segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Enquadrar a questão...

    A dúvida precisa de ser enquadrada.

   Tudo a ver com 'quadro(s)', claro está.

  Q: A propósito do estudo das relações entre palavras, em concreto a homonímia, posso exemplificar com a palavra 'quadro'?

     R: A consulta de um dicionário apresenta uma resposta negativa a esta questão. As várias aceções listadas para o termo dependem de uma só entrada etimológica. A palavra está relacionada com a origem latina 'quadrum', independentemente dos diferentes significados associados.
       Por esta razão, trata-se de um bom exemplo de polissemia e não de homonímia, na medida em que esta última se traduz na convergência gráfica para significados marcadamente distintos, decorrentes de étimos latinos dissemelhantes. Daí os homónimos serem apresentados com entradas diferentes no dicionário, representativas de origens etimológicas distintas.


      Desde a forma de quadrilátero à obra de arte; desde os elementos de uma empresa (quadro de efetivos) ao conjunto de botões que compõe um painel de funcionamento de um sistema (quadro elétrico); desde a visão ou perceção de um grupo ou estado de coisas (quadro dantesco) à subdivisão de um texto dramático (quadro cénico); desde a estrutura de um velocípede (quadro de bicicleta) à exposição gráfica de um conjunto de dados (quadro sinótico); desde o conjunto de sintomas de um paciente (quadro clínico) ao funcionário qualificado (um alto quadro), é o campo semântico da palavra 'quadro' que está em questão, numa conjugação de traços ou zonas de significado aproximado / comum.

      Neste sentido, 'quadro' é uma palavra fortemente polissémica, sustentada num só étimo latino. Deixe-se a homonímia para casos como rio (< 'rivum', curso de água) / rio (< 'rideo', forma verbal de 'rir'); livro (< 'liber', obra publicada) / (< 'libero', forma do verbo 'livrar'); dó (< italiano 'do', nota musical) / dó (< latim 'dolus', para dor, luto), só para mencionar alguns entre muitos pares de palavras com origens bem diferenciadas.

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