segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Questões do outro lado do oceano (IX)

     Na sequência de apontamentos, comentários e dúvidas acrescentados e acrescidos...

     ... mais um caso tomado como crítico / problemático na realização da língua.

    Q:  Em "Foram eles os vencedores", qual termo é sujeito e predicativo do sujeito? 

    R:  A frase dada apresenta uma ordem invertida nos termos.
       O facto de 'eles' ser um pronome pessoal na forma de sujeito já por si muito diz quanto à função sintática desempenhada, independen-temente da sua posição na frase (por razões de inversão). É com o pronome-sujeito que a concordância se constrói ao nível do predicado ('foram os vencedores'). Neste sentido, 'os vencedores' é o predicativo do sujeito, cujas propriedades típicas se lhe aplicam: concordância em género e número com o sujeito (Eles < os vencedores); permutabilidade com o clítico demonstrativo invariável 'o' (Eles foram-no); possibilidade de anteposição com lacuna ('Vencedores, eles foram [-]) ou com recurso ao clítico (Vencedores, eles foram-no).
      A ordem direta da frase é 'Eles foram os vencedores'.

      Espero que esta resposta seja esclarecedora, direta e natural nos argumentos aduzidos. Se não for de vencedor que seja de atleta à procura da meta... do conhecimento.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Anúncios críticos

   Do muito que se vê afixado em algumas montras, fica mais um exemplo crítico.

   Passo por uma loja cuja montra me apresenta uma informação:


   Leio outros dados, para além do que se propõe:
   a) em termos pragmáticos, interessa menos o presente da leitura (que evidencia o óbvio encerramento) do que o intervalo temporal e o futuro nele incluídos e implicados, para não falar nalguma inconsistência em termos de coerência (entre o singular e o plural, respetivamente, de quem informa e de quem se toma como tema informativo);
   b) em termos ortográficos, o desacordo relativamente à grafia dos meses é notório (esquece-se que o acordo ortográfico aponta para a grafia com minúscula);
   c) na pontuação, surge o mais crítico de tudo: assinalar o vocativo com um ponto final, quando se espera uma vírgula.

    Comunicativamente funciona, mas da pior forma. No que toca à língua, era bom que fechasse mesmo para obras.


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

E vai mais uma...

    Entre tanta regra, é preciso acrescentar outra.

    Primeiro: leio, em Português do Brasil, o que as escolas não ensinam.


    Segundo: penso.
    Terceiro: registo.
   Até concordo com algumas das regras aqui apontadas. Podem ser boas considerações para os alunos levarem em linha de conta (quantas vezes já não as ouviram da minha boca, em versão mais ou menos sinonímica).
    Devo, contudo, sublinhar que o autor deste texto bem poderia pensar em adicionar um dado mais, a julgar pela escrita, mais precisamente pela pontuação (com vírgula) do texto. Há bons exemplos para demonstrar subordinadas relativas restritivas (que não podem apresentar vírgula); tanto sujeitos como complementos indevidamente separados do núcleo verbal do predicado (na ordem direta e na ordem inversa); encaixes no meio da frase só com vírgula na abertura (quase nunca no fecho), para mencionar apenas os casos mais críticos.
    Caso para dizer que algo mais a escola e as restantes oportunidades de aprendizagem não ensinaram a este jornalista.

    E, assim, mais uma regra que a escola do autor do texto não ensinou: REGRA 12 -  as vírgulas não se semeiam nos textos. Entre alguma variação possível, há casos que nunca devem acontecer: separar, com uma só vírgula, complementos / argumentos do respetivo verbo selecionador; separar sujeitos do núcleo verbal do predicado; separar relativas restritivas do núcleo nominal constituinte da referência.