segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Da importância de educar para a leitura

       Uma questão tão intemporal quanto necessária à (sobre)vivência.

     Saber ler foi decisivo para se aceder ao conhecimento, ao sentido crítico das coisas, ao modo de viver lúcido e consciente, capaz de distanciar o homem de alguma instintividade. Relembre-se o momento histórico decisivo de traduzir a Bíblia do latim para as línguas vulgares: o poder do conhecimento detido por alguns elementos do clero foi passível de discussão e questionação, para que não houvesse adulteração de sentidos nem de informação; caíram os dogmas, reform(ul)ou-se a crença.
     Atualmente, o âmbito de discussão é bem mais lato (político, científico, social, educativo,...). Educar para a leitura é uma questão de consciência e de consciencializar o outro.
     Um apontamento fílmico ("O Substituto" - 2012) relembra-o:

Excerto fílmico de 'O Substituto' (2012, de Tony Kaye)

      Um professor substituto (Henry Barthes, interpretado por Adrien Brody) faz a diferença: introduz o tópico, motiva a participação, inclui os contributos dos alunos, avança com a reflexão, desperta atenções, estabelece relações, muda conceções / visões. 
      Dá sentido(s) à educação - mesmo sendo um professor desligado de si, mas preso ao mundo (isto para quem viu o filme). Tem consciência e consciencializa para o mundo complexo em que vivemos.

      Há professores que marcam a diferença. Felizmente, nem todos são personagens fílmicas.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Tudo ao monte...

       ... e sem fé em Deus!

       Tanta é a preocupação em ficar na imagem, que o pessoal devia saber que ia ficar em apontamento televisivo com erro (já nem se importam, com certeza, porque o foco de interesse é outro). É como na língua! Já nada interessa (porque os valores são outros).
        Com tanta denúncia de falhas linguísticas, a Rádio Televisão Portuguesa (RTP) já devia ter assumido que, no uso da língua, tem vindo a perder muito do suposto crédito (que ainda julga ter). Não será a única estação televisiva, por certo, a viver a desgraça, mas o mal dos outros seria bem de aguentar se não houvesse contributos indesejados na mesma ordem.
        Hoje, perante a questão política do Novo Banco, surgiu um velho erro em rodapé:

Não sei se o A. Ramalho disse 'precalço', mas é isso o que, lamentavelmente, se lê! (Foto VO)

       Isto de trocar a ordem dos grafemas tem muito que se lhe diga, e em várias palavras. Nas redes de comunicação, de tudo aparece na incorreção gráfica - ontem foi o 'PREmaturo", hoje é o 'PERcalço', amanhã será o 'PERfeito' e sabe-se lá o que será depois de amanhã (talvez a 'PERSpetiva)!
        Citando o que alguém disse e escrevendo-se o que foi dito, já não interessa o diz-que-disse, mas sim o que se vê escrito.

        Com esta e com outros gafes linguísticas, não há canal nem provedoria de espectador que resistam! Nem o serviço público se cumpre eficiente ou eficazmente.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Internacionalizações

         É o que está a dar!

       Depois do anúncio do "Xmas" pelas rotundas das terras de Espinho, há que pensar na preparação das batatas com bacalhau do Natal.  Está já aí! Se puder poupar uns euros, melhor.
         Vai daí, nada como aproveitar as promoções do momento:

O negócio da batata internacionalizado  (imagem colhida do Facebook)

           Estamos nisto! A sexta-feira negra do português, a bem do negócio e da poupança. Não sei se será um negócio da China, mas tem um "look" muito americanizado. É "fashion"! E uma forma de estar "uptodate"! Influências linguísticas dos tempos que correm.

       Um exemplo de escrita fonética com um toque de internacionalização. A bem do negócio da batata!

sábado, 21 de novembro de 2020

Do grave ao muito grave (ou como tudo está crítico)

       É o caso da acumulação de situações graves!

       A situação do Covid-19 no país está grave (para não dizer muito grave), dizem alguns por causa do comportamento das pessoas que não foram educadas ou instruídas para viver com limites ou contenção; com deveres ou obrigações (apenas com direitos).
      Até pode ser. Não tenho dados absolutos para o confirmar. Provas há, porém, de que o crédito de algumas informações / conselhos não é do mais educativo que há. Cai por terra, quando se lê o seguinte:

Excerto de uma nota para a saúde pública com "doença ortográfica" (agradecimento à AC)

      Nem parece verdade! Mesmo quando duas linhas antes pode ser lida a construção correta! Entre responsáveis do Centro de Contactos (sublinhe-se!) do Serviço Nacional de Saúde (SNS), não houve um elemento que prestasse atenção ao texto e no que aprovou para divulgação pública? Pergunta retórica, diria, a julgar por alguns ofícios já aqui mencionados.
      Trouxe, hoje, a foto de uma amiga, que, sabendo do meu interesse por estas questões, me endereçou logo um apontamento apenas com o meu nome e um emoji entre o assustadoramente espantado e o azulado de doença / desfalecimento. Tive de comentar, visto o destaque do erro ortográfico (decorrente da falta de reconhecimento da integridade morfológica do verbo 'estar'). Bem visível é a pequena diferença, muito reveladora de mais um sintoma dessa doença ortográfica que grassa nalgumas mentes deste país, nomeadamente nas que produzam ofícios para a Saúde 24: perda de sílabas. Confundem 'ter' com '(es)tar, por influência do oral informal, e dá nisto! Um 'estiver' passa erradamente a 'tiver' com toda a rapidez crónica.
      Para os que acham que é chique dizer que '*tá tudo (bem)!' ou que era bom que '*tivessem mais atentos', aí vai a consequência do mal falar: mal escrevem. '*Tão a ver o mal que fazem?' Bom era que estivessem.

       Sei que há casos bem mais graves para resolver no momento no Centro de Contacto do SNS - Saúde 24, mas cometer na língua erro crónico não ajudará, por certo, a salvar a educação / instrução deste país. Torna a situação bem mais crítica, quando se trata de uma iniciativa associada a uma instituição ligada à ação governativa.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

No reino dos perfis falsos

      A propósito de Fernando Pessoa e da sua heteronímia.

      Uma aluna apresentou na aula uma imagem sugestiva:

Um Pessoa múltiplo, sem falsidades e com muita criação / criatividade 
(imagem cedida, com agradecimento, pela CS)

      Digamos que, na criação artística (na lógica da teoria do fingimento artístico), a imagem faz todo o sentido, se pensarmos em nomes como Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. Entre os heterónimos e o semi-heterónimo, há efetivamente quatro perfis que não tomaria como falsos, a julgar pelas seguintes palavras desse autor-criador modernista: 

" Se me disserem que é absurdo fallar assim de quem nunca existiu, respondo que também não tenho provas de que Lisboa tenha alguma vez existido, ou eu que escrevo, ou qualquer cousa onde quer que seja." 

in Páginas de Estética e de Teoria Literária

       Na imensa obra que os heterónimos produziram, a realidade construída, por ficcional que seja, é tão verdadeira quanto a das produções do ortónimo. As fronteiras da realidade / ficção são tão ténues quanto o ser criado poder ser mestre do próprio criador (que o diga Pessoa a propósito de Caeiro).
     Depois, há ainda que acrescentar o seguinte: os "perfis falsos" não foram quatro; foram inúmeros, mais de cem. Dos mais femininos (a corcunda Maria José, de "Carta da Corcunda ao Serralheiro") aos mais filosóficos (António Mora), bem como os desassossegados (como Vicente Guedes, um dos co-autores do Livro do Desassossego), não faltam o astrólogo e ocultista Raphael Baldaya ou o imaginário Chevalier de Pas (associado à fase de infância), para além do mais anglófono Alexander Search ou o irmão Charles James Search, entre muitos outros.

      Na cocoterie ou no drama em gente criados, Pessoa foi pessoa(s) suficiente(s) para dar conta da diversidade que todos somos na unidade que damos a ver.

sábado, 14 de novembro de 2020

Confusão na bicharada

       Já lá vai o tempo em que gordura era formosura.

     Em tempos em que o padrão de beleza contraria o adágio popular romântico de que "Gordura é formosura", não só questões estéticas como sanitárias motivam preocupações contemporâneas no corpo das pessoas. Dizia-se ser a epidemia do Século XXI (até que o Covid-19 apareceu). Acrescento que é o desconcerto no reino da bicharada:

Do texugo à vaca, quando de pote e baleia se trata - cartoon de Hugo van der Ding

          Estas expressões idiomáticas, de tão animalizadas, são um autêntico desconcerto no reino animal, para dizer que não há conserto possível. Do pote animalizado à vaca que se diz pote, tinha de vir a baleia assumir-se como vaca. Um caos para o Homem, que se diz um pouco deles todos.
 
         Consertemos a gordura, para não entrar em mais confusões ou baralhar o zoo! (Lá vou eu fazer uma caminhada!)

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Momento do dia... aziago (sexta-feira 13)!

         Aquele momento em que estás a chegar a casa e parece que estás no estrangeiro!

      Não fugi por causa da sexta-feira 13 (não sou parascavedecatriafóbico). Em mais um dia de trabalho, no regresso a casa, deparo-me, numa rotunda à entrada da cidade, com um técnico a arranjar as luzes de... Xmas!

Uma rotunda "Xmas" entre as muitas que deixaram de ter "Feliz Natal" - (Foto VO)

     Lá se vai o Natal (feliz) e o Ano Novo (próspero). Digamos que, assim, o vocabulário fica muito mais internacional e sempre dá aquele toque de ser mais "chique" (porque no e do estrangeiro é que é bom)!
      Lembro-me, então, dessa figura ridícula e exibicionista que é a personagem Dâmaso Salcede, de Os Maias (1888). Nela depositou Eça de Queirós toda uma súmula de vícios - da mesquinhez, à mentira, à desfaçatez, ao provincianismo que a todo o momento faz "estalar o verniz". Tem como preocupação fulcral na vida o "chique a valer"! Arvora-se em galante e apreciador de tudo o que é requintadamente parisiense (ou francês). Não tem morada; tem 'adresse' (à Paris, bien sûre):

Representação de Dâmaso Salcede (cartoon)
     "Pois eu assim que posso, é direitinho para Paris! Aquilo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro... Eu, em não indo lá todos os anos, (...) até começo a andar doente. Aquele Boulevarzinho, hem!... Ai, eu gozo aquilo!... E sei gozar, sei gozar, que eu conheço aquilo a palmo... Tenho até um tio em Paris. (...) É um homem de barbas brancas... Era irmão de minha mãe, chama-se Guimarães. Mas em Paris chamam-lhe Mr. de Guimaran..." 
         (cap. VI, Os Maias)

       Agora o novo-riquismo e os vícios nacionais do primeiro quartel do século XXI são mais para o inglês (ora o "british" ora o do "uncle Sam"). Não é Paris, mas será a terra de Sua Majestade ou os "eStates".

    Há por aí uns Dâmasos mais anglicistas que também acham a sua língua um "chiqueiro", a troco de um "Xmas" iluminado com as cores de um internacionalismo balofo! Tudo tão inchado, enchido e postiço! (E logo eu, que tenho uma costela anglófona).

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Lá vão elas com a brisa do dia

        Grande é a vontade de voar...

     Tanto é o perigo dos dias que o desejo de fugir semelha ao das gaivotas: abandonar o pouso do descanso coletivo, levantar voo e rumar a um local que inspire e respire mais liberdade.

O levantar do voo da gaivota (Foto VO)

Da rocha ao ar e ao mar - I (Foto VO)

Da rocha ao ar e ao mar - II (Foto VO)

Da rocha ao ar e ao mar - III (Foto VO)

        Houve um tempo em que cantaram "Uma gaivota voava, voava, asas de vento, coração de mar". Hoje direi que muitas gaivotas voavam, voaram sem vento, mas ainda com mar. Como elas, não me sinto tão livre em tempos de máscara, desconfiança, desgaste, dúvida.
        Vendo a elevação e o arrojo das aves, relembro um poema de Pessoa:

Parceria no voo das gaivotas (Foto VO)
LEVE, BREVE, SUAVE

Leve, breve, suave,
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto, e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.

Nunca, nunca, em nada,
Raie a madrugada,
Ou esplenda o dia, ou doire no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.
 
 s. d.
in Poesias, Fernando Pessoa (nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor) 
Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). pp 95, [1ª publicação in Athena, nº 3. Lisboa: Dez. 1924]

Muitas gaivotas voavam, voavam (Foto VO)

Assistir ao voo das gaivotas (Foto VO)

        É leve, breve, suave não só o canto mas também o voo, inspirador para o caminho e a construção do sonho, da felicidade, da utopia, de um ideal libertador, quando a realidade nos enleia numa rede de medos, angústias e desesperança. É preciso conquistar a inconsciência libertadora de Pessoa.

        Era já tempo de cantar "Foram as gaivotas, deixando o canto e as asas da liberdade".

domingo, 8 de novembro de 2020

Na perceção dos dias...

       O que os nossos olhos nem sempre deixam ver.

       Uma amiga partilhou uma foto que bem reflete os tempos que vivemos: o que vemos?

O olhar para além da foto (gentilmente cedida pela VL)

        Vi a flor, que a corola, as pétalas não enganam. A amiga acrescentou que viu pólen a brotar. 
       Diria que vimos a vida. É disso de que precisamos: não ficar condicionados pelo tempo e ver, em vez da beleza, a pior das fealdades. Doenças e vírus entorpeçam-nos, matam o nosso olhar, fazendo esquecer recortes e cores; atingem-nos na nossa vulnerabilidade.
      Houve, porém, quem não deixasse de reconhecer o coronavírus, de tão exposto que está (estamos) ao perigo, aos "espinhos" dos tempos. 
         A perceção é tão difusa! Vemos o que queremos, o que sentimos, o que está e o que não está.
    Então lembrei-me de Gedeão (não sei se pela física ou pela química pressentidas) e da sua "Impressão Digital":
António Gedeão (1906-1997)
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não veem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns veem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns veem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
que ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

      Entre Sancho Pança e D. Quixote de La Mancha, tenho-os a ambos: vejo a flor sem deixar de admitir a associação ao mal vivido.

      Há, todavia, quem na sua arte de fotografia tenha olhos e a magia para nos deixar ver a poesia, a maravilha dos "gnomos e fadas". Obrigado, VL.

sábado, 7 de novembro de 2020

Depois da Liberdade, o Redentor...


      Apetece-me cantar o "That's the way / ha ha ha ha / I like it / ha ha ha ha..." (Ti ri ri ri ri ri ri ri ri).
      Tempo para dar o passo em frente: vamos lá, Brasil!

Liberdade e Cristo Redentor cumprindo a salvação!

     Tem que se aprender que a arrogância, a prepotência, a presunção, a boçalidade, o autoritarismo e a mentira não são virtudes nem exemplo para ninguém. Por mais que às vezes ganhem, precisam de saber que "não há mal que nunca acabe" (mesmo que o bem nem sempre dure).

      ... vamos tratar de um vizinho que gosta muito de imitar o mal.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Está quase...!

       A cada dia, à espera...

       Será hoje?! Seria uma boa forma de acabar a semana: pôr fim ao circo político que há muito dura.
      A cada dia a brincadeira já começa a custar. É bom que alguém lhe ponha um fim. Espero que seja um americano, um só que faça a diferença! (Se forem mais, melhor!)
      Um pequeno filme resume bem o que fazer: pôr fim ao gozo do "trumpalhão".

Um herói para tirar a bola ao "trumpalhão" (transferido do Facebook)

     É verdade que quem espera desespera, mas prefiro a versão positiva: quem espera sempre alcança (venha a liberdade de toda a trumpalhada a que temos assistimos de há quatro anos para cá).
       Prepare-se a máscara para afastar o vírus:

A boa ação da Liberdade - cartoon de Vasco Gargalo

      Vá lá! Só mais uma esticadinha e depois...

      Largar!

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Ainda as paronímias...

        Aquele momento em que se revê uma grande série e...

        Refiro-me a um vídeo do Game of Thrones (GOT), com um daqueles momentos em que, na sua ascensão ao poder, Daenerys decide reduzir cidades a pó, graças aos seus filhotes (dragões), sempre que alguém a enfrenta. Não há cidades nem exércitos que impeçam a Kahleesi de rumar a uma liderança conquistada passo a passo (ou melhor, fogo a fogo).
         É a vez de Qarth, protegida por um grupo de treze guardiães, um dos quais se apresenta, nos termos da legenda, da seguinte forma:

Captura de ecrã, a partir de vídeo partilhado no Facebook

       Cumprir um nome até seria bom, particularmente se for sinónimo de honra, virtude. Contudo, neste caso, convenhamos! 
      São tão comuns os erros pela paronímia (comprimento / cumprimento, recessão / receção, deferir / diferir, despensa / dispensa, precedente / procedente, retificar / ratificar) que este é só mais um. Claro que o nome só pode ser COMPRIDO e não "cumprido", já que nada tem a ver com o verbo cumprir. O nome é comprido ou extenso (e no caso da personagem, nada virtuoso).
         Mais uma legenda pelas ruas da amargura (da escrita).

        ... nem ao diabo lembra o que se lê.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Perceções do real na deambulação pelo litoral

       Entre o vento frio e o calor fotográfico.

       A paisagem pode já ser familiar pelo que as fotografias revelam, mas há cores, momentos, olhares que acabam por fazer a diferença.

Entrada para a praia ( Foto VO)

Banco mirando o pôr-do-sol (Foto VO)

Um jato sobrevoando a linha do horizonte (Foto VO)

        Ainda bem que há uma máquina sempre à mão, pronta a disparar por um instante.
     Sempre o céu, o mar, a praia que, abandonada, transmite uma serenidade que nem sempre a vida quotidiana dá.

         O crepúsculo é sempre aquele momento em que a frouxa claridade convida a passeio.


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Pequena narrativa do caminho

          O dia, não sendo bom, acabou um pouco melhor.

           Esteve um tempo chuvoso e inverniço para o outono angustiante que se vive.
       Ao final da tarde soprava um friozinho a pedir agasalho. Aqui e ali o céu cinzento deixava ver uns buracos, como se estivesse puído, por onde passava uma réstia de cor luminosa, em contraste com as densas e pesadas nuvens. O céu estava roto!

O céu está roto (Foto VO)

       Porém, de repente, este ganhou tonalidades douradas e as gaivotas decidiram pintá-lo de liberdade: abandonavam o areal da praia, planando e voando pelo litoral rumo ao norte.

O voo das gaivotas I (Foto VO)

O voo das gaivotas II (Foto VO)

        Anunciava-se a escuridão; mas, antes, houve ainda tempo para contemplar um rasgão de cores, sem tintas, paletas ou pincéis. Apenas reflexos de um sol que já não se via em bola de luz, mas entornado em manchas de água suspensas, coloridamente desbotadas ao longo do firmamento.

O rasgão colorido do céu (Foto VO)

        Após breves instantes, o percurso pelo passadiço mostrou-me também o verde relvado da terra. De um lado, o campo estável coberto de verdura; do outro, o algodão sujo do mar, ora sobrevoando o areal ora boiando numa extensão de água imensa e intensa. em contínuo vaivém; por cima, um fogo celeste em cinza bruma, a lembrar calor e a humedecer um corpo com neblina.

Terra, céu e mar (Foto VO)

        Na história do caminho, um banco de pedra ficou ao ar, entre a terra e o mar, à espera de alguém que nele se sentasse, para mirar a outonal paisagem marinha. Ninguém o usou, sempre num ir e vir que não era de ondas, mas de um corredor feito de vários passos, a aguardar por melhores dias.

Um banco no caminho (Foto VO)

         Finda a narrativa, um novo tempo se deseja para um espaço a ganhar a cor das estações e do olhar do caminhante.