Porque nem sempre as palavras cumprem os atos a que se destinam...
A expressão "Das palavras aos atos" é popularmente entendida como a desejável passagem à condição das obras, deixando-se a fase da discussão e da planificação. E, no que elas têm de concreto, está a virtude da realização.
Q: Pode definir-se um ato de fala como as diferentes formas que a linguagem assume conforme a intenção do sujeito de enunciação e/ou o contexto em que o enunciado é proferido? No manual adotado na minha escola propõe-se esta definição, numa síntese gramatical, mas gostava de apresentar uma que não fosse tão vaga. E um ato locutório prende-se com a questão da combinação de palavras?
R: Eu não caracterizaria a definição proposta como vaga. Chega a ser errada, ao assumir a identidade entre ato de fala e "diferentes formas que a linguagem assume". Não é isso que está em questão - a diversidade da linguagem -, mas sim um comportamento verbal decorrente da produção concreta de um enunciado numa língua e num contexto comunicativo e interativo, pautando-se tal comportamento por uma intencionalidade, um fazer algo com o que é dito nessa língua. Formas de linguagem há muitas (há mesmo quem defenda que os golfinhos, as abelhas, os papagaios e os macacos também têm as suas formas de linguagem); um ato de fala é uma questão de língua.
A natureza locutória do ato diz respeito à própria condição articulatória e combinatória da produção, ao nível dos sons, das relações morfológicas, sintático-semânticas. É redutor dizer-se que se trata de uma combinação de palavras, na medida em que intervêm vários planos / domínios do conhecimento de uma língua em concreto.
Releva-se num ato de fala a natureza ilocutória, dominantemente associada à intenção comunicativa e às condições de um enquadramento contextual particular, bem como a dimensão perlocutória, relacionada com os efeitos provocados no(s) interlocutor(es).
Entre o material linguístico produzido, a dimensão funcional ativada com a intenção comunicativa e o resultado suscitado no interlocutor, o ato de fala reflete uma rede de relações que o homem mantém, produz e cria com a língua, nela se (a)firmando enquanto ser.
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