Se o título "A Morte Sem Mestre" (2014) era verdade poética, agora é realidade negada.
Desde ontem, a morte ganhou um mestre de renome - mais nome do que cara pública, mesmo quando esta podia cruzar-se nos e com os olhares deste mundo. Como lei da metamorfose, a passagem faz-se; a mudança acontece; a viagem cumpre-se, para um destino que a distância e o tempo farão, por certo, maior, num espaço de memória com "Os Passos em Volta" (1963), "Ofício Cantante" (2009) ou "Poemacto" (1961).
Como que numa teorização literária sobre a poesia e a criação poética, fica o tratado, o pensamento em verso:
Poema de Herberto Hélder, dito pelo jornalista Fernando Alves.
"Um quarto dos poemas é imitação literária,
outro quarto é ainda imitação mas já irónica e colérica,
outro quarto é das labaredas da inquisição à volta,
outro quarto, o quarto, o que falta, é por causa da
magnificência do mundo
o quinto quarto absurdo é o das quatro patas cortadas,
e o último é ele que olha da montanha onde abriu na
pedra o seu nome inabalável,
e voltava ao primeiro como se fosse orvalho,
como se fosse tão frio que cortasse até ao osso,
o imo do próprio nome assim metido na pedra,
tanto que ninguém sabia de quem era,
porque ficou todo dentro e não se via de fora:
nem o suor nem o sangue nem o sopro"
in Servidões (2013)
Assim o construiu Herberto Hélder (1930-2015); mas mais do que o autor ou o poeta, fica essa voz sibilina que "queria fechar-se inteiro num poema":
Montagem de um poema de Herberto Hélder com uma imagem de Alexandra Antunes
(in http://www.alexandraantunes.com/2012/11/herberto-helders-typographic-portrait.html)
O poema que o fez "feliz e trágico" fica como a morada eterna, o local no qual se deita para o(s) (re)encontro(s) que o leitor quiser marcar.
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