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segunda-feira, 7 de abril de 2025

Sem santos nem milagres na língua

    Não podia ser de outra forma, quando se repete o erro.

  Que dizer daquele algoritmo que vai comandando a nossa vida, ao clicar-se num produto / assunto / tema / apontamento, e tem um "agente inteligente" que não vê a ignorância perpetuada num convite que só pode ter uma resposta?!

Até pode ser o bom Portugal, mas, no que toca ao Português, vai muito mal (colhido do Facebook)

Além do país, adore-se também a língua, para que não seja incorretamente usada (colhido do Facebook)

Nem com Santo António isto lá vai! Não há santo que valha ao bom uso da língua (colhido do Facebook)

   Claro que não me sentaria - eis a resposta!
  Sentar-me-ia se houvesse a consciência de como fazer um convite corretamente. Não adianta  a referência a terras, a santos; a apresentação de carinhas larocas e comidinhas apetecíveis, de chorar por mais. Nada disso me convence. Está em causa o mau uso do português, que, no condicional ou no futuro, é mal falado ou escrito até por ministros.

E não é que insistem?! Mudam as caras e as iguarias, mas mantém-se o erro crasso (colhido do Facebook)

  O condicional pronominalizado tem, tipicamente, o pronome entre a base verbal e a sua terminação. "Sentar-te-ias" devia ser a forma a ler; não aquela que a inteligência artificial (AI) e um algoritmo infeliz não descobriram, ainda, para usar corretamente na fala e/ou na escrita. 

Nossa Senhora de Fátima nos acuda, nos salve da persistência declarada no erro (colhido do Facebook)

  Caso para dizer que não há ruralidade nem iguaria que resistam. 
  Futuro e condicional pronominalizados são deveras casos críticos da língua
  Nem com a AI isto vai lá!

    Triste daqueles que não veem nalguns registos da inteligência artificial, sublinhe-se, a artificialidade que só o espírito humano pode melhorar / corrigir / fazer vingar como virtuosa.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Assim não brinco!

       Quando está tudo preparado para...

       ... entrar na brincadeira e ter alguma diversão, eis que falha uma das regras:

Brincadeira nos seus primeiros sete passos (montagem fotográfica I, com agradecimento à PN)

Desafio dos passos finais, mais dois colocados por mim (montagem fotográfica II)

     Falo da regra da correção escrita, tanto no "*Encontras-te" (que devia estar sem hífen) como no "*autoculante" (que, numa sequência de formação de palavras, deveria sempre considerar, como base original, o que pode "colar"; ou seja, cola(r) > colante > autocolante).
        Apetece dizer: assim não brinco!

      ... ler dez vezes o mesmo erro! Como são dois erros constantes, chega-se a vinte. Removam já o autocolante do espaço público. Que brincadeira!

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Falhas no (arranque do) discurso

     No Pontal, a correção não esteve na ponta da língua.

   A falha do microfone no início do discurso foi questão de somenos importância, resolvida em sete minutos. Bem pior foi o anúncio da medida do suplemento das pensões, pelo modo como foi feito. Na variação existente, o presidente do PSD e atual primeiro ministro afirma o seguinte: "Quem tiver uma pensão entre estes 1018.52 euros e 1527 euros e 78 cêntimos será-lhe [CREDO!!!!] paga uma verba, a título de suplemento extraordinário, no valor de cem euros."
    Acrescenta a jornalista que dito assim agradará aos beneficiários.
   É bem possível, perante a miséria de algumas reformas existentes no país. Não agradará, por certo, a quem percebe alguma coisa da nossa língua materna e ouve um "será-lhe" que faz arrepiar o cérebro.

Foto de um momento crítico na língua 
(não no lido, mas no ouvido e atestado hoje televisivamente no "Jornal" da SIC Notícias)

    Há quem diga que alguém "puxou a manta e os pés ficaram de fora", a propósito dos efeitos da medida proclamada. Acrescentaria que alguém precisa de um suplemento bem maior na língua, para que o futuro do verbo, na conjugação pronominal utilizada, resulte no devido "SER-LHE-Á". A conjugação do futuro e do condicional, para não regressar ao estádio linguístico do galaico-português, tem particularidades que atualmente são ensinadas aos alunos (para se evitar um erro morfológico típico), as quais não devem entrar de férias, muito menos por quem deve estar instruído no bom uso da língua oficial; muito menos num período de grande visibilidade (e audição) naquela que se diz ser a "rentrée" política.

     Não foi só no arranque e nem tudo é culpa do microfone. É a meio e no modo como se fala. E todos aplaudem, sorridentes, o que se anuncia, bem como o modo impróprio desse anúncio. Salvos sejamos deste politiquês que nos dão a ouvir!

sábado, 9 de dezembro de 2023

Nova falha... já antiga.


       E não foi, por certo, por causa da chuva - que não para.
      Hoje, logo ao acordar, depois do empate e da crise do Benfica, vem a guerra de Israel-Hamas e, para não variar, a desgraça da língua escrita (prioridades!):

       Sem equilíbrio na escrita e no mundo (Foto VO)

     A inconsciência ortográfica assenta numa outra: a morfológica. Trata-se de um caso clássico de erro ortográfico proveniente da inconsciência morfológica. Não sabendo a palavra base (equilibrada), por parte de quem escreve, o acrescento do prefixo 'des' deriva numa escrita fonética mais do que problemática.

       Efetivamente, o DESEQuilíbrio é evidente... na língua e nos líderes mundiais (chega a parecer que a guerra é preferível). Santo Deus!

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Estamos nisto! Ortografia do melhor...

      Quando estás preparado para ser informado sobre o que se passa no mundo, ...

       ... as notícias aparecem na sua pior escrita.
    Dúvidas houvesse acerca da influência da oralidade na escrita, os erros comuns na ortografia de palavras como 'feminino', 'ministro', 'príncipe' e afins demonstram-na. Daí que, no plano da correção escrita, seja de abordar estes casos críticos, para que resultem em domínio mais consciente e correto do ato de escrever.
    A televisão começa a dar sinais de como esta competência parece já não ser apanágio do bom exemplo do serviço público e da exposição ao bom uso da língua:

Eis a razão para, sem dúvida(s), preferir o favorecimento, bem escrito (com agradecimento à AC) 

    Claro que não é necessário dominar a etimologia e reconhecer a base latina "PRIvilegium" (embora ajudasse): a leitura de vocabulário frequente permite ver bem as sílabas de "PRIvilégio" (desde logo a primeira de todas); a família de palavras assinala recorrências evidentes em "PRIvilegiar", "PRIvilegiado", "PRIvilegiadamente", "desPRIvilegiado" (pela consciência repetitiva da base); a consulta de um dicionário, hoje, está à mão de qualquer telemóvel ou computador pessoal (com palavras bem grafadas).
      Tão bom seria ver / ler palavras, em primeiro plano, para uma comunicação feliz!

     Talvez por causa do mau exemplo, prefira o favorecimento ao outro termo que, em vez de 'pre', deveria ter 'pri' na sílaba inicial.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Fatalidades: do filme ao erro

       No pouco tempo de que disponho, deixei-me levar por um filme...

      Já não me lembro do título nem do canal televisivo que o difundiu - por certo um dos TVCine. Era um daqueles que apelam à simpatia por um casal que tudo faz para salvar a filha de uma doença fatídica e que, à última hora, vê um milagre acontecer. Antes assim, para o final feliz do enredo e dos espectadores que se reveem nos sinais de esperança.
        Felicidade, contudo, não existe quando se lê, nas legendas, o seguinte:

Legenda fatídica em filme de esperança (quanto à língua...!)

       É fatídica a confusão da grafia '-se' e da sequência 'V[ogal]sse'. Caso para dizer que não há crença que resista já ao pretérito imperfeito do conjuntivo, escrito com esta última sequência e não com a primeira (hifenizada). A construção "se não cresse" (à semelhança de outras: "se não acreditasse, se não fizesse, se não tivesse, se não fosse...") não tem qualquer hífen a separar a forma verbal de base da sua terminação com a amálgama do modo-tempo-pessoa-número.

    A felicidade (ficcional) da personagem não tem associação possível ao mal-estar (factual) do espectador que vê a língua tão erradamente tratada na sua grafia.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Um tesourinho (com multiplicação de letras)

       Assim, mo foi apresentado: um tesourinho para a carruagem.

     Há leitores(as) atentos(as) e que vão partilhando, à semelhança do que aqui faço, os seus encontros com o mau exemplo da escrita televisiva.
       Este tem o seu requinte:

Um descanso nada repousante (com agradecimento à IP, pela partilha)

     Entre a escrita correta do duplo 's' na terminação verbal do imperfeito do conjuntivo e o erro do duplo 's' na palavra base, resta pensar que foi a preocupação na sílaba final que se estendeu, por antecipação, à penúltima. Nem 'cans(aç)o nem descanso admitem a grafia que a legenda televisiva dá a ler. A simples estratégia da família de palavras assim o dita (descansar, descanso, descansado, descansasse).

     Por mais que o cansaço seja sentido e experienciado, não é pela multiplicação de 's' que o descanso se torna a recuperação desejada. Na escrita da palavra não o é, garantidamente.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

A tripla faceta do plural numa só palavra

      Numa breve passagem pelo Facebook, relembrei o plural de 'ancião'.

      Numa imagem simples, lia-se:

Variação morfológica no contraste de número

      Uma palavra com três plurais possíveis - muita variação morfológica, diria. O mesmo acontece com 'alão', 'aldeão', 'ermitão', 'sultão', mesmo que, correntemente, a preferência dos falantes vá para a terminação em 'ões'.
     Algumas outras há que admitem apenas duas formas (em 'ães' e 'ões', como é o caso de 'alazão', 'deão', 'rufião', 'truão'; em 'ãos' e 'ões', como 'anão', 'castelão', 'corrimão', 'hortelão', 'verão' e 'vilão'; em 'ães' e 'ãos', como em 'refrão'), ainda que, a par da tese etimológica de formação destes plurais (recorrendo ao latim) ocorra uma outra que a consciência dos falantes assume como mais sincrónica e menos diacrónica, liberta da consciência etimológica que muitos perde(ra)m.

      Já de outros exemplos não vale a pena escrever, agora; já foram denunciados como o que não se deve ler nem ouvir

sexta-feira, 5 de maio de 2023

No Dia Mundial da Língua Portuguesa...

      Fizeram-me chegar a desgraça que grassa pela televisão (não tem graça, não)!

      Imagine-se a qualidade linguística da nossa comunicação televisiva, a partir dos exemplos que me fizeram ler precisamente hoje! Chega a ser constrangedor.
    Comecemos com a incapacidade de acertar no adjetivo relacionado com o ato de asserir e com a força das asserções. E porque, (orto)graficamente, de 'ss' se trata, veja-se no que a CNN não acerta:

Notícias de última hora que deveriam dar lugar ao fim de legendas infelizes.

     Isto de ser assertivo pode ter a ver com 'pontarias', mas de atos de fala. Diria que é preciso não ter mira linguística para falhar. É o que faz um órgão de comunicação social (à semelhança de outros).
      Segue-se o clássico desrespeito da morfologia: se o verbo é 'incendiar', previsivelmente as formas da conjugação mantêm a base (excetuando, naturalmente, as do singular no presente do indicativo e do conjuntivo). Portanto, onde se lê o errado 'e' da terceira sílaba veja-se o expectável 'i' da base de formação / variação da palavra:

Interferências... não dos manifestantes, mas da pessoa e número gramatical (foto AMT)

      Convenhamos: a legenda tornou a situação mais incendiária, pelo mau uso da língua. Inconsciências morfológicas, para não dizer desconhecimento ou ignorância.
      E como não há duas sem três (bom é que não se avance mais), assinale-se outra manifestação de desrespeito morfológico: ignorar a conjugação de 'vir' e sua projeção nas formas verbais de 'intervir'.

Se "*interviu", não salvou! Falhou redondamente. (Foto e agradecimento à AMT)

       Isto de querer 'ver' (viu) o que não é possível é uma forma de cegueira (da pior espécie). É questão de 'vir' (veio) e era bom que tivesse chegado na forma correta.

      Em dia que devia ser de celebração, fica o registo da aberração (múltipla).

domingo, 19 de março de 2023

Foge! ou Fogo! (interjetivos)

      Engraçado ver que, mal começo, vem uma chuva de exemplos.
   
   É o que acontece sempre que, por aqui, menciono um erro ou outro nos nossos canais televisivos. Dos mais repetitivos na tipologia de erro aos mais originais, lá me vão facultando fotos do que "corre" nalgumas legendas.
      Desta feita, chegou-me às mãos / aos olhos o seguinte:

Sem pânico na machadada perpetrada na língua - assim vão as notícias (com agradecimento à AD)

     No âmbito comum da ortografia, este é um erro que pode instalar-se pela natureza de alguma irregularidade morfológica do verbo, nomeadamente no contraste 'o/u' de algumas formas (foge, foges, fujo, fugimos, por exemplo). A fonética, contudo, ainda permite distinguir o que alguma convencionalidade gráfica pode fazer perigar (mais no contraste 'j/g' do que nos casos vocálicos em concreto).
     Ver este erro em contextos de aprendizagem da língua ou de utilizadores menos esclarecidos poderá (ainda) ser compreensível e uma boa oportunidade para mostrar regularidades no reconhecimento do léxico (como é o caso da família de palavras evidenciada em 'fugir > fujo > fugimos > fuga > fugido > ...'). Nos meios de comunicação social, é impensável ler o que nos é dado a ver.

      Apetece-me exclamar: "Foge!"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A propósito de 'lerdismo'

      Assim alguém falava de (outro) alguém ou algo que não atava nem desatava.

      Foi então o momento de se questionar a origem da palavra. 
    Diga-se que não a encontro dicionarizada, mas faz parte daquela criatividade e potencialidade da língua, morfologicamente motivada até!
   O sufixo 'ismo' permite formar nomes abstratos tradutores do sentido de 'teoria', 'doutrina', 'movimento (artístico, estético, filosófico, político, entre outros)', 'tendência'. E porque não se trata propriamente de algo singular, é de considerar que há vários implicados na questão ou situação, mesmo quando de individualismo se trata (são muitos os que defendem este último e cada vez mais, a julgar pelo que se vai vendo a cada dia). A par da 'lerdeza' e da 'lerdice' (também nomes) ou do 'lerdíssimo' (grau superlativo absoluto sintético do adjetivo), tomaria o 'lerdismo' como mais um derivado sufixal nominal (revelador de uma tendência ou movimento caracterizador dos que são 'lerdos').
     Daí que, para se entender o potencial 'lerdismo' se recorra à base 'lerdo': caraterística depreciativa daquele que é pouco ativo, preguiçoso, que se movimenta lentamente, de modo pouco diligente. No que à inteligência e ao rasgo intelectual dizem respeito, não se distingue muito de quem se assume como parvo, estúpido, tonto, tolo; ou seja, nada esperto.
Entre a preguiça e o caracol, alguém que diga de sua justiça!
      Para quem recorre ou cria a palavra, parece que há alguns assim, ao ver que as coisas sucedem de forma vagarosa, pesada, lenta, numa espécie de inação declarada.
   Entre a hipótese dúbia de que 'lerdo' vem do castelhano trecentista, sinónimo de 'bobo'; do itálico 'lordo', a significar sujo ou porco; do francês quinhentista 'lourd', para referir o que é pesado e estúpido, não andará longe a fonte etimológica latina que, em 'lordus', apontava para movimentos lentos, numa variante de 'lurdus', isto é, aquele que tropeça, que vacila ao andar”, ou de 'luridus', cujo significado inicial era “sujo”.

      Em síntese, fiquemos pelo termo criado para denotar algo que não é desejável, mas que alguns partilham nessa condição do que ou de quem nada faz avançar, mudar, transformar, resolver o que se impõe. Contrariemos a tendência, pois!

sábado, 7 de janeiro de 2023

Um conselho com defeito

    No arranque de novo ano, podia ser conselho a ter em consideração.

    Lá poder podia, mas... falta-lhe a qualidade da correção:

Um momento sem sucesso, por conselho tão avesso (Foto VO)

   Formulado a partir de uma forma do verbo 'desfrutar', reflete a ortografia esse princípio morfológico do reconhecimento da base da palavra. Conselho, pedido, aviso, ordem que seja, escreve-se "Desfruta". 
    Faça-se, portanto, acompanhar o conselho defeituoso da virtude corretiva:

Um momento com revisão, para superar falha na confeção (Foto VO)

  Se, por acaso, alguém receber esta mensagem na forma de avental de cozinha, não o lave, para poder "desfrutar" do acrescento produzido na prenda recebida. É a prova do momento vivido na amizade, mas sempre como professor(a) de Português.
  
    O dever do ofício é uma obrigação, acompanhado do devido código de correção, para compensar o defeito de produção.

sábado, 10 de dezembro de 2022

A propósito de mensagens

     Hoje alguém me escrevia, lembrando-se de mim e da "Carruagem 23".

     Não sei bem por que razão, quando a fonte de tudo é a "Amarguinha". 
    Esta publicidade do conhecido licor tradicional algarvio é do melhor na denúncia de erros que podem comprometer uma relação:

Publicidade inteligente I (com agradecimento à AMT, pela lembrança)

        Ora cá está um bom critério para selecionar quem seja namoradeiro: que fale e escreva bem e não leve ninguém ao inferno (sim, porque o Hades é rio que não leva a mar paradisíaco). 'Hás de' (e sem hífen) leva a melhor caminho.

Publicidade inteligente II (ainda com agradecimento à AMT, pela lembrança)

      Cá está a prova de que a beleza não é tudo! Pelo menos, há que ser giro e escrever bem - e mais vale a beleza do saber, pensando que o final da mensagem é bem revelador de que mais vale ser feio, sólido (e não líquido, a ponto de se beber) e escrever 'bebeste'.

Publicidade inteligente III (desta feita sem agradecimento, porque selecionada por mim)

    Nada contra ser "poli", ou outra coisa qualquer, desde que "o sono" e "a preguiça" sejam acompanhados de "a vontade" (pela regularidade sintática conveniente na coordenação) e o "permanente" (adjetivo) dê lugar, por exemplo, a "permanentemente": 'estar de férias' (quem não quer!) é expressão verbal cuja modificação está mais para um advérbio (com valor de modo, de tempo ou de lugar). 
      Digamos que, neste caso, a estratégia publicitária não resultou em pleno, na sua construção, porque isto de ter vários amores não pode fazer esquecer que a ortografia, a morfologia e a construção sintática são áreas muito exigentes no uso da língua e todas requerem muito cuidado e muita atenção.
      Conclusão: terá sido a lembrança por me acharem amargo (já que, de "Amarguinha", nem vê-la nem cheirá-la)?! Por me pensarem homem com muitas relações (estou mais para as ralações)?!
      Vamos lá levar a "carruagem" no trilho, antes de a fazer parar a meio do percurso ou a imobilizar na estação!

     "Errare humanum est" (errar é humano) já diziam os clássicos latinos. Acrescentaria "Perseverare autem diabolicum" (perseverar no erro é diabólico). Se a "Amarguinha" ajudar, ... (conclua-se o que não vou sequer ajuizar).

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Acerca do outono

    Perguntavam há dias de onde vinha o outono.

    Não se trata do 'onde' locativo, mas da origem etimológica. O latino 'autumnus, -i' dita a formação do adjetivo 'autunal', também proveniente do 'autumnalis, -e', como tudo o que é relativo ao outono.
    E então: é autunal, outonal ou outoniço? 
    Valem os três. O primeiro mais próximo do étimo latino; o segundo com algumas evoluções fonéticas assimilativas em pontos articulatórios vocálicos [+altos]; o terceiro decorrente de um processo morfológico cuja base derivante nominal ('outono') é acrescida de um sufixo que, no português, tem a produtividade significativa de referir aquilo 'que nasce em' (outoniço < nasce no outono); aquilo que indica facilidade ou tendência para (fronteiriço < próximo ou tendente para a fronteira; esquecidiço < tendência para ser esquecido; inverniço < tendência para inverno; reboliço < facilidade para rebolar; gadiço < facilidade para ser domado como gado).

Colorido outoniço com o "intenso colorista"

  Em termos de significado, o outono é polivalente: refere-se à estação do ano, à transição / transitoriedade / mudança / viagem dos ciclos, à época das colheitas, ao tempo da gratidão, ao equilíbrio e descanso terrenos, à reflexão e introspeção, à despedida, à aproximação da velhice, à decadência.

    Viva-se o outono, cumpra-se o ciclo e enriqueça-se o tempo com a variedade dourada das cores outoniças.

domingo, 19 de junho de 2022

Fatiga, fadiga... que cansaço!

       Tempos de canseira.

      Perguntavam-me há dias se o nome associado a quem anda fatigado é fadiga ou fatiga. Respondo que são os dois (e para quem anda cansado é questão que já pouco interessa). Digam ou escrevam como quiserem.
        Claro que o mais habitual é falar ou ler sobre "FADIGA" (mesmo que o adjetivo esteja mais para 't' do que para 'd' - fatigado). Dizer-se 'fadigado' não é impossível, até pela derivação que decorre de 'fadiga' (nome) e 'fadigar' (verbo), isto é, causar ou sentir fadiga ou cansaço; logo, o 'fadigado' torna-se mais do que compreensível.
          Fatigado está mais para o sentido etimológico, que atesta o verbo latino 'fatigare' e o nome 'fatigo'.
     Entre 't' ou 'd' direi que o primeiro está mais para a origem; 'd' para a variação evolutiva, nomeadamente a sonorização que se evidencia na posição intervocálica de [t], com o som surdo lábiodental inicial a ganhar o traço sonoro por influência vocálica. Foi já o que analogamente sucedeu com totu(m) > todopotes > podes, na passagem do latim para o português, só para mencionar exemplos nos quais, também e pelo mesmo motivo, [t] evoluiu para [d]. 
         E, assim, 'fatiga' chega a 'fadiga'. Fica a primeira pela via erudita; vem a segunda por via popular. Reconhecida esta última, se ficarmos por aquela também não está mal. Explica-se, portanto, a possibilidade do apontamento lido nos destaques noticiosos da Microsoft Edge:

Colhido do Microsoft Edge, em "Notícias ao Minuto"

         Com ou sem Boris Johnson, é um dado que a guerra Rússia-Ucrânia já cansa. Bastariam Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky para nos atormentar a mente com o conflito que a todos aflige. Vem também o primeiro ministro britânico contribuir, com a citação feita, para o desalento, afadigando o espírito com sinais dos perigos que não dão esperança.

      Fadiga ou fatiga, o tempo é declaradamente, e por vários motivos, de cansaços (lembrando Campos e "Sobretudo cansaço").

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Quando um ou outro são ambos

        Aquele momento em que te perguntam se é X ou Y e...

    ... a resposta correta compreende os dois termos - situação em que o 'ou' não pode ser, portanto, disjuntivo ou de exclusão dos mesmos.

        Q: É 'parquímetro' ou 'parcómetro'?

      R: Ambos. Caso para dizer que "Venha o Diabo e escolha", que é sempre expressão para admissão de duas hipóteses num cenário de difícil resolução. Reconheça-se, nas palavras questionadas, um processo de composição, no qual a vogal de ligação ('í' ou 'ó') pode ser indiciadora ora de algum motivo etimológico na formação da palavra ora de alguma deriva associada à própria mudança e à utilização dos falantes da língua.
     Tipicamente a vogal de ligação é, nestes casos, uma pista do marcador casual na composição de palavras com radicais latinos ou do grego antigo. Justifica-se, assim, o recurso a duas vogais de ligação: 'o' e 'i'. A última remete para um radical da direita com origem latina e representa uma estrutura de modificação (sem alteração da classe de palavras):

           [fratr] i [cid]a
                                                   [agr] i [cultor]

        Já a primeira escapa à descrição anterior:

                                                   [polític] o [económic]o
                                                   [lus] o [brasileir]o

      Estas tendências generalizantes são, porém, contraditas por exemplos em que 'o' antecede radical de origem latina (ex.: [gen] [cíd]io), em confronto com '[reg] i [cíd]io') ou 'i' é seguido de radical de origem grega (ex.: [veloc] í [metr]o, em contraste com [flux] ó [metr]o).
    Além disto, casos há na língua em que uma mesma palavra composta admite ambas as vogais de ligação, conforme verificável nos seguintes casos: 'organigrama' / 'organograma'; 'parquímetro' / 'parcómetro'; 'taxinomia' / 'taxionomia'. Estes últimos pares de exemplos propõem, por um lado, alguma relativização da consciência etimológica dos falantes; por outro, a consideração de outras lógicas fundadas mais na frequência e na analogia da composição, em particular, e da formação de palavras, em geral.

     Conclusão: há perguntas que apontam para respostas bem complexas, em termos de informação morfológica. Mais inclusão do que exclusão; mais conjunção do que disjunção.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Da esquerda à direita, os particípios da desgraça!

    Nos tempos de antena política, com os debates em curso, as figuras representantes dos partidos deixam muito a desejar (também) na língua.

     Para começar, antes do confronto Costa (PS) - Ventura (CHEGA), na RTP1, a receção feita a António Costa dá lugar a uma pequena entrevista, na qual o ainda primeiro-ministro produz a primeira das falhas:

Fotomontagem a partir da imagem difundida na RTP Play (com citação das palavras de António Costa)
     
     Na SIC, com Catarina Martins (BE) e João Cotrim de Figueiredo (INICIATIVA LIBERAL) é a vez de chegar a segunda:

Fotomontagem a partir da imagem difundida na SIC (com citação das palavras de João Cotrim de Figueiredo)

      Digamos que os verbos com duplo particípio são questão crítica no uso da língua, com o costume de se indiferenciar muitas vezes a forma fraca e a forma forte do particípio. Numa perspetiva de gramática normativa, está identificada a primeira como sendo a utilizada com os verbos auxiliares 'ter' e 'haver'; a segunda, com 'ser' e 'estar'.
    Ora, no caso da réplica de Costa, o verbo 'eleger' (com os particípios elegido / eleito), há que reconhecer a predicação 'SER ELEITO' (e não 'ser elegido', considerada agramatical) - daí a correção que se impõe: ter sido eleito. Poderíamos sempre abordar também a escolha do verbo 'eleger' (por se referir uma situação que não deu lugar a eleição, mas, sim, a consideração / julgamento / avaliação), mas isso seria outra questão que, por ora, não é para aqui chamada.
      Já a fala do líder da Iniciativa Liberal é reveladora da clássica confusão entre, por um lado, os verbos 'morrer' e 'matar', ambos com admissão do particípio passado 'morto'; por outro, do contraste 'matado / morto' no que toca ao verbo 'matar'. Pragmaticamente reagindo à insinuação de que o seu partido estaria a 'matar' portugueses com as opções defendidas no passado,  João Cotrim de Figueiredo profere a frase que deveria ter a seguinte configuração final: "teria matado". É o verbo auxiliar 'ter' que está em questão, o qual seleciona a forma fraca ou regular de matar (matado). 'Morto' seria para a construção com auxiliar 'ser' ou 'estar'.

     Portanto, independentemente dos programas políticos que nem sempre são claros, a língua está a revelar alguns pontos muito escuros e escusos.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Uma questão de "*perar" (porque 'quem *pera sempre alcança' ou '*despera')

     Estará a acontecer mais um caso de evolução da língua?

    A frequência de uso do verbo '*tar' é tão comum na oralidade que já foi aqui, mais do que uma vez, denunciada pelas evidências do escrito - bem reveladoras de falha na consciência morfológica (deformação na consciência da base da palavra) e fortes implicações com a sintaxe (confundindo o verbo copulativo ou o auxiliar 'estar' com o verbo principal ou o auxiliar 'ter').
     Hoje, à semelhança de outros dias, a interação foi fantástica, a julgar pela reprodução do diálogo:

     - Ó professor, *pere.
     - Se faz favor, é bonito e eu gosto.
     - *Pere, se faz favor.
    - Não *pero nada, porque não sei o que é isso de *perar. Verbo tão estranho! Eu *pero, tu *peras, ele *pera, nós *peramos, vós *perais, eles *peram! (a gargalhada começa a ser geral). E se fosse no imperfeito do conjuntivo? Se eu *perasse, se tu *perasses, se ele *perasse, se nós *perássemos, se vós * perásseis, se eles *perassem! (mais gargalhada). Ai, e o pretérito perfeito composto! Eu tenho *perado, tu tens *perado, ele *tem perado... (continuam a gargalhar, até que o olhar sério e a pergunta mudam o registo, aind mantendo a brincadeira) Como seria o futuro?
      - Eu *perarei, tu *perarás, ele *perará... (responde uma)
      - Muito bem! E o condicional?
     - Esse é o tempo das Marias (coitados dos Manéis desta vida!): eu *peraria, tu *perarias, ele *peraria...
     - Bem, isto está a soar-me a peras a mais!
     - É cada fruta, professor!
     - Tens razão, é melhor parar, antes que façamos uma salada muito pouco variada e indigesta!

     Para terminar o momento, lá foi o reparo:

      - Espere, por favor, caríssimo X!

     E lá veio a resposta que daria outra conjugação:
     
      -   *Tá bem, professor.

      Alguns, mas só alguns, riram-se, bem cientes de que eu já não "*tava" a ficar muito bem.

     Quando abordar os processos de evolução fonológica, vou pensar se não será melhor começar já a abordar a aférese dos sons na sílaba inicial de 'EStar' e 'ESperar'. Quase me apetece dizer, em variação paremiológica, 'Quem *pera tem *perança' ou, então 'Quem *pera *despera'.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Não é "d'oiro", mas é "doirado"

     Tudo em busca da base da palavra (embora eu preferisse o "oiro").

     Siga-se o raciocínio de onde uma palavra vem, e lá chegaremos ao resultado final.

      Q: Olá, Vítor. Qual é o processo de formação da palavra "doirado"?

O doirado da paisagem, com o doirador responsável ao centro.

    R: Olá. A palavra "doirado" é o particípio passado do verbo "doirar", sendo esta última a palavra base. Embora se trate mais de um caso de flexão do que propriamente de formação, a passagem "doira(r) > 'doirado" ilustra a consideração de afixos gramaticais no final da palavra (sufixos), de modo a construir, a partir da forma do infinitivo, a que surgirá como forma verbal de particípio passado e/ou adjetivo.
     Pelo raciocínio exposto no primeiro parágrafo, fica identi-ficada a base (verbal), a partir da qual se processa a sufixação. Trata-se de sufixos de natureza estritamente gramatical (para as categorias da forma parti-cipial verbal e do contraste de género).
      Não se veja, portanto, o oiro como a origem de tudo na nossa língua, mas o que permite "doirar" e, por sua vez, esta palavra ver o doirado, nomeadamente o que a talha da natureza por momentos ganha (sem ouro; com sol).

     Ou seja, "nem tudo o que doira vem de oiro", pelo menos em termos da natureza. "Doirar" entrou historicamente na língua portuguesa pela forma latina "deauro, -are", estando já aqui assumida a palavra base (doirar), a qual virá a dar lugar a 'doirado'.

sábado, 15 de maio de 2021

As boas escolhas (que estão por acontecer)

      Serão sempre bem-vindas, quando feitas em consciência.

      Não é o que se passa quando se apresenta rodapés televisivos como o seguinte, tão comuns aos nossos olhos (na variedade polifacetada com que nos surgem):

Agende-se a vacina da língua (para quem já 'ESTEVE' e 'ESTÁ' infetado com o vírus da incorreção).
Jornal da Tarde, na RTP1. Hoje. À hora da foto. (Foto VO)

     Vai mal a utilização da língua em circuitos de comunicação responsáveis pela sua qualidade. Maltratá-la, com a frequência com que tem sido, impõe que se cumpra formação e informação - que deviam ser pressupostas -, a bem de quem a deve dominar na perfeição do "Bom Português". Contrariamente à versão que diz "À mulher de César não basta ser honesta; deve parecer honesta", este é um claro caso em que o parecer não chega. Deve primar pelo ser.
      Em consciência, deve assumir-se que alguém não só deve escolher o local de vacinação como também precisa de escolher bem a vacina urgente a tomar: a da língua e a da sua correção (tanto oral como escrita). Isto é no que dá falar com reduções, como a do verbo '(es)tar'. A um pequeno e breve passo se escreve 'teve' - ou outras variações correlatas em pessoa e número -, não a forma do verbo ter, mas a do 'tar' que alguém errada e afetadamente produz

         Por isso eu digo que se deve falar bem para se escrever melhor.

       Ora, conclua-se: quem está (ou fala de modo) afetado precisa de ser vacinado. Isto no dia da família da língua portuguesa. Era escusado!