quarta-feira, 5 de julho de 2017

"Mulher de Deus, Amante do Rei"

        Assim pode ser resumida a apresentação de Madre Paula.

     Iniciou-se hoje a exibição de uma série televisiva de produção nacional inspirada no livro de Patrícia Müller e dedicada àquela que ficou conhecida como a amante mais conhecida do rei D. João V: Madre Paula de Odivelas (Paula Teresa da Silva). 

Trailer da série televisiva (RTP1)

       No erotismo das cenas de abertura está lançado o mote para o profano e o sagrado conviverem em plena ambiência de época barroca, quando os contrastes se afirmavam pela conciliação. Nesta ordem de raciocínio, também se explica como Paula acaba por estar livre na prisão que o convento representa.
     Tendo entrado como noviça no Mosteiro de S. Dinis de Odivelas (à semelhança da irmã mais velha e em conformidade com decisão paternal, pelos fracos recursos familiares de que dispunha), Paula viria a professar a fé católica, em 1718, já com o pensamento no rei. Dos amores vividos com o Conde de Vimioso à predileção real, foi um exemplo das sóror que o soberano absolutista visitou na sua aproximação às esposas de Deus (privilégio que o representante divino na terra concedia a si próprio). Dela, teve o Magnânimo vários filhos, entre os quais D. José de Bragança (nascido em 1720) - um dos conhecidos "meninos de Palhavã", que viria a tornar-se inquisidor-mor. Bela e jovem, passou a ser a amante favorita do rei e tornou-se Madre do Convento, usufruindo de todas as atenções do monarca, que lhe deu condições de vida muito luxuosas, típicas dos devaneios extraconjugais do "rei do ouro" (também conhecido na História como o "freirático").
      A vida sumptuosa que levou, mesmo após a morte de D. João V, afastam esta figura feminina do percurso religioso e devoto a que apenas parece ter-se dedicado no final da vida, não sem os luxos nem os aposentos ofertados pelo rei. Falecida aos 67 anos, acabou por ser sepultada na Casa do Capítulo do Convento de Odivelas.

Representação de Madre Paula de Odivelas,
numa teatralização da figura da "Madre de Deus"
(Escola Portuguesa, séc. XVIII)

   José Saramago, em Memorial do Convento, refere-se a Madre Paula como a "…flor de claustro perfumada de incenso, carne gloriosa…", numa imagem clara a essa condição típica a que as mulheres menos abastadas do séc. XVIII acabavam por se entregar como forma de sobrevivência natural na sociedade.