Um caso para considerar na sua excecionalidade.
Assim se entende o caso proposto na questão.
Q: Professor, posso dar conta da produtividade do sufixo '-oso' na língua portuguesa com os exemplos 'feioso' e 'rancoroso'? Obrigada pela ajuda.
R: É verdade que ambos os exemplos indicados correspondem a palavras derivadas por sufixação e podem ser, nesse capítulo, considerados bons.
Contudo, a questão da produtividade é bem mais evidente com 'rancoroso', 'jeitoso', delicioso', 'famoso', 'melodioso', 'harmonioso', por exemplo, do que com 'feioso'. Este último termo é excecional, pela pontualidade e assistematicidade do processo formativo: trata-se de um adjetivo formado a partir de um outro adjetivo (feioso < feio), traduzindo alguma avaliação / intensidade de 'feio' . Ora, não se pode dizer que haja regularidade nesta formação. Estou a lembrar-me de mais dois casos (belicoso < bélico, sonoroso < sonoro) e alguns outros, poucos, existirão.
Bem mais sistemáticos são os adjetivos construídos a partir de nomes (denominais), que permitem obter 'amoroso < amor', 'brioso < brio', 'carinhoso < carinho', 'chuvoso < chuva', 'deleitoso < deleite', 'guloso < gula', 'harmonioso < harmonia', 'invernoso < inverno', 'numeroso < número', 'oleoso < óleo', 'perigoso < perigo', 'preguiçoso < preguiça', 'respeitoso < respeito', 'saboroso < sabor', 'talentoso < talento', 'venenoso < veneno', 'vicioso < vício', 'zeloso < zelo', entre muitos outros.
Assim se conclui que a formação de adjetivos com o sufixo '-oso', derivados de nomes, é um processo mais típico, regular, sistemático e produtivo.
Faria apenas lembrar, por fim, que a paráfrase 'que tem NOME' dos últimos exemplos é distinta da associada a '-oso' de 'feioso' (* que tem feio), sendo neste último caso preferível dizer-se 'que é muito / pouco ADJETIVO' - casos distintos de realização do sufixo, portanto, com enquadramentos semânticos diversos, para lá da natureza produtiva (ou não) de cada um.
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