domingo, 24 de maio de 2015

Assim o disse o poeta...

    Antes que me acusem de ser malcriado, registo que as palavras são do poeta.

    Há sábias palavras em tudo isto, nomeadamente quando um ator as cita no momento em que recebe um galardão para o distinguir como o melhor entre os seus pares. Refiro-me a Diogo Infante, que hoje, num canal televisivo, foi agraciado com o reconhecimento público - e merecido -, na Gala dos Globos de Ouro da SIC (às vezes, no meio de tanta fantasia, alguma coisa sai certa), pela sua representação da "Ode Marítima".
   Em tempos de cansaço e desgaste (recordo Campos e "sobretudo cansaço"), ainda há força para reagir da forma linguisticamente mais rude que a vida também tem:

Foto com montagem de alguns versos de Álvaro de Campos

    Versos da "Ode Marítima", para o mar que esta vida é - por vezes, agreste, desumana e feita de tudo o que acaba por a negar (uma verdadeira selvajaria).

    Por isso, pode afirmar-se que a poesia chega a ser mais sincera do que aquilo que a vida nos (não) dá. E o teatro (ou a quinta arte, a da representação) não lhe fica atrás.

sábado, 23 de maio de 2015

Sem comentários (quando todos eles deviam ser mais do que justificáveis)!

      Mais uma prova da qualidade dos serviços centrais de educação.

     Quando a todo o tempo se critica aqueles que falam mal e, consequentemente, o refletem da pior forma na escrita, eis que o péssimo exemplo vem de cima: num questionário  do Observatório de Trajetos de Estudantes do Ensino Secundário (OTES), elaborado pela Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).

Foto adaptada a partir da divulgada por Jorge Sintra a 22 de maio
(in https://www.facebook.com/photo.php?fbid=862202800531569&set=a.622798887805296.1073741825.100002255728468&type=1&theater)

      Um documento destinado a ser aplicado a todos os alunos que completam o 12° ano, segundo o que foi dado a conhecer na plataforma online desde o início do corrente mês.
      Exposição ao erro: confundir a conjugação verbal da segunda pessoa do plural (vós frequentastes) com a do singular (tu frequentaste), no pretérito perfeito, é falha comum que muitos professores de Português contrariam, mas que os serviços educativos não deixam de promover (pela própria ausência de controlo e/ou validação dos escritos que torna públicos).

      É difícil remar contra uma maré que, não sendo exemplar, se impõe e faz dos que a contrariam uma "rāra avis" - tão rara que chega quase a ser desautorizada ou, no mínimo, relativizada por quem a deveria forçosamente legitimar. E não se pode dizer que seja um exemplo sem história, tanto para docentes (com direito a reincidência inglória) como para discentes (no caso deste apontamento).

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Há cento e sete anos...

      Ainda há dois dias vi esta cara (que não me é estranha).

    Aquando da visita ao Palácio de Mafra com alunos do 12º ano, pude (re)ver o retrato do nosso último rei: D. Manuel II, o Desventuroso. No cognome e no reinado, em tudo foi diferente daquele outro que a História tomou como o Magnânimo e um dos mais generosos monarcas. E se este último foi o que mandou erigir o convento de Mafra, o primeiro acabou por aqui viver uma das últimas noites do seu reinado.
    D. Manuel II (Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Grabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha) foi o segundo filho do rei D. Carlos e de D. Amélia de Orleães. Nascido em Lisboa, em 15 de Novembro de 1889, foi aclamado rei ao sexto dia do mês de maio, corria o ano de 1908, sete dias após o regicídio que vitimara o pai e o irmão (o príncipe Luís Filipe).
   Pouco mais de dois anos resistiu a monarquia, apesar da popularidade que D. Manuel ainda conseguiu granjear, pela simpatia natural que tinha e/ou pela tragédia por que a família real havia passado.
    Exilou-se em Inglaterra (Fulwell House / Manor, Twickenham, nos arredores de Londres), ainda hoje com marcas da presença real portuguesa (o rei, a rainha-mãe D. Amélia e a esposa D. Augusta Vitória):

Minidocumentário sobre o último rei português.

   Sem sucessão, o rei sem trono morreu em Inglaterra, tendo as suas exéquias ocorrido em Westminster Abbey. O corpo regressaria a Portugal, com o governo de Salazar a autorizar a sepultura em Lisboa, no Panteão dos Braganças, no Mosteiro de São Vicente de Fora. Não tendo sido duque de Bragança (por não ser o filho primogénito), lá se encontra como o último representante da casa real nacional.

    Com a Implantação da República (5 de outubro de 1910), o último rei português saiu do Palácio das Necessidades, foi para Mafra e daí para a Ericeira, onde acabou por embarcar para o exílio. Aí tornou-se um bibliófilo assumido na organização dos livros portugueses mais tradicionais (nomeadamente, os exemplares dos livros nacionais mais antigos do século XVI).

terça-feira, 5 de maio de 2015

Uma letra de canção muito útil

    Na sequência da comemoração do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura, há dois dias, fica para memória futura a canção da Rádio Comercial.

   Numa versão da cantiga dos D.A.M.A ("Às vezes") e com a colaboração de Vasco Palmeirim, chegou aos ouvintes "Às Vezes (Escuto e Observo Erros de Português)" - uma ideia criativa para lembrar que não se deve maltratar o Português. Assim se ouviu uma letra útil em registo paródico naquele que foi o dia promovido pela Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) para a celebração do idioma que a une e a justifica:

Um segmento do que se pode ver / ouvir em https://youtu.be/65Eysv1vR4Q

     E porque a rir se dizem grandes verdades, fica uma combinação interessante do "top" dos erros que grassam por aí na escrita e na fala do idioma de Camões. Muitos são os exemplos comuns às chamadas de atenção formuladas nas aulas de Português.
    Outros casos poderiam ter sido considerados. Por exemplo, o verbo 'METER' em tudo quanto é sítio, sem que tal seja possível. Lembro-me também, por exemplo, de ainda há poucos dias ter alertado, por mais de uma vez e para grande espanto de alguns alunos, que a expressão "ter A VER com" nada tem a ver com o verbo HAVER. Normalmente, a primeira aparece mal grafada, até por os falantes tenderem a produzir mal a respetiva realização sonora (abrindo o som [a], o que não deveria acontecer).

     Seja esta letra de canção decorada como muitas outras e haverá a esperança de que alguns destes erros não sejam mais cometidos.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Está grave, mas é agudo (I)

     Uma questão grave: confundir o grave com o agudo.

   Dizem as regras de acentuação gráfica que se coloca acento agudo nas palavras oxítonas (ou agudas) terminadas em a(s), e(s), em ou ens, o(s). Eis senão quando encontro a palavra 'café' (logo esta) tão mal grafada:


     Com isto só me apetece dizer que é, no mínimo, suspeita a qualidade do produto. E, da "máquina", mesmo na forma reduzida, suspeito que haja qualquer coisa a menos.

     Jogando com o habitual slogan publicitário ("Worten sempre!"), faz sentido dizer: não "worten" a cometer o erro.