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segunda-feira, 11 de março de 2024

Estratégias e interações para aprendizagens com o digital

     Numa sessão de formação para docentes do agrupamento.

    O desafio foi lançado e estruturou-se uma ação de curta duração destinada à equipa educativa que se encontra a trabalhar no projeto piloto dos Manuais Digitais (oito turmas e cerca de quarenta professores).
     Tudo começou pelas consabidas vantagens genéricas do digital:

Slide 1: Vantagens do Digital (extrato de PPT - VO)

   Prosseguiu-se com algumas orientações metodológicas a apontar para a pedagogia ativa e o método da aula invertida, enquanto pressupostos a considerar na planificação de procedimentos, de dinâmicas e tarefas, de mecanismos avaliativos, por forma a que o manual digital não se torne mais um exemplo "melhorado" de abordagem expositiva das aulas:

Slide 2: Pressupostos / orientações metodológico-didáticas para o trabalho com o digital 
(extrato de PPT - VO)

Slide 3: O método da aula invertida no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

    O foco da(s) interação(ões) prevalece num ensino-aprendizagem que se equaciona de acordo com princípios / sentidos de interação assentes na/no(s):

Slide 4: Sentidos de interação no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

   Por fim, reconheceu-se que ensinar e aprender com o digital levanta questões de fundo, algumas das quais encaradas como necessidades a destacar no trabalho a desenvolver:

Slide 5: Questões de fundo no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

     E porque tudo não terminou sem alguma nota poética, foi relembrado um poema de Ana Luísa Amaral com um título sugestivo - não o do sentido de um verbo de movimento (que se assumiria desde logo no imperfeito), mas o de um universo de referência maiusculamente identificado com a "Inteligência Artificial":

Slide 6: Nota poética para terminar (extrato de PPT - VO)

     Com a afirmação do humano, dessa inteligência natural que não pode esquecer(-se) do papel que tem (nomeadamente na educação, no ensino-aprendizagem, as opções que intencionalmente assume), caminha-se para o que se anuncia como uma nova sessão de trabalho: a avaliação do projeto, dos processos de / para aprendizagem(ns), das tarefas, dos alunos.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Dia Nacional da Cultura Científica

         Poucos minutos, mas para minha memória futura.

       Uma turma de 10º ano, uma lição de Físico-Química A e o motivo do Diretor na sala de aula: um cartaz assinado que havia motivado dois dedos de conversa sobre Rómulo de Carvalho e o Dia Nacional da Cultura Científica, mais uns poemas que importava partilhar. O convite "Queres vir à aula, amanhã?" foi imediatamente aceite.

Saberes que cruzam letras, planetas, forças e número em abraço

        Há 117 anos, nascia aquele que viria a ser professor de físico-química do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes, Liceu D. João III (Coimbra) e no Liceu Camões; pedagogo, investigador da história da ciência em Portugal... e poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão. Há 25 anos celebra-se o "Dia", inspirado neste professor e divulgador de ciência. Também escritor literário. Razões mais do que suficientes para o homenagear. "Pedra Filosofal", "Lição da Água", "Lágrima de Preta" são das mais reconhecidas produções poéticas.
         Li "Impressão digital".
      A propósito dos "olhos", lembrei Camões e "Se Helena apartar / do campo seus olhos / nascerão abrolhos" - os efeitos do olhar de Helena na natureza são transformadores (sejam olhos verdes da "cor do limão" sejam de outra cor, mas "olhos do meu coração"). Os olhos de Gedeão são outros. Mais próximos dos contemporâneos, por certo, com abordagem e orientação temática bem distintas, sublinhando e definindo o que nos singulariza, o que nos faz ser diferentes, tal como uma "impressão digital".
      O tema da relativização do que se vê, da perceção das coisas, do copo meio cheio / meio vazio, da visão otimista em confronto com a pessimista são lições para a vida, para o crescimento do entendimento do universo. É / são saber(es) que o texto / poema dá, vindo(s) de alguém que se fez Homem da Ciência e das Letras, mostrando que a fronteira entre conhecimentos não faz sentido.
António Gedeão, no Parque dos Poetas (Oeiras)
     Ficou o convite para se deslocarem a Oeiras, ao Parque dos Poetas, e verificarem como uma estátua em honra do poeta António Gedeão não desdiz o físico Rómulo de Carvalho, mais os seus tubos de ensaio. Com física ou química, há lugar para a poesia, nas palavras que se atraem, noutras que se afastam - forças que a física designa de atração e de repulsa. Também há flores e escolhos (que rimam com os camonianos abrolhos); pedras pisadas, gnomos e fadas; moinhos e gigantes.

        Um dia que se marcou pela diferença, nas ciências que se complementam, por cruzarem saberes e darem outro sabor - um halo diferente na vida. Obrigado, AMT.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Chat(o)-GPT

    Podia dar-me para melhor!

   Tantos a falar do mesmo que acabo por cair nele.
  Nada tenho contra (melhor, ... até posso ter alguma coisa, sem o diabolizar), muito menos a quem se mostra muito entusiasmado com a questão.
    E do que falo? Do Chat-GPT... de que mais podia ser?!

Inteligência Artificial, para que te quero?! Para muita coisa, mas mando eu! Combinado?

    Depois de várias tentativas, pouco me agradou ou surpreendeu.
   Não sei se perdi o meu tempo, mas espero que definitivamente não faça perder o de mais ninguém. Partilho a reflexão, sem qualquer pretensão, senão a de sublinhar que prefiro centrar o foco da discussão nas implicações pedagógico-didáticas que dele decorrem e com ele se deparam / confrontam. Artificial ou não, o "inteligente" é o que se consegue reconhecer como tal, numa avaliação que necessita de consistência, fundamentação (o mais criteriosas possível).
    Nesta medida, prefiro manter-me no controlo e não deixar-me controlar. 
    Quanto à Inteligência Artificial, prefiro a do AI (2001), de Spielberg.

    O certo é que ela vai ter muito de aprender para poder ser eficiente, eficaz e um auxílio fundamental para o professor. Dizem mesmo que não tem hipótese e, por isso, há quem já nos apresente um concorrente: o Bard (da Google).

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Inteligência Artificial (e Chat-GPT)

     Muito se voltou a falar de AI ultimamente.
    
    Hoje alguém me dizia que começámos a ter noção da Inteligência Artificial (AI) com uma máquina de calcular.
    Não sei há quanto tempo foi, mas associo AI a um filme, de Steven Spielberg:

Filme protagonizado por Haley Joel Osment (pequeno David) e Jude Law (Gigolo Joe)

    Terá sido já há cerca de vinte anos. Ficou a imagem de um mundo altamente tecnológico e a mensagem de como a máquina e a emoção eram ingredientes para uma história com muito para se dizer / discutir. Uma criança-robô mostrava-se e queria ser amada em pleno século XXII, num mundo de protótipos surgido após a subida das águas do mar (decorrente do aquecimento global) e de uma mãe sofrida, pela perda de um filho, a qual decide adotar um androide.
    Vivemos uma realidade tão próxima do ficcionado que está a apetecer-me rever o filme, para dele relembrar a lição.

      Prevejo algumas reações e sentimentos algo adversos da minha parte com esta deificação da máquina e dos dispositivos que se dizem eficazes e fantásticos. Continuo a suspeitar que será mais um a não me libertar de trabalho. Suspeito que vá dar mais. Não gosto!

sábado, 8 de outubro de 2022

Uma teoria da linguagem com vários tópicos

       Ricardo Araújo Pereira no seu melhor, quando sério rima com cómico.

    Um excerto de um encontro universitário com um debate que resultou nalguns momentos semelhantes a uma autêntica teoria da linguagem em vídeo, sobre o humor, a língua, a linguagem inclusiva, a questão do género gramatical e os seus excessos:

Excerto de um encontro sobre humor, língua e linguagem inclusiva

      No final, pode concluir-se que, com humor, muito se aprende sobre a língua e a linguagem, onde o politicamente correto é tudo menos aquilo que diz ser.

      A rir se corrigem os novos tempos e políticas que pouco têm de linguístico, apesar de o quererem fazer como campo de lutas para as (des)igualdades.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Regresso às aulas

        O título faz lembrar campanha publicitária,...

        É tempo de recomeçar um período letivo que ficou suspenso.
     Ainda assim, houve quem trabalhasse para que a retoma se faça em condições que, não sendo as desejáveis, são as possíveis, para bem de muitos.
    Algumas orientações de partida podem ser a base para que todos se esforcem e tudo se faça para ultrapassar problemas.
       Colaboração e compromisso de todos, exploração de possibilidades, adaptação à situação e não fazer das falhas e faltas a impossibilidade de aprender - eis as palavras e as expressões de ordem destes tempos.
       Estas são algumas orientações essenciais:

(Produção dos Cursos Técnico-Profissionais da ESML)

       A partir de amanhã, volta-se a estar on e com a esperança de que vamos ficar bem.

      ..., mas não se trata disso. Há mais vida para além de redes e grandes empresas comerciais. A rede de educação tem (outros) valores que também interessa partilhar.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Atitudes e valores... com conta, peso e medida!

      Quando de avaliação pedagógica se trata, a discussão é grande, porque os tempos (e os conceitos) são outros.

      Vem esta reflexão a propósito da circulação por aí (Facebook, grupos de apoio, grupos de discussão, outros de formação...) do que são os critérios de avaliação e a construção de rubricas de aprendizagem, à luz das mais recentes conceções de avaliação pedagógica.
    Na continuidade da tradição, vão aparecendo, inclusivamente, rubricas específicas para avaliar apenas as atitudes. Caso para dizer, lá se vão os novos (?) contributos, em detrimento de rotinas e de tudo o que o passado ditou e contestou: a manutenção da separação de atitudes / valores / comportamentos relativamente ao conhecimento / saber / domínio cognitivo. Pior ainda quando se quer reverter tudo em termos de quantificação, de número, de nota, de classificação, com ponderação, nomeadamente, para ambos e de forma bem distintiva (entre os 10-50% dos primeiros e os 90-50% do segundo, há de tudo um pouco e para todos os gostos). Há mesmo quem diga que a novidade não vai durar muito e que o tempo provará que isto de juntar atitudes e conhecimentos é "misturar competências". (Enfim!). 
     Substituiria 'misturar' por 'integrar': falar de competências é precisamente considerar conhecimentos, aptidões, ou procedimentos, e atitudes / valores em integração, a que não falta a avaliação contextualizada desta composição integrada.
     Disso mesmo trata o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória - PASEO (homologado pelo Despacho 6478 / 2017, de 26 de junho), quando configura um entrançado para a noção de 'competência':

Slide exibido na Oficina de formação "Projeto de Flexibilidade Curricular: nas dinâmicas da escola e da sala de aula"
(formadores: Maria Gabriela Rodrigues e Vítor Oliveira)

       E lá estão as atitudes/os valores incorporados, num entrecruzamento que define as 'competências' orientadas para a 'ação'. No enquadramento da flexibilidade curricular (Dec.-lei 54 / 2018 - alterado pela Lei 116/2019 - e o Dec.-Lei 55 /2018), não faz, portanto, qualquer sentido isolar um dos elementos da composição.
       Relativamente ao facto de, no seu projeto educativo, uma escola inserir o desenvolvimento e a avaliação de atitudes (que se constituem como dimensão fundamental do desenvolvimento integral da personalidade dos jovens), é possível afirmar que a instituição escolar sempre as considerou, na valorização de umas e na desvalorização de outras, ao definir regras de conduta; propor dinâmicas de grupo; orientar interações de modo formal e estruturado; enquadrar atividades extraletivas; dinamizar atividades ou projetos centrados na área de cidadania e desenvolvimento. Numa dimensão eminentemente formativa, a observação e a avaliação contínuas facultam a informação atualizada, a recolha de dados e a eficácia de decisões tomadas a partir de grelhas de observação, entrevistas, questionários, listas de verificação, entre outros instrumentos. Relevante é o facto de os alunos demonstrarem boas atitudes e/ou as aprenderem, para que contribuam para uma imagem integral positiva em contexto de ação escolar e educativa.
       A este propósito, quando se afirma que toda esta questão é nova (na sequência dos decretos 54 ou 55, já com três anos de aplicação), tendo de ser melhor pensada e com calma, apetece-me lembrar uma brochura intitulada Reorganização Curricular do Ensino Básico - Avaliação das Aprendizagens: Das concepções às práticas (Ministério da Educação - Departamento da Educação Básica, Março 2002, pp. 11-13), na qual já se podia ler, e cito:

"4. A absoluta necessidade de repensar práticas uniformes e pobres de avaliação que não estão de acordo com a actual formulação do currículo nacional. A perspectiva do currículo nacional associa a competência a um "saber em uso" que se desenvolve em relação com a vivência de experiências de aprendizagem significativas e adequadas e que, ao mesmo tempo, integra conhecimentos, capacidades, atitudes e valores. Neste sentido, a competência não se identifica com um "comportamento" que se treina e manifesta num momento preciso e num tipo específico e pré-determinado de situações, que supostamente estaria ou não "adquirido". Esta perspectiva implica que a avaliação do desenvolvimento de competências tem que basear-se na observação do que aluno faz (e da sua evolução) em diferentes momentos e em diversos contextos, assim como em situações que, pela sua própria natureza, apelem ao recurso integrado a conhecimentos, capacidades e atitudes."

     Este é o quarto ponto (precisamente de uma sequência de quatro: 1 - ênfase no carácter formativo da avaliação; 2 - afirmação da lógica de ciclo; 3- importância da autoavaliação regulada; 4 - repensar práticas, integrando conhecimentos, capacidades e atitudes) estruturante para o enquadramento normativo do Despacho nº 30 /2001 (avaliação do ensino básico). Sublinho: 2001 e "recurso integrado a conhecimentos, capacidades e atitudes". Passados vinte anos, o texto e o propósito não são muito diferentes, orientando-se, agora, para um paradigma de competências, que volta a sublinhar a integração das atitudes / valores / comportamentos a par de conhecimentos e de procedimentos. Ainda assim, muita gente sente ser ainda uma novidade, para pensar e considerar com calma.
      Inquietante, ainda, é voltar à constatação de que, não obstante o princípio orientador da integração e do entrecruzamento do PASEO, há quem esteja a trabalhar nos moldes da separação e mesmo focado na quantificação, no peso e na classificação. Volta-se ao primado da avaliação positivista, da avaliação como medida, como nota, como orientação primordial e absoluta. E a tudo isto se parece reduzir a avaliação: a classificação. Aliás, muita discussão centra-se e reduz-se a esta racionalidade pretensamente objetiva, numérica e de aplicação igual a todos, nomeadamente com o peso que tem de ser atribuído (se 10, se 20, se 30 ou até 50% da nota final). Perde-se o sentido formativo, a observação sistemática, a realidade contingencial e contextual, o processo de aprendizagem.
    Assim, ler o PASEO é apontar para uma orientação distinta: a da avaliação pedagógica, no predomínio e na sistematicidade da avaliação formativa, focada nas aprendizagens e na interação social necessária à formulação de um feedback oportuno e de qualidade, na integração dos conhecimentos, procedimentos e atitudes e valores, com avaliação recorrente das etapas dos processos e não tanto dos produtos.
       Ainda na sequência deste raciocínio, e para que não o acusem de ser teórico, vão as palavras de um professor que, muito certeiramente, põe o dedo na "ferida". Cito:

Segmento de uma comunicação sobre avaliação pedagógica (Luís Timóteo Ferreira)

      Assim o afirma Luís Timóteo Ferreira, num artigo que pode ser consultado a partir do título “Refletir sobre a prática: o problema da avaliação nos 2º e 3 ciclos”. conferência proferida no Sindicato dos Professores da Madeira (SPM), no âmbito do Encontro Autonomia e Flexibilidade Curricular – Virtudes e Fragilidades (Funchal, 23-24 de novembro de 2018). Subscrevo a posição, alargando-a ao nível de ensino secundário.
       Situo a questão das atitudes e dos valores no nível das transversalidades da ação escolar e educativa. Nelas encontram-se configurados princípios relacionados com a cidadania, bem como o trabalho (nomeadamente, iniciativa, responsabilidade, integridade, autonomia), a comunicação (trato e adequação), mais a utilização das tecnologias de comunicação e informação (respeito, tratamento, sentido crítico). Todos eles se relacionam, por implicação ou demonstração consecutiva, com conhecimentos e procedimentos - pelo que a integração é inevitável.
        Na correlação das atitudes com emoções, cognições e comportamentos (conforme a apresenta Gonzalo Maicas, em "Actitudes" in Sociologia y psicologia social de la educación, Madrid, Ediciones Anaya, 1986, pp. 152-179), trata-se de mais um contributo para a discussão genérica do pensamento pedagógico reformador do século XX e da Escola Nova, não obstante as diferenças das várias correntes pedagógicas entretanto surgidas: a articulação e interdependência das capacidades intelectuais, emocionais, sociais e manuais, nessa visão do desenvolvimento integral e da autonomia da criança. Processos cognitivos e afetivos entrecruzam-se em influência mútua - linha de investigação que se funda desde os contributos de Vygotsky (1998) nos anos 20 do século XX. Uma das ideias fundamentais deste psicólogo russo, plasmada no conceito de zona de desenvolvimento proximal, é a de que relações concretas entre pessoas estão associadas ao desenvolvimento das funções superiores, tornando‑se, portanto, fundamentais as atitudes de ajuda e apoio exercidas pelo professor. Recentes investigações no campo das neurociências têm vindo a sublinhar como emoções, sentimentos e consciência não são estranhos nem separados; sentimentos e emoções assumem um forte impacto na mente, podendo dizer‑se que constituem as raízes da consciência - assim o lembra António Damásio, 2000, como o seu O Erro de Descartes. Nesta medida, avaliar aprendizagens implica considerar tanto aspetos intelectuais / cognitivos como emotivos e atitudinais, enquanto duas faces de um mesmo processo: o da(s) aprendizagem(ns).
    Numa folha de trabalho intitulada "Diversificação dos Processos de Recolha de Informação (Fundamentos)", da autoria do Professor Domingos Fernandes e contemplada numa formação de professores relacionada com o Projeto MAIA (Monitorização, Acompanhamento e Investigação em Avaliação Pedagógica), lê-se o seguinte:

     "... as atitudes, os comportamentos em geral, as capacidades e os conhecimentos escolares devem ser considerados aprendizagens inse-paráveis e, como tal, avaliados de forma tão integrada quanto possível.
(destaques da minha responsabilidade)

       A bem da integração, vejo a avaliação das atitudes e valores em relação intrínseca com os conhecimentos e procedimentos que, por um lado, definem a noção de competência e, por outro, revelam a dimensão integral do aluno no(s) processo(s) da(s) aprendizagem(ns). Contemplando, em rubricas de aprendizagem, critérios atitudinais no seio de outros mais focados na dimensão cognitiva, a visão integrada da avaliação constrói-se (sem necessariamente ter de fazer "grelhas" - mais umas quantas - para isso).

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Em 'Desafios'

       Formulado o convite, não podia dizer que não. A consideração por quem convida é mais forte.

      Solicitado um texto para fazer parte de uma publicação-conjunta online de vários autores (dirigida pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa - Porto), resultou o processo de escrita numa extensão considerada mais válida para uma publicação autónoma.    
      Honrado o compromisso, maior foi a honra por ter sido conduzida a publicitação do artigo para um caderno intitulado Desafios - Cadernos de Trans_Formação (número 29). O mote era: como se tece a ação pedagógica em tempos de COVID 19; eu glosei os "(Des)encontros e (re)aprendizagens (à distância de um clique, com toque humano)".

Um artigo disponível para leitura em

      Melhor ainda foi ver o meu contributo antecedido de um editorial com as palavras generosas do Professor Matias Alves, contextualizando, destacando pontos fulcrais da minha reflexão, citando algumas das minhas palavras, reconhecendo-lhes qualidade(s).
   Entre muitas respostas, surgiram algumas perguntas; e, no fundo, procurei reafirmar o sentido nevralgicamente pedagógico de uma situação, preferindo ver nas dificuldades oportunidades; procurando manter jovens na "rede" do trabalho, do estudo, do compromisso para que a vida apela.
     Contei ainda com a solidariedade e colaboração de alguns dos meus alunos, que se podem rever na(s) ação(ões) em que participa(ra)m. Pela cumplicidade e pela aceitação do trabalho (trabalho e mais trabalho), também muito lhes agradeço.

       Pela consideração mútua, pelo trabalho que desenvolvemos juntos e pelas identidades que fomos e vamos construindo, restam-me a gratidão e o reconhecimento pela aposta feita. Obrigado, Matias Alves.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

História de um agente entre a gente

     Em tempos de confinamento, nem sempre as paredes aguentam comigo.

    Poupo-as, por uns instantes, ora dando uma caminhada no meio de ninguém (e em horas de pouco movimento) ora indo de carro ver o mar. Estaciono, mantenho-me dentro, fazendo dele uma casa móvel e abrindo os vidros para um mundo maior. Leio ou trabalho; vou vendo o mar, contemplando algumas gaivotas passageiras, observando nuvens deslizantes a acinzentar o céu ou o torná-lo aqui e além manchado de flocos cotonosos.
    Por vezes, passa um camião carregando um painel publicitário, no qual se lê o convite para todos ficarem em casa, a bem de muitos. Um altifalante complementa a mensagem estampada no painel: "Fique em casa. É tempo de confinamento, por causa do Covid-19. Fique em casa, pela sua saúde e pela de todos". Compassadamente, circulam ainda agentes policiais, a pé ou de carro, dissuadindo aqueles que pretendem chegar ao areal interdito ou correr pelos passadiços bloqueados, fitados com uma cruz impeditiva de circulação. Mesmo os que, como eu, estão fechados no habitáculo do automóvel não estão livres de abordagem persuasiva da autoridade.
    Aconteceu-me hoje que, estando a trabalhar com o computador, fui abeirado, com o distanciamento social devido, por um agente que, simpaticamente, me perguntou se estava tudo bem e se pretendia ficar naquele local (aprazível) por muito tempo. Pelo suspiro que soltei e pelo meu ar de desagrado, de saturação face à previsível sugestão de voltar para as minhas paredes, o polícia apercebeu-se da minha necessidade de respirar outros ares e, com toda a compreensão, justificou a sua atuação: sensibilizar para os cuidados a ter e para evitar que muita gente se concentrasse junto ao mar (evitando os ajuntamentos críticos). Agradeci a atitude e o serviço que estava a ser cumprido. E talvez por isso, de seguida, veio a concessão: assim que concluísse o trabalho e fizesse uma possível caminhada solitária, solicitava o recolhimento a casa. Voltei a agradecer, pelo cuidado e pela compreensão, ao que assentiu que tínhamos ambos de ser compreensivos e reconhecidos nas palavras e nos bons atos.
     Apreciei bastante a postura e o exercício compassivo da autoridade. Solicitei apenas uns minutos mais. Respondeu que não havia problema, desde que não infringisse as interdições visíveis a todos na praia. Sosseguei-o quanto a isso, pois não pretendia sair da "minha concha". Disse-me, então, para eu estar à vontade e, por fim, acrescentou que "Se todos cumprirmos, quando contermos o vírus, vamos poder mais rapidamente aproveitar a vida em conjunto". A ideia era perfeita, mas o "contermos"...
    O futuro do conjuntivo do verbo 'conter', na primeira pessoa do plural, é 'contivermos', senhor agente - isto foi o que pensei; o que gostava de ter dito. No entanto, achei por bem fazer igualmente uma concessão. Valorizei mais a atitude do que a correção do discurso. Eu podia ter concordado, repetindo a mensagem com a forma correta, como normalmente o faço em situações análogas ("Sim, se CONTIVERMOS o vírus, vamos todos ser mais felizes"). Não o fiz, porém, atendendo à qualidade da interação, na qual uma falha gramatical não comprometeu o interesse nem o foco da comunicação.

       Lá diz o provérbio que "No melhor pano cai a nódoa" - acidentes que acontecem a todos os que também usam "boas palavras" (mesmo que estas não sejam as gramaticalmente mais corretas).

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Recursos...

      ... expressivos, anote-se.

      A questão é pertinente, merecendo apontamento nesta "carruagem".

       Q: Bom dia, caro Vítor.
       Só um pequeno esclarecimento sobre esta questão: "E como anoitecia cedo, havia outro remédio senão ir agora a mata - cavalos a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar." Considerando a instrução "Identifica um recurso expressivo presente na expressão 'com o coração a refilar', considero metáfora, mas posso também considerar personificação? Abraço. Grato

     R: É assumida como natural, no campo literário, a relação de várias figuras de estilo, em termos do pensamento traduzido, às duas figuras-mãe: a metáfora e a metonímia. Dificilmente se falha quando uma destas é convocada.
      No caso em concreto, e uma vez que se trata apenas de uma instrução de identificação, deverão ser aceites ambas as respostas (metáfora e personificação). Na verdade, se a metáfora se encontra associada ao termo "coração", por motivos do sentimento e da emoção (coração como metáfora de sentimento), a personificação está focada na intencionalidade relacionada como o termo "refilar". O coração a refilar é a ideia de um sentimento personificado, com características humanas e o sentido da intencionalidade - com a intenção de contrariar, criticar, reagir.
       Fosse a questão outra, com os alunos a terem de explicitar a expressividade da figura de estilo, haveria a possibilidade de condicionar a resposta em função da justificação a dar.


      Não raras vezes nos deparamos com segmentos textuais, nos quais confluem vários recursos expressivos e/ou estilísticos. Sempre que tal acontece, a abertura a vários cenários de resposta é atitude a assumir, desde que os argumentos aduzidos na resposta sejam compatíveis com o recurso / a figura selecionada. Daí que, mais do que a identificação, seja desejável a explicitação da expressividade ou dos efeitos obtidos com o uso de tal recurso na mensagem.

       Claro que 'recursos expressivos' é uma designação mais abrangente para processos bem além das figuras de estilo; porém, no que a estas últimas diz respeito, personificação e metáfora andam bem alinhadas no exemplo transcrito.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Publicação com mais de dez anos

     Retomo-a, por vezes, mas hoje revi-a no Facebook.

   Já lá vão mais de dez anos. No tempo, e em coautoria com quem também dava contributos significativos para a área da educação, esta publicação surgia como conjunto de sugestões orientado para o que eram as "aulas de substituição". Mais do que cem guiões destinados a dar algum sentido a uma dinâmica que também se podia cruzar com as áreas da Formação Cívica, do Estudo Acompanhado ou na complementaridade com atividades letivas.
     Lia-se, na "Introdução", que 

   "Desde o ano lectivo 2005-2006, o tempo escolar transformou-se num dos principais problemas que os professores têm de enfrentar. Todos passam entre 24 e 30 horas semanais na escola. Todos realizam actividades para as quais não tiveram condições de se preparar. Todos (ou quase todos) são obrigados a ocupar os alunos na ausência prevista ou imprevista de um professor. Mas não é só uma maior permanência forçada na escola. É também uma intensificação e complexificação desse tempo. Ser imprevistamente obrigado a ir dar uma aula de substituição a uma turma que não se conhece, de uma disciplina que não se domina; ou mesmo cumprir um plano de aula que um colega deixou no conselho executivo; ou ocupar um grupo mais ou menos numeroso de alunos em diferentes contextos são actividades de enorme pressão psicológica, de grande desgaste, nalguns casos até de grande sofrimento.
       O professor tende hoje a ser tratado como um faz-tudo, a ser obrigado a ensinar, a estimular e a socializar - ao fim e ao cabo as três funções verdadeiramente profissionais. Mas, para além da missão profissional, é empurrado para ser tomador de conta, guardador de crianças e jovens, para fazer o papel de auxiliar da acção educativa, de contínuo, de vigilante e de prefeito. Para fazer face a este problema plurifacetado, as escolas foram procurando e encontrando soluções diversas: a nível da organização escolar (estimulando e organizando permutas docentes dentro do mesmo conselho de turma, à semelhança do que sempre se fez no ensino profissional; distribuindo a turma por vários professores, que trabalham com pequenos grupos em diferentes locais ... ); a nível departamental (organizando um sistema de disponibilização de substituições entre os professores do mesmo departamento, disponibilizando baterias de fichas e actividades por níveis de ensino e por competências-chave); a nível individual (tendo sempre à mão vários planos de aula transversais, passíveis de serem executados em qualquer contexto educativo ).
       Mas qualquer que seja o esquema organizacional, é sempre necessário o recurso a conteúdos e estratégias com intuito pedagógico. A conteúdos que dêem sentido à acção que os alunos e os professores vão realizar. A conteúdos e actividades que possam interessar os alunos e que possam fazer deste difícil tempo de encontro forçado factor de satisfação comum. 
      E é neste contexto que surge este livro-ficheiro. Um banco de recursos da mais variada espécie e natureza, em suporte papel e em suporte digital, que será, estamos certos, um auxiliar valiosíssimo para todas as actividades de substituição.
      Acreditamos que esta publicação vai assim ao encontro de uma necessidade premente. E vai, com a inteligência e a sensibilidade dos professores, ser um instrumento ao serviço das aprendizagens dos alunos e da gratificação profissional.
      São estas as nossas convicções e os nossos votos."

     Trago o texto citado da obra em questão; trago a revisitação do Facebook e do blogue do Professor Matias Alves (um dos coautores) - Terrear.
      Pelo índice da publicação, há atividades para muitos gostos e múltiplas funcionalidades: treino da atenção, abordagem da escrita, escrita criativa, indução e gestão de conflitos, observação e visionamento, narração de histórias maravilhosas para encanto e aprendizagem. Assim se pensava e construía o trabalho para alunos do ensino básico e do secundário - cenários ensaiados, testados, implementados. Experiências práticas efetiva(da)s.
      Parece que querem usar a obra em Timor, aplicando algumas das sugestões / propostas.

    Muitas das ideias permanecem válidas, para uma publicação que, hoje, podia ser intitulada Aulas de implicação e construção de aprendizagens. Obra feita!

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Tempo(s) de muito(s) trabalho(s)

      Fecha-se mais um ciclo formativo.

     Hoje foi tempo para concluir mais uma oficina de formação. O balanço é mais do que positivo quando se veem evidências de trabalho com os alunos, dinâmicas e práticas enformadas pelos pressupostos abordados / focados nesta formação específica.
      Houve demonstrações para todos os gostos: oficinas de escrita como projeto, oficinas de escrita na prática letiva, abordagem da escrita com algumas orientações e processos oficinais na revisão e reescrita,... 


    Foi ótimo ouvir que os alunos gostaram, que se sentiram implicados; que querem repetir a experiência, que avaliaram as práticas das aulas como oportunidade de melhorar, de aperfeiçoar, de consciencializar,...
    Não foi menor a satisfação e o espírito demonstrados, não obstante as dificuldades / os constragimentos, nessas conquistas que aconteceram em aulas de várias escolas, com professores motivados no(s) trabalho(s) desenvolvido(s) e apresentado(s). E, para além de tudo, verificaram-se sentidos de ação colaborativa na planificação, na execução e no acompanhamento, na avaliação produzidos...
      No fim, resultou a partilha, a construção de uma identidade profissional que se define pelos desempenhos atentos aos problemas e orientados para a superação de algumas das múltiplas dificuldades que o processo de ensino-aprendizagem naturalmente implica.

         Passadas trinta horas, ficam o reconhecimento e o agradecimento por a mensagem ter passado das palavras aos atos.
         

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Ando muito oficinal

     Hoje foi dado mais um passo para a formação específica.

     Um grupo de vinte profissionais está para trabalhar comigo na oficina de formação "Da oficina de escrita à escrita com alguma oficina: processualidade e dinâmicas", em curso na Escola Secundária com EB2,3 Manuel Laranjeira e no âmbito do plano de formação do Centro de Formação Aurélio da Paz dos Reis.

Diapositivo de apresentação da oficina de formação

     Em dia de apresentação (do formador, dos formandos, da ação e da avaliação a promover), houve tempo para se falar de algumas representações profissionais acerca do domínio da escrita (constrangimentos, potencialidades, operacionalizações, níveis de desempenho), se contemplar plataformas de competências / domínios (da oralidade / da leitura para a escrita), partilhar algumas experiências, considerar alguns desafios e algumas oportunidades.
    Neste sentido, a oficina de escrita configura-se como um dispositivo estratégico ajustado a um conjunto de princípios orientadores na ativação / aquisição e desenvolvimento de uma competência fulcral para o contexto escolar (e não só), a saber: planificação estratégica e aberta às contingências de ação, processual e sequencial; interação cooperativa / colaborativa, acompanhamento do processo e do produto, explicitação e aplicação de processos / mecanismos, dimensão prática construtiva e formativamente avaliada.
     Muitas das estratégias implicadas nas oficinas de escrita não são exclusivas deste dispositivo. São válidas também para ocorrências / dinâmicas de trabalho mais pontuais na sala de aula, constitutivas de momentos de ensino-aprendizagem focados em objetivos precisos como os de comparação de modelos, de revisão, reescrita e melhoria de textos.
      Assim foi projetado o percurso:
I – Representações profissionais acerca da competência escrita
II – Referenciais pedagógico-didáticos relativos à Escrita
III – A Escrita nos programas de ensino e nas aprendizagens essenciais
IV – Dispositivos estratégicos no domínio da escrita
a)      O caso da oficina de escrita
b)      A escrita com alguma perspetivação oficinal
V – Planificação de uma Oficina de Escrita
a)      nível de ensino / ano de escolaridade
b)      conteúdos programáticos / metas de aprendizagem / aprendizagens essenciais
c)      âmbito da escrita
d)     materiais a utilizar / construir
e)      procedimentos a contemplar
 VI – Implementação da Oficina de Escrita ou da Escrita Oficinal em contexto de sala de aula
VII – Apresentação e avaliação da implementação (vantagens / constrangimentos)
a)      demonstração(ões) / evidência(s)
b)      perspetivação crítica
     A seu tempo (ao final de quinze horas de trabalho presencial, mais quinze de trabalho autónomo), ver-se-ão as implicações e reflexões associadas às práticas / aos materiais / aos procedimentos adotados.

    Uma oportunidade de colaboração, de partilha, de (re)construção de uma identidade profissional. 

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Mau... muito mau mesmo!

       Jornalismos...

      A quantificação do plural vale por dois: pelo bom jornalismo que vale por muitos, na seriedade, na responsabilidade e na qualidade de escrita que “agarram" qualquer leitor; pelo que, na falta das virtudes anteriores, cai no erro, no mínimo, e induz quem lê a opinar sobre dados falsos. Em vez de informação, propaga-se a ignorância da fonte, multiplicada pelas vozes que, do assunto, pouco ou nada sabem.
     O furo jornalístico de que Os Maias deixam de ser leitura obrigatória para os alunos do ensino secundário sai tão “furado" e falso quanto a obra não ter sido tal desde a implementação dos então novos programas de 2010/2011. Agora, na discussão pública das “Aprendizagens Essenciais” para o 11° ano, mantém-se como possibilidade, conforme os programas em vigor desde 2015-16 (leia-se Os Maias ou, sublinhe-se 'ou', A Ilustre Casa de Ramires).
       Perante o absurdo da conclusão jornalística, não será de esperar que tivesse havido leitura do documento nem sequer uma investigação que fundamentasse a posição de muitos professores que optam pela abordagem do primeiro romance face a qualquer outro queirosiano, em termos de lecionação. Também não sei se haveria capacidade para reconhecer que uma obra tão madura e excecionalmente construída por Eça seja uma mais-valia acumulada de sensibilidades estéticas, muito para lá da expressão realista-naturalista a que o autor tem andado associado; uma produção romanesca que tanto retrata criticamente a sociedade da segunda metade do século XIX como reflete comportamentos e percursos de desilusão tão comuns ao século XXI; uma narrativa que ensina mais pelo que dá a ler (no conteúdo e na língua) do que por qualquer análise mais estrutural ou estilística que dela se faça.
       Sendo assim, quase como Eça criticamente o aponta nas primeiras páginas de Uma Campanha Alegre, assumo que, a exemplo de notícias como a identificada, e repetida por congéneres, a imprensa está longe de cumprir o seu papel. Se nos finais de oitocentos, cito, "A imprensa é composta de duas ordens de periódicos: os noticiosos e os políticos", nas primeiras décadas do século XXI persistem as mesmas (talvez acompanhadas por uma terceira ordem, mais desportiva), na generalidade com a inegável falta de qualidade seja de escrita seja de informação. Será este um caso de noticioso (sensacionalismo inútil) ou de político (talvez politiqueiro)? Seja qual for, muito terá a aprender com as raríssimas exceções de jornalismo de qualidade (para as quais, obviamente, estas palavras não são destinadas), por talvez se terem inspirado em Os Maias e/ou, definitivamente, terem descoberto como afastar-se do mau exemplo que o jornal "A Tarde" ou "A Corneta do Diabo" representam. 
     Casos como os destas notícias, divulgando e fomentando conclusões contrárias às "Aprendizagens Essenciais", só podem resultar de jornalistas que ou não leram a obra queirosiana (nem o documento educativo em discussão pública) ou, se o fizeram, não conseguiram ver nela mais do que uma simples história de incesto (nem as implicações educativas que ousaram noticiar). E de língua, nada aprenderam, a ponto de não saberem o significado de um 'ou'. Diria, uma aprendizagem essencial.

       "Alguns jornais contaram este mês, com uma indignação ingénua, que na devota cidade Braga alguns missionários vendiam aos fiéis cartas inéditas da Virgem Maria" (Uma Campanha Alegre - XXXVII, pág. 223) - escreveu Eça. Um jornal contou hoje, entre o espanto e a indignação ingénuos, que Os Maias iam deixar de ser leitura obrigatória no ensino secundário - escrevo eu. Heresias (quando não são mentiras declaradas)!


terça-feira, 15 de maio de 2018

Estratégias eficazes

      A propósito de um artigo que serve para reflexão na formação docente.

     Refiro-me a uma recensão sobre uma vasta literatura acerca do ensino da leitura, da escrita e do cálculo matemático: "Quelles sont les stratégies d'enseignement efficaces favorisant les apprentissages fondamentaux auprès des élèves en difficulté de niveau élémentaire? Résultats d'une méga-analyse". 
     Publicado em 2010, na Revue de Recherche Apliquée Sur l'Apprentissage, vol. 3, artigo 1 (páginas 1 a 35), é o resultado de uma pesquisa e investigação desenvolvidas com base em onze meta-análises editadas na década inicial do século XXI, sobre o tema. Steve Bissonnette, professor do Departamento de Psicoeducação e Psicologia da Universidade do Québec; Mario Richard, professor da Tele-universidade do Québec; Clermont Gauthier, titular da cadeira de investigação no Canadá sobre a formação no ensino, na Universidade de Laval; Carl Bouchard, doutorado em Psicologia  na Universidade de Montréal são nomes com obra sustentada no campo da psicologia, da educação, da psicologia orientados para o estudo da eficácia e acabaram por concentrar um variedade de dados relevante para a análise do contexto educativo do Canadá, em particular, e da América do Norte, em geral (dadas as similitudes atestadas e citadas por relatórios consultados), no encalço de estratégias eficazes para o ensino de matérias essenciais para um grupo-foco (alunos com dificuldades no nível primário).
      Entre as várias conclusões - centradas em métodos de ensino diferenciados (instrução direta, ensino de estratégias, combinação dos dois modelos anteriores, outros), em estratégias ou intervenções diversificadas (ensino explícito de conteúdos, conceitos / procedimentos; ensino recíproco, com estratégias de grupo ou entre pares; percurso de aprendizagem apoiado na autoquestionação, aprendizagem mediada orientada, ensino assistido por computador, comunicação de indicadores específicos de desempenho aos professores e aos alunos; comunicação de informações específicas aos pais sobre informações precisas associadas ao sucesso dos educandos) -, sublinham-se algumas das mais significativas e concordantes, independentemente das três competências visadas:

. o ensino direto e o centrado na autoquestionação são os que se revelam mais eficazes no contexto de ensino-aprendizagem em estudo, mais do que a aprendizagem mediada e guiada;
. o ensino apoiado pelo computador revela-se menos eficaz do que o de tipo presencial;
. as novas abordagens pedagógicas como a aprendizagem guiada não apontam para estratégias de ensino que melhorem o rendimento dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem;
. o ensino recíproco é moderadamente eficaz, no caso do cálculo matemático, quando se tem em vista a melhoria dos desempenhos dos alunos em dificuldade;
. o ensino explícito favorece a aprendizagem de diferentes componentes implicadas no processo de leitura (estratégias metacognitivas, consciência fonémica, reconhecimento lexical, compreensão de textos, decifração da mensagem), bem como as relacionadas com o processo de escrita (planificação, textualização, revisão e tipologia textual);
. as modalidades pedagógicas que mais influenciam o rendimento dos alunos são o ensino explícito e o ensino recíproco.

      Quando paradoxalmente muitas reformas educativas privilegiam ou apontam para abordagens pedagógicas bem distintas do concluído por estes investigadores, os mais de trezentos trabalhos de investigação levados a cabo num período de dez anos - num contexto de diferenciação e multiculturalidade evidentes -, cruzam-se convergentemente com cerca de quarenta anos de literatura a espelhar um estado de coisas com constâncias muito representativas.


     Retirar-se-ão daqui ilações para as práticas e os desempenhos profissionais docentes, por certo, nomeadamente quando um relatório canadiano publicado em 2001 se posiciona favoravelmente face à universalidade de conclusões: «Les pratiques employées dans les écoles efficaces canadiennes sont semblables à celles répertoriées dans la littérature internationale sur l’efficacité des écoles» (Henchey, N., Dunnigan, M., Gardner, A., Lessard, C., Muhtadi, N., Raham, H. et Violoto, C. (2001 - p. ii) - Schools that make a difference: Final report twelve canadian secondary schools in low-income settings. Kelowna, B.C.: Society for the Advancement of Excellence in Education, (SAee)).
         Sem excluir a posição de que, na educação, para situações excecionais uma resposta excecional pode conduzir para a solução de um problema, não nego que algumas constâncias, regularidades são necessárias, seja para um docente poder agir perante a diversidade com que se depara seja para os próprios alunos poderem integrar-se, socializar-se com conhecimentos e competências reconhecidos como fulcrais pela sociedade. Uma generalização, por certo, não pode resultar daqui: os alunos que não são contemplados pelo estudo focado podem já ter uma estruturação que não requeira modalidades pedagógicas tão diretivas e explícitas.

       Entre "Todos iguais, todos diferentes", cabe ao professor avaliar a situação que terá de ajustar às condições que lhe são facultadas para trabalhar. E estas últimas nem sempre se coadunam com os requisitos que os modelos pedagógicas, os métodos de ensino, as estratégias e as formas de intervenção preconizam.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

De novo a Morfologia

       Ainda a formação de professores de Português.

     São doze profissionais a trabalhar comigo ao longo de quinze horas, começando hoje na Escola EB2,3 de Gondomar, a pedido do Centro de Formação de Escolas Júlio Resende.
      Quase apetece dizer que vou "morfologizar", à semelhança do ocorrido há cerca de dois anos, na Escola Secundária com EB2,3 Dr. Manuel Laranjeira. No início do ano foi mesmo por Valadares, na Escola Secundária Joaquim Ferreira Alves. Como não há duas sem três, chegou a vez de Gondomar:

Diapositivo de apresentação do curso de formação

       Trata-se de um curso de formação que procura contribuir para a aquisição de saberes atualizados, enformados por princípios metodológicos e/ou pedagógico-didáticos; o desenvolvimento de conhecimentos e competências numa rentabilização e/ou problematização do objeto de formação segundo os programas de ensino e documentos referenciais reguladores das práticas; a exploração de competências pedagógicas nos professores de Português, do ensino básico e secundário, de modo a integrar saberes e reflexões promotores de transposições e aplicações didáticas; a sensibilização e tomada de conhecimento - implicada, sustentada e fundamentada - de referenciais de trabalho que assentam em contributos das áreas da Linguística, da Literatura, da Didática e da Organização e Desenvolvimento Curricular; a discussão e a consciencialização de áreas ou pontos críticos no domínio linguístico da Morfologia e na sua interrelação com os programas de ensino, as metas de aprendizagem e o discurso pedagógico-didático.

       Numa área que parece ser fácil, muito há a estudar e a refletir, porque há generalizações e falsas aparências, à espera de uma maior cuidado (no mínimo, um dicionário com informação etimológica e morfológica. 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A nova velha... e as mudanças!

     Quando se anuncia a novidade de um documento que enformará a vida da escola,...

      ... é bom que o documento traga algo de novo (de novidade) e não algo de novo (outra vez). 
   Tudo a propósito de uma conferência a que assisti hoje e da divulgação do "Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória" (através do Despacho n.º 6478/2017, de 26 de julho), encarado como referência para as escolas e para a sua organização (bem como de todo o sistema educativo), visando a convergência e a articulação das decisões curriculares com as práticas docentes e as aprendizagens do futuro (próximo).
      Quando a anunciada mudança se compagina com um conjunto de valores e princípios - os do humanismo, da responsabilização, da liberdade e da autonomia, das áreas de competências e de integração de projetos -, poder-se-á perguntar onde reside a novidade. De Dewey aos fundamentos da pedagogia moderna explicitados por Carl Rogers, pode dizer-se que o novo já tem praticamente um século. Muita formação docente (inicial, contínua e continuada) se apoiou nessa abordagem / equação tão propagada, no mínimo (senão antes), desde os anos oitenta do século passado. 
      Que a gestão / organização das escolas deve ser outra para se compatibilizar com esses princípios, não há dúvida - dos espaços, tempos e recursos materiais à perspetivação dos profissionais que nelas trabalham. Mudanças substantivas, não episódicas ou conjunturais, são requeridas na forma como as escolas públicas e os sistemas escolares são concebidos e no modo como são geridos, na consciência de como o público  (jovem e adulto, ou com espírito sempre jovem) que os frequenta irá ter uma palavra a dizer no que deles quer, em termos de integração, partilha, utilização de recursos, colaboração e, nomeadamente, distribuição de poderes. Também isto não é novo, pelo menos na literatura especializada sobre a administração escolar e as estruturas de gestão / participação da vida escolar.
    Talvez passar das palavras aos atos seja o passo que muitos veem como gigante, para os pés ainda sentirem o chão ou para que os voos não se façam desasados. Não pode é entender-se tais posturas de reserva como a recusa do novo (que já não o é) nem justificar-se alguma desconfiança como sinónima da apologia de práticas rotineiras ou do passado, tomadas como gerais, assentes na mera reprodução acrítica, em tecnicismos prolixos ou em disposições não participativas ou não interativas. Como se todos os docentes não fizessem mais do que isto. Muitos dos constrangimentos para a mudança passam por condições que, frequentemente, nem externa nem internamente, são garantidas para que ela aconteça além da letra ou da orientação discursiva. Nem sempre o espírito do texto se compatibiliza com os investimentos (de vária ordem, não só financeiros) que se impõem. Desfasamentos entre as orientações para a ação e a ação propriamente dita sempre os houve e sempre haverá, não sendo um documento ou decreto que os fará desaparecer. Daí que o futuro não se construa apenas pelo que se dá a ler ou a saber.
     A disponibilidade e a motivação para a sua concretização passarão, por certo, pela articulação entre palavras e atos, focando uma maior integração e coerência (vertical e horizontal) dos documentos curriculares, programáticos e organizacionais, nomeadamente na estruturação das aprendizagens a desenvolver ao longo da escolaridade. Daí também a necessária promoção de uma gestão mais articulada e integradora, nomeadamente flexível no que à concretização do currículo diz respeito (contrariando, definitivamente, essa ideia que alguns ainda têm de que todos a fazer o mesmo, ao mesmo tempo e, se possível do mesmo modo faz ensinar / aprender melhor). Neste sentido, a atuação política e a das organizações escolares / educativas serão fulcrais para a orientação e concretização da ação docente, atualmente limitada pelos currícula, pelos programas e metas definidos, pela forma como os espaços e tempos são geridos pelas escolas, pela distribuição de serviço docente e pelo modo de constituir turmas. Não menos importantes são as formas de liderança nas escolas (mais ou menos centralizadoras), a formação docente (tanto a inicial como a contínua) e a construção de equipas educativas mais focadas na colaboração, partilha e conjugação para a construção e consecução de projetos.
     Das implicações apontadas e das orientações preconizadas se faz a mudança pretendida, talvez nova na ação; não tanto nos pressupostos teóricos do texto ou documento em divulgação. Impõe-se a sensibilização para a primeira, com os sinais necessários da ação política e da gestão das escolas, de forma a fazer perceber que ela seja possível, para que não se caia exatamente na posição oposta: a de que a mudança não é (foi) possível nem necessária. Cair-se-ia numa quase reprodução de um discurso que se vai ouvindo e que parece legitimar o que não faz (muito) sentido para lá das palavras:

Excerto do programa televisivo "Melhor do que falecer" (episódio 10), na TVI (2014)

      (Bom seria que o cómico deste sketch fosse um sintoma do ridículo do que é dito; por vezes, creio que se torna mais do que isso, pelo que se ouve de apologia, por vezes, do passado e de um sentido de liberdade em que alguém se [re]vê como não tendo "serventia para ela").

     Com um bom comunicador e um espírito interessante (não obstante algumas generalizações dispensáveis e redutoras), pode dizer-se que o momento da conferência inicial sobre "Biblioteca Escolar / Perfil do aluno do século XXI" permitiu esquecer alguns cansaços acumulados, embora a perspetiva do futuro preconizado não deixe de se revelar, por ora, incerta e nebulosa. A ver vamos se não será canseira a redundar em novo cansaço.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Um julgamento com muito que se lhe diga.

       Depois do apontamento de há dias, a reflexão regressa.

     Desta feita, ela é revista a partir de um vídeo (com tradução em português do Brasil) que me fizeram chegar e que está na linha de alguns dos pressupostos que mencionei nesse apontamento:

Vídeo publicado no Grupo de Mentoria "Humana" 
(projeto de investigação da Escola-de-Redes)

    A parte da valorização do professor é significativa (e aplaudo-a). A de como chegar ao futuro é pouco sustentada, até porque dependente de muitas condicionantes que nem sempre se controlam e/ou anteveem no presente e no contexto de ação escolar. Muito do percurso a cumprir passa por uma cultura de empenho, de esforço, de persistência no trabalho, tão válidos na escola como na vida que existe para lá das paredes e dos muros das escolas. Todavia, são muitas as resistências e as culturas que algumas estruturas sociais educativas (nomeadamente algumas famílias que não convergem com tais valores) optam por contrariar, nomeadamente não ensinando o que é autoridade. Frequentemente é a escola a ter de o fazer, com um reconhecimento que muitas vezes se revela tardio.
    Uma dinâmica interativa, participada e colaborativa contribuirá para um estado de coisas bem distinto do que é julgado. E, por certo, não é sobrecarregando, fazendo mais do mesmo, apostando em inutilidades e "chicoespertismo" que o caminho se faz.
     Entre os aspetos que reconheço (a diferenciação desejada, a visão crítica da organização da escola, a relativização necessária à influência partidária na construção do currículo e de muitas orientações da escola, a adoção de múltiplos dispositivos estratégicos na avaliação, o reconhecimento dos diferentes dons e das múltiplas inteligências) e os que critico (as generalizações, o preconceito do conformismo da escola, a afirmação de imagens de escolas distintas como sendo iguais, a consideração de que nada mudou num século e de que tudo não passa de reprodução do passado, a redução da escola à dominante da costumização e do "costumer", a defesa de modelos de escola transpostos e desajustados dos contextos), fica o registo para memória futura - seja ela lá qual vier a ser. 

      Não se pode ser crítico sem o sustento do saber. Muito do progresso social e muita da evolução dos tempos também passaram e foram conseguidos pelos que andaram na escola. Não é possível fechar um caso que requer uma análise multifocada no(s) objeto(s) e objetivo(s) que o definem.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Lembrança(s)...

     Seja um exercício mental seja um ato ou gesto de dádiva.

     É, por certo, um registo de memória, por dois anos que foram de trabalho, de cumplicidades e de momentos também de convívio que o tempo não apagará. Dizem alguns que foi período de transformação: dos medos provocados nos primeiros dias às experiências comuns dentro e fora da escola; às leituras que foram sendo desveladas; às partilhas de saber, que foram libertando o sentir; às alegrias e ousadias que fizeram dos tampos das secretárias o palco (de evocação cinéfila) para o reconhecimento, para o agradecimento mútuo pelo bem que soubemos fazer (par)a todos.
      É, ainda, depois de um ano afastados, a prova de que algures, no imaginário conjunto, há lugar para as proximidades que a afetividade faz perdurar. O que foi ensinado ficou seguramente matizado pela compreensão e pelo colorido dos sorrisos, muitas vezes surgidos no meio do cansaço, do sono e da vontade de buscar o sol (que as palavras, as frases, os longos parágrafos e as páginas dos livros nem sempre deixavam brilhar). O que se aprendeu, o tempo dirá para que servirá.
   É o sinal repetido da generosidade que sempre existiu, porque também alguém a soube alimentar, para que se tornasse marcante nas pessoas que estes jovens têm sido.
    É a oferta desinteressada de um grupo de alunos que, entusiasticamente, recebeu um professor e o fez sentir brilhante, numa noite e num espaço que o fizeram sentir-se em casa (como se nunca a tivesse deixado).

      Ao 12º 8, meu no 10º e no 11º anos. Mais uma turma especial para o meu currículo dos afetos. Muito obrigado pela companhia, pelos abraços e pela(s) lembrança(s) - também coloridos com o azul das "letras", tão próprio às humanidades, às línguas e literaturas.
     

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Notas, chumbos e o mais que estará para vir

     A nova ou notícia de hoje é a recomendação do Conselho Nacional da Educação sobre os chumbos a evitar.


    Segundo David Justino, antigo Ministro da Educação e atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), a avaliação baseada nas notas dos exames assume "um efeito de influência" na avaliação dos alunos ao longo do ano, dado que "é necessário evitar". Até aqui, tudo pacífico. Para quem vê as práticas como a exclusiva preparação para os exames é bom que se leia estas palavras; para quem não saiba que as escolas são induzidas, por variadas formas, a comportar-se dessa forma, estas são sementes lançadas a terreno estéril.
     Junto com isto, volta a velha discussão entre as diferenças da avaliação contínua e da avaliação sumativa externa, questão mais do que conhecida, mas a todo o tempo retomada (quando não distorcida). E depois, de novo, as tabelas, as estatísticas, os gráficos e as comparações, numa espécie de agenda subliminar que pelos meses de fevereiro a abril volta à crista de uma onda revista lá pelas marés de setembro-novembro. A par disto, ressoam pelos corredores das escolas discursos (entre outros ruidos que em nada favorecem o clima e o ambiente de estudo e trabalho) a sublinhar o interesse de, cada vez mais, haver quem tudo faça para que as leituras de duas modalidades avaliativas coincidam: são os testes feitos à moda dos exames (muitos dos quais aplicados em 90 minutos, quando seriam de prever 120+30); são as médias de exame discutidas e misturadas com as médias de ano e/ou de períodos; são as práticas reduzidas ao que "interessa para exame" (se sai ou não sai, para não falar nas apostas feitas quanto às certezas do que este venha a contemplar). Tanto esbracejar em areia movediça e tanta discussão para colocar muito e diferenciado assunto num só saco! (Uma estratégia para nada ser feito foi sempre a de fazer divergir a discussão para múltiplos pontos, de modo a que nenhum seja tratado, pela consciência da pequenez humana face à grandeza e à grandiosidade dos problemas).
    Atrofiados por questões de gabinete(s), lá vão os professores (eu) trabalhando o melhor que podem (posso) no meio de tanta poeira e vento lançados à / na escola, numa consciência crescente de que estão (estou) cada vez mais sozinhos (só, mesmo) face a autoridades máximas, organismos centrais que parecem deleitar-se com convicções por vezes tão infundadas na realidade escolar comum concreta quanto assentes em modelos teóricos que tão pouco têm de generalizáveis. Aos que aqui descobriram o filão de ouro respondem outros países - considerados modelo para algumas coisas, outras não - que, tendo já passado pela experiência, já só nela veem o ouro dos tolos, composto de embaraços e impedimentos quer ao estímulo quer ao sucesso.  
    E os alunos lá estão, longe de tudo isto e tão mais do que isto; muito para além dos números e das percentagens, com tanto do que ainda vão dando ou querendo (felicidade, talvez, a minha por ainda os ver assim e ter muitos que assim são, por ainda verem algum sentido naquilo que fazem e naquilo que lhes é dado a fazer); à espera de ter indicações precisas do que fazer; com as interrogações  e as reações e papéis típicos dos adolescentes que os professores (eu) também foram (fui); numa postura entre a convergência e o desafio (quando não é de desautorização, à semelhança do que acontece com outros poderes que o deixaram de ser, por terem perdido os meios de o ser) à autoridade que têm à frente.
     Leio nos escaparates, nas primeiras páginas, nos títulos, nas citações (admito que descontextualizadas) que a «'Cultura da nota' desvaloriza processos que promovem aprendizagem». Nem sei que pense: a frase tanto dá para a má nota - que rotula, que estigmatiza, que inviabiliza a possibilidade ou a motivação para participar noutra oportunidade - como para a melhor de todas elas - nem sempre a refletir o rigor e a exigência (ou o mérito e a excelência) tantas vezes aflorada - porque literalmente feita apenas de "flores" superficiais e não apoiada ou alicerçada na "terra" - em situações, formações, alternativas, certificações apressadas, discursos de sucesso educativo (como se este fosse apenas um, particularmente o da aprovação e o do diploma conseguidos de qualquer modo). Depois o fim dos "chumbos", das "retenções", das "reprovações", das "não aprovações" são designações que também podem significar a banalização, a indiferenciação, a falta de necessidade e de brio para se ultrapassar falhas, dificuldades, disfunções, desafios que nem só o tempo ajuda a resolver. Um autêntico "laissez faire laissez passer", educando para uma vida em que só ilusoriamente não há constrangimentos, entraves, dificuldades, adversidades - muitos deles a motivar um real e reconhecido esforço, a superação, sem que tenha de chegar necessariamente à transcendência.
       Tempos de caricatura, tão próximos da realidade:


     A novidade não é nenhuma - é uma nova velhíssima e grotesca. A preocupação é mesmo a do dinheiro, a do custo que representa a retenção (numa versão mais material e culpabilizadora) ou a do investimento que uma formação alternativa possa representar (noutra versão, politicamente mais correta). A pessoa, o aluno - na sua individualidade, singularidade - é uma outra perspetiva. Só que esta fica nas mãos do docente que terá outros tantos para encarar, numa heterogeneidade e diversidade (quando não de inconsistente inclusão) muito além de qualquer percentagem que alguém quererá atingir na massa anónima mais internacional(izada) possível.