sexta-feira, 10 de junho de 2011

10 de Junho: Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades

      Que dizer quando o dia de um país se conjuga com o de um poeta?

      Muitos dirão tratar-se de um país de poetas.
Túmulo de Camões no Mosteiro dos Jerónimos
      Para os muitos que desconhecem o facto de Camões estar entre os três poetas universais (a par de Homero e Virgílio), pode também ser estranho que o próprio poeta tenha sido motivo inspirador para muitas composições poéticas.
  Em conjuntura crítica contemporânea, relembro as interrogações de Gomes Leal, na composição poética, em quatro cantos, intitulada Fome de Camões (fosse este o título para o forte desejo de conhecer o poeta quinhentista e/ou à sua obra, e não tanto para a recriação dos 'tópoi' poéticos da pátria decadente e do poeta incompreendido):

"E a Lyra diz: O que fizeste, ó mundo! 
das grandes almas unicas, sagradas, 
das grandes frontes d'um sonhar profundo 
que eram as frontes as mais bem amadas? 
O que fizeste d'esse abysmo fundo 
de vontades mais rijas do que espadas, 
d'esses simples e santos corações 
que faziam chorar as multidões? 

O que fizeste d'essas linguas d'ouro 
que sabiam pregar como os prophetas? 
Como enxugaste o seu comprido chôro? 
Como arrancaste as ponteagudas settas?                
O que fizeste, ó mundo! do thesouro 
que vós homens mortaes chamais poetas: 
mas cujo nome d'harmonias bellas 
só o sabem as Cousas e as Estrellas?"
Lápide de Camões (ilustração em Com Textos 10, Edições ASA)

      Eram estes alguns dos versos produzidos por altura do tricentenário da morte de Camões (1880). A versão romântica de que o poeta morreu com a nação tomou a possibilidade como força real, a tempos retomada e reconfigurada numa linha de vida pobre e miserável tanto para o Homem como para o país; retratada numa lápide que teima fatalmente em ultrapassar o tempo e lembrar uma condição apresentada como um destino trágico, intemporal.

      Fazer da poesia e da língua a prece para a união dos povos, lembrando que um país pequeno se pode projectar no que de melhor há no Homem e no Universo: a crença de que as crises servem para nos testar e recriar o que não esteve à altura do que nos dignifica.

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