domingo, 19 de junho de 2011

Generalizações... nem sempre válidas.

     O que me faz confusão na diversidade e na mudança é a estratégia de generalização. Não por esta em si mesma, mas pelas consequências que pode trazer.

     É certo que se trata de uma das estratégias que nos permitem sobreviver neste mundo, perante tanta variedade; mas, no que toca à língua, ainda bem que se vão partilhando algumas dúvidas e algum saber (outra estratégia mais feliz).

     Q: Agora já não é preciso colocar acento circunflexo no verbo 'pôr', pois não?

     R: É, sim. 
    É verdade que há alterações no Acordo relativamente à acentuação gráfica, em geral, e ao acento circunflexo, em particular; todavia, o caso particular do 'pôr' não diz respeito a nenhuma alteração a considerar.
        Ao nível do acento gráfico em questão, regista-se o seguinte:
      a) a natureza facultativa da sua utilização em palavras paroxítonas (ou graves), como dêmos (verbo na primeira pessoa do plural do presente do conjuntivo), distinta da forma demos, no pretérito perfeito do indicativo; fôrma (nome), distinta de forma (nome; verbo 'formar' na terceira pessoa do singular do presente do indicativo ou na segunda pessoa do singular do imperativo);
       b) não utilização do acento nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico oral fechado em situação de hiato com a terminação '-em' da terceira pessoa do plural do presente do indicativo / conjuntivo: creem, deem (conjuntivo), desdeem (conjuntivo), leem, preveem, releem, reveem, veem;
       c) não utilização do acento (seja o agudo seja o circunflexo) no contraste de palavras graves que, tendo respectivamente vogal tónica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas - não se diferenciam, portanto, 
            - para [a] (forma do verbo 'parar') de para [ɐ] (preposição); 
          - pela(s) [ɛ] (forma verbal de 'pelar') de pela(s) [ə] (contracção pela combinação latina pere la(s))
        - pelo [ɛ] (forma do verbo 'pelar', na primeira pessoa do presente do indicativo) de pelo [e] (nome ou contracção resultante da combinação pere lo(s))
            - polo(s) [ɔ] (nome) de polo(s) [o] (contracção, pela combinação latina, arcaica e/ou popular pore lo(s)), entre outros.

       Distinga-se, assim, 'por' (preposição) de 'pôr' (verbo), por serem palavras agudas (não cabendo nas palavras paroxítonas, as contempladas na mudança ortográfica em questão). Contudo, no que são verbos derivados deste último, respeite-se a antiga ausência do sinal gráfico distintivo (compor, depor, impor, pressupor, repor, supor...).

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