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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

"Passei por aqui"

      Ontem e hoje...

     As palavras citadas podiam ser as do Dr. Pacheco Pereira, que, no Auditório Maria Ricardo da escola-sede do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (AEML), presenteou o público (alunos, professores, antigos companheiros de percurso de vida e profissional) com a presença, a palavra, o pensamento de um homem da política; da intervenção e colaboração com a media; dos livros e das bibliotecas; da filosofia e da História; da educação (enquanto professor que foi / é); da liberdade.
     A convite da Coordenadora da Biblioteca do Agrupamento Dr. Manuel Laranjeira, assistiu-se a um diálogo, um ponto de encontro, uma conversa que ocupou parte da tarde dos presentes, num registo pautado pela cordialidade, pela familiaridade, pode dizer-se por alguma informalidade, também com a colaboração do jornalista e espinhense Mário Augusto (curiosamente, um dos alunos do convidado especial). Sem a "Quadratura do Círculo" ou "Janela Indiscreta", programas televisivos protagonizados, respetivamente, por Pacheco Pereira e Mário Augusto, ambos proporcionaram uma comunicação feliz entre o inspirador e o memorialista. 
    Aos jovens estudantes que também o(s) interpelaram, foram dados exemplos de um tempo que, felizmente, não vivem (a época anterior ao 25 de abril); conselhos para um futuro que se constrói com o saber, o estudo e o trabalho; apontamentos de um pensamento político marcado pela evolução, pela aprendizagem, pelo compromisso com o bem público (no sentido mais etimológico de 'política'), mesmo que este tenha cambiantes próprios de uma visão social feita do contexto e das contingências do tempo e da vida.
     Hoje integrando a Escola Básica Sá Couto, o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira recebeu um dos seus professores de Português e de História nesse estabelecimento de ensino, na década de setenta do século passado, mas com a memória bem presente do vivido pela luta da liberdade - o que o fez ser agraciado com a Grã Cruz da Ordem da Liberdade (9 de junho, 2005), pelo Presidente da República de então, Dr. Jorge Sampaio. 
     Na partilha dessas vivências e memórias no presente, ficam as notas de que as conquistas não são dados definitivamente adquiridos; de que tanto mais valor se dá às coisas quanto mais experienciadas elas são; de que as convicções são construções que decorrem de formação, aprendizagem, leitura, contacto com o mundo real; de que ler, saber algo é garantidamente uma mais-valia para o percurso pessoal, social, profissional, político de qualquer ser humano.

Apontamento no blogue Ephemera sobre a presença do Dr. José Pacheco Pereira no AEML

      Enquanto detentor da maior biblioteca privada nacional - de que o blogue Ephemera é registo, arquivo documental difusor -, o homem de livros e de histórias que o Dr. José Pacheco Pereira é constituiu forte motivo para também se refletir sobre a leitura e os diferentes suportes que a fomentam; o domínio da língua e do vocabulário rico e expressivo, que não cabe no imediatismo de um dispositivo pequeno para a grandiosidade da inteligência humana, natural, feita também de um sentir que os "companheiros do tempo e da profissão" ajuda(ra)m a (re)criar pelos sorrisos e abraços efusivamente partilhados.
      No âmbito das atividades do AEML, que neste ano letivo se aglutinam no pensamento e no tema "(Rumo aos) 50 anos: do Liceu Nacional de Espinho ao Agrupamento Manuel Laranjeira", recebeu-se hoje um professor e um aluno da antiga Escola Sá Couto; não se esqueceu que, no ano letivo anterior, "74:24: o que cabe em 50 anos" foi tema para celebrar o 25 de abril, cujos valores de liberdade, democracia e participação importa alimentar ontem, hoje e sempre, a cada dia de cidadãos interessados em preservar conquistas que dignificam o ser enquanto elemento de uma comunidade.

      De uma conversa se fez uma grande lição, abrilhantada também pelo canto lírico de um poema de Sophia: "Liberdade"; pela presença de antigos professores e antigas diretoras das escolas do agrupamento; pela curiosidade e pelo compromisso de todos os que, no presente, caminham rumo ao futuro que se quer também feito de esperança.
      

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Final de tarde outoniça

     Com tanta notícia de quedas, acidentes e tempestades,...

   Antes de me fechar em casa, no sossego e no conforto que algum descanso possa trazer, fui ao encontro dos sinais de um outono fresco e húmido, arejado, livre de paredes, papéis, obrigações e monitores que nos limitam a alma.
     Foi então que o vi entalado entre as nuvens e o oceano agitado:

Ave, céu, nuvem, sol e mar num tempo outoniço acabado de chegar (Foto VO)

    Tirei a foto, fixei-o nessa imagem: um foco de c(al)or e luz sobre o horizonte, sob um manto de sombra a deslizar lenta, leve e silenciosamente, enquanto ruidosas ondas se atiravam para o areal.
      Uma gaivota foi apanhada. Nela ficou, num recanto e nas alturas que um par de asas conquistou.

      ...há que aproveitar alguma luz e colher a vontade de voar.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Caminhada literária com Sophia

       A fechar setembro, o sol e a poesia animaram os caminhantes, fazendo a diferença dos dias.

     Éramos mais de quarenta. Seis quilómetros de ida e vinda, ao longo do passadiço marítimo a ligar Espinho à Granja, foram o percurso traçado, na passada poética de uma obra em vários pontos declamada - uma atividade promovida pela Coordenadora e pelas professoras bibliotecárias do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira, no âmbito da Rede Interconcelhia de Bibliotecas Escolares de Entre Douro e Vouga. Estiveram presentes a Coordenadora Interconcelhia, Diretores do Centro de Formação do AVECOA e de Terras de Santa Maria, a representante para a Autonomia e Flexibilidade Curricular do Centro de Formação Aurélio da Paz dos Reis, representantes do SABE de Santa Maria da Feira, Vale Cambra e Oliveira de Azeméis, bem como professores bibliotecários da área do Douro e Vouga.

   Pequena brochura com alguns poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

    Levei comigo o Livro Sexto (1962), para dar visibilidade a um livro e lembrar a contemplada com o "Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores", atribuído em 1964 (sessenta anos); o "Prémio Camões", pela primeira vez ganho por uma escritora, em 1999 (vinte e cinco anos); o "Prémio Rainha Sophia da Poesia Iberoamericana", em 2003 (vinte um anos). Autora há vinte anos falecida; há dez no Panteão Nacional. Recordaram-se histórias.
    Tudo começou com Poesia (1944), esse título de há oitenta anos que o crítico e professor de Literatura Pedro Eiras sublinhou como o mais justo dos títulos, para uma obra onde «Assim surgia uma língua, nova e límpida».
   Aproveitei o facto de estarmos junto ao mar; de inspirarmos esse sal de vida trazido por ondas, conchas e corais; de estarmos banhados de uma luz matinal; de nos dirigirmos a um lugar vivido por Sophia e os seus; de sentirmos uma Geografia (1961) feita de tempo, de sentimento, de humanidade.
       Evoquei "Manhã" (in Livro Sexto):

Como um fruto que mostra
Aberto pelo meio
A frescura do centro

Assim é a manhã
Dentro da qual eu entro.

       Assim, o fizemos. Entrámos na manhã (luz) e nessa maresia que é cheiro e toque desse elemento que inspira "Inscrição" (in Livro Sexto):

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.

     Uma imensidão que a limitação humana só pode atingir pela imaginação, pelo humanismo, pela humanidade, pela cultura, pela antiguidade greco-latina e pelo sentido de liberdade que a poeta (como se designava) também versou, narrou, representou na versatilidade de géneros e modos literários produzidos.
     Desafiei o grupo à leitura de pequenas composições, tantas vezes despercebidas entre poemas mais longos.  Tão pequenos (dísticos, tercetos) e tão poderosos na mensagem, no pensamento - quase parecem "haikus", no trabalho de uma palavra a traduzir a justaposição de imagens, de temas, interligados na experiência de vida, na sensorialidade do natural e da natureza, na sonoridade simples (in Ilhas, 1990):

Cumpridos os deveres compridos deixaram
De assediar minhas horas

Doce a liberdade retoma em si minha leveza antiga

      A sabedoria constrói-se também com movimento, do mar ou outro - vento, tempo, pessoas -, como se antevê em "Coral" (in Coral, 1950):

Ia e vinha
E a cada coisa perguntava
Que nome tinha

    A reflexão social plasmada na denúncia dos desfavorecidos e na ironia destinada aos seres racionais não impede que as origens aristocratas de uma biografia rimem com um apurado sentido de justiça, de luta pelo bem comum, de partilha e de generosidade (in "Epidauro 62" de Ilhas, 1989):

Oiço a voz subir os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha

     Recuperei os cinquenta anos do "25 de Abril", nesse poema inicial dos tempos de liberdade e democracia, de luz e limpidez, afastando a noite e o silêncio.
     Numa irmandade de leitores, deu-se voz à obra que todos tinham à mão. Leituras singulares, experiências em coro, animadas por esquemas que não precisaram de qualquer ensaio. Só a vontade de ler, de viver a palavra, o ritmo, a voz, a companhia. A poesia uniu o que de melhor havia em todos. 
    Culminou a atividade num almoço concluído com a "Cantata da Paz" (in Canções com aroma de abril) - nunca melhor poema para os tempos de guerra que (ainda) vivemos.

       "Vemos, ouvimos e lemos / Não podemos ignorar ", repetidamente declamado a cada estrofe de lamento, violência e destruição, parecia uma oração trazida para o seio dos crentes, nessa religião tão necessária e tão nossa: a da paz e da poesia.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Arruada de Abril pela Liberdade

      Na véspera do feriado, duas escolas do agrupamento saíram à rua.

    Na impossibilidade de as quatro o fazerem, a Arruada de Abril pela Liberdade cumpriu-se esta manhã.
   Na base do trabalho desenvolvido desde o início do ano letivo, bem como das reuniões que permitiram a articulação e a planificação possíveis das atividades com os diferentes departamentos curriculares e grupos disciplinares, no âmbito do tema do Plano Anual de Atividades do Agrupamento ("74:24 - o que cabe em 50 anos"), foram muitas as iniciativas contempladas, na diversidade de propostas e na participação em atividades que marcam distintivamente este ano letivo.
   A propósito da celebração do 25 de Abril (que propositadamente maiusculizo), as múltiplas expressões planificadas refletiram iniciativas mais ou menos individuais compaginadas com outras de natureza mais agregadora. Neste último sentido surgiu a "Arruada pela Liberdade" na véspera dessa "madrugada" por que muitos ansiaram e lutaram; que Sophia poetizou; que se viu festejada em clima e regime democráticos, hoje vividos no caminho cinquentenário trilhado. Das escolas ao largo do município, preencheu-se  o caminho com alunos, professores, assistentes, acompanhados pela polícia que se empenhou também para o sucesso do evento. O público que assistia sorria, gritava pelo 25 de Abril, buzinava (ora pela paragem do trânsito ora pela identificação com a democracia conquistada), vinha às janelas dos prédios bater palmas. Algum deixava-se levar pela emoção denunciada no brilho dos olhos.
50 anos depois, recriam-se alguns sinais do movimento histórico na "Arruada pela Liberdade"

     Com o apelo à participação de todos nesta iniciativa, testemunhou-se como, em terra de "Tanto Mar", se cumpriu "a festa, pá!", passando-se aos alunos a mensagem do vivido e que estes puderam realizar / representar, enriquecer graças à intervenção de muitos e de uma equipa que coordenou o projeto. A Presidente da Câmara e outros representantes do município também contribuíram para um dia que se faz de memória(s) e de projeção contínua dos valores de liberdade, democracia, respeito, educação. 
    Tempo para lembrar uma revolução, na qual as armas e as máquinas de guerra que a sinalizaram e que recordamos não lançaram balas; tiveram cravos plantados pelo povo que somos, na afirmação da paz que qualquer ser humano deseja para o mundo.

    Como o disse Chico Buarque, "foi linda a festa, pá! Fiquei contente!". Fica um "cheirinho de alecrim" para todos, com a gratidão que se impõe pela participação diversa e responsável.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Questões de lateralidade

     Seja pela leitura (que não foi feita) seja pela perspetiva (que depende de quem vem e de quem vai).

   A imagem diz tudo: os parcos utilizadores da esquerda, caso se cruzassem com os da orientação contrária, ficariam impedidos no caminho. 
    Assim, os que em grande número desobedecem às instruções e caminham pela direita estão certos de que vão melhor dessa forma, já que estão todos no mesmo sentido, rumo a Gaia.
    Só uma senhora parece estar prestes a cumprir o que deve ser feito: atravessar a rua, chegar à esquerda (anunciada como direção a seguir) e, quem sabe, calcorrear a ponte D. Luís pelo piso dos automóveis (e não os dos transeuntes), para não impedir os que vêm ao seu encontro de prosseguir para a grande cidade invicta.
     Não sei se isto tem leitura de opções políticas, mas os resultados eleitorais de há dias apontam para uma maioria de direita. Será esta uma contrariedade assumida, reflexo dos tempos, trazida para a travessia da ponte?

      Está difícil a construção do caminho, mas ou muitos estão enganados ou, então, preferem a esquerda do vir enquanto seguem para Gaia. Confusão? Nada que não esteja no apontamento fotográfico, à direita, com tanto peão!
 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

No mês mais pequen(in)o

     Depois de um janeiro que parecia não mais acabar...

     Chega o mês mais pequeno (ainda que este ano seja maior, por ser bissexto). 
    Com os dias a crescer (só falta sair do malfadado horário de inverno, que torna o fim de tarde mais rapidamente escuro), a primavera a aproximar, anuncia-se uma liberdade natural que um dia de sol faz mais apetecida.
     Olhando o mar, inspirando-se num sentido de liberdade que a imensidão marinha também traduz, Sophia faz-se evocada na sua familiar Granja:

Da purificação do mês à pureza poética - com Sophia de Mello Breyner Andresen

     Um sentido de libertação, concentrado em sete versos, convoca tempo mais quente, horas mais claras e vida mais luminosa.

        Fevereiro, traz o calor que nem janeiro nem o fogueiro dão. 
        

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Pano-Pão-Planeta

      São três "Ps" para a vida.

    Na padaria e pastelaria 'Pão Pepim', em Espinho, foi experimentada uma receita de pão para a Semana Europeia dos Resíduos (18 a 26 de novembro).
     No decurso da semana, um pequeno gesto contribui para uma grande causa: um saco de pano faz a diferença.

Campanha da Pão Pepim e do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (foto VO)

      Hoje, depois de tomar um cafezinho, à hora do pagamento, os olhos pousam num "RollUp". Da grande mensagem ao pequeno pormenor, vê-se quem participa na causa.
    Lida a mensagem, levado o saco de pano, comprado o pão, fica o dever cumprido pela sustentabilidade do planeta.

      Leva-se o pano, compra-se o pão; alimenta-se o Homem, poupa-se (n)o planeta.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Gaivotas em terra

      Ei-las todas alinhadas ao sabor do vento (que não muda nem para).

    Assim as encontrei, ao sair de casa, plantadas na relva que ladeia o "mamarracho" cá do sítio.

Gaivotas em terra... de Espinho (Foto VO)

     Lá diz o povo: "Gaivotas em terra, tempestade no mar". Sim, este anda muito agitado, altivo, tal como o mundo. Até as aves marinhas procuram repouso à espera de melhores dias. Acrescente-se, contudo, que as expressões idiomáticas e os provérbios são frequentemente redutores e culturalmente relativos. Isto é evidente quando na terra a acalmia é só para alguns e a agitação também não é para todos.
    Não é ocasião para lembrar que "uma gaivota voava, voava" (lá chegará!). É momento para deixar a tempestade amainar. Há tempos assim. Deixá-los passar. Hão de mudar.
     Gostava de ser uma destas gaivotas, em sossego. Ter tempo para reler Gaivotas em Terra, obra que David Mourão-Ferreira produziu na estreia da sua ficção narrativa (1959) e com a qual foi galardoado com o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa. Há nela uma novela intitulada "E aos costumes disse nada" (adaptada, em 1982, ao cinema como "Sem Sombra de Pecado", por José Fonseca e Costa), com um toque de escrita a lembrar prosa queirosiana, um retrato de época e de um país com muitas "tempestades":

       "E os tempos iam maus: quase toda a Europa estava em guerra, quase todo o mundo estava em guerra. Dos meus camaradas do COM, a maior parte tinha sido destacada para os Açores: alguns outros para lôbregas unidades fronteiriças. Eu - talvez graças a influências do meu pai - fora dos raros privilegiados a ficar numa guarnição de Lisboa." 
in "E aos costumes disse nada", de Gaivotas em Terra, Presença, [1959] 1998

     Neste segmento narrativo convergem várias metáforas: as da família, do quartel, da cidade, da guerra (e da sua linguagem), da terra a conviver com o grotesco, com a máscara, com uma formalidade aparente; a contrastar com a antítese e a duplicidade de comportamentos. Transparece uma sociedade que pouco tem de liberdade, na teia do "ser" e do "parecer", à espera de uma outra "tempestade", mais libertadora e geradora de condições de vida mais dignas.
     Pensamentos e reflexões feitos de uma atualidade que cansa (porque há quem teime em não aprender ou se renda ao que não é dever nem poder).
       
      Não sei se estas são as gaivotas que voam, que aspiram ao alto, à mudança; parece-me que não trazem "o céu de Lisboa". Andam mais perto, ameaçadoras. Talvez em qualquer lugar, a qualquer instante, espalhando excrementos corrosivos que importa limpar de imediato (como a "cegueira", as invejas e outros males do mundo). Com Zeca Afonso, o digo: "não há só gaivotas em terra quando um Homem se põe a pensar".

sábado, 21 de outubro de 2023

Qual é maior?

    É o que dá caminhar.

    Encontram-se pormenores que importa registar. No dizer de alguns chega a fazer-se do longe perto, nessa vontade que é a de estar mais próximo do mar.

Duas capelas sobre rochedos e areais (Foto VO)

    Aqui está o "Senhor da Pedra" tão à mão que os olhos dizem estar "muito perfeitinho, até no tamanho."
    É assim a ilusão no que se vê e no que se diz.
    Dita a razão que não há qualquer confusão: o que se ouve (dizer) outros olhos não se deixam enganar. Lá longe, mais próximo do mar, há areia, rocha, pedra bem mais real, com tamanhos que não cabem numa maquete exposta pelo município junto dos transeuntes.

    Continue-se a caminhada, enquanto o parco sol deixa e a iminente chuva não se faz sentir.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

(Inter)Pessoal, local e nacional

     Começou o dia com uma saudação.

    A caminho de uma reunião de trabalho, após um café, cruzo-me com uma pessoa conhecida que me saúda com o generoso "Bom dia!" e a questão retórica (já que o andamento é apressado, sem espaço para haver resposta prolongada) "Como vai?"
   Saiu um "Vamos andando, obrigado", por um lado, a corresponder literalmente à situação (já que ambos os dialogantes continuam efetivamente em movimento, a passo largo, criando distância face ao que as breves palavras momentaneamente quiseram encurtar, sem grande sucesso); por outro, a cumprir uma resposta cortês e tradutora de um estado de alma, no momento, sem angústias nem euforias.
   Uns passos adiante, o discurso pessoal comungado, partilhado com a conterrânea revê-se, entretanto, no espaço público da praça:

Toca a levar o barco, na rede que a vida tece - I (Foto VO)

      E o que se lê a nível local, numa perspetiva outra, acaba por se expandir para o espírito nacional:

Toca a levar o barco, na rede que a vida tece - II (Foto VO)

      Nem bem nem mal! Às vezes melhor, outras vezes nem por isso.
    Sobrevivamos a cada dia, afastados das guerras mortíferas que o mundo tem. De outras não nos livramos, mas destas saibamos doseá-las com as forças do entendimento e, se possível, com respostas efetivas à resolução dos problemas, para que todos passemos da retórica à [comunic]ação prática.

    Terminou o dia com uma reflexão, procurando razão para novo acordar. Toca a descansar, que amanhã há mais vida para quem desperte do sono e se queira alimentar de sonho.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Mont Saint-Michel

      Qual peregrino, em terras gaulesas, mais precisamente na Normandia.

      Em local fortemente marcado pela espiritualidade, a abadia do Mont Saint-Michel é um exemplo de arquitetura medieval excecional, prova de edificação prolongada ao longo dos tempos (dos séculos XI e XII à construção do claustro e refeitório dos séculos XIII ao XVI).
     A muralha do século XIV configura uma fortificação que, outrora, protegia a ilha das marés e, durante a Guerra dos Cem Anos, das incursões inglesas que atravessavam o canal da Mancha - daí também representar um forte símbolo de identidade nacional.

Vídeo com apontamentos fotográficos do passeio escolar do AEML (Vídeo VO)

    Aclamado local de peregrinação, juntamente com Roma e o Caminho de São Tiago, o Mont Saint-Michel foi percurso das romagens mais significativas do oeste medieval, a ponto de ser considerado uma das mais importantes cidades-santuário europeias.
    Crê-se que os mil e trezentos anos de história do local iniciaram em 708, quando Aubert, bispo de Avranches, mandou construir no monte Tombe um santuário em honra de São Miguel Arcanjo (Saint-Michel).

   Hoje o monumento beneditino recebeu mais um admirador - inclusive da caixinha de bolachas salgadas comprada na Grande Rue. Motivo para regressar um outro dia?

sexta-feira, 24 de março de 2023

Ilha, terra / céu, luz e mar...

      Depois do cansaço do dia, só o café trouxe a energia que já não tinha.

     No desconcerto do momento, olhando as ondas e o cinzentão do final de tarde, peguei numa caneta e rabisquei o canto de uma folha impressa, já usada, mas ainda com espaços para rascunhar ideias, soltas, vagas, à espera de um sentido que não tenho de ser eu a dar.

Palavras, imagens e sons com alguma poesia (texto e filme VO)

LIBERDADE E CLARIDADE

Há quem se perca e se prenda na ilha.

Cada porto é chegada a nova terra.
Cada ilha se faz terra para novo mar.
O céu está além, para as estrelas.
Nem sempre se dão a ver; estão lá.
Dissipada a névoa, fugidas as nuvens,
limpo o céu, aquelas brilham, ainda.

Presença de luz invisível no vazio
Da escuridão instalada, cá na terra,
Sem sol nem claridade. Só dor.

Há que fugir da ilha. Banhar no mar.

     Sem bagagem, lancei-me na viagem. Não sei onde vou dar ou parar.

     Tempo de caminhar rumo à luz.

sábado, 24 de dezembro de 2022

Natal com alguma cor

     E veio mais um...

     Talvez seja o tempo de (re) nascer
     Talvez seja o tempo de lembrar o que é viver
     Talvez seja o tempo de renunciar ao imediato
     Talvez seja o tempo de dar tempo

Um Postal de Natal à espera do Verde

     Talvez seja o tempo de dar outra vez à vez
     Talvez seja o tempo de outra versão (de ver o que é são)
     Talvez seja o tempo
     Talvez

     Chegou a tal vez: boas festas a todos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

(Outros) Apontamentos natalícios na cidade

    De noite ou de dia, o Natal na cidade traz um pouco de alegria.

   Mesmo quando o cinzento no clima dos dias se impõe, parece haver sempre um apontamento a dar cor e animação:
    
Montagem de fotografias com sinais natalícios de Espinho (VO)

   A semelhança de outros apontamentos, chegou mais este para mostrar como foi decorar a festividade nas ruas e praças, com a magia natalícia. Não vi o Pai Natal, mas pode ser que ainda deixe qualquer coisinha na bota cá de casa.

    Só faltou a paz mundial que a época prenuncia, mas os homens renunciam.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Foi a vez do João Ratão...

      Diz o título que é "Uma história..."

     As autoras dizem que é uma peça de teatro "cheiinha de música e de cor". Eu digo que é um teatriiiiiinho bem sério, pelo que lembra, diverte e ensina.


Publicitação de Uma história do João Ratão, de Maria Clara Miguel e Maria Dolores Garrido

    Primeiro, porque protagoniza o João Ratão e secundariza a Carochinha (o preconceito do género dominante é de problematizar, mesmo quando se apresenta ao contrário); depois, mostra que nem tudo o que parece é (não é de esquecer que o aumentativo 'Ratão' está mais para a fraqueza, como o diminutivo do 'Quinzinho' está mais para o espertalhão, numa contradição de opostos); também procura mostrar o que faz o João Ratão cair no caldeirão, ou melhor, aponta a razão para este ser tão glutão na tradicional versão da história; por fim, recria, positivamente, um final que não era muito feliz e procura espreitar o "happy end" que a "História da Carochinha" não tem.
     Aprende-se que há sempre um motivo para o que se é (personagem ou pessoa); que temos de dar volta às coisas, para que não persista o "...Triste vida a minha!..."; que não tem de haver um final trágico na vida, desde que façamos por isso; que o passado pode ajudar a explicar o presente e evitar um futuro nefasto.
Breve dramatização de "Uma história do João Ratão" (Clube de Teatro da ESG)

     Há um rio e uma ponte a simbolizar passagem, o desvelamento do(s) mistério(s), um modo de ver as coisas que pode mudar - pois nem tudo é estável, imutável, definitivo. E não há como procurar ter outras perceções e perspetivas, para se poder ver o lado bom das coisas.
      Assim se dá a ler Uma história do João Ratão, que tem ainda um Burrico Tonico bem castiço e um Mocho Julião, um frade conviva e conciliador. Porque "quem canta seus males espanta", também há uns grilos cantantes que nos lembram melodias de infância com letras e ritmos muito contemporâneos, para encantamento do leitor e/ou do espectador.
      Ora, foi esta a receção deste pequeno grande livro, aquando da apresentação da obra nas Escolas Básicas de Anta e de Guetim, bem como na Escola Básica Integrada Sá Couto: momentos para almofadinha no chão, conversinha com a Maria Clara Miguel, um videozinho "fixe", um "ganda rap" e até uma leitura expressiva dramatizada, tal como o texto dramático o sugere / potencia.

     Um teatrinho para grandes e pequenos - já que isto de literatura infantil tem muito que se lhe diga!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Um quiasmo... no muro.

        A prova de que os recursos retóricos andam aí pelas ruas.

       Ou melhor, nos muros. Não se diga, portanto, que as figuras de retórica são para os textos literários, porque é bem redutor tal pensamento.
       Basta uma caminhada para nos cruzarmos com uma delas:

Quiasmo em paredão junto à praia - na Granja (Foto VO)

      Ao estilo vieirino (que tantas vezes recorreu ao quiasmo para expressar um pensamento moralizador nos seus sermões), veja-se uma repetição configurada numa construção reveladora de um paralelismo cruzado (se figurar em linhas prosaicas ou versos distintos) ou de uma ordenação contrária (do tipo AB - BA). Se o Homem come para viver, é bom que não viva para comer. Há como que um efeito de espelho, de reflexo, partindo a frase anterior em duas; um pensamento não deixa de ficar marcado: o da sobrevivência que não deve dar a lugar a excessos ou vícios.
     Há, portanto, uma simetria sintática a traduzir uma máxima ou moralidade significativa - prova de como a forma está de mão dada com o conteúdo para que tudo faça (algum) sentido.
     Com o exemplo fotografado, o primado da sensibilidade firma-se (só não sei se houve a mesma no ato de pintar a pedra de forma algo ousada). Talvez não resulte em vandalismo puro porque a verdade do escrito impõe-se face à frieza da racionalidade ou da pedra.

     Se são figuras retóricas, são da língua - falada ou escrita. Nem que seja no paredão de uma localidade próxima.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Apontamentos da cidade

     Vão chegando os sinais natalícios.

    O brilho da noite faz-se de colorido luminoso, como se o maravilhoso do natal apagasse o tempo de guerra que se vive e a crise sentida dentro e fora de portas.

Montagem de fotografias com sinais natalícios de Espinho (VO)

    APONTAMENTOS DA CIDADE
 
   A cidade está aí, 
   com as estrelas que nos guiam; 
   as renas soltas, livres dos trenós; 
   um presépio em cascata; 
   árvores sobreviventes a brilhar,
   como se fossem pinheiros;
   um banco em jardim de luz,
   à espera de quem nele se sente;
   uma onda iluminada
   em rua que chega a praça;
   quadrados em desalinho
   à espera de quem neles alinhe.

   Está para vir o Pai Natal, 
   em qualquer cor,
   para que neles se vejam todos
   os que são feitos de amor.

   Virá o inverno, depois deste outono chuvoso e frio que se faz sentir nos últimos dias. O ciclo cumprir-se-á em primavera e verão. Veremos como o Homem lidará com o espaço e o tempo sem esquecer as pessoas que o fazem.

   Que a cidade saiba resplandecer no calor da humanidade.

sábado, 15 de outubro de 2022

Passear pelo jardim

       Depois do dever (com prazer) o prazer (sem dever).

      A manhã mantém o registo do trabalho, apesar de ser fim de semana. É tempo para lembrar o já cumprido, encarar novos desafios e alguns princípios que valem para qualquer ação educativa:

Apresentação do Projeto 'Geração+' na LIPOR - I (Foto VO)

Pensamento aristotélico na apresentação do Projeto 'Geração+' na LIPOR - II (Foto VO)

     Após uma deslocação até à LIPOR (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, entidade responsável pela gestão, valorização e tratamento dos Resíduos Urbanos produzidos pelos oito municípios que a integram: Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde), em Valongo, e a propósito do projeto "Geração +" e do "Coração Verde", mal se pode, procura-se que o dever dê lugar ao prazer de...
... respirar,
... alongar o olhar,
... passear,
... estar com quem se quer,
... (re)encontrar antigo(s) aluno(s) e vê-lo(s) bem e com vontade de futuro,
... recuperar vivências passadas na presente  lembrança,
... tomar um pequeno-almoço decente.

Montagem fotográfica - I (Foto VO)

Montagem fotográfica - II (Foto VO)

Montagem fotográfica - III (Foto VO)

Montagem fotográfica - IV (Foto VO)

      No meio da cidade, há um encontro de natureza e humanidade, lembrando que a naturalidade humana ou a humanidade naturais são possíveis, nesse cruzamento em que a expressão natureza humana pode ir do sentido mais literal ao mais metafórico, algures entre o paisagístico e a essência ou a existência do ser.

      Ver coisas bonitas ajuda a "limpar" a alma e o cérebro, mesmo que o cinzento de dia traga um sol matutino feito da luz que as nuvens e o nevoeiro escondem.

domingo, 9 de outubro de 2022

Em jeito de balanço e de lembrança

      Publicado na Newsletter do Jornal Plural, eis o meu testemunho.

      Não sendo novo, porque advém do final do ano letivo anterior, segue-se o registo do que foi viver sob a égide de um projeto intitulado "Mar Pedagógico - Inclusão é a Condição", que marcou o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira:

Registo da Newsletter do Jornal Plural do AEML
      
Transcrito da Newsletter do Jornal Plural (outubro 2022)

     Passado o tempo, fica a lembrança de muitos momentos que permitiram fechar 2021-22 em festa e no sonho de que é possível viver o mundo com todos, assim nos deem a oportunidade de dar as mãos, construir redes e fazer obra.

      Em novo ano letivo em curso, que venham outras marés e se viva a escola de e para todos.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Símbolos das 'Jornadas Mundiais da Juventude' em Espinho

      Uma manhã de sol e de símbolos para a juventude (de qualquer idade).
     
    Na sequência da solicitação da Diocese do Porto e da Paróquia de Santa Maria Maior de Espinho, para que o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira recebesse, no seu espaço escolar, os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (cruz peregrina e ícone mariano 'Salus Populi Romani'), hoje de manhã, pelas 11 horas, procedeu-se à divulgação / demonstração dos mesmos na escola sede do agrupamento, no âmbito do espírito ecuménico e do entendimento etimológico do termo: do ou para o mundo inteiro; que reúne pessoas de diversas religiões ou ideologias.
    Trata-se de uma iniciativa de e para a juventude (independentemente do credo ou da fé professados), pelo que se contou com a colaboração de alguns dos estudantes (atuais e alguns outros em percursos de vida já para lá do ensino secundário), para a sensibilização e mobilização para essa Jornada Mundial da Juventude.

Jornadas Mundiais da Juventude no AEML (montagem de fotos)

   Na sequência de outras iniciativas que têm trazido jovens de vários credos ao espaço escolar, pretendeu-se viver esta experiência com esse sentido congregador, de união, num caminho, num percurso, numa sensibilização para o que mais une o Homem enquanto ser tomado pelo que de mais humano e humanista o caracteriza. Que os tempos de guerra, de confronto e de conflito deem lugar ao sentido máximo desse princípio universal que sublinha como, sendo diferentes, todos somos bem mais e maiores naquilo que nos aproxima - eis o pensamento matriz.
    Nesse mesmo espírito ecuménico e jovem que também deve pautar a escola, houve uma cruz, tocada por milhões, com a energia e a alegria que nela quiseram depositar; uma imagem mariana, observada nos tons dourados e azul, com o Menino Jesus nos braços, a segurar um livro dourado.
    O sol brilhou e concentrou quem quis aderir a um espírito que sabe contrariar a conhecida letra de canção de António Variações (na voz de Marisa Liz): "Já esqueceram o cantar e o sorriso / Já não são homens de boa vontade / A loucura está a vencer o juízo, / O ódio, a amizade / Estão-se a despir de toda a humanidade".

    Um breve evento que marcou os dois agrupamentos escolares do concelho e a passagem dos símbolos peregrinos pela cidade de Espinho.