segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

As duas faces do espelho

    O título "The mirror has two faces" é para um filme, para uma relação com muito de diferente... nomeadamente nos desempenhos profissionais.

   Barbra Streisand e Jeff Bridges dão corpo a uma dupla de professores universitários (respetivamente, Rose Morgan e Gregory Larkin), num drama romântico americano datado de 1996. Romantismos à parte, um e outro vão-se aproximando também por motivos profissionais.
     A relação de ambos é feita de um contraste nítido de personalidades, revelado desde logo no modo como dão aulas. A capacidade comunicativa do professor Larkin não parece ser das mais motivadoras para os alunos, conforme se depreende deste excerto fílmico inicial.


        O entusiasmo e a admiração do objeto de estudo estão muito centrados no professor, no que ele vê nos seus registos e não no que estes possam dizer aos estudantes... e, pelos vistos, em quem supervisiona a aula.
        Em contrapartida, há o exemplo de Rose, que consegue galvanizar, envolver toda uma imensa plateia: pela aproximação e concretização do tema / assunto em exemplos de uma realidade bastante familiar (demasiado até!); pela solicitação e interação construídas junto dos alunos, além da movimentação criada no seio destes; pela linguagem aproximada aos estudantes, numa dessacralização do que possa ser visto como intelectual, por alguns, e que a docente torna comum e reconhecível pelo homem comum.



  A evidência da adesão do público é notória. As "dicas" surgem, de quem se apresenta em vantagem oratória, retórica, numa explicitação do que sejam condições capazes de transformar uma situação encarada como crítica.


  Descentração, aproximação, envolvimento e motivação; posicionamento na sala de aula, movimentação, contacto com os alunos; humor; maior concretização e um enquadramento menos abstrato ou teórico são algumas das propostas, na linha do que uma professora de cultura e literatura consegue dar.
      E, então, a mudança acontece, com a consequente avaliação dos efeitos:


    A predisposição para a interação, o diálogo, o envolvimento do outro na comunicação surte o efeito desejado: um compromisso com a participação e o sentido de construção conjunta. Pode discutir-se até que ponto essa construção é produtiva, estruturante e estruturadora das aprendizagens; se não se fica apenas pela legitimação de um ponto de vista, que é estratégica e retoricamente orientado para o conformismo. Ainda assim, é preferível esta situação a não ter nenhuma comunhão.

     Transformar, na consciência das vantagens daí decorrentes, é um caminho, uma opção que não resulta apenas nos filmes. Há ficções desejáveis para a realidade.

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