No domínio da lexicologia, há questões que se cruzam com processos (irregulares) de formação de palavras.
A dúvida colocada centra-se em dois desses processos produtivos na construção neológica do léxico.
Q: Vítor, quando puderes, esclarece-me, por favor, a seguinte dúvida: considerando as definições (do Dicionário Terminológico) para acrónimo ("Palavra formada através da junção de letras ou sílabas iniciais de um grupo de palavras, que se pronuncia como uma palavra só, respeitando, na generalidade, a estrutura silábica da língua") e amálgama ("1. Processo irregular de formação de palavras que consiste na criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras; 2. Palavra resultante do processo de amálgama"), em qual das duas se insere a palavra DECO? E, já agora, uma breve explicação. Muito obrigada.
R: DECO é um exemplo de acrónimo, atendendo à recuperação das sílabas e/ou letras iniciais da expressão "DEfesa do COnsumidor".
No caso das amálgamas, a consciência dos constituintes dos novos termos formados é bem mais ampla: as partes das palavras constituintes não se reduzem a letras ou a uma sílaba inicial (podem ser iniciais ou finais), para além de estarem implicados processos diversos de fusão / sobreposição / interseção / reconstrução / supressão simultânea de segmentos.
A título de exemplo, nas amálgamas podem ocorrer processos como:
a) sobreposição de um denominador comum de segmentos - ex.: perFUME+FUMEgante > perFUMEgante;
b) junção da redução de duas ou mais palavras, compondo novo termo (sem ou com sobreposição dos termos reduzidos) - ex.: CRÉDIto para teleFONE > Credifone; MOTor hoTEL > Motel
c) junção, com inversão, da redução de uma palavra (com múltiplas sílabas) face a uma segunda palavra - ex.: 'taxa [E][CO]lógica' > Ecotaxa; buro[CRA][TAS] [EU][RO]peus > Eurocratas
d) fusão, numa expressão, de sílabas iniciais com finais, com supressão simultânea de outros segmentos - ex.: SEnhOR(a) douTOR(A) > Setor(a); DICIOnário e encicloPÉDIA > Diciopédia
e) eliminação, por sobreposição, de letras / sons - ex.: Não e sIM > Nim.
Em suma, na diferenciação dos dois processos, interessará sublinhar que, no caso dos acrónimos, não se pode propriamente falar de interseções, misturas, sobreposições, o que faz da amálgama um processo distinto, que alguns estudiosos também designam de 'contaminação' na formação neológica de uma língua (como, por exemplo, o caso do inglês quando formou o termo 'smog' < SMOke+fOG).
Espero ter sido esclarecedor.
Um caso de estudo, por certo, para marcar como a formação de palavras é uma área de trabalho no entrecruzamento de várias perspetivas de análise da língua (não apenas da morfologia).
A dúvida colocada centra-se em dois desses processos produtivos na construção neológica do léxico.
Q: Vítor, quando puderes, esclarece-me, por favor, a seguinte dúvida: considerando as definições (do Dicionário Terminológico) para acrónimo ("Palavra formada através da junção de letras ou sílabas iniciais de um grupo de palavras, que se pronuncia como uma palavra só, respeitando, na generalidade, a estrutura silábica da língua") e amálgama ("1. Processo irregular de formação de palavras que consiste na criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras; 2. Palavra resultante do processo de amálgama"), em qual das duas se insere a palavra DECO? E, já agora, uma breve explicação. Muito obrigada.
R: DECO é um exemplo de acrónimo, atendendo à recuperação das sílabas e/ou letras iniciais da expressão "DEfesa do COnsumidor".
No caso das amálgamas, a consciência dos constituintes dos novos termos formados é bem mais ampla: as partes das palavras constituintes não se reduzem a letras ou a uma sílaba inicial (podem ser iniciais ou finais), para além de estarem implicados processos diversos de fusão / sobreposição / interseção / reconstrução / supressão simultânea de segmentos.
A título de exemplo, nas amálgamas podem ocorrer processos como:
a) sobreposição de um denominador comum de segmentos - ex.: perFUME+FUMEgante > perFUMEgante;
b) junção da redução de duas ou mais palavras, compondo novo termo (sem ou com sobreposição dos termos reduzidos) - ex.: CRÉDIto para teleFONE > Credifone; MOTor hoTEL > Motel
c) junção, com inversão, da redução de uma palavra (com múltiplas sílabas) face a uma segunda palavra - ex.: 'taxa [E][CO]lógica' > Ecotaxa; buro[CRA][TAS] [EU][RO]peus > Eurocratas
d) fusão, numa expressão, de sílabas iniciais com finais, com supressão simultânea de outros segmentos - ex.: SEnhOR(a) douTOR(A) > Setor(a); DICIOnário e encicloPÉDIA > Diciopédia
e) eliminação, por sobreposição, de letras / sons - ex.: Não e sIM > Nim.
Em suma, na diferenciação dos dois processos, interessará sublinhar que, no caso dos acrónimos, não se pode propriamente falar de interseções, misturas, sobreposições, o que faz da amálgama um processo distinto, que alguns estudiosos também designam de 'contaminação' na formação neológica de uma língua (como, por exemplo, o caso do inglês quando formou o termo 'smog' < SMOke+fOG).
Espero ter sido esclarecedor.
Um caso de estudo, por certo, para marcar como a formação de palavras é uma área de trabalho no entrecruzamento de várias perspetivas de análise da língua (não apenas da morfologia).
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