quarta-feira, 18 de maio de 2022

Quando um ou outro são ambos

        Aquele momento em que te perguntam se é X ou Y e...

    ... a resposta correta compreende os dois termos - situação em que o 'ou' não pode ser, portanto, disjuntivo ou de exclusão dos mesmos.

        Q: É 'parquímetro' ou 'parcómetro'?

      R: Ambos. Caso para dizer que "Venha o Diabo e escolha", que é sempre expressão para admissão de duas hipóteses num cenário de difícil resolução. Reconheça-se, nas palavras questionadas, um processo de composição, no qual a vogal de ligação ('í' ou 'ó') pode ser indiciadora ora de algum motivo etimológico na formação da palavra ora de alguma deriva associada à própria mudança e à utilização dos falantes da língua.
     Tipicamente a vogal de ligação é, nestes casos, uma pista do marcador casual na composição de palavras com radicais latinos ou do grego antigo. Justifica-se, assim, o recurso a duas vogais de ligação: 'o' e 'i'. A última remete para um radical da direita com origem latina e representa uma estrutura de modificação (sem alteração da classe de palavras):

           [fratr] i [cid]a
                                                   [agr] i [cultor]

        Já a primeira escapa à descrição anterior:

                                                   [polític] o [económic]o
                                                   [lus] o [brasileir]o

      Estas tendências generalizantes são, porém, contraditas por exemplos em que 'o' antecede radical de origem latina (ex.: [gen] [cíd]io), em confronto com '[reg] i [cíd]io') ou 'i' é seguido de radical de origem grega (ex.: [veloc] í [metr]o, em contraste com [flux] ó [metr]o).
    Além disto, casos há na língua em que uma mesma palavra composta admite ambas as vogais de ligação, conforme verificável nos seguintes casos: 'organigrama' / 'organograma'; 'parquímetro' / 'parcómetro'; 'taxinomia' / 'taxionomia'. Estes últimos pares de exemplos propõem, por um lado, alguma relativização da consciência etimológica dos falantes; por outro, a consideração de outras lógicas fundadas mais na frequência e na analogia da composição, em particular, e da formação de palavras, em geral.

     Conclusão: há perguntas que apontam para respostas bem complexas, em termos de informação morfológica. Mais inclusão do que exclusão; mais conjunção do que disjunção.

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