sábado, 26 de setembro de 2015

Não me peçam...

    Até podia citar o poema de Saramago "Não me peçam razões, que não as tenho"; e, na verdade, não as tenho mesmo.

    A razão do pedido 'Não me peçam...' é forte, por haver razões que a própria razão desconhece. Muito longe da qualidade linguística desejável, deparo com um cartaz arrasador, na cor e no erro:


   É de louvar o agradecimento, mas não me peçam para ser compreenSivo, quando não é compreenSível não saber escrever 'compreenSão'. Bastaria pensar nas palavras destacadas, e noutras da mesma família (compreenSibilidade, compreenSiva, compreenSivamente), que o erro ficaria resolvido. Um só 'S' faz a virtude, a correção. O que está a mais resulta em excesso (este, sim, com duplo grafema).

     Há momentos em que sou definitivamente dominado pela incompreenSão.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Quem ensina deve saber falar e escrever

     Não sendo o caso,  caem os créditos.

    Em tempos de facilitismo em várias áreas (nomeadamente no ensino da língua) não será de espantar que grasse o erro por aí, nomeadamente pelas redes sociais. O Facebook não escapa a esta generalização, quando se lê o seguinte:

Reprodução da publicidade que circula no Facebook
     O curioso é que isto surja numa publicidade que, pretensamente, quer ensinar algo a alguém. Mais valia, primeiro, aprender a pronominalizar e, só depois, anunciar o desejado. Assim não sendo, não há lucro que decorra de tão pouco crédito.
      Já agora, dizem as regras gramaticais que uma construção pronominal, com verbo da primeira conjugação no infinitivo ([ar]), deixa cair o 'r', acentua-se a vogal temática (no caso, o 'a') e o pronome adquire a forma 'lo'. Portanto, "Nós iremos ensiná-lo a aumentar o seu lucro". Isto sim, representaria um lucro significativo para quem quisesse receber uma lição morfossintática com bom exemplo ortográfico.

      Depois disto, ainda haverá quem se registe em lições de vídeo (com acento, sim!) grátis? Do barato e do grátis até o pobre desconfia. E é bom que desconfie da XForex Portuguese, por exemplo, que de bom "portuguese" tem muito pouco.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

A tradição já não é o que era

     A criatividade publicitária, por vezes, ganha contornos muito inusitados.

    Circula pelo Facebook uma foto relativa a um cartaz promocional de produtos alimentícios à venda num rede de supermercados. Ei-la (a fotografia, claro, com a devida apresentação da empresa):


     Isto de chamar ao mamífero lagomorfo uma ave é indubitavelmente coisa de somenos importância para o comum dos clientes, habituado que está a ver o coelho junto dos patos, dos frangos ou das codornizes na secção de talho ou nas arcas frigoríficas. 
     O que interessa é vender as aves frescas, e com desconto. Colocar a mera hipótese de os coelhos serem considerados no grupo de "todas as aves frescas" (ou melhor, de não o serem, destacada a exceção) só deve justificar-se pelo simples facto de..., sei lá..., não serem frescos (sendo definitivamente, para o autor do cartaz, aves, conforme se sugere no uso do quantificador 'todas')! 

   O Continente tem deveras produtos fantásticos: coelhinhos voadores muito valiosos, e talvez mortos ou fora de prazo. Ainda assim, sem direito a promoções nem descontos. Santa ignorância, a grassar na publicidade comercial!