domingo, 3 de junho de 2018

A velha casa e outros dias

    Gondomar, na Biblioteca Municipal. Com amizade.

    Um dia depois de uma amiga ver o seu livro publicado nas mãos de alguns dos leitores e de ter assistido a uma apresentação da obra por alguém que a lera (e muito bem), ficou-me a vontade de apreciar mais a narrativa matizada de oral e poesia, com boa literatura à mistura.
  Um registo diarístico ficcionado; uma personagem (Madalena) cheia de vida, dando à palavra 'reformada' o sentido de mulher (bem) formada e com oportunidade(s) de reformular, retomar e reformar percursos e projetos; marcas de espaço e de tempo que se (re)visitam para se lhes dar novas cores, sabores e vivências, sem esquecer os tons, as pessoas e as memórias que a novidade faz e traz na (re)criação afetiva do lugar, das estações ciclicamente retomadas e renovadas, do fluir e do fluxo de vida e de comunhão com os outros e consigo própria - de tudo isto o livro se compõe, num jogo de ficção e realidade em que qualquer semelhança (ou coincidência) sai motivada e inspirada por lembranças, pela condição de presente e pelo desejo de futuro.
       E porque este último se complementa com presente e com passado, na linha do tempo, os projetos também se compõem de vivências e de memórias, inclusivamente aquelas que se revisitam pela tradição oral numa literatura feita em verso familiar, popular, universal pelas lições e pelos exemplos de vida configurados:


Poema da D. Marieta (in A Velha Casa e Outros Dias)

"Os Velhos" (in A Velha Casa e Outros Dias)

      Porque o ser humano se faz de, no e com tempo; porque também ele ocupa um espaço mais ou menos difuso, real, virtual ou fictivo; porque ele se (re)vê num espelho em que a imagem observada fica aquém da que verdadeiramente se expõe ou reflete, busca-se, nas linhas da narrativa, os traços de que uma mulher é feita, num retrato e numa vivência com sinais de passado recordado, de presente em ação e de futuro projetado.
      Liberta das contingências de uma vida entregue aos vários papéis que plenamente desempenhou, Madalena é feita de dores (etimologicamente de 'dolores'), de perdas, de conquistas, de ganhos, mas sempre de afetos e de expectativas, na demanda dessa utopia de felicidade que, na vida, não pode ter fim.

     ... porque o outono da vida há de sempre dar em novas primaveras, não obstante as intensidades do inverno e do verão.

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