segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Pequena narrativa do caminho

          O dia, não sendo bom, acabou um pouco melhor.

           Esteve um tempo chuvoso e inverniço para o outono angustiante que se vive.
       Ao final da tarde soprava um friozinho a pedir agasalho. Aqui e ali o céu cinzento deixava ver uns buracos, como se estivesse puído, por onde passava uma réstia de cor luminosa, em contraste com as densas e pesadas nuvens. O céu estava roto!

O céu está roto (Foto VO)

       Porém, de repente, este ganhou tonalidades douradas e as gaivotas decidiram pintá-lo de liberdade: abandonavam o areal da praia, planando e voando pelo litoral rumo ao norte.

O voo das gaivotas I (Foto VO)

O voo das gaivotas II (Foto VO)

        Anunciava-se a escuridão; mas, antes, houve ainda tempo para contemplar um rasgão de cores, sem tintas, paletas ou pincéis. Apenas reflexos de um sol que já não se via em bola de luz, mas entornado em manchas de água suspensas, coloridamente desbotadas ao longo do firmamento.

O rasgão colorido do céu (Foto VO)

        Após breves instantes, o percurso pelo passadiço mostrou-me também o verde relvado da terra. De um lado, o campo estável coberto de verdura; do outro, o algodão sujo do mar, ora sobrevoando o areal ora boiando numa extensão de água imensa e intensa. em contínuo vaivém; por cima, um fogo celeste em cinza bruma, a lembrar calor e a humedecer um corpo com neblina.

Terra, céu e mar (Foto VO)

        Na história do caminho, um banco de pedra ficou ao ar, entre a terra e o mar, à espera de alguém que nele se sentasse, para mirar a outonal paisagem marinha. Ninguém o usou, sempre num ir e vir que não era de ondas, mas de um corredor feito de vários passos, a aguardar por melhores dias.

Um banco no caminho (Foto VO)

         Finda a narrativa, um novo tempo se deseja para um espaço a ganhar a cor das estações e do olhar do caminhante. 

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