sábado, 31 de janeiro de 2015

Pensando na montanha...

     Tudo vale, quando não se quer fazer o que tem de ser feito.     

     Porque tenho uma montanha de testes para corrigir, esqueço-os e fico-me pela montanha.
     A música também assim motiva a escolha:


     MOUNTAIN

You say that we're apart
And you can’t reach me
Yeah you can’t reach me
You got a broken heart
Don’t let them see it
Don’t let them see it

You built a wall bigger than your dreams
Feeling so small, covered in your fears
Baby, open the door
Let me come closer
I’ll dry your tears

When the lights go out
I’ll still be here
When the world falls down
Just listen clear

If only you knew that your words can
They can move a mountain
You’re changing my world when you’re smiling
I can’t live without it
And I won’t leave you hanging, hanging, oh no
I won't leave you hanging, hanging, oh no
I won't leave you hanging, hanging, oh no
'Cause you are the air that I breath

Agir:
Step into the dark
So you can see me
So you can see me
We’re a work of art
That I couldn’t finish
I couldn’t finish
I built a wall bigger than my pride
And how I wish you were here by my side
But I closed the door
Still I want you closer
With nothing to hide

When the lights go out
Search for me, search for me
And I’ll clear your doubts

If only you knew that your words can
They can move a mountain
You’re changing my world when you’re smiling
I can’t live without it
And I won’t leave you hanging, hanging, oh no
I won't leave you hanging, hanging, oh no
I won't leave you hanging, hanging, oh no
'Cause you are the air that I breath
Yeah you are the air that I breath
Yeah you are the air that I breath
Yeah you are the air that I breath
   
     Ao contrário do que cantam Carolina Deslandes e Agir, "I feel myself hanging, hanging, oh no !"

    Nem com música (com toada internacional que seja) isto vai lá! A montanha (de testes) é muito alta! E, ao contrário da letra, as palavras que leio não movem montanhas. Pena sinto que assim seja, quando, apesar de tudo, esta profissão ainda é "the air that I breath".

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

É preciso ter espírito

   Há quem ache que se chega a essa dimensão graças a uns complementos (bebíveis) muito discutíveis.

     A designação está aí, não porque essas bebidas tenham, nos seus líquidos, entidades sobrenaturais capazes de incentivar os bebedores a revelarem a sua dimensão mais invisível, mas porque contêm álcool etílico (obtido pelo processo de destilação).
     Ora, falar no "espírito" do vinho (para designar o álcool etílico) ou de outras bebidas alcoólicas é questão pacífica, quando bem escrita e com o devido acento. Contudo, adjetivar a partir do "espírito" tem mais do que se lhe diga e, por certo, com eventual perda de qualidade quando o resultado é o seguinte:

"Vinhos mal acompanhados" é o que se impõe dizer. (FOTO VO)

      Esrito (nome) não se confunde com o adjetivo (espirituosas), nem a natureza esdrúxula da intensidade silábica da primeira palavra se revê na característica grave da segunda (conforme se prova no sublinhado a marcar as sílabas salientes em cada termo).

     Com escrita mais correta, talvez houvesse mais esrito, mais graça espirituosa. Siga-se a seta pelos vinhos, porque pelas outras não há qualidade que lhes valha.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Aluga-se quando há lugar...

     Pedem-me comentário a uma foto...

   Perante o que me é dado a ver, acabo a ler em voz alta, para a sonoridade da língua me ajudar a resolver o enigma gráfico:

(Foto partilhada por uma colega da área da matemática que me pede comentário. Assim seja!)

    Decifrado o texto, há criatividade suficiente na língua para se poder ultrapassar o desconhecimento e as limitações revelados quanto à convenção escrita. Na base de tudo fica a oralidade, a procurar pontes entre os sons e o reconhecimento de alguma reprodução destes naquilo que são registos escritos que os possam traduzir. Quando não se sabe, fazem-se aproximações "criativas" (lembro-me de uma aluna que leu tão atentamente 'Os Maias', de Eça de Queirós, que chegou ao ponto de escrever o nome do pai de Afonso como 'Queitano').
     Não obstante a tentativa (criativa, mas fracassada) demonstrada na foto, é preciso ainda adicionar outra problemática: a da interferência de alguma variação linguística no registo feito. O português de sonoridade vocálica aberta está mais para variedades não europeias da língua (como a do Brasil ou de África) do que para o que é dado a ouvir em Portugal. Aquele "Ha luga-se", inexistente na escrita, é uma aproximação ao que se ouve algum falante africano (ou mesmo falante nativo de uma língua estrangeira) produzir. 
    Resta juntar, a este dado, outros ingredientes como um défice de escolarização; uma inconsciência fonético-fonológica, lexical e ortográfica. Alguma história da língua também ajudava à correção pretendida, mas isso significaria ativar competências que, por mais importantes que também sejam para a justificação da escrita comum e socialmente reconhecida na correção, corresponderiam a um grau de desenvolvimento maior.

     ... e acabo a reconhecer a grande vontade / necessidade de comunicar com muita inconsciência à mistura.

domingo, 25 de janeiro de 2015

De novo, com os olhos e ouvidos nas origens.

    Hoje gostava de estar em Atenas a gritar SYRIZA.

     Espero que amanhã, num tempo mais alargado do que o dia, o grito ecoe para cada medida ou decisão feitas da honestidade e do dever cumprido para o prometido. Basta de sufoco, a bem de alguma esperança. Por maior que tenha sido o erro do passado, para que haja presente com sentido há que abrir a caixa de Pandora.
     Assim se construirá verdade, confiança, referência, ao contrário de muitos que continuamente desdisseram o que os levou ao poder. 
    Assim se alimentará tempo novo, com uma outra forma de fazer as coisas, mais atenta ao Homem e menos ao capitalismo sufocante e castrador em que as instituições de crédito financeiro se tornaram.
    Curioso (ou talvez nem tanto) que tudo esteja a acontecer na Grécia, nesse berço do pensamento democrático original. Se foram muitos os erros anteriores, se ainda há quem não cumpra o que é necessário para o bem comum grego (e, por consequência, europeu), tudo tem que ser feito para responsabilizar os que prevaricam; mas também há que criar vontades, novas vozes, novas caras e dinâmicas de futuro, apostadas na mudança (não no 'statu quo' ou no 'dejá vu').
    Em tempo de novo protagonismo, de um pioneirismo que se quer exemplar para a Europa - continente que muito lhe deve o nome -, gera-se uma causa de dimensão nacional com sentidos e efeitos muito para além da fronteira grega; revê-se o próprio continente, aquele que da Grécia recebeu toda uma civilização (a qual esteve na origem de tudo), segundo rezam a História e os mitos.
"O rapto da Europa", de Peter Paul Rubens (1628-9)
   Nesses tempos dos primórdios, dos deuses da anti- guidade clássica, uma princesa fení- cia se impôs pela beleza, chamando a atenção e as paixões do poderoso deus grego: Zeus. Disso não gostou Hera, a ciumenta mulher do deus principal da mitologia grega. Daí este ter-se transformado num touro, para se apro- ximar da princesa, que, maravilhada, coroou o animal com uma grinalda de flores e acabou por saltar para o seu dorso. Ao senti-la nas suas costas, o taurino e supremo morador do Olimpo desatou a correr em direção ao mar, só parando quando chegou a uma pequena ilha: Creta. Aí, à sombra de um plátano, revelou-se na sua verdadeira forma. Acabaram ambos por dar vida a três crianças: Minos (futuro rei de Creta e um dos juízes do inferno, que ouvia as confissões dos mortos), Radamanto (rei das Cíclades, conhecido pela sabedoria e justiça) e Sarpedão (príncipe da Lícia).
      Hoje, em tempos de crescentes individualismos, fala-se na necessidade de um espírito gregário, de uma natureza associativa (pretendida e nem sempre alcançada) para ultrapassar problemas e crises comuns, numa inspiração apoiada no modelo das ágoras e das ligas que instituíam a união de esforços. Os tempos são efetivamente outros, à espera mais de Radamantos do que de grupos que não pugnam pela felicidade comum.
       Talvez aqui a Grécia ainda tenha uma palavra a dizer. Eu gostava que fosse SYRIZA, pelo que esta coligação possa representar de exemplo para uma saída humanizada e feliz para a austeridade; para a afirmação de uma nacionalidade mais interessada no seu povo do que nas prioridades especulativas de grupos mais focados nas próprias bolsas (e nos respetivos bolsos), em detrimento do bem social comum.

    Num país que tanto deu à Europa (cultural e linguisticamente), talvez ainda esteja a ser preparada (mais) uma lição. Que assim seja, a bem dos homens que nela moram e para que os mesmos, ou outros ainda, saibam que há uma forma diferente de fazer as coisas (sem ter de se cair em igualitarismos duvidosos nem em controlos ameaçadores, perversos e desumanos).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Volta Descartes, que estás perdoado!

     Não propriamente pela filosofia, mas pela morfologia.

     A questão prende-se com a formação da palavra "cartesiano".

     Q: Como é que se forma a palavra "cartesiano"? Só derivação? Não há primeiro truncação?

     R: Admitindo a existência do sufixo 'iano' com alguma regularidade no português, o facto é que a base derivante que resta (Cartes) é algo estranha. Está aqui, portanto, uma razão para admitir, desde logo, a possibilidade de a palavra já ter entrado na língua portuguesa por intermédio de uma outra língua (eventualmente, o francês, com 'cartesien'), tendo-se procedido ao seu aportuguesamento.
   Pela consulta de um dicionário com informação etimológica, além do conhecimento que vulgarmente associa o adjetivo cartesiano a tudo o que tem Descartes como autor ou origem, lá aparece a entrada etimológica do termo no século XVII, a partir do francês e numa recuperação latina do radical 'Cartes' (de Cartesius, nome latino - numa vertente neoclássica e academicista - para Descartes).
       Portanto, a formação da palavra ocorre verdadeiramente no francês (cartes+ien). Em português, processa-se a adaptação do empréstimo. Na base deste raciocínio, tem cabimento falar num exemplo de processo irregular de formação de palavras, não pela truncação (dado o radical latino que preexiste), mas precisamente pelo processo de transferência ocorrido de uma língua (francês) para outra (português) já há alguns séculos.

        Esta moda neoclássica de recuperar a etimologia latina tem muito que se lhe diga, de novo convocando o interesse de uma plataforma entre a formação de palavras, a história da língua e a etimologia. Quanto ao empréstimo, é tão antigo que nem dele há já consciência no presente.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Vamos lá ao 'por isso'.

       A questão do contexto é fundamental; a do texto também.

       Na base de tudo, um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen.

       Q: Vítor, aqui vai mais uma dúvida: no poema de Sophia, "A forma justa", o 'Por isso' que abre a última estrofe que valor lógico apresenta?

     R: Olá. A classificação do conector 'por isso' é muito variável e discutida na comunidade dos estudiosos da língua. A habitual inserção entre os conectores 'conclusivos', segundo a gramática tradicional e no contexto da análise frásica e interfrásica, não exclui dois cenários: um, o de os conectores linguísticos admitirem a expressão de vários valores juntivos (o caso da conjunção 'e' é clássico, quando admite a expressão de valores adversativos, consecutivos, temporais, além da sua natureza aditiva); outro, o de os conectores articularem sequências com distribuição ou ordenação informacional variável (daí a articulação geral da causa-consequência dar lugar a conectores distintos, conforme a ordem seja Causa > Conector > Consequência ou seja inversa) e com extensão muito além da frase complexa.
  Assim, numa perspetiva de construção textual, como a implicada no poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, há a considerar o facto de toda uma primeira estrofe funcionar como um antece- dente textual (mar- cado por uma lógica dominantemente condicional) para um consequente introduzido pelo conector 'por isso'. Na sequência desta progressão textual, há um raciocínio argumentativo que se dá a ler ao longo de treze versos e se conclui com um dístico (estrofe final) a introduzir o efeito ou a consequência lógica de um saber ("Sei") feito de mundos alternativos (daí o condicional contrafactual, lido em "seria possível", "poderiam ser", "proporia" ou mesmo no imperfeito do conjuntivo "atraiçoasse", "fosse").
  "Por isso", neste caso, é um conector de natureza pragmático-discursiva, relacionado com raciocínios de progressão do tipo causalidade ou condicionalidade (pressuposta ou antecedente) > consequência. Introduz, portanto, uma consequência (textual). É um conector consecutivo.

      Uma forma particular de consecutividade pode ser encontrada na conclusão conforme às regras da lógica, quando se utilizam os conectores 'por isso', 'por / em consequência' e 'consequentemente'. Com eles, o enunciador indica ao enunciatário que este deve considerar uma dada sequência como lógica e completa segundo um ponto de vista argumentativo. Nesta base também se entende a classificação de construções 'consecutivas conclusivas', na linha da proposta feita por Joaquim Fonseca (seguindo A. Zanone) aquando do estudo "Pragmática e Sintaxe-Semântica das Consecutivas" (1994).

domingo, 11 de janeiro de 2015

Fruto económico, com novas qualidades... até no nome.

      As novidades deste(s) tempo(s)!

    Ouvi há poucos dias alguém falar de umas bolachas que tinham "uvas pássaras" (devem ter sido uvas tão debicadas pelas ditas cujas que até lhes ganharam o nome). Pouco tempo depois, falou-se de outra comida mais substancial: os "rijões" (diga-se, pedaços de carne de porco que deviam ser tão duros, tão duros que não chegava dizer "rijos").
     Hoje, dá-se a ler novo produto, económico para não provocar nervosismo:

   
     O efeito deve ser de tal forma relaxante que se recomenda como sedativo, a julgar pelo nome atribuído: as clementinas que dão calma passam a ser as "calmantinas".
     Não bastava haver "ovelhas ranhosas" (deixaram de ser 'ronhosas' - por ter 'ronha' - e passaram a ter 'ranho' - salvo seja!) que até a fruta ganha novas qualidades! 

      O que faz uma oralidade tão pouco instruída ou cuidada? Evolui para uma escrita que fica à vista de todos. Calma, muita calma! Coma calmantina que é melhor do que tangerina!

sábado, 10 de janeiro de 2015

Fanatismo, desunião e violência

      Três dias depois, o pesadelo começa a receber a resposta que devia ter sempre existido.

     O atentado - terrorista no ato, se não o for na dimensão ideológico-político-religiosa (a ver vamos quem o reclamará) - ao jornal Charlie Hebdo é traumático pelas vítimas provocadas; lamentável e perturbador pelos princípios que o possam ter motivado; ofensivo e crítico pelo desrespeito dos ideais atacados, tão marcantes para a história e cultura francesas como para o ocidente europeu (e não só). Os proclamados defensores dos valores de cidadania, de inclusão e integração, aceitação e multiculturalidade, liberdade, igualdade e fraternidade sentiram-se violentados, vitimizados.

Estátua do ardina, na cidade do Porto,
junto à Praça da Liberdade.

      O "Je suis Charlie" surge em todo o local e com qualquer pessoa de bem, numa identidade emotiva e virtuosa não só com a liberdade de expressão mas também com os valores mais universais do ser humano. Falta saber quanto tempo durará esta marca, para não falar de todos os dirigentes políticos que vão embandeirar-se com tal identificação, mesmo sendo capazes de originar outras formas de terrorismo. Valha o facto de se deixarem também consciencializar pelo que possa representar este triste e trágico momento. Era bom que a causa fosse mais persistente, consistente, abrangente. 
   Para amanhã anuncia-se um grande movimento solidário em Paris. Lá estarão os governantes, os partidários dos valores que nos unem, encabeçando uma iniciativa que devia alargar-se ao combate de toda e qualquer forma de terrorismo, nomeadamente a que mais se faz sentir quase todos os dias, afetando a dignidade humana (por decisões excessivas, mais do que contestadas, nos planos político, económico e social).

      Não é livre quem é fanático; não é igual aquele que, na diferença e diversidade, não busca o que nos faça ou possa unir; não é fraterno quem responde a lápis, canetas, palavras e ilustrações humorísticas com armas letais, atos violentos e mortes injustas. Onde estais vós, liberdade, igualdade e fraternidade?

         

sábado, 3 de janeiro de 2015

Um filme com pouca história

     Por mais que ela não seja pequena nem pouco conhecida.

    Talvez por isso não se espere muito de novo, familiarizados que estamos à história do segundo livro do Velho Testamento (Bíblia): o "Êxodo". Aí se narra como os judeus abandonaram a escravidão, a que estavam votados pelos egípcios, e, liderados por Moisés, partiram rumo à Terra Prometida (Canãa).
   Nem sempre a fidelidade ao texto bíblico acontece (o episódio do cajado não acontece, por exemplo, ora no rio ora no mar), mas também não tinha de ser assim; e se Ramsés não foi propriamente o faraó-irmão, diga-se que estas "infidelidades" histórico-bíblicas não comprometem uma versão que tinha condições para brilhar. O certo é que não se trata do melhor produto em termos cinéfilos, não obstante o nome de o realizador Ridley Scott até o prometer (lembrando a grande produção de 'O Gladiador', há cerca de catorze anos) ou de as imagens do trailer também o sugerirem:


    Depois, na sala de cinema, assiste-se à intriga; o tempo passa, mas a sensação não é de arrebatamento, de grande feito épico ou de emoção intensa no confronto herói-vilão. Vê-se, mas não há vontade de repetir o visionamento. Custa-me a acreditar que o faça quando vier para o pequeno ecrã da televisão (curiosamente, já repeti o desenho animado "Príncipe do Egito" e não me cansa ouvir a música que o abrilhanta).
      A lógica das ações das personagens e os efeitos criados para os ambientes representados fazem algum sentido; a construção da imagem e das motivações que Moisés (Christian Baile) vai revelando como chefe de um exército, como homem que busca a sua identidade e o reconhecimento do que o seu povo vê nele, como líder de um grupo de resistentes revela-se pertinente. Tudo se compõe de uma forma que, de tão natural e plausivelmente real aos olhos ou ao entendimento contemporâneos, se perde a dimensão mítica, bíblica da história. Reveem-se teorias sociais, económicas e científicas que não são estranhas ao século XXI; aproximam-se os episódios bíblicos de uma naturalidade mais justificada pelas razões do Homem do que pela intervenção divina, não poupando sacerdotisas nem os desígnios castigadores de um Deus. A própria figura deste último - associada a uma criança prepotente, birrenta, perversa até - acaba por ajudar a humanizar Moisés, tornando-o menos escolhido ou "eleito"; menos crente e, ainda assim, mais líder de uma revolução que nem sempre é capaz de controlar.
      No confronto com o faraó (Joel Edgerton), Moisés mantém, apesar das diferenças, uma rivalidade mitigada que só as águas do Mar Vermelho irão definitivamente separar, fazendo apagar o par de espadas que os uniu e a fraternidade construída e assumida numa vivência conjunta com o poder palaciano - o mesmo que os viu "meninos que cresceram juntos".
       O tempo mais a posição de um (o deus faraó) e de outro (um rei, um líder de um povo que rumou à Terra Prometida) acabariam por mostrar a dificuldade em contrariar a disjunção e o inconciliável existentes desde o início.

      Pouca história, portanto, pelo que esta versão oferece. Esperava mais, para fazer esquecer o velhinho Cecil B. DeMille e "Os Dez Mandamentos" que, em 1956, resultaram numa imagem de marca e num clássico do cinema (tanto na intriga como na banda sonora).

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Cor, flor, vigor...

    ... e talvez pudesse ainda acrescentar amor, sabor, terror.

   É certo que a representação sonora dos termos é tão combinada quanto a rima que eles possam criar.
   Outras aproximações podem ser feitas, como a paronímia, que junta o pecador ao pescador ou mesmo ao pegador ou pregador. É nesta última relação que um outro caso pode resultar em exemplo: o de uma publicidade que espanta qualquer leitor, só de imaginar quem terá sido o autor ou o objetivo para tal anúncio compor:


    Não fosse a foto, diria que era brincadeira. Não o sendo, que fazer?
   Pego num papel e uns versinhos surgem. Nada de fantástico ou de grande valor; só uma reação a uma imagem com desacerto tão motivador: 


VIOLE(N)TA

É violenta a violeta? Não!
Nasal… só em ‘planta’;
na cor e na flor, razão
não tem quem anda
a escrever mal. É tão
inusitada a incorreção
que a mente manda,
com cuidado e atenção,
esquecer a força, se tanta
é a violência, a agressão!

Flor e cor rimam com vigor,
mas com pancada não!

    Fica a inspiração suscitada pelo erro: o de se acrescentar uma letra à flor, aproximando-a de qualquer forma de dor ou opressor.