São tão cultural e experiencialmente relativos quanto, às vezes, se desdizerem no que significam.
Que o diga o "Quem espera...", a dar tanto para o "... sempre alcança" (na visão positiva) como para o "... desespera" (na versão negativa).
Hoje apetece-me desconstruir o que a tradição impôs. Houve já quem dissesse / escrevesse que "Deus escreve torto em / por linhas direitas" (que heresia, santo Deus!) ou que "As mulheres não se medem aos palmos" (a bem de que não seja sempre o homem a representar a humanidade). Eu, por exemplo, já escrevi que "Mais vale mal acompanhado" (por razões óbvias)!
Um pouco à semelhança de Chico Buarque, talvez o "Bom Conselho" esteja em ir contra a corrente que a nada conduz:
Chico Buarque, "Bom Conselho (1972)
BOM CONSELHO
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir, que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo, Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Inconformismo, cansaço, desilusão, alguma noção de perda de tempo (que não traz felicidade a ninguém) e alguma desistência, para ainda poder agir em função daquilo em que se acredita - e não do que a "ditadura da democracia" quer. Eis alguns motivos para que o silêncio se instale (ainda que este último às vezes signifique mais do que muitos discursos ou palavras, tornados ocos). Por isso é que (perdoe-me o graffiter!) tenho de reformular o provérbio:
Graffiti nas ruas de Alfama (Lisboa)
Quem cala não deixa de querer mudar (e, por isso, nem sempre consente). E, assim, se vai construindo uma revolução silenciosa, nem que seja a de recriar a própria língua (afastando-a da sua zona de conforto ou de rotineira comunicação).
Tenho dito, escrito e, quiçá, passado das palavras aos atos (silenciosos, antes que sejam silenciados)!
Sem comentários:
Enviar um comentário