quinta-feira, 4 de abril de 2013

Reflexões para / sobre uma formação acerca de exames

     Na passada segunda-feira, iniciou-se mais um ciclo (o terceiro) de formação online de professores  selecionados para corrigir exames nacionais.

    Praticamente ao fim de uma semana de trabalho, acompanhada de uma atividade suplementar para a mencionada formação (analisar e discutir exemplos de itens mal construídos, identificando-se os erros neles contemplados), muitos docentes de vários pontos do país tiveram de se pronunciar sobre a má construção de exemplos numa tipologia de itens (de completamento, resposta extensa / curta, verdadeiro / falso, associação / correspondência, escolha múltipla).
     Nos mais de cento e setenta comentários produzidos no meu círculo de formação, houve varia-díssimas contribuições para a deteção de pontos críticos na construção, na validade e na fiabilidade dos itens.
   Será sempre de reconhecer que este trabalho consciencializa quem habitualmente não reflete sobre este tipo de questões, sendo ainda de sublinhar claramente que erros de construção exercem influência direta na fiabilidade de instrumentos de avaliação: os alunos podem errar não porque não dominem conhecimentos (declarativos e/ou processuais), mas porque não percebem instruções (mal elaboradas) ou encontram alguma espécie de ruído nos dados propostos nos exercícios / nas tarefas. Podem mesmo não chegar a responder / resolver. 
   Atentar nestas áreas críticas é o que de mais válido, natural e profissional existe. Enquanto professores, o confronto com este tipo de problemas (pela positiva ou pela negativa) não é incomum e constitui uma oportunidade auto e heterossupervisiva relevante  no trabalho junto de alunos e/ou pares.
    Todavia (e pode ser apenas um pressuposto meu, errado, admito-o), não o consideraria no âmbito de uma formação destinada a um público específico como o desta formação: professores-corretores de exames nacionais. Por um lado, porque há uma exposição a exemplos que, por norma, não se deverão colocar (pela exigência colocada num processo e em equipas que constroem e/ou validam as provas de exames); por outro lado, porque o trabalho para que os professores-corretores são convocados não se centra a esse nível, mas sim no da correção, eventual recorreção e reavaliação que, sublinho também, é centralmente (re)definida na sua globalidade. Assim, questões de validade e fiabilidade na produção de provas de exame estão fora da alçada destes profissionais-formandos, na medida em que se espera receber provas bem construídas. Não acontecendo isto, mais problemática se torna uma prática já de si polémica.
      O conjunto de reflexões que aqui avanço (a propósito da tarefa levada a cabo nesta formação) não pretende, de nenhum modo, pôr em causa o sentido de uma área de intervenção fundamental no exercício de um professor. Deve é, porém, ser feito em termos de uma formação contínua alargada, independentemente do contexto de correção de exames nacionais. Diria até tratar-se de um domínio obrigatório na formação de todos os professores. A questão só é apenas mais delicada, e às vezes incompreensível, para o caso de um terceiro ano de formação de profissionais - querendo eu admitir que nele está envolvido um grupo com muitos anos de prática (no mínimo dos mínimos, três), inclusivamente de acompanhamento de exames. Houve, por certo, já muitas oportunidades para se discutir questões / problemas deste tipo. Quem não o terá feito tanto continua sem o fazer e a não receber o que já vai sendo familiar para os formandos em causa (como se pode verificar pela grande maioria de intervenções apresentadas).
     Os problemas colocados todos os anos na hora da correção de exames são de outra natureza; não desta. Bastaria refletir sobre relatórios produzidos na hora de aferição de critérios e/ou de verificação de resultados para se assim concluir.
    Caso se pretenda que todo este percurso formativo seja sobre avaliação (genericamente equacionada), tomo-o como não tendo sido isso o que foi anunciado no primeiro ano de formação, quando fui selecionado para ser o que se designava como técnico especializado na prática de correção e reapreciação de provas de exame nacional. Daí o meu pressuposto (que cada vez mais tomo como errado), no quarto parágrafo, e a minha insatisfação, ao ter que me pronunciar e ao me ver perante aspetos que ultrapassam tal enquadramento.
       Por fim, assumo-o ainda, todo este trabalho (a ser feito com alguma exigência ou esmero profissional) levanta constrangimentos de vária ordem com a prática letiva docente nas escolas (para não falar da não letiva destinada a dinâmicas de apoio discente e de coordenação de estruturas escolares que, muitas vezes, não podem ser interrompidas, a título de uma dispensa concedida à última), mais as solicitações e os requisitos de natureza diversa a ela associados. Diria mesmo tratar-se de uma sobrecarga de trabalho, ainda que me sinta muito motivado para a formação. Também é verdade que não tenho sentido esta última - muito concretamente o percurso formativo dos dois últimos anos - como determinante para melhor corrigir / reapreciar exames. Não fossem as equipas de amigos críticos e/ou de discussão nas escolas (construídas na lógica de resolução de pontos críticos), os problemas que tinha mantinha-os; as dúvidas que surgiam procurava abordá-las e/ou resolvê-las, sustentando-me/-as na formação académica e pedagógico-didática recebida noutras instâncias.

      Enfim, resta aguardar (porque há sempre essa nota de esperança, que, dizem, é a última a morrer) que as próximas tarefas / iniciativas sejam bem mais recompensadoras, para justificar a sobrecarga em que muitos professores se veem envolvidos; uma formação que não foi sentida como necessária ou que os tenha ajudado a ter melhor desempenho do que o já revelado enquanto corretores em anos transatos.

8 comentários:

  1. Subscrevo inteiramente o que aqui se diz. Se for preciso assinar, como se de petição se tratasse, conta comigo!

    Desculpa, Vítor, soube que no facebook, houve bastante adesão - para não dizer aderência! :-)-ao teu comentário, mas eu ainda não me rendi ao "ir à fonte virtual", que é como gosto de lhe chamar! Por isso, fica aqui a minha posição face ao que foi feito na tarefa 2.
    E parece-me que a saga continua!
    Com jeitinho, ainda vamos elaborar o enunciado de uma prova de exame.

    E agora vamos ao fim de semaninha!
    Que seja bom, soalheiro (parece que será frio) para todos nós!
    beijinho
    IA

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  2. É verdade. Ainda vou preso.
    Quanto ao teu "ainda vamos", está aí a tarefa 4. É mesmo isso. E mais uma tarefa que os professores-corretores não têm sob sua responsabilidade nos exames, mas enfim... Mais um trabalhinho para que, daqui a uns tempos, se diga que houve muita formação, muito trabalho do GAVE para envolver imensos professores num domínio de grande responsabilidade.

    Fiquemos pelo lado sério da questão: o fim de semana.
    Bom fim de semana.
    Beijinho.
    VO

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  3. 0. Epígrafes que valem por mil palavras.

    “A estupidez é o único pecado que existe.” – Oscar Wilde

    “ A inteligência é o contrário da estupidez, ou seja, da apatia na ordem do pensamento.” – Jean-Pierre Chevènement

    “ Os mestres burros apenas podem ensinar a zurrar. “ – Goya


    1. Em jeito de resposta ao que (tão) bem pensaste e escreveste, Vítor Oliveira.

    A “nossa” Isaura, VO, já me tinha falado da tua reflexão, mas só hoje a li.
    Maravilha! Estamos em perfeita sintonia, no que diz respeito à referida acção de formação.
    E, já agora, aqui que ninguém nos ouve, aqui vai, ipsis verbis, o que, há dias, escrevi como apresentação e primeira intervenção no forum.


    Apresentação (sucinta) e um desabafo.
    Boa tarde a todos!
    Chamo-me,há 55 anos, António A. Gomes da Costa. Ainda sou/estou professor. (Gosto tanto que até tenho duas escolas). Leciono 11º e 12º anos e sou também, pela enésima vez, diretor de turma. Não me ocorre mais nada de relevante: relevantes são os alunos que, mais do que eu, são vítimas dum sistema educativo permanentemente em experiências levadas a cabo pelos pedagogos, digo, pedabobos de serviço.
    No país inefável em que vivemos, onde se se cortam as árvores para medrarem as Relvas, pela calada da noite ou do dia, entram-me pela casa adentro (que generosos!) e, como sapientíssimos iluminados, dão-me, ou melhor , impõem-me uma ação de formação “online” (formação para me pôr na linha) que não solicitei e, por isso, e porque sou desalinhado, não quero.
    O que eu queria, sim, era deixar de estar (há anos) “congelado”; o que eu queria é que me devolvessem todo o dinheiro (e a saúde) que (há anos) me vêm arrogantemente roubando; o que eu queria é que acabasse neste país a promoção da mediocridade; o que eu queria é que os tecnocratas e burocratas do Gave e do ministério, para justificarem a sua existência parda e alheamento da realidade, deixassem de “brincar” com as pessoas e com às ações de (de)formação “online”; o que eu queria era ter (mais) tempo para preparar devidamente as aulas, corrigir todos os testes e trabalhos dos meus alunos e, claro, prepará-los para os exames e não estar em fóruns virtuais.
    O que eu queria era tempo para as pessoas e coisas que são verdadeiramente importantes!
    Como estas ações de formação “online” não são para mim verdadeiramente importantes e são um fardo e uma obrigação, por uma questão de consciência e de coerência e, sobretudo, de respeito por mim mesmo, não lhes darei grande atenção, fazendo apenas o que puder e quando puder.
    Obviamente arcarei (como sempre) com as consequências.
    Mas, confesso, apenas sinto cansaço e não medo.
    Basta! Não podem decidir tudo por mim! Não quero! Não deixo!
    “Não me macem por amor de Deus! (…) Não me peguem no braço! “
    Eu não queria, mas será que estou “sozinho”?
    O que eu queria, sim, o que eu queria é que houvesse mais gente a pensar (e dizer) o mesmo!
    Post scriptum: estas duras palavras, como dito no título, são um “desabafo” e não são para a formadora nem para os colegas, que também não as mereciam.
    Mas eu também não merecia tê-las proferido.

    António Costa

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    1. Meu caro António,

      Não estás sozinho, não, nem na expressão nem na saturação; nem nesta sensação de nos vermos envolvidos numa inutilidade que só alguém de gabinete acha que é a melhor e a mais necessária coisa do mundo.
      E, agora, no curso de mais uma tarefa, com alguns colegas a solicitarem algum tempo mais para construírem uns itens (de novo, uma atividade para que nunca os professores-corretores são chamados a fazer), vem a resposta perentória e negativa (por comprometer toda a dinâmica subsequente). Grandioso argumento! Estes senhores do GAVE devem pensar que, primeiro, as aulas se dão por inspiração e não é preciso prepará-las, ainda que a um sábado ou a um domingo; segundo, que o direito ao fim de semana é coisa do passado e que é muito relativo, podendo ser ocupado com mais umas tarefinhas sem relação direta com o propósito inicial da formação; terceiro, que ler dois /três textos e construir uns exercícios (mais os cenários e critérios de correção) é coisa para fazer do pé para a mão, sem necessidade de pensar muito. Acrescento um quarto: acham que não temos mais nada, em absoluto, para fazer nas escolas (é só entrar e sair da sala de aula), além de dar aulas.
      Assim também desabafei.
      Assim vou cumprindo um ritmo num trabalho que só por muito dele gostar não é tão insuportável quanto o estão a tornar.
      Belíssima e adequadíssima recolha de citações a tua.
      Abraço e bom domingo.

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  4. Em jeito de manifesto anti-estupidez

    ( ou, se preferirem, antiestupidez )

    Meus caros, Isaura e Vitor, contem também comigo!
    Mas não para fazer exames!
    “Eles” devem pensar que somos estólidos!
    Julgam, por ablepsia mental, descarada e propositadamente (sabe-se lá com que propósito…) que somos néscios e que engolimos tudo!
    Com estas ações, no fundo, tentam dificultar/boicotar o trabalho honesto e responsável dos professores que é, essencialmente, estudar. investigar, consolidar conhecimentos, preparar e dar (bem) aulas.
    Bem, há professores que precisam de formação... Mas não esta, nestes moldes!
    Eu sei-o. Eles sabem-no.
    Como em todas as profissões, a classe docente não é exceção: uns trabalham, outros não!
    Parafraseando o spot publicitário: “eles” falam, falam, falam e não os vemos a fazer nada!” Claro que ficamos chateados!
    As palavras são fortes, mas são a “arma” da nossa diferença e, sobretudo, indignação.
    Meus caros Vítor Oliveira e Isaura Afonseca, tantas coisas que nos unem!
    Porque acreditamos ser possível construir uma nova escola, de saber e cultura(s), competente, dinâmica, exigente e solidária; porque quem cala consente; porque quem não se sente não é filho de boa gente, acho bem que registemos este "manifesto" pelo direito à verdade e, repetimos, pelo direito à indignação.
    É urgente pôr cobro a esta situação.
    É urgente "acabar" com esta gente indigente!
    Terminamos, invocando o “ Manifesto” do Almada:
    Morra a estupidez! Morra! Pim!

    António Costa

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  5. Associo-me ao 'manifesto', num tema de grande centralidade!
    JMA

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