Convenhamos que a relação da poesia com a música é mais do que evidente...
... e um nome pode ser a ponte para mais um exemplo dessa evidência: Alexander Search. Podia ser Fernando Pessoa, sim, enquanto um dos seus heterónimos; é-o, de facto, na rádio, não numa simples declamação poética do texto, mas numa cantiga baseada no poema heteronímico.
Trata-se do projeto musical de uma nova banda de rock eletrónico, con-cebida por Júlio Resende e onde figu-ram Salvador Sobral (hoje mais conheci-do enquanto vence-dor do último festi-val da Eurovisão), como o vocalista Benjamin Cymbra, para além de Augustus Search (composição, piano e teclados), Marvel K. (guitarra), Sgt. William Byng (eletrónica) e Mr. Tagus (bateria).
Inspirado na poesia pessoana escrita em inglês aquando da permanência do poeta na África do Sul (Durban) nos tempos de adolescência, Alexander Search do século XXI canta o que Alexandre Search dos inícios do século XX escreveu.
Ainda em tempos de sol, à espera da chuva que teima em não vir (a lembrar Caeiro e os versos "Nem tudo é dias de sol / E a chuva, quando falta muito, pede-se" - in Poema XXI de "O Guardador de Rebanhos"), chegam aos nossos ouvidos as palavras duplamente (re)criadas por Search (sem ter de procurar muito pela escrita):
... e um nome pode ser a ponte para mais um exemplo dessa evidência: Alexander Search. Podia ser Fernando Pessoa, sim, enquanto um dos seus heterónimos; é-o, de facto, na rádio, não numa simples declamação poética do texto, mas numa cantiga baseada no poema heteronímico.
Trata-se do projeto musical de uma nova banda de rock eletrónico, con-cebida por Júlio Resende e onde figu-ram Salvador Sobral (hoje mais conheci-do enquanto vence-dor do último festi-val da Eurovisão), como o vocalista Benjamin Cymbra, para além de Augustus Search (composição, piano e teclados), Marvel K. (guitarra), Sgt. William Byng (eletrónica) e Mr. Tagus (bateria).
Inspirado na poesia pessoana escrita em inglês aquando da permanência do poeta na África do Sul (Durban) nos tempos de adolescência, Alexander Search do século XXI canta o que Alexandre Search dos inícios do século XX escreveu.
Ainda em tempos de sol, à espera da chuva que teima em não vir (a lembrar Caeiro e os versos "Nem tudo é dias de sol / E a chuva, quando falta muito, pede-se" - in Poema XXI de "O Guardador de Rebanhos"), chegam aos nossos ouvidos as palavras duplamente (re)criadas por Search (sem ter de procurar muito pela escrita):
Vídeo de apresentação de "A Day of Sun", de Alexander Search
A DAY OF SUN
I love the things that children love
Yet with a comprehension deep
That lifts my pining soul above
Those in which life as yet doth sleep.
All things that simple are and bright,
Unnoticed unto keen‑worn wit,
With a child's natural delight
That makes me proudly weep at it.
[I love the sun with personal glee,
The air as if I could embrace
Its wideness with my soul and be
A drunkard by expense of gaze.]
I love the heavens with a joy
That makes me wonder at my soul,
It is a pleasure nought can cloy,
A thrilling I cannot control.
So stretched out here let me lie
Before the sun that soaks me up,
And let me gloriously die
Drinking too deep of living's cup;
Be swallowed of the sun and spread
Over the infinite expanse,
Dissolved, like a drop of dew dead
Lost in a super‑normal trance;
[Lost in impersonal consciousness
And mingling in all life become
A selfless part of Force and Stress
And have a universal home;]
And in a strange way undefined
Lose in the one and living Whole
The limit that I call my mind,
The bounded thing I call my soul.
17-03-1908
in Poesia Inglesa, Fernando Pessoa
(organização e tradução de
Luísa Freire, prefácio de Teresa Rita Lopes)
Lisboa, Livros Horizonte, 1995, p. 172
Segundo a biografia criada pelo grupo musical, o novo
Alexander Search é um(a) (P/)pessoa coletiva com muito da mensagem que o autor
de Orpheu propõe nos seus textos:
"Alexander Search é uma banda de língua inglesa
que cresceu na África do Sul, mas que está radicada na Europa, mais
concretamente Portugal, “paraíso à beira mar plantado” como dizia o seu maior
poeta, Fernando Pessoa. A sua música mistura influências da indie-pop, música
electrónica e rock. As letras foram escritas maioritariamente por Alexander
Search, membro da banda que morreu tragicamente ainda jovem, mas que granjeia o
respeito e admiração dos seus pares como “the greatest conquerer of the beauty
of words”, o maior conquistador da beleza das palavras.
Augustus Search é o compositor de serviço da
banda, toca piano e sintetizadores e faz a direcção musical. Benjamin Cymbra é
um cantor extraordinário e traz na sua voz a garra rock n’roll do passado e as
angústias e esperanças do presente. O futuro “é a possibilidade de tudo”, dizia
também Pessoa.
Sgt. William Byng comanda a vertente computacional e
electrónica. Marvel K. tem uma guitarrada cortante e espacial. E Mr. Tagus,
ex-baterista de jazz, ainda tem na música e ‘groove’ de África uma das suas
maiores riquezas.
Alexander Search é uma banda que gosta de ousar,
impaciente, à procura, sempre à procura, da quintessência. Nunca o conseguiu.
Este é o disco de mais uma tentativa falhada."
Nos homónimos, há uma convergência de som e grafia a que Música e Literatura não são estranhas face ao escritor e projeto musical representados no cruzamento interartístico aqui divulgado.
E nesta (re)criação artística estará uma boa forma de lembrar o criador que amanhã será recordado no seu fim terreno.
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