terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Aluga-se quando há lugar...

     Pedem-me comentário a uma foto...

   Perante o que me é dado a ver, acabo a ler em voz alta, para a sonoridade da língua me ajudar a resolver o enigma gráfico:

(Foto partilhada por uma colega da área da matemática que me pede comentário. Assim seja!)

    Decifrado o texto, há criatividade suficiente na língua para se poder ultrapassar o desconhecimento e as limitações revelados quanto à convenção escrita. Na base de tudo fica a oralidade, a procurar pontes entre os sons e o reconhecimento de alguma reprodução destes naquilo que são registos escritos que os possam traduzir. Quando não se sabe, fazem-se aproximações "criativas" (lembro-me de uma aluna que leu tão atentamente 'Os Maias', de Eça de Queirós, que chegou ao ponto de escrever o nome do pai de Afonso como 'Queitano').
     Não obstante a tentativa (criativa, mas fracassada) demonstrada na foto, é preciso ainda adicionar outra problemática: a da interferência de alguma variação linguística no registo feito. O português de sonoridade vocálica aberta está mais para variedades não europeias da língua (como a do Brasil ou de África) do que para o que é dado a ouvir em Portugal. Aquele "Ha luga-se", inexistente na escrita, é uma aproximação ao que se ouve algum falante africano (ou mesmo falante nativo de uma língua estrangeira) produzir. 
    Resta juntar, a este dado, outros ingredientes como um défice de escolarização; uma inconsciência fonético-fonológica, lexical e ortográfica. Alguma história da língua também ajudava à correção pretendida, mas isso significaria ativar competências que, por mais importantes que também sejam para a justificação da escrita comum e socialmente reconhecida na correção, corresponderiam a um grau de desenvolvimento maior.

     ... e acabo a reconhecer a grande vontade / necessidade de comunicar com muita inconsciência à mistura.

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