segunda-feira, 18 de agosto de 2014

E uns outros milhões expostos ao erro

   A notícia é sobre uns milhões. Outros são os que correm o risco de ficar apenas com o erro.

   É já tão frequente o problema, bem além de Portugal continental, que era escusado a RTP contribuir para a sua perpetuação.
   É triste a constatação de que é cada vez menor a atenção prestada pela televisão pública, na sua estação difusora, aos que escrevem português. Correto devia ser; cada vez mais errado se dá a ver e a ler:

Imagem captada da RTP1, durante a emissão do Bom Dia Portugal 
(título que também devia ter vírgula, para marcar a presença do vocativo).

   À informação do dinheiro vindo da União Europeia não escapa o indevido e agudo acento, que deveria ser grave. Grave (também) o erro! Aguda (ainda) a situação, de tão criticamente recorrente. Sendo a explicação do acento gráfico grave tão singular na nossa língua, chega a ser incompreensível o desconhecimento dela. Ora na indecisão ora no assumido erro, relembre-se que a contração (da preposição 'a' com o determinante artigo 'a') constitui o motivo para que o "embargo à", sublinho, "à Rússia" fique convenientemente grafado.

    Seja lá a quem for, devia a RTP dar formação a quem desconhece regras básicas de acentuação. A bem da própria imagem do canal de televisão.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Quando o papel da vida chega ao fim

    Foram muitos os papéis desempenhados em filmes, séries, teatro...

    Chegou ao fim o papel da vida. 
   É sempre triste a notícia da partida daqueles que artisticamente fazem parte de uma geração. A da minha juventude tem, por certo, Robin Williams como um dos grandes da Sétima Arte. Os traços do seu sorriso sempre desenharam o empático e contagiante registo da comédia, mesmo nos enredos cuja profundidade temática tinha tudo menos razões para fazer rir.
   Good Morning, Vietnam  (1987) e Clube dos Poetas Mortos (1989) são títulos que o assumem como protagonista de narrativas cinematográficas ímpares. O segundo muito mais diretamente me diz, pelo papel de professor de Literatura que o ator representou (John Keating) e que a mim me fascinou - talvez por, nesse ano, estar já eu a perspetivar o tipo de docente que gostaria de ser.
      No meio do enredo, ficava uma de várias mensagens:

     Imagem do filme Clube dos Poetas Mortos (Dead Poets Society)

     Parece que, hoje, a depressão e o desespero puseram fim ao romance, à poesia, à beleza, ao amor... à vida. 

    Na suspeição de um suicídio, aos sessenta e três anos, Robin Williams deixa o legado de um artista oscarizado (em 1998, com Good Will Hunting - ou, em Português, O Bom Rebelde -, na categoria de Melhor Ator Secundário), de uma carreira galardoada com grammys, emmys e globos de ouro diversos; o sinal de que a ficção pode mascarar ou iludir realidades insuportavelmente duras e graves.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Corpo são em mente sã (ou de como 'andar a pé faz bem')

     Em tempos de aposta no exercício físico, para compensar a imobilidade da maior parte dos dias, faz sentido uma pergunta deste estilo, por mais que ela convide à ausência de movimento.

     E pronto... lá vou eu sentar-me, para responder à questão.

     Q: Olá, Vítor.
     Esclarece-me esta dúvida, por favor: em 'Andar a pé faz bem', qual a função sintática do sublinhado?
         Obrigada.

    R: Olá. O sublinhado não deve ser encarado separadamente do verbo. 'Fazer bem' funciona como uma unidade léxica (lexia), com o verbo e o advérbio enquanto elementos constituintes de uma expressão fixa configuradora do predicado (sintático) e do predicador (semântico) nuclear da frase (que tem como sujeito sintático 'Andar a pé').
     O verbo 'fazer', no caso concreto, não é entendido como verbo pleno, mas funcional (à semelhança de 'dar', em 'dar apoio / autorização / permissão ou 'dar à corda / sola; 'ter', em 'ter fome / necessidade / fome / vontade' ou 'ter em consideração / conta'; 'pôr', em 'pôr em andamento / dúvida' ou 'pôr à venda', 'pôr fim a'). Assim se encara 'fazer face / frente a', 'fazer bem / mal', 'fazer perguntas / problemas', entre outras construções de realizações perifrásticas, redutíveis a um só termo (dar apoio > apoiar; fazer bem > favorecer). O verbo 'fazer' participa, assim, das chamadas equivalências lexicalizadas ou lexias com estruturas factitivas (isto é, a realização, por meio de verbos transitivos simples, de equivalências a perífrases factitivas: fazer cair < derrubar; fazer morrer < matar; fazer fugir < afugentar; fazer arder < queimar).
     O caso destes verbos - fruto de um esvaziamento semântico e/ou derivados, desprovidos de parte do seu sentido básico - leva a que alguns linguistas os designem como verbos leves (Jespersen), verbos operadores (Harris) ou verbos suporte (Gross). Quando seguidos de uma sequência nominal, preposicional ou adverbial, chega nalguns casos a não haver lugar a nenhum valor argumental, com o segmento 'verbo+sequência' a compor um predicador complexo (representado numa expressão fixa ou lexia). É o caso de 'fazer bem'.