segunda-feira, 27 de maio de 2013

Camões... está para chegar

    Aproxima-se o feriado do dia de Camões (10 de junho), hoje mais conhecido pelo 'Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades'.

     Até lá, alguns alunos meus terão de falar sobre a obra do poeta quinhentista, preparar a leitura expressiva de um poema que escolheram, justificar a seleção feita, destacar um ou dois versos que os tenham chamado a atenção e justificar a escolha, relacioná-los com a mensagem do poema. Entre três a cinco minutos, têm que formular um discurso oral estruturado, segundo as diretrizes facultadas e, assim, talvez (dar a) conhecer um pouco mais da poesia camoniana.
    Hoje, no seu discurso, uma aluna fez-se acompanhar da imagem do escritor e afixou-a na sala. 
    Anunciava a estudante que desta forma se ia prestar uma homenagem ao poeta, falando dele e da poesia que escreveu. Acrescentou, no seu entendimento, que essa homenagem se conseguia fazendo-se o que não é costume: os jovens lerem poesia.
    Serviu a sessão de trabalho para isto, com alguns jovens a escolherem versos por aquilo que estes lhes diziam (uns, fazendo paráfrase; outros, estabelecendo identidades com experiências de vida; outros ainda, reafirmando as ideias-chave do texto).
    Para que não pensem que são só eles, deixo aqui mais umas vozes, tão distintas, a divulgar um soneto que, do século XVI, se revela tão atual quanto pertinente para qualquer tempo - o de ontem, o de hoje, o de amanhã.

Declamação do cantor Rui Reininho, realizada no programa televisivo "Um poema por semana" 
(programa de "Paula Moura Pinheiro, na RTP2) 

Declamação da cantora Ana Deus, realizada no programa televisivo "Um poema por semana" 
(programa de "Paula Moura Pinheiro, na RTP2)

Declamação do editor-livreiro Marc Figueiredo, realizada no programa televisivo "Um poema por semana" 
(programa de "Paula Moura Pinheiro, na RTP2)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.


   E, para concluir, a recriação musicada da mesma composição poética, por José Mário Branco, trocando-lhe "as voltas" quando "o dia é uma criança".


      Concluída a lição, lá ficou a imagem na sala, a ver-nos sair. Amanhã, por certo, lá estará de novo - no fundo cinza do placard, com os diferentes cinzas da fotocópia recortada. Cor... só o laranja dos pioneses e a homenagem que a aluna diz ter feito.
    

2 comentários:

  1. Boa noite, dr. Vítor e caros passageiros, companheiros desta viagem poética, que se faz num comboio que nos leva até ao século XVI!
    Não sei qual das três declamações mais me agradou!
    Confesso que, em termos de dicção, gostei do "dizer" da Ana. No que se refere a expressividade e "dramatização", leia-se alternância de um registo mais descritivo com um mais intimista, agrada-me o do Rui. Pela emoção (intensidade e entrega), o do Marc enterneceu-me (mas não gosto muito da sua voz)!

    Enfim, espero que Camões venha, sempre renovado pelas mudanças que somos nós!

    Beijinho e bons poemas!
    Camonianos ou não...
    IA

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  2. Nem sei que diga.
    O "dizer" (como tu dizes) do Rui até dessacraliza a musicalidade poética que quase todos imprimem aos poemas (pena aquele "môr", que acentuo para reproduzir o som fechado que não devia existir), fazendo aproximar a poesia do vulgar dos mortais; o da Ana tem um certo registo enigmático, com uma gestão de intensidades vocálicas muito interessantes; o do Marc parece mesmo cantado numa voz que vai melhorando ao longo do poema (no início, a coisa soa mesmo estranha!).
    Todos cantam Camões ou, como diria a minha aluna, homenageiam-no, porque o leram (com ou sem teleponto).
    Nós somos mudanças e imprimimos mudanças (fossem estas sempre as do doce canto!).
    Beijinho.

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