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terça-feira, 15 de outubro de 2024

Canhão... apontado ao erro.

       Guerra declarada, para que se escreva bem.

      Casos em que a fonética não permite percecionar bem a segmentação da palavra / expressão não permitem validar o desconhecimento de como se deve processar a escrita.
        A sistemática dificuldade em distinguir ' afim' de 'a fim (de)' é questão paradigmática. Entre o que é 'afim' (semelhante ou com afinidade) e 'a fim de' (expressão / conector de finalidade, sinónimo de 'com o objetivo / propósito de') nada há de parecido (ou afim) senão a sonoridade (uma aproximação homofónica que não resulta em homografia). 
      A fim de (ou para) se escrever bem, reconheça-se a segmentação gráfica de 'a fim', bem separada, nem sempre reconhecida na fluência da realização oral da língua. Fica ainda a nota seguinte: o adjetivo 'afim' tipicamente seleciona a preposição 'a' (ser afim a / idêntico a / semelhante a), enquanto a expressão conectiva integra 'de' (a fim de / com a finalidade de / com o propósito de / com o objetivo de). 
     Outro exemplo crítico é o exemplificado no excerto de um aviso de condomínio, no qual se anuncia um novo canhão na porta de entrada e, consequentemente, se informa a entrega das chaves novas (que, coincidentemente, também são novas chaves, porque diferentes):

Um negrito mais separado do que devia; um 'a partir' tão junto que até irrita (Foto VO)

        A confusão entre 'aparte' (fazer um comentário, um aparte) e 'à parte' (colocar alguém ou algo à parte, separado) não chegava! Com o que se dá a ler, junta-se o 'a partir de' (a indicar o ponto de que se parte, o ponto inicial de um estado ou de uma situação).
        Ler o anúncio logo de manhã, fez-me colocar imediatamente uma barra oblíqua entre os termos da expressão, separando o que ninguém (nem Deus) podia ter unido:

Qual é a diferença, qual é ela? Não é só a cor, não! 

       Um canhão novo, chaves novas (não completamente igual a 'novas chaves', mas, enfim...) e um erro que importa evitar, a bem da escrita com correção.

       Não fosse eu ficar à porta, apetecia-me não ir ao escritório onde alguém escreveu o que não devia.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Porque nem tudo é claro, coerente, evidente

    Quando tanto se fala da necessidade de coerência...

    Perceber que a vida tem contrastes é bem visível: mostram-no a noite e o dia, a tempestade e a bonança, o ódio e o amor, a inércia e a ação, o negro e o branco.
   Concluir que muitos deles se complementam é entender que, com antónimos, nem tudo se exclui definitivamente - é o que se pode inferir de expressões como "pôr o preto no branco", onde os termos antónimos convergem para uma noção, um sentido de clareza, explicitação e formalização de situações. 
    Não só a antonímia, enquanto processo de relação lexical, contribui para níveis de  coerência; também o conhecimento enciclopédico, apre(e)ndido e/ou vivido.
      Hoje, foi-me dado a ver que as pedras dão cor, flor, vida natural, ser vivo.

Pedras que dão vida no varandim de um hospital (Foto VO)

    Por estranho que pareça, não se trata de afirmação incoerente. Por literal que não seja, é possível ver o afirmado, pelos vistos mais e melhor do que alguns homens que, precisando de coração para viver, o negam para com os seus pares. Assim o ditam as guerras, os conflitos que por aí grassam no mundo e muitos teimam em não ver o mal que trazem e fazem à Humanidade. 

    ... e o mundo nos dá a ver que as contradições e os contrários não espelham necessariamente incompatibilidades.

quinta-feira, 9 de março de 2023

Avaliações (algo destrutivas)!

      Escolher bem ou mal as palavras ou expressões pode condicionar qualquer avaliação.

    Pense-se num(a) aluno(a) a quem se avalia comportamentos na base do que ele(a) aprecia fazer, quando, onde e com quem. Leia-se a lista das ações / atividades identificadas e...

Um registo avaliativo no mínimo duvidoso, a bem do respeito e cuidado a ter com os livros

       ..., no sexto cenário (a contar de cima), encontra-se o que, incompreensivelmente, possa ser feito "sempre que possível", seja em casa seja lá em que sítio for, muito menos em família: "desfolhar livros". Só numa cultura educativa de defesa da destruição do livro!
         É por isso que, quando alguém diz que desfolhou o jornal, imagino este último em cima da mesa, com as folhas soltas, rasgadas, destruídas (não havia necessidade para tal, por pior que fosse a imagem ou o texto noticioso)! Uma desgraça!

         Não distinguir "folhear" (passar de uma folha a outra, no sucessivo virar de páginas) de "desfolhar" (arrancar, tirar as folhas) é desconhecer que não se trata um livro como uma espiga de milho.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Em vésperas do dia da liberdade

      Hoje foi dia para todos se mostrarem mais bonitos.

     Entre os que hesitaram e os que assumiram a ação libertadora, ficou a nota de que, após deliberação governamental e homologação presidencial, a partir de hoje, já não é obrigatório o uso de máscara nos estabelecimentos de ensino (https://dre.pt/dre/detalhe/decreto-lei/30-e-2022-182432341), segundo o decreto-lei publicado ontem em Diário da República.
    Desta forma, ficaram atestadas condições para se dispensar o uso de máscara no interior dos espaços escolares, não obstante a atenção e os cuidados que ainda interessa garantir face à persistência de algumas condições de infeção (agora consideradas reguláveis, bem diferentes das que vitimizaram muitos daqueles que sofreram o que alguém chamou de "uma gripezinha", em tempos que não o era).
    Têm sido crescentes os sinais de libertação, felizmente! O de hoje foi mais um para a ansiada retoma de uma normalidade a todo o tempo sujeita a avaliação e com a concessão geral que deve pautar comportamentos. Dois anos saturantes, limitadores, em que só os olhos revelavam emoções, passaram a dar lugar a rostos descobertos, ao reconhecimento do que Camões outrora chamou 'gesto' (doce e humilde). Que, hoje, os gestos (temporal e semanticamente distintos) sejam comedidos, para que os rostos se mantenham literalmente "desmascarados".
       Assim se recriou Banksy, a partir do que hoje se vive:

Banksy recriado (do coração desejado à máscara mal-amada)

      Deixá-la voar, essa máscara que não trouxe cor à vida - garantiu-a, é certo, salvaguardando todos de situações bem mais críticas. Que não seja ela o coração original que a menina parece querer agarrar. Bom seria que não retrocedêssemos! Saibamos reconquistar o bem perdido, sem comprometer cuidados que ainda se impõem.

      Possa ser este o passo, o gesto que nos traga alguma sanidade, com liberdade aliada a responsabilidade. Assim o rosto se mostre livre.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Acerca de 'mentora(n)dos'

      Eu que nem sou mentor, lá vou abordar o tópico.

      Chegada a questão, feita alguma pesquisa, cá segue a resposta:

      Q: Olá Vítor,
         Preciso de ajuda no seguinte: tenho pesquisado e não consigo perceber se aquele que é alvo de um processo de mentoria deve ser referido como o "mentorado" ou "mentorando". Qual das duas é correta? Ou são ambas? Ou nenhuma? Obrigada!

Mentor, mentorado ou mentorando... fica a parceria e a colaboração.

      R: Olá. Na verdade, ambas estão corretas e dicionarizadas.
       Por norma, numa análise semântica estreita, aquele que se encontra integrado ou se encontra em acompanhamento de mentoria (em curso) designa-se 'mentorando' (por analogia com mestrando, que se encontra a realizar o mestrado, e doutorando, a realizar o doutoramento); o 'mentorado' é identificado como aquele que é ou foi objeto de mentoria, sem que esteja propriamente em questão se está no seio do processo em si mesmo (pode encontrar-se apenas indicado para tal e ainda não estar envolvido / implicado no processo em causa, ou pode ser mencionado como aquele que esteve envolvido em mentoria, mas já não se encontra nessa condição).
       Vulgarmente, os dois termos são tomados como equivalentes; porém, o primeiro é o mais adequado para descrever a condição do processo de mentoria em curso.

      Não sei se chegarei a mentor ou a mentorado; por ora, vou mentorando (daí que esteja mais para este último do que para o anterior). Quanto ao primeiro,... muito caminho a fazer.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Dúvidas na planificação da gramática

       Tanta coisa há a resolver que, às vezes, escapa a todos o essencial.

     Perguntavam-me há dias algo sobre a planificação de conteúdos gramaticais nas "Aprendizagens Essenciais" do Português, no nível secundário:

      Q: Olá, Vítor! O complemento do advérbio faz parte das Aprendizagens Essenciais (AE)? E o valor temporal? Agradecia que me esclarecesses, por favor, pois achava que não.

    R: Olá. A leitura das Aprendizagens Essenciais, quanto ao domínio da gramática, no ensino do Português do nível secundário, propõe algumas especificidades para cada um dos anos de escolaridade (10º, 11º e 12º anos). Fazendo uma abordagem comparativa dos conteúdos propostos, é possível verificar o conjunto de dados seguinte:

Leitura comparativa do domínio gramatical nas Aprendizagens Essenciais de Português (Secundário)

      Este é o "programa" gramatical referenciado para os três anos de escolaridade do secundário (10º à esquerda; 11º ao meio; 12º à direita).
      Ora, quando no ano terminal deste nível de ensino se lê "Realizar análise sintática com explicitação de funções sintáticas internas à frase, ao grupo verbal, ao grupo nominal, ao grupo adjetival e ao grupo adverbial", uma função sintática interna ao grupo adverbial é precisamente a do complemento do advérbio. Pode mesmo indicar-se que há uma progressão, complexificação neste ponto do domínio, pois, no 11º ano, interessa "Sistematizar o conhecimento dos diferentes constituintes da frase (grupo verbal, grupo nominal, grupo adjetival, grupo preposicional, grupo adverbial) e das funções sintáticas internas à frase" (ao nível superior da frase, portanto), enquanto no 12º o foco se situa ao nível interno dos grupos, para além do da frase. De referir, ainda, que já no 10º ano se prevê o trabalho do complemento do nome e do adjetivo (isto é, funções sintáticas internas ao grupo nominal e adjetival, respetivamente).
        Quanto ao valor temporal (depois da abordagem dos valores modais, no 10º ano, e dos aspetuais no 12º), não se poderá dizer que desapareceu do "programa" (se confrontarmos com o que acontecia nas Metas de Aprendizagem). Trata-se de um conteúdo gramatical que acabará por, implicadamente, ter de ser abordado a propósito dos processos de coesão textual contemplados no 11º e 12º anos (nomeadamente, quando se tem de utilizar / abordar / explicitar a correlação de tempos na construção de enunciados e a localização das situações nestes referidas).
        Uma leitura comparativa mais completa das Aprendizagens Essenciais, iniciadas há dois anos no 10º ano de escolaridade e alargadas ao 12º no presente ano letivo, pode ser encontrada aqui, de acordo com os domínios de aprendizagem considerados no ensino secundário.

       Hoje em dia, a preocupação é capacitar os professores de competências digitais (até se responde a um inquérito que visa diagnosticar os níveis de competência docente nesse domínio). Anuncia-se formação futura para tal, como prioritária; esquece-se que pouco disso vale, quando a formação didática e específica é tida como algo mais do que adquirido, do tipo "o ar que respiramos".

sábado, 16 de janeiro de 2021

O poder da polissemia e da argumentação

       Nunca a polissemia foi tão argumentativa na mensagem institucional.

       Em tempos com números tão assustadores (nos infetados e nas mortes), há palavras que marcam a sua polissemia, na conjugação com a força impactante da imagem:

A disjunção (ou) não pode ser escolha - tem de ser apelo à vida.

     Proveniente do latim (patiens, -entis), o termo 'paciente' admite realização tanto nominal como adjetival. Seja para significar o que se conforma ou resigna, o que tem paciência, o que tranquila e serenamente aguarda, o que persiste, seja para designar o que padece ou se submete a tratamento médico, bom seria que não significasse aquele que vai sofrer a (pena de) morte.
       Há na publicação institucional uma disjunção ('ou') que não pode dar lugar a escolha ou hipótese. Argumentativamente só pode resultar no convencimento, na persuasão, no apelo à vida.

      Por ora,  a realidade é dura. Fica a esperança de que os tempos venham a ser outros, mais tranquilos, mais serenos, sem a doença nem a morte. A impaciência e o receio andam por aí, mas o valor da vida tem de prevalecer. Fique(m) em casa.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Onde está o Ernesto?

        O tempo anda muito depressivo!

        Depois de ter sido anunciada a Dora (que me fez lembrar a letra de uma canção, em versão feminina: Não sejas má p'ra mim!) para o fim de semana passado, eis que chega, agora, a depressão Ernesto, com chuva, neve, vento e marés altas.
        Isto de as tempestades e as depressões terem nomes próprios tem a sua piada (estou à espera de uma com o meu nome)! Nem por isso é a graça dos efeitos que provocam.
         Talvez por isso, hoje, o céu estava um autêntico borrão; ou melhor, manchado de alguns borrões bem coloridos:

Borrões celestes (Foto VO)

         E lá estava ele, o sol, entre os escuros, a espreitar, como que à procura do Ernesto:

À espreita entre escuros - onde anda o Ernesto? (Foto VO)

         Lá virão mais uns dias inverniços, invernengos ou inverneiros, mesmo quando estamos no (final do) outono. Poderia escrever 'invernosos', mas apeteceu-me variar. É favor não reagir mal aos meus adjetivos, que hoje ouvi o nosso Presidente da República anunciar a sua recandidatura, para não "instabilizar" a situação nacional (pelo menos, os meus adjetivos estão dicionarizados)! 

         Deve ser do inverno que aí vem.

domingo, 11 de outubro de 2020

Percebe-se...

       Tudo passa, de facto, a fazer sentido.

    Ainda que público (circulando pelo Facebook), nada como ver como andam as comunicações oficiais.
       A causa é já por si mais do que preocupante, mas há quem a queira tornar mais trágica ainda:

Nota muito desinformativa!

     Percebe-se por que razão o número de infetados Covid-19 está em crescendo: há quem queira IR DE ENCONTRO AO objetivo da segurança, quando o que devia fazer era IR AO ENCONTRO DE. No primeiro caso vai contra (esbarra, mesmo); no segundo é favorável ao objetivo (mais do que consensual). Bem o contrário!
       Erro tão comum quanto desejavelmente evitável.

       Uma simples troca de preposições / contração faz a diferença no significado. E, pelos vistos, há quem não o saiba. Enfim! Há notas muito desinformativas.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Coisas do oral (ou de homofonias nos discursos)

      Porque nem sempre o que se diz é o imediatamente entendido.

     Aquele momento em que o enfermeiro pergunta quando aconteceu a última refeição e, com a minha resposta, ele põe aquele ar de quem começa a fazer contas.
    O momento do diálogo aconteceu cerca das 9 horas da manhã. Respondi que tinha bebido o último copo de água à hora e meia da manhã. O olhar e o ato de registo parados eram a razão do cálculo a processar-se: "Ora... seis, sete horas, certo? Foi quando bebeu."
   Nego, mas insisto: "À hora e meia, mesmo. A partir daí não ingeri mais nada".
    Veio, então, o "Ah! Ótimo. Foi à hora e meia do relógio".
    Confirmei. Agora, sim, o tempo certo! Não tinha bebido água há hora e meia, mas sim à hora e meia
   Entre a expressão de duração / intervalo de tempo e a da hora precisa do relógio, a diferença é substancial. Que o digam o enfermeiro e a anestesista, mais o paciente; na oralidade, a distinção não se faz. 

     Valha a ortografia para marcar diferenças semânticas e sentidos pragmáticos que viabilizem uma intervenção cirúrgica. Um dia para a história (não da linguística, mas da pessoa operada).

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Ainda a polissemia de 'quadros'

     Entre as mais de quinze aceções dicionarizadas, 'quadro' tem sentido polissémico.

     É com esse jogo lexical que se constrói o cartoon seguinte:

Cartoon - Condições de empregabilidade pouco sustentadas

     Há o quadro do grupo de trabalhadores de uma empresa; há o da pintura, imagem que se exibe no museu. Ambos decorrem de uma só entrada no dicionário; de uma só origem etimológica.

     Não se augura grande futuro no quadro empresarial, a julgar pela Teresinha de "pernas para o ar".

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Ao que chega diminuir - tudo reduzido a diminutivo!

    Isto de ver o programa "Cuidado com a Língua" (na RTP2, numa reposição do que já foi tratado na RTP1 em 2017) antes do jantar é hora crítica (para não dizer do assunto tratado).

    Quando se procura exemplificar a formação do diminutivo com uma sistematização que muito tem que se lhe diga (e ainda por cima acompanhada de uma voz-off a clarificar - será? - o sistematizado), tudo se perde.

Imagem do episódio hoje repetido na RTP2 (o 12º da temporada 9, de 2017)

   Primeiro de tudo, ver esta sistematização como a explicação da formação do "diminutivo" (conforme o proposto no programa) é, no mínimo, inusitado, para não dizer incorreto. Assumido como resultado do processo de derivação (por sufixação) ou do de redução / contração, é demasiado estranho ver o grau diminutivo explicado neste segundo processo como se de uma abreviação se tratasse. 
      Depois, ouve-se no programa que o diminutivo serve para traduzir pequenez, apoucamento, diminuição de tamanho ou valor, além de sugerir valorização afetiva. Aceita-se isto, em termos genéricos; contudo, ver as reduções ou contrações nominais da direita como exemplificativas dessas leituras não é, por certo, nem linear nem aceitável: 'Nando' tem como diminutivo 'Nandinho' e 'Zé', 'Zezinho' (e, por que razão não, 'Gabizinha' para Gabi?).
     Confundir abreviação com 'diminutivo' é risível, tanto quanto ver na diminuição da forma do nome (por truncação ou por amálgama) um sinónimo do grau, quanto ao sentido.
       Por fim, exemplificar a sufixação com '-inho' através da palavra 'mãezinha' é desconhecer, por um lado, que 'inho(a)' e 'zinho(a)' são sufixos distintos (o primeiro empregue em bases radicais; o segundo, em bases palavras); por outro, que 'ito(a)' e 'zito(a)' têm mais um sentido avaliativo do que propriamente diminutivo.
    Assim sendo, um programa com o título que tem requer mais "cuidadinho" (um diminutivo irónico) com a língua - tal e qual como o "Bom Português" que, por vezes, também deixa muito a desejar

      Uma base de consulta linguística mais credível não ficaria mal para um programa como este. É um serviço de interesse público (para o qual todos os telespectadores pagam)!

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Modalidades

     O tempo escasseia, mas lá vai a resposta.

     Um pedido que não podia ficar sem resposta.

     Q: Bem que preciso da tua opinião. Achas que "Fomos autorizados a ver o espólio de Pessoa" é um bom exemplo para a modalidade deôntica (com sentido de permissão)? Tenho sérias dúvidas , mas é o que aparece numa sistematização do manual. Partilha lá comigo essa sapiência! Obrigada.

      R: A sapiência anda fraca e cansada, mas vamos lá a isso. 
    Tens sérias dúvidas e, no caso, tenho a certeza (mais uma modalidade - a epistémica, para qualquer das condições).
    Devo referir que a modalidade deôntica (por alguns linguistas denominada de intersujeitos) é aquela que está presente em enunciados que demonstram a relação do locutor com o seu interlocutor, com o primeiro a expressar sobre o tu / vós uma orientação, um conselho, um pedido, uma questão, uma ordem. Conforme a força e o poder representados, pode dizer-se que o valor modal se situa, neste tipo, entre a permissão e a obrigação.
      Ora, o exemplo proposto dá conta de um locutor que não age sobre o destinatário (nada lhe pede, pergunta ou permite; nada o obriga a fazer; nada o autoriza a nada). Assim sendo, não se trata de modalidade deôntica, por certo. O enunciado traduz uma situação que o eu / nós partilha ou dá a conhecer. Esta intencionalidade de quem fala / escreve não se confunde com o propósito de agir ou requerer algo do destinatário.
       Sem nada que mais o caracterize, vejo o exemplo como a expressão do locutor ou num registo de lamento (que pode ser associado à modalidade apreciativa, se acompanhada por uma entoação devida) ou numa partilha de informação / conhecimento (portanto, modalidade epistémica do certo).

      Em suma, não é um bom exemplo para ilustrar o tipo de modalidade sistematizado no manual nem para os alunos conseguirem classificar (dada a ausência de indicadores que permitam identificar a intenção de comunicação).

domingo, 28 de outubro de 2018

Anedota com muita linguística

      Entre a flexão, o traço semântico e os subentendidos pragmáticos.

      Assim que ouvi a anedota, pensei que a linguística explica tudo neste diálogo que parece existir entre um(a) professor(a) e um aluno chamado Manuel (mas que poderia também ter outro nome qualquer, nomeadamente o espertalhão do Zezinho):

      - Manuel , diga o presente do indicativo do verbo caminhar.
      - Eu caminho... tu caminhas... ele caminha...
      - Mais depressa!
      - Nós corremos, vós correis, eles correm!

      A flexão verbal em tempo, modo, pessoa e número é um dos dados de análise regular em termos morfológicos. Quanto aos traços sémicos [+rápido] e [+movimento] conjugados, dão por certo para reformular a palavra de partida e chegar a um outro verbo.
  Quanto à pragmática, ainda ali pela interpretação coerente e motivada pelo(s) subentendido(s) implicado(s) no "Mais depressa!". E caminhar mais depressa pode ser perfeitamente correr.
   
       Aluno inteligente!

segunda-feira, 26 de março de 2018

Agente ou não, faça-se a distinção

      Um perfeito exemplo de como a sintaxe requer a semântica para uma melhor classificação.

       Assim me chegou, sem mais, a questão:

     Q: Olá. Na frase ‘As tarefas foram distribuídas pelos alunos’, ‘pelos alunos’ é o complemento agente da passiva, certo?

      R: Talvez sim, talvez não. Na ausência de todo um contexto que permita enquadrar a produção da frase, antecipo dois cenários: um, com os alunos a serem os agentes e responsáveis pela distribuição; outro, com os alunos a serem beneficiários ou destinatários do ato de distribuição.
     Com o primeiro cenário, temos a frase proposta como a construção passiva obtida a partir de uma frase ativa de base (‘Os alunos distribuíram as tarefas’), na qual ‘os alunos’ seriam o sujeito-agente da ação de distribuir. Neste contexto, após as transformações típicas da frase ativa para passiva, o sujeito da ativa dá lugar, na voz passiva, ao complemento agente da passiva.
     O segundo cenário perspetiva a frase com significados e papéis semânticos distintos, mesmo que a frase não deixe de ser apresentada como uma construção passiva. Pode esta última ser a configuração final de uma frase ativa do tipo ‘O professor distribuiu as tarefas pelos alunos’, a qual, uma vez transformada na passiva, apresenta uma sequência com o complemento agente da passiva omisso (‘pelo professor’), apenas com o sujeito (‘As tarefas’) e o predicado (‘foram distribuídas pelos alunos’) – este último com o auxiliar ‘ser’ (da passiva), mais o particípio passado do verbo principal (‘distribuídas’) e o respetivo complemento oblíquo.
    Dependendo da interpretação do primeiro e do segundo cenários, temos naturalmente funções sintáticas distintas. O certo é que, para existir um complemento agente da passiva, a frase tem de se encontrar na voz passiva e o agente deve ser o que pratica a ação ou o processo configurada(o) no verbo principal (no caso, ‘distribuir’) daquela que seria a frase original da voz ativa.

      Um caso, portanto, em que sintaxe e semântica têm de estar de mãos dadas para desambiguizar sentidos e funções.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Qual é o aspeto?

      Não se trata de uma questão de moda nem de querer saber o estado de qualquer coisa!

     Pode, aliás, ser o estado ou o evento na situação traduzida num enunciado, atendendo a vários elementos linguísticos neste último presentes.
       É precisamente sobre isto que vem a questão seguinte:

     Q: Olá, Vítor. Posso dizer que na frase "Os alunos espirraram na aula" o aspeto é perfetivo porque o verbo se encontra no pretérito perfeito? Quando puderes, confirma-me, por favor.

      R: Olá. Lamento, mas não posso confirmar. Infirmo, mesmo.
      Creio haver um conjunto de pressupostos que precisa de ser reformulado: o da relação pretérito perfeito e valor perfetivo (pois o pretérito perfeito nem sempre configura o aspeto perfetivo nem o aspeto perfetivo se reduz ao uso do pretérito perfeito); o da associação direta entre tempo e aspeto verbal (uma vez que os valores aspetuais não apresentam linearidade ou implicação direta com valores temporais).
       A questão do aspeto, enquanto categoria gramatical que fornece informações acerca da estrutura temporal interna de uma dada situação, implica a consideração de uma combinatória de dados lexicais e gramaticais, os quais se revelam interatuantes na construção dos próprios enunciados.

 Sistematização proposta em Com Textos 11 - Edições ASA, 2011, pág. 185

      Para começar, interessa verificar que o verbo utilizado (espirrar), em termos lexicais e aspetuais, pertence a uma situação eventiva (dinâmica) distinta dos estados (não dinâmicos). Dentro dos eventos, 'espirrar' corresponde a um ponto (ou sucessão deles) que não admite uma situação resultativa final. Neste sentido, já não há razão para se falar de perfetividade.
       O facto de o verbo se encontrar no pretérito perfeito permite a localização da situação no tempo (passado face ao momento de fala) e a indicação de que esta terminou. Para apresentar valor aspetual perfetivo teria de esse mesmo enunciado dar lugar à perspetivação de um estado final consequente (verificável com o teste linguístico seguinte: 'Os alunos resolveram um teste' > o teste ficou / está resolvido; 'O atleta português ganhou a prova' > a prova ficou / está ganha). Ora, não é o que sucede com o exemplo proposto na questão ('Os alunos espirraram na aula' > *Os alunos ficaram / estão espirrados na aula). 
       O pretérito perfeito só tem valor aspetual perfetivo nas frases que admitem a construção de um resultado, ou seja, com verbos associados a culminações (duração muito breve, momentânea ou instantânea) ou a processos culminados (duração mais ou menos longa, com faseamentos intermédios) - a título de exemplo, para as primeiras, 'Os trabalhadores desmaiaram com o calor' (> Os trabalhadores ficaram / estão desmaiados com o calor); para os segundos, 'Pessoa construiu uma obra fantástica' (> a obra fantástica ficou / está construída). 
     A propósito de, por um lado, o pretérito perfeito não estar associado exclusivamente ao valor perfetivo e, por outro, não ser o único tempo a representar o valor perfetivo, considerem-se os seguintes enunciados (na combinatória das formas verbais e das expressões adverbiais utilizadas):

         * "Os alunos leram os textos todos durante duas horas
(pretérito perfeito com valor imperfetivo, dado que, durante duas horas, os livros não estiveram / ficaram lidos)

         * "Os alunos irão ler os textos todos na próxima semana
(futuro com valor perfetivo, dado que, na próxima semana, todos os livros irão estar lidos)

       Enquanto valores aspetuais básicos, o perfetivo e o imperfetivo são perspetivações internas de situações que estão independentes do valor temporal nela representados - o primeiro admitindo resultado consequente; o segundo, não.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Combinações aspetuais

       Há que combinar bem, a bem do aspeto.

       A pergunta surge, quando a crença apontava para uma só resposta. E ambas estão corretas.

      Q: No enunciado "Temos vindo regularmente a discutir a questão com grupos profissionais de diferentes pontos do país", qual é o valor aspetual configurado?  O imperfetivo ou o habitual?

        R: Não se trata de uma questão de 'ou'. Ambos são admissíveis como resposta correta.
         O contraste perfetivo / imperfetivo relaciona-se com a consideração possível / impossível de um estado consequente, respetivamente, para uma dada situação. Trata-se de uma oposição básica em termos aspetuais, à qual se ajustam outros valores (acrescentados).
     Ora, a situação indicada não admite o estado consequente ou resultativo (> a questão está discutida), pelo que o valor imperfetivo se impõe. A combinatória com o valor (acrescentado) da iteratividade é evidente pelo recurso aos auxiliares 'ter' e 'vir', perspetivando-se um intervalo de tempo alargado com repetição múltipla da situação (discutir a questão) sem delimitação de ocorrências entre a fase inicial e a do ponto de chegada. Uma repetição com a duração do que possa tornar-se hábito até ao momento do ato de fala é, naturalmente, mais evidente quando se focam o advérbio 'regularmente' e a própria leitura de quantificação associada ao grupo nominal expandido "grupos profissionais de diferentes pontos do país". No fundo, a habitualidade resulta da própria possibilidade de manipular o enunciado proposto a ponto de se poder ler 'Temos vindo regularmente a discutir a questão sempre que nos juntamos a grupos profissionais de diferentes pontos do país".
      Conclui-se, portanto, que a imperfetividade concorre e é complementada pelos valores de iteratividade e habitualidade, no caso do enunciado em análise, pelo que não há exclusão dos termos / valores na análise. 

     A consideração do valor aspetual de um enunciado é, por certo, um dado complexo, até pela leitura composicional e de multifocalização que possa ser atribuída (por exemplo, a nível lexical do verbo usado na frase; a nível da frase e das expressões adverbiais usadas; a nível da progressão do próprio texto). À medida que se progride no âmbito do foco, vão sendo introduzidas alterações ao significado de base.
        

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Um tempo de contrastes, se de tempo for...

      No meio de tanta coisa, nem sei por onde começar.

      Esta é a reação que revelo quando há muitos pontos e tantas outras "pontas" para pegar. 
      Tudo começa quando a pergunta surge:

      Q: Colega, gostaria que me desse a sua opinião sobre a frase "Enquanto que o luar é dissuasor para Miguel Forjaz, Matilde de Melo vê-o como sinal de liberdade": a primeira oração tem o valor de uma adverbial temporal?

   
    R: Vejo dificuldade no valor temporal, na medida em que a frase proposta reflete um contraste de entendimentos relativamente ao significado do 'luar' para duas personagens de Felizmente Há Luar! (de Sttau Monteiro).
      Ver 'enquanto' como articulador / conector temporal implicaria a aceitação da substituição dele por 'ao mesmo tempo que / durante o tempo em que' (*Ao mesmo tempo / Durante o tempo em que o luar é dissuasor para Miguel Forjaz, Matilde de Melo vê-o como sinal de liberdade), o que não se prefigura como frase aceitável, até por se estar a referir intervalos de tempo bem distintos, no que à obra mencionada diz respeito.
      O valor de temporalidade é bem evidente em sequências do tipo:
    . Enquanto esperava, lembrava-se dos momentos que haviam passado juntos ou Ouve música enquanto estuda, demonstrativas de intervalos de tempos simultâneos e/ou coincidentes para 'esperar'-'lembrar-se' e 'ouvir'-'estudar' (processos associados a um mesmo sujeito sintático e a uma simultaneidade temporal);
    . Enquanto a crise se agudizava, o desemprego disparou, exemplificativa de como uma situação pontual ('disparar') ocorre no interior de um intervalo de tempo mais lato ('agudizar');
    . Não saio da tua beira enquanto não melhorares, evidenciadora de uma situação durativa sem limites definidos para o futuro e com o conector tomado como sinónimo da expressão 'durante o tempo em que'. Neste último exemplo, é também significativo o valor de condição implicado no enunciado (cf. 'Não saio da tua beira se não melhorares').

       "Enquanto" pode apresentar valor de comparação / contraste acumulado com o de temporalidade, por exemplo, em:

    . Enquanto ela falava ao telefone, eu preparava o jantar, com os sujeitos sintáticos das orações (subordinada / subordinante) a operarem ações distintas ('falar'-'preparar') no mesmo intervalo de tempo.

      Todavia, não é impossível considerar apenas o de contraste:
      . Enquanto D. João IV apoiava Pre. António Vieira, D. Afonso VI não o via com bons olhos.

       Um último dado prende-se com o conector usado na frase proposta: "enquanto que". Seja por analogia com "ao passo que" (no contraste) ou "ao mesmo tempo que" (na temporalidade) seja por interferência do francês ("tandis que" / "pendant que"), está usada uma forma por muitos considerada inadequada à realização padronizada do português, mais conforme à construção "Enquanto o luar é dissuasor para Miguel Forjaz, Matilde de Melo vê-o como sinal de esperança". É certo, porém, que há alguns poucos estudos que vão apontando para o uso deste articulador, encarado no seu valor comparativo / contrastivo (e não temporal), ainda que seja reduzido o número de gramáticas que o consideram - lembro-me apenas de uma, a Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian, de 2013 - vol. II, pág. 2006. Mais uma razão para a leitura contrastiva das orações e do significado do articulador / conector.

      No que toca ao valor, pode dizer-se que 'enquanto' é muito polivalente, pelo «potencial de significado» (na expressão do linguista Michael Halliday) implicado ou decorrente de significados ajustados aos contextos e ao objectivo comunicativo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Canibalismo ou ambiguidade?!

    Isto de comer tem muito que se lhe diga.

   É verdade que o verbo comer admite vários significados (dos mais literais e denotativos aos mais figurados e conotativos). Contudo, há que ter cuidado quando se leva à letra o que é dado a ler:

Uma mensagem, mesmo assim, antropofágica (a propósito de comer pessoas)

    Escrita está a proibição de ingestão de duas pessoas "no mesmo prato". Conclusão: é permitido comer duas pessoas, cada uma num prato! A ser assim, trata-se de um restaurante com prática de canibalismo pela certa.
    Estou a ouvir alguns alunos meus quando, ao escreverem qualquer coisa com ambiguidades deste tipo, me dizem "Oh, o professor percebe!"
     Claro que percebo o sentido de um aviso que está completamente desajustado na interpretação feita e evidentemente marcado na incorreção sintática cometida. Se a intenção é uma, a escrita deve ir ao encontro dela. O problema é que isso não acontece e uma espécie de ambiguidade sintático-semântica se instala (mais não digo, porque, necessariamente, desconheço restaurantes, botecos ou tascas, que sejam, a servir pessoas como refeição). Isto de confundir o agente (quem come) com o objeto (o que é comido) é desconhecer os papéis semânticos implicados na construção da frase e construir universos de mundo, no mínimo, inusitados.
     Se não é permitido que duas pessoas comam no / pelo mesmo prato, escreva-se isso e não outra coisa. Mesmo recordando Padre António Vieira e o Sermão de Santo António, os homens que aí se comem (uns aos outros, tal como os peixes repreendidos) são imagem de uma antropofagia social criticável (típica da corrupção que, na Terra, persiste). Convenhamos que exercer influência, tirar proveito, usar, enganar podem ser situações associadas a 'comer' (conotativamente), mas sem faca e garfo; sem espaço de restauração.

     É bom que a direção do estabelecimento saiba exprimir o que quer no aviso, para que surta o efeito desejável (não vá aparecer um par de canibais a pedir duas pessoas em pratos separados, para dar cumprimento ao aviso ou à chamada de atenção).

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Nem tudo o que parece é!

     Um caso para considerar na sua excecionalidade.

     Assim se entende o caso proposto na questão.

   Q: Professor, posso dar conta da produtividade do sufixo '-oso' na língua portuguesa com os exemplos 'feioso' e 'rancoroso'? Obrigada pela ajuda.

     R: É verdade que ambos os exemplos indicados correspondem a palavras derivadas por sufixação e podem ser, nesse capítulo, considerados bons. 
      Contudo, a questão da produtividade é bem mais evidente com 'rancoroso', 'jeitoso', delicioso', 'famoso', 'melodioso', 'harmonioso', por exemplo, do que com 'feioso'. Este último termo é excecional, pela pontualidade e assistematicidade do processo formativo: trata-se de um adjetivo formado a partir de um outro adjetivo (feioso < feio), traduzindo alguma avaliação / intensidade de 'feio' . Ora, não se pode dizer que haja regularidade nesta formação. Estou a lembrar-me de mais dois casos (belicoso < bélico, sonoroso < sonoro) e alguns outros, poucos, existirão. 
       Bem mais sistemáticos são os adjetivos construídos a partir de nomes (denominais), que permitem obter 'amoroso < amor', 'brioso < brio', 'carinhoso < carinho', 'chuvoso < chuva', 'deleitoso < deleite', 'guloso < gula', 'harmonioso < harmonia', 'invernoso < inverno', 'numeroso < número', 'oleoso < óleo', 'perigoso < perigo', 'preguiçoso < preguiça', 'respeitoso < respeito', 'saboroso < sabor', 'talentoso < talento', 'venenoso < veneno', 'vicioso < vício', 'zeloso < zelo', entre muitos outros.
      Assim se conclui que a formação de adjetivos com o sufixo '-oso', derivados de nomes, é um processo mais típico, regular, sistemático e produtivo.

      Faria apenas lembrar, por fim, que a paráfrase 'que tem NOME' dos últimos exemplos é  distinta da associada a '-oso' de 'feioso' (* que tem feio), sendo neste último caso preferível dizer-se 'que é muito / pouco ADJETIVO' - casos distintos de realização do sufixo, portanto, com enquadramentos semânticos diversos, para lá da natureza produtiva (ou não) de cada um.