Quando as dúvidas são provocadas por materiais encarados como referenciais a questão torna-se mais crítica e difícil de contornar.
Ainda assim, o assunto não está livre de contraditório, que aqui assumo para que não se perpetue o erro.
Q: Encontrei numa gramática escolar que 'Adorei quantos livros li' apresenta o quantificador relativo 'quantos' e que este introduz uma frase / oração subordinada adjetiva relativa ('quantos livros li'). Concordas com esta classificação da subordinada?
R: Nem com a classificação da subordinada nem com a subclasse de palavras identificada.
Começando por esta última, só posso dar conta de 'quanto(s)' como quantificador relativo quando estou perante uma situação de retoma, o que não sucede no exemplo dado.
Começando por esta última, só posso dar conta de 'quanto(s)' como quantificador relativo quando estou perante uma situação de retoma, o que não sucede no exemplo dado.
Comparando (i) e (ii), é possível verificar que estou perante um quantificador relativo (a introduzir uma subordinada relativa) no segundo exemplo, não no primeiro:
(i) Experimentei quantas sobremesas havia no restaurante.
(ii) Experimentei tantas sobremesas quantas as existentes no restaurante.
'Quantas', em (ii), retoma um antecedente nominal ('tantas sobremesas'); o mesmo não sucede em (i). Qualquer entendimento de 'quantas' como quantificador relativo neste último caso teria de passar necessariamente pela ativação de um conceito como o de pré-construído linguístico, associado ao que estaria implicitamente implicado na primeira frase (Havia muitas sobremesas no restaurante. Experimentei-as todas).
Ainda assim, interessará sublinhar que (i) apresenta 'quantas sobremesas havia no restaurante' como argumento interno selecionado pelo verbo 'experimentar'. A sequência funciona como complemento direto incluído no predicado. Daí a subordinada ter de ser considerada com o mesmo estatuto de uma completiva (como sucede, por exemplo, com as subordinadas relativas sem antecedente, tradicionalmente encaradas como substantivas); daí não concordar com a classificação proposta de uma subordinada adjetiva relativa.
Neste sentido, acabo por entender 'quantas', em (i), mais como um quantificador universal, pela leitura induzida de se ter experimentado todas as sobremesas no conjunto das existentes no restaurante.
Por aqui me fico, porque quantas hipóteses mais lançar mais complicada fica a resposta (e cá fica mais um "quantas" que nada tem a ver com o que foi aqui interrogado). Há mesmo palavras camaleónicas!
(ii) Experimentei tantas sobremesas quantas as existentes no restaurante.
'Quantas', em (ii), retoma um antecedente nominal ('tantas sobremesas'); o mesmo não sucede em (i). Qualquer entendimento de 'quantas' como quantificador relativo neste último caso teria de passar necessariamente pela ativação de um conceito como o de pré-construído linguístico, associado ao que estaria implicitamente implicado na primeira frase (Havia muitas sobremesas no restaurante. Experimentei-as todas).
Ainda assim, interessará sublinhar que (i) apresenta 'quantas sobremesas havia no restaurante' como argumento interno selecionado pelo verbo 'experimentar'. A sequência funciona como complemento direto incluído no predicado. Daí a subordinada ter de ser considerada com o mesmo estatuto de uma completiva (como sucede, por exemplo, com as subordinadas relativas sem antecedente, tradicionalmente encaradas como substantivas); daí não concordar com a classificação proposta de uma subordinada adjetiva relativa.
Neste sentido, acabo por entender 'quantas', em (i), mais como um quantificador universal, pela leitura induzida de se ter experimentado todas as sobremesas no conjunto das existentes no restaurante.
do que não pode ser dito,
nem escrito, nem ensinado
como se dá a ler à esquerda
tanto nas definições como nas exemplificações
nem escrito, nem ensinado
como se dá a ler à esquerda
tanto nas definições como nas exemplificações
Por aqui me fico, porque quantas hipóteses mais lançar mais complicada fica a resposta (e cá fica mais um "quantas" que nada tem a ver com o que foi aqui interrogado). Há mesmo palavras camaleónicas!
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