quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Lá vão elas com a brisa do dia

        Grande é a vontade de voar...

     Tanto é o perigo dos dias que o desejo de fugir semelha ao das gaivotas: abandonar o pouso do descanso coletivo, levantar voo e rumar a um local que inspire e respire mais liberdade.

O levantar do voo da gaivota (Foto VO)

Da rocha ao ar e ao mar - I (Foto VO)

Da rocha ao ar e ao mar - II (Foto VO)

Da rocha ao ar e ao mar - III (Foto VO)

        Houve um tempo em que cantaram "Uma gaivota voava, voava, asas de vento, coração de mar". Hoje direi que muitas gaivotas voavam, voaram sem vento, mas ainda com mar. Como elas, não me sinto tão livre em tempos de máscara, desconfiança, desgaste, dúvida.
        Vendo a elevação e o arrojo das aves, relembro um poema de Pessoa:

Parceria no voo das gaivotas (Foto VO)
LEVE, BREVE, SUAVE

Leve, breve, suave,
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto, e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.

Nunca, nunca, em nada,
Raie a madrugada,
Ou esplenda o dia, ou doire no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.
 
 s. d.
in Poesias, Fernando Pessoa (nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor) 
Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). pp 95, [1ª publicação in Athena, nº 3. Lisboa: Dez. 1924]

Muitas gaivotas voavam, voavam (Foto VO)

Assistir ao voo das gaivotas (Foto VO)

        É leve, breve, suave não só o canto mas também o voo, inspirador para o caminho e a construção do sonho, da felicidade, da utopia, de um ideal libertador, quando a realidade nos enleia numa rede de medos, angústias e desesperança. É preciso conquistar a inconsciência libertadora de Pessoa.

        Era já tempo de cantar "Foram as gaivotas, deixando o canto e as asas da liberdade".

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