Depois de tanto procurar, encontra-se o que não se quer e o que não podia ser melhor.
Procurando Caeiro, circulam pelas redes sociais e no mundo virtual materiais que tanto têm de bom como de péssimo. Já nem falo da ridícula questão de se assumir que Caeiro é um pastor ou camponês, quando se deve tomá-lo como bucólico e pensador, por mais que este, por princípio, procure recusar o pensamento abstrato (por isso, a todo o momento concretizado).
Pior ainda é dizer-se (e fazer-se ouvir) que recusa a metáfora. Se estivesse numa realização cinematográfica, diria "Corta!", para lembrar que "O rebanho é os meus pensamentos" (in poema IX de "O Guardador de Rebanhos"), afinal, o que o torna um guardador de rebanhos (diga-se, pensador) ou alguém que tem a alma como a de um pastor (também eu, por vezes, tenho a alma como a de um santo, ainda que, realmente, esteja mais para pecador ou para diabo - isto de ser como ou ter como não é o mesmo que ser ou ter, por certo).
No fundo, mais metáfora não existe do que aquela que faz de Caeiro o mestre, o pensador, o centro da criação pessoana que, quando surge, é encarado como o resultado de um "dia triunfal" (segundo carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro).
No fundo, mais metáfora não existe do que aquela que faz de Caeiro o mestre, o pensador, o centro da criação pessoana que, quando surge, é encarado como o resultado de um "dia triunfal" (segundo carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro).
Mais: afirmar que Caeiro não recorre ao adjetivo é não o ler, em toda uma produção literária que sublinha que "O que é preciso é ser-se natural e calmo" ou que "o poente é belo e é bela a noite" (in poema XXI de "O Guardador de Rebanhos"); que "Sou diferente" (in "Dizes-me: tu és mais alguma cousa" de "Poemas Inconjuntos"); que "fecho os olhos quentes" e que "Sei a verdade e sou feliz" (in poema IX de "O Guardador de Rebanhos"); que "Aquela senhora tem um piano / Que é agradável..." (in poema XI de "O Guardador de Rebanhos") - alguns versos apenas do heterónimo para contraditar o que nunca deveria ser dito / ouvido. Assim se revê a verdade de tanto material educativo, validado por tanto saber superior que a todo o momento cai. E bastava tão somente falar em "O Pastor amoroso" para duvidar da grande verdade! Quase apetece fazer uma tese com uma tipologia dos adjetivos a que Caeiro recorre, para sustentar, ainda mais, o que já aqui se assume nos sublinhados.
E, assim, cresce o pecador e o criminoso que há em mim: cortando o inútil e combinando o válido com o que é bem feito, chega-se a algo que pode ser visto e ouvido para conhecer melhor. Um material novo, a partir do já feito e que, a bem da verdade literária, tinha de ser expurgado do que não interessa para ninguém.
Como o objetivo não é obter lucro nem comercializar, fica um material para futuro (acompanhado de uma ficha de trabalho / um teste a propósito), sempre que Caeiro for para ensinar:
Composição de materiais relativos ao estudo de Caeiro, o Mestre pessoano
Imagens, pinturas, vídeos, versos, declamação (muito interessante de Pedro Lamares) - uma multiplicidade de suportes para fazer ver e ouvir o Mestre, que tanto adjetiva como metaforiza nessa intermediação que a língua (faz) representa(r) com o pensamento e com a realidade, por mais ou menos literário (ou poético) que seja.
E tudo isto é Caeiro na suposta simplicidade que o caracteriza, num tempo-natureza a todo o instante novo por mais cíclico e repetitivo que possa revelar-se.
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