O que os nossos olhos nem sempre deixam ver.
Uma amiga partilhou uma foto que bem reflete os tempos que vivemos: o que vemos?
O olhar para além da foto (gentilmente cedida pela VL)
Vi a flor, que a corola, as pétalas não enganam. A amiga acrescentou que viu pólen a brotar.
Diria que vimos a vida. É disso de que precisamos: não ficar condicionados pelo tempo e ver, em vez da beleza, a pior das fealdades. Doenças e vírus entorpeçam-nos, matam o nosso olhar, fazendo esquecer recortes e cores; atingem-nos na nossa vulnerabilidade.
Houve, porém, quem não deixasse de reconhecer o coronavírus, de tão exposto que está (estamos) ao perigo, aos "espinhos" dos tempos.
A perceção é tão difusa! Vemos o que queremos, o que sentimos, o que está e o que não está.
Então lembrei-me de Gedeão (não sei se pela física ou pela química pressentidas) e da sua "Impressão Digital":
António Gedeão (1906-1997)
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos unsque eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não veem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns veem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns veem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
que ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.
Entre Sancho Pança e D. Quixote de La Mancha, tenho-os a ambos: vejo a flor sem deixar de admitir a associação ao mal vivido.
Há, todavia, quem na sua arte de fotografia tenha olhos e a magia para nos deixar ver a poesia, a maravilha dos "gnomos e fadas". Obrigado, VL.
E assim fico, sem palavras ... muito obrigada!
ResponderEliminarMuito obrigado, eu!
ResponderEliminarCom imagens como as da tua foto, regista-se a beleza do mundo.
Beijinhos.