquerda sem direito a par.
Sou um só, finito,
sem vontade de contar...
Nem números, nem passos, nem história.
Um ser a não querer ser.

Caminho...
num passeio de pensamentos
de mão dada, mas com a solidão.

     Apanho com a nevoaça do mar na cara sem acompanhar ninguém.

     Um chuvisco que não vem do céu distrai-me do meu pesado pensar.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Um cortejo polémico

    A propósito de um cortejo no Porto e das reportagens feitas, lá vem o problema clássico: qual o plural de Pai Natal?

     As versões do que se ouve são variadas: Pais Natal, Pai Natais, Pais Natais. Questão para perguntar no que ficamos. A formação do plural dos nomes compostos foi sempre um ponto crítico da gramática. Não raro, gramáticas diferentes apontam para cenários distintos num mesmo caso. 
    Entre a sistematicidade de algumas regras ao nível da flexão e as orientações reconhecidas ao nível do uso, o contraste de número nos nomes compostos não escapa ainda a um processo de lexicalização a que algumas palavras foram já votadas, configurando um conceito próprio, individualizado e, nessa medida, como que uma palavra fixa.
    No caso de Pai Natal, uma regra da gramática tradicional aponta para uma construção do tipo 'Nome + Nome / Adjetivo' usualmente marcada com plural em ambos os termos da composição. Há, contudo, algumas excepções a esta regra, nomeadamente nos casos em que o primeiro termo é assumido como um hipónimo do que é perspetivado como termo nuclear (ex.: peixe-espada é um tipo de peixe; bolo-rei é um tipo de bolo; bomba-relógio é um tipo de bomba; uma notícia-bomba é um tipo de notícia). Assim, nestes últimos casos, é o termo sublinhado que marca o contraste de número (> peixes-espada, bolos-rei, bombas-relógio, notícias-bomba). Daí dizer-se que são nomes compostos com subordinação, quanto à natureza sintagmática, para abordar na chamada composição morfossintática (segundo o Dicionário Terminológico). O plural de "Pai Natal" não cabe aqui: 'Natal' entendido seja como nome seja como adjetivo leva 's' (marca de plural), tal como 'Pai' (já que de vários se trata, mesmo que, às vezes, não o sejam).

     E, assim, o dia de hoje foi dominado pelos PAIS NATAIS que, no Porto, foram muitos, tendo em vista o objectivo de bater o record do guiness. Muitos até podiam ser pais; outros eram mães; outros ainda seriam mesmo filhos. Conclusão: o Pai Natal não é um tipo de pai. Quando houver mais do que um, saúdem-se os PAIS NATAIS.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Questões do outro lado do oceano (VII)

    Regresso a outra questão vinda do outro lado do Atlântico.

    Na sequência de um apontamento anterior e do comentário aí formulado, surge o presente tomado como uma das questões estranhas na análise de língua.

Q: Em "Amemo-nos uns aos outros", qual é a classificação morfossintática de 'uns aos outros'?

R: A construção pronominal 'Amemo-nos' é um exemplo que configura a presença de um pronome pessoal recíproco ('nos'), também designado como clítico, parafraseável e/ou passível da expansão 'uns aos outros'. Neste último caso, está-se perante o que designado como construção de redobro, pelo que 'nos' e 'uns aos outros' assinalam a mesma posição argumental.
    Assim, a expressão - formada por um pronome indefinido e um nome (por conversão) mediados por uma contração da preposição 'a' com o determinante 'os' - apresenta a mesma função sintática de 'nos'. Tomado como argumento de um verbo transitivo directo [ > Alguém AMA alguém], 'nos' marca a presença do complemento direto, o qual surge, portanto, redobrado na frase sob a forma 'uns aos outros'.
    Isto mesmo pode ser concluído na leitura da Gramática da Língua Portuguesa, coordenada pela Professora Mira Mateus (no capítulo da tipologia e distribuição das expressões nominais - págs. 835 e seguintes) e publicada pela editora Caminho, que referencio para um estudo mais aprofundado da questão.

      Um verdadeiro caso complexo de análise, sem dúvida.
     

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Em busca da luz

     Foi ao passear pelo blogue 'Mariana' que reparei numa foto.

     Mais do que a foto, o título: Em busca da luz (mesmo a condizer comigo).
     Sentei-me, escrevi, reescrevi e ficou.

EM BUSCA DA LUZ

Onde está ela?
Quero sair da escuridão.
Pudera vê-la!

Acendo uma vela,
mas um sopro frio (maldição!)
apaga a emoção quente de uma tela
que tive pintada com cor de gala.
Era vida... uma sensação
tão boa e para muitos bela.

Em busca da luz...,
à procura dela...

O vento veio...

Afastou-me dela.
Fica a minha cruz:
sair da escuridão,
sem ter guia ou estrela.

Onde está ela?
Talvez não esteja de feição...
Percorro a distância...


Sou mar em praia:
depois da rebentação,
feita a aproximação,
desapareço na areia,
perco a orientação.

Onde está ela?
Apagou-se.
É noite.

A longa noite dos dias.

    Este é o rumo dos meus dias, entre percursos obrigatórios, outros sem sentido e outros ainda sem necessidade.
      De vez em quando, há um raiar tão momentâneo, tão fugaz, tão incompleto...

      E assim vou cumprindo a passagem do tempo, a cada dia acordado na busca da luz.

Será para ficar?!

     A pergunta impõe-se perante o contexto de redefinição de feriados. 

     O feriado da Imaculada Conceição (para muitos ainda o feriado tradicionalmente associado ao dia da mãe) parece que não está em perigo de se perder, contrariamente ao que tende a ser o futuro do 1 de Dezembro.
     Ainda que a situação não esteja estabilizada e a Igreja tenha de se pronunciar definitivamente quanto aos feriados de índole religiosa a cessar, tudo parece apontar que estes últimos sejam os do Corpo de Deus (em Junho) e os de Assunção de Maria (15 de Agosto).
      Talvez fique o da Imaculada Conceição, pensando-se que na base da existência de Portugal está a padroeira do país.
    Não sendo tal a acontecer, seria melhor reescrever a História: em vez de D. Afonso Henriques, na batalha de Ourique se "encomendar a Deos, e á Virgem gloriosa sua Madre" (capítulo XV da "Chronica do muito alto, e muito esclarecido principe D. Affonso Hemriques Primeiro Rey de Portugal, composta por Duarte Galvaõ - 1505), seria bom encontrar outro santo que pudesse ter aparecido ao monarca, para nos reservar o milagre de viver um feriado. 
    Em Portugal, o culto da padroeira foi instituído por D. João IV (filho de D. Teodósio e D. Ana Velasco), primeiro rei da dinastia da Casa de Bragança (a quarta). O monarca, perante a imagem de Nossa Senhora da Conceição, ofereceu Portugal à Mãe Imaculada de Jesus; depôs a coroa real aos pés da Rainha do Céu, que, doravante, seria também a Rainha de Portugal.
      Desde aí, os sucessores reais nunca mais usaram a coroa real, na cabeça.

     Se não for o estatuto de padroeira e fazer vingar um dia de descanso, que venha outro santo qualquer livrar-nos da canseira desta vida de trabalho, que já está a deixar-nos mais de rasto do que qualquer outra crise mais do que anunciada.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Polissemias...

     Mais um exemplo gramatical na BD da Mafalda.

   Já foram aqui utilizados alguns exemplos de como a banda desenhada reflete dados linguísticos de interesse.
     O próximo parece-me demasiado atual, em termos do contexto crítico que todos vivemos:


     Pela zona comum de significado, numa proximidade semântica que deixa antever uma origem etimológica igual, a designação do dedo e o dado informativo que serve de indicação, guia ou roteiro são um caso a considerar na abordagem da polissemia.
     O mesmo vale para o domínio químico, no qual também se utilizam indicadores (substâncias utilizadas para conhecer a natureza de um elemento quanto ao seu carácter de ácido-base ou de óxido-redutor).
     
       Diria, em síntese, que há indicadores tão ácidos que mais parecem indicaDORES.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Para quem quer saber notas

     A ansiedade dos alunos é grande.

     Os resultados de testes são sempre motivo de expectativa para alguns; para outros, nem por isso. É pelos primeiros que surgem estes versos.


SÓ UMA PISTA

Por antecipação,
o sofrimento ou a celebração
não!
Em ambos se perde a razão.
No primeiro, fica sufocada a emoção;
na segunda, vive-se a pura ilusão.

No final, resta a sensação
de que está longe a conclusão:
afinal, correu bem ou não?

Nada como ter os pés no chão.


     Houve quem ficasse desarmado com a tentativa de querer (só) saber uma pista.

     Poderei chamar a isto efeitos poéticos? Sempre seria a natureza perlocutória da poesia (se tais versos pudessem ter tal nome).

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Pode não vir bom vento, mas é possível um belo casamento

    É o que se pode dizer, face ao tradicional pensamento de que de Espanha nem bom vento nem bom casamento.

     Um espanhol (já conhecido e mencionado neste blogue) e uma lusa percorrem ruas e espaços lisboetas...
     Duas guitarras, entre elas a portuguesa.
     Uma melodia a duas vozes: as de Pablo Alborán e de Carminho.

 
    O trinado das vozes combina-se, numa proximidade ao fado português e a uma balada com toque de "salero" e "flamenco" (outro dos patrimónios imateriais da humanidade), que tomam o "perdão" como uma só palavra à espera da consequência.

       PERDÓNAME


Si alguna vez preguntas el por que
No sabré decirte la razón
Yo no la sé
Por eso y más
Perdóname

Ni una sola palabra más
No más besos al alba
Ni una sola caricia habrá
Esto se acaba aquí
No hay manera ni forma
De decir que sí


Si alguna vez
Creíste que por ti
O por tu culpa me marché
No fuiste tú
Por eso y más
Perdóname

Si alguna vez te hice sonreír
Creístes poco a poco en mi
Fui yo lo sé
Por eso y más
Perdóname


Ni una sola palabra más
No mas besos al alba
Ni una sola caricia habrá
Esto se acaba aquí
No hay manera ni forma
De decir que sí

Siento volverte loca
Darte el veneno de mi boca
Siento tener que irme así
Sin decirte adiós


Perdóname.

     Quase se diria um perdão conjunto, pelo afastamento histórico, mas com um olhar voltado para o horizonte de uma Ibéria que tem mais de proximidade nas diferenças do que separação.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Fácil?! Só por ilusão.

      Quando se vive o que não se quer, há que encontrar estratégias de sobrevivência.

     Sem balada, fado ou tango, fico-me por uma canção cheia de um "soul", de um "rythm and blues" já cantados por Ivete Sangalo, Lionel Richie ou os originais Commodors.
      Fácil como uma manhã de domingo, diz a letra.


   
      Por ora, não vejo como nem porquê. As manhãs de domingo só são fáceis na ilusão. Esta, pelo menos, não é diferente das dos últimos tempos. Daí me parecer mais certo dizer "That's why I am not easy, not easy like this sunday morning". Porém, não há nada como contrariar o real. Estratégia: a ilusão.

           EASY

Know it sounds funny
But I just can't stand the pain
Girl I'm leaving you tomorrow
Seems to me girl you know
I've done all I can
You see I beg, stole and I borrowed
Yeah!

That's why I'm easy
Oh, oh, oh, oh
I'm easy like Sunday morning
Oh, oh, oh, oh
It's why I'm easy
Oh, oh, oh, oh
Easy like Sunday morning


I wanna be high, so high
I wanna be free
To know the things I do are right
I wanna be free
Just me, oh, babe!


That's why I'm easy
Oh, oh, oh, oh
I'm easy like a Sunday morning
Oh, oh, oh, oh
It's why I'm easy
Oh, oh, oh, oh
Easy like Sunday morning


    Gosto do ritmo, da interpretação de Mike Patton, do solo de guitarra. A melodia traz um toque de animação, ainda que numa letra composta pela ideia de separação.

   Fico-me pela animação como estratégia de sobrevivência, porque, de resto, estou mais pela mensagem da designação do grupo: "faith no more".

sábado, 3 de dezembro de 2011

Que mal fiz eu a Deus para ler isto?!

    Depois do apontamento de ontem, o de hoje ainda mais é de bradar aos céus.

    Decididamente, as empresas, nos seus gabinetes de imagem e marketing, têm de colocar alguém que cuide da imagem da língua.
    Vai um homem comprar um eletrodoméstico, lê as instruções, os requisitos de segurança e o que encontra? Uma pérola das melhores na língua portuguesa:


    Uma regra básica de concordância. Tão básica, tão básica que não devia escapar.
    É por esta e por outras que passo a ler em inglês, francês ou italiano.
    Depois venham dizer-me que é preciso comprar português. Eu até queria, mas com realizações destas até me apetece comprar estrangeiro. 
     Não há imagem nem produto nacional que sobreviva.

    Caso para dizer que isto já é perseguição ou os meus olhos andam a ver de mais.
  

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Uma proposta para o combate ao desemprego

    Começa a ser algo cansativo tropeçarmos no erro, em tudo quanto é sítio.

    Ele é nas montras, nas estátuas, na publicidade, na televisão, no cinema...
    Cá vai mais um:


    A maior idiotice está em quem não sabe falar ou em quem escreveu a legenda. Toda a gente sabe que o verbo 'gostar' seleciona a preposição 'de', mesmo nas variedades não europeias do Português (isto para não ter de falar sobre 'ter' quando é preferível 'haver').

     Não seria de colocar linguistas em gabinetes de apoio ao bom uso da língua, tão projetada em meios de comunicação de massa? Era mais um erro escusado (como o são todos eles, aliás).
     Obrigado, VS.

Entre funções e disfunções, lá vem a sintaxe

    A propósito de um esclarecimento apresentado anteriormente, veio mais uma questão com resposta afim.

    Q: Na frase "Olha, pai, o que eu quero é ter uma vida boa", "Ter uma vida boa" não é predicativo, pois não?
     É CD, pois aquele "é" é enfático, não é?

    R: O segmento "O que eu quero é ter uma vida boa" apresenta uma configuração semelhante ao esquema proposto no apontamento do passado dia 29 de novembro.
     Para o sujeito sintático 'O que eu quero' (identificável com o termo X do esquema) há um predicado 'é ter uma vida boa' (o qual é constituído por um verbo copulativo, seguido do predicativo do sujeito: 'ter uma vida boa', o termo Y do esquema).
     'Ter uma vida boa' seria um complemento direto (CD) no caso de existir uma frase matriz apoiada num verbo transitivo direto enquanto elemento subordinante. Se a frase fosse 'Quero ter uma vida boa', então, sim, surgiria tal função sintática, conforme se prova  pelo teste da questão e da pronominalização: O que é que eu quero? > Ter uma vida boa / Quero isso.

     Creio que a questão formulada no final ainda se orientava para o reconhecimento de uma estrutura clivada, do tipo 'é que', mas (também) não se trata desse caso.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um feriado que se foi para o resto das nossas vidas

      Para que se não pense que o feriado é por causa do Dia Mundial da Sida, fica o registo para este dia que vai ser o último (apesar de ser o primeiro do mês) com o estatuto de feriado.

      Dia 1 de dezembro passa a ser dia de trabalho.
     Diz-se que deu muito trabalho quando, em 1640, os "conjurados" (tal como se designou um grupo de conspiradores nacionais que reagiu contra o domínio da coroa castelhana sobre Portugal, o que já durava desde 1580) restauraram a independência portuguesa, lançando, pela janela do Paço da Ribeira, Miguel de Vasconcelos - o secretário da duquesa de Mântua, Margarida de Sabóia, vice-rainha de Portugal em nome de Filipe IV de Espanha.
     D. João IV, o Restaurador, é aclamado rei. A casa dos duques de Bragança ascende ao trono português, mas, desde aí, a entronização nunca deu lugar à colocação da coroa portuguesa nas cabeças reais. Diz-se que esta se encontra em Mafra, no palácio real, visível aos olhares dos visitantes (era bom, era,... não fosse o exemplar feito do melhor latão dourado!).
    É certo que não há imagens reais oficiais dos monarcas da quarta dinastia com tal símbolo monárquico na cabeça, mas despromoverem a data a ponto de não ser feriado é caso para dizer (qual abade Remédios) "Não havia necessidade!"
     Habituemo-nos. 
    Parece que a data não é importante para os portugueses - talvez ainda seja para os monárquicos; mas, em regime republicano, o combate à crise torna-se prioritário e motiva a queda de algumas datas importantes (pelos vistos, nem a da República escapa). 
     Além disso, havia já quem associasse este feriado a outros motivos, outras "guerras" em que o Homem nem sempre sai vencedor.

      Fica 8 de dezembro para celebrar Portugal, pela sua padroeira, e o 10 de junho, pela associação a um poeta português de projeção universal.