Lê-se (está escrito) no Expresso Curto, de hoje!
Já escrevi sobre esta minha embirração: a do verbo 'tar'. Já também sobre ela falei a muitos alunos. E antes que me digam que têm razão, que podem escrever 'tou, tá(s), tamos, tais, tão' ou 'tive, tiveste, teve, tivemos, tivestes, tiveram' na conjugação do verbo 'estar', é bom que se lembrem que na oralidade informal, em casa ou com os amigos muita coisa pode acontecer; com o professor de Português é que não (só em jeito de brincadeira)! Como as aulas e os exames não são para brincar, faça-se a devida chamada de atenção, para que não haja surpresas na avaliação / classificação.
Todo o excurso surge a propósito da imagem à esquerda e do título lido. Tudo ficaria mais simples se a jornalista em questão colocasse um apóstrofo no início da palavra ('tão), sugerindo que algo (uma sílaba) estaria elidido; ou, então, as aspas convenientes para dar conta de uma citação, de um verso transcrito de uma letra de canção. Não que, neste último caso, não seja de se escrever 'estão'; porém, no contexto de uma letra que sugere uma conversa com um "amigo", com vocabulário e expressões conjugadas com o destinatário e a situação (familiar, cúmplice), tudo se torna mais aceitável. Basta ouvir a canção e, em particular, a letra de Chico Buarque:
Todo o excurso surge a propósito da imagem à esquerda e do título lido. Tudo ficaria mais simples se a jornalista em questão colocasse um apóstrofo no início da palavra ('tão), sugerindo que algo (uma sílaba) estaria elidido; ou, então, as aspas convenientes para dar conta de uma citação, de um verso transcrito de uma letra de canção. Não que, neste último caso, não seja de se escrever 'estão'; porém, no contexto de uma letra que sugere uma conversa com um "amigo", com vocabulário e expressões conjugadas com o destinatário e a situação (familiar, cúmplice), tudo se torna mais aceitável. Basta ouvir a canção e, em particular, a letra de Chico Buarque:
Chico Buarque, do álbum Meus Caros Amigos (1976)
MEU CARO AMIGO
Meu caro amigo, me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo, eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo, eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
Que a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo, eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus!
Com esta modinha brasileira 'tão' e 'tá' fazem todo o sentido, nas palavras (ousadas) dirigidas ao "meu caro amigo", aquele confidente com quem se desabafa, numa intimidade que se pauta pela amizade, pela cumplicidade e pela confiança (mas que não convém a uma ditadura militar brasileira, criticada e denunciada como "esse rojão", para não falar em qualquer outro contexto político brasileiro coincidentemente crítico e adverso). Fora dela, fiquemo-nos pela adequação de uma norma a situações mais regradas e formais - para que a coisa não fique "preta!" As variedades da língua devem ser consideradas no pluriformismo e na versatilidade que os falantes dela revelam, não esquecendo a avaliação, a adequação e o ajustamento que nelas se impõem.
A bem de quem está em contexto de avaliação e de classificações (internas ou externas) que podem marcar uma vida. (Es)tá?
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