sexta-feira, 27 de março de 2015

Partida, com chegada anunciada

       Até já.

     Forma estranha a de começar um texto: com a despedida.É tempo de partida, com data de regresso anunciada.
     Cinco dias fora do país, para me passear por três outros (França, Bélgica, Holanda). Um percurso que tem algo de extensão triangular, mas que espero nada de semelhante tenha com o Triângulo das Bermudas. O propósito não é perder(-me). É simplesmente "Viajar!". Pessoa diria que é "Perder países!" (precisamente ele não perdeu praticamente nenhuns); para mim, será sempre achar ou encontrar países, pessoas, curiosidades, culturas! Uma oportunidade para "viver de ver somente".

Roteiro de uma viagem certamente para, no futuro, recordar.

     Em boa companhia; com a novidade de locais por conhecer ao vivo; com o projeto de também esquecer os tempos de cansaço que ultimamente tomaram conta dos dias, assim me vou, com uma mala que pouco pode levar e pouco mais poderá trazer.

    Quando regressar, será tempo de recordar. Serão poucos dias para lembranças, mas talvez se possa, a partir daí valorizar mais o que se tem. Às vezes é preciso partir para mudar o sentir.

terça-feira, 24 de março de 2015

A morte já tem mestre

      Se o título "A Morte Sem Mestre" (2014) era verdade poética, agora é realidade negada.

       Desde ontem, a morte ganhou um mestre de renome - mais nome do que cara pública, mesmo quando esta podia cruzar-se nos e com os olhares deste mundo. Como lei da metamorfose, a passagem faz-se; a mudança acontece; a viagem cumpre-se, para um destino que a distância e o tempo farão, por certo, maior, num espaço de memória com "Os Passos em Volta" (1963), "Ofício Cantante" (2009) ou "Poemacto" (1961).
     Como que numa teorização literária sobre a poesia e a criação poética, fica o tratado, o pensamento em verso:

Poema de Herberto Hélder, dito pelo jornalista Fernando Alves.

"Um quarto dos poemas é imitação literária,
outro quarto é ainda imitação mas já irónica e colérica,
outro quarto é das labaredas da inquisição à volta,
outro quarto, o quarto, o que falta, é por causa da
magnificência do mundo
o quinto quarto absurdo é o das quatro patas cortadas,
e o último é ele que olha da montanha onde abriu na 
pedra o seu nome inabalável,
e voltava ao primeiro como se fosse orvalho,
como se fosse tão frio que cortasse até ao osso,
o imo do próprio nome assim metido na pedra,
tanto que ninguém sabia de quem era,
porque ficou todo dentro e não se via de fora:
nem o suor nem o sangue nem o sopro"
in Servidões (2013)

      Assim o construiu Herberto Hélder (1930-2015); mas mais do que o autor ou o poeta, fica essa voz sibilina que "queria fechar-se inteiro num poema":


Montagem de um poema de Herberto Hélder com uma imagem de Alexandra Antunes
(in 
http://www.alexandraantunes.com/2012/11/herberto-helders-typographic-portrait.html)

     O poema que o fez "feliz e trágico" fica como a morada eterna, o local no qual se deita para o(s) (re)encontro(s) que o leitor quiser marcar.