domingo, 5 de maio de 2013

Quando não é possível mudar a história...

      No início de uma semana academicamente marcante (o início da Queima das Fitas - 2013), tudo começa com a morte de um jovem estudante.

    As notícias de ontem e de hoje são pesarosas para a academia: Marlon Correia, de 24 anos, foi assassinado no Queimódromo (junto ao Parque da Cidade), quando ontem fugia de um grupo de assaltantes. Atingido nas costas por duas balas, este estudante da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) não chega aos vinte e cinco anos, por que tanto ansiava.
      Pouco antes, no Facebook, deixava uma mensagem num dos seus apontamentos:

"Talvez a grande lição 
dos 19+1 e poucos anos 
seja aprender que 
o equilíbrio só acontece 
quando você abre mão 
de coisas importantes. 
Que perder dói, 
que vencer envolve sacrifícios 
que você nunca imaginaria passar. 
Mas é também a hora de arriscar, 
de tentar, de quebrar a cara 
e de esquecer, de uma vez por todas, 
que algo pode ser definitivo. 
Tudo é definitivo até mudar!".

        Foi roubada uma vida, baleada por dinheiro, quando alguém o quis também roubado.
        Camões diria, no canto VIII de Os Lusíadas:

96 (...)
Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede immiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.

97 
A Polidoro mata o Rei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
Entra, pelo fortíssimo edifício,
Com a filha de Acriso a chuva de ouro;
Pode tanto em Tarpeia avaro vício,
Que, a troco do metal luzente e louro,
Entrega aos inimigos a alta torre,
Do qual quase afogada em pago morre.

98 
Este rende munidas fortalezas;
Faz tredores e falsos os amigos;
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
E entrega Capitães aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências;

99 
Este interpreta mais que sutilmente
Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjúrios entre a gente
E mil vezes tiranos torna os Reis.
Até os que só a Deus omnipotente
Se dedicam, mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor, contudo, de virtude.

POLIDORO: filho de Príamo, rei de Tróia. Quando esta cidade estava prestes a cair em poder grego, 
Polidoro é enviado, com ouro, ao rei de Trácia. Este apodera-se do metal valioso e mata Polidoro.

          Hoje a narrativa é outra: sem mitos, sem epopeia nem heróis. O poder do ouro dá lugar à ânsia que alguns têm dele, a ponto de o preferirem à própria vida humana.

          É muita realidade, e da mais atroz, para aceitar que possa ser verdade.
         RIP.

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