sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Unido(s) por Mary... all together now!

     Com algum Carnaval, mas para uma causa grande.

    Entre as várias iniciativas que estão a ser levadas a cabo no âmbito de "Unidos por Mary", a Escola Secundária de Gondomar dinamizou um jantar dedicado à "Loucura dos Anos 80".  Os anos oitenta já lá foram e os oitenta anos estão a aproximar-se... Restou a loucura!


    Com uma adesão significativa, muitos foram os que deram mais um passo pela causa (professores, assistentes operacionais e pessoal administrativo). Partilhar animação, alegria, risos e união é a melhor resposta a dar. E em espírito saudável e divertido é possível trazer algum raio de sol à noite que nos uniu.
     Cumpriu-se uma onda no mar.

     É preciso acreditar e há quem mereça tanta crença. All together now!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Só dramático!

      Entre o dramático e o trágico, fico-me pelo primeiro (atendendo mais à forma do que à essência)

       Vem esta opção pela questão que me foi lançada.
Fotograma de Quem és tu? (2001), de João Botelho
    Q: Colega, estou a lecionar 'Frei Luís de Sousa' (Garrett) e no início do ato II deparei com uma fala de Telmo a referir-se a Manuel de Sousa Coutinho nos seguintes termos: "A minha vida, que ele queira, é sua." Como classificaria este 'que'? Obrigado.

      R: Caro colega, temo não lhe poder dar uma resposta fechada, única à questão. Trata-se de um caso muito curioso de utilização de 'que', por certo, atendendo a diferentes focos ou níveis de análise.
       Numa primeira abordagem e segundo a perspetiva das Classes de Palavras, nada me impediria de considerar que há aqui um caso de pronome relativo, pela funcionalidade de retoma (anafórica) de 'a minha vida' (A minha vida, [ele queira a minha vida], é sua) na subordinada encaixada entre vírgulas.
    Não deixam ainda assim de concorrer, para essa construção parentética ou de comentário, valores discursivo-pragmáticos capazes de fazer ver lógicas condicionais ou mesmo temporais numa construção articulada / conectada por esse mesmo 'que'. Bastará para tanto pensar na permutabilidade deste termo por "caso" (A minha vida, caso ele queira, é sua) ou pela expressão "assim que / mal" (A minha vida, assim que / mal ele queira, é sua).
   Nesta linha de raciocínio, diria que, tanto pelo género textual como pela complexidade do mecanismo em análise, há sinais de um drama que não resultará em tragédia por - como diria Manuel de Sousa Coutinho - saber que o meu erro (se erro for) não foi crime. O pronome relativo tem a funcionalidade de conectivo que, à semelhança de outros articuladores, ganha matizes distintos segundo o discurso e a contextualização da sua realização; os outros conectores apontados têm a virtualidade de ser ativados no âmbito do plano significativo do texto / discurso considerado, numa lógica ajustada à intencionalidade de quem fala.

    Há conflitos, dilemas, ambivalências que não deixam ao homem senão a condição de ser linguisticamente romântico. Interessará sempre é que o Homem se coloque ao serviço do raciocínio e da explicitação deste nas classificações que faz.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Castelos de areia...

      Circula no Facebook um cartaz com o melhor dos objetivos, ...

      É o que se pode dizer de quem deseje promover a escrita e a leitura.
      Custava evitar o erro da vírgula? 

Cartaz de divulgação de atividades de alfabetização

     Quem convida à escrita esqueceu-se de o fazer da melhor forma: não se pode separar o sujeito ("Quem escreve" / "Quem lê") do predicado ("constrói um castelo" / "passa a habitá-lo") por uma só vírgula. Bem digo isto aos alunos! Fico com mais um exemplo (mau) para ilustrar o caso (a não repetir).
      De novo, no melhor pano cai a nódoa!
      Com uma imagem tão encantatória, aposto que a torre de livros vai ter o mesmo fim da torre de Babel.
      (Com Photoshop ou Paint, ainda se vai a tempo de eliminar os excessos).

     ... mas há castelos que parecem ser de areia, sujeitos ao pior dos ventos.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Festa!!!!!

      Hoje foi dia de aniversário e da centésima lição. Dois coelhos (metafóricos) para uma cajadada (nova metáfora) só!

       Vai um professor pelo corredor fora, a preparar-se psicologicamente para nova aula, e, ao abrir a porta da sala de aula, é impedido de entrar.
      Tudo foi preparado para celebrar dois momentos felizes, mais um: o de não haver a típica aula. Três em um!
    Entre balões, fitas de carnaval, bolo e sumo, registou-se, mesmo assim, o sumário: "Celebração da centésima lição. Convívio e animação". Sopradas as velas - umas para o aniversariante, outras para a centena de aulas -, foi tempo de cortar o bolo e de o comer. Era delicioso; a companhia, também.
     Alguma música, q.b. Ainda se falou de "trance", mas os vizinhos (mais uma metáfora) não podiam ser incomodados com decibéis fora de comum (não fossem entrar em hipnose). Logo, ficou-se por versões bem mais "light".
      Para memória do evento, registou-se no quadro o seguinte apontamento, entre várias outras anotações:


      Não escreveria melhor.
      A vida é séria, o trabalho também e uma festinha às vezes sabe muito bem.
  O bolo merecia fotografia; porém, como faltava a vírgula do vocativo (para chamamento do aniversariante), o professor de Português atribuiu má nota à escrita; classificação excelente no sabor!

   Agradecimentos a todos os que tornaram possível o momento de confraternização e que contribuíram, no final, para a limpeza devida.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ah, grande herói!

       À falta de melhor na realidade, valem alguns heróis da banda desenhada.

     O discurso político dos últimos tempos está marcado por raciocínios autistas, jogos de palavras baseados em nuances semânticas ocas e balofas, caras cínicas e mascaradas de um carnaval sem festa.
      Neste estado de coisas, acompanhados de uma resignação incompreensível face à mediocridade dos que nos governam e/ou dos que os acolitam, parece que só vale a pena acreditar nos heróis da banda desenhada (já que os da vida real parecem também ter emigrado).
    Com isto digo que há perguntas que não têm resposta explícita - são as chamadas interrogações retóricas. Outras são feitas para serem respondidas. Outras ainda merecem que se passe das palavras aos atos. 


      É por isto que eu gosto de alguns heróis da BD: têm as ações e as palavras certas destinadas àqueles que, em tempos de miséria, sobrevivem à custa de palmadinhas nas costas e à feira de vaidades que montam à sua volta; de coberturas mediáticas desproporcionadas relativamente ao proveito e interesse informativos de relevo nacional; de discursos jocosos e em tudo menos sérios (porque irrelevantes, despropositados e a tocar a referência pimba que lhes alimenta a falta de sentido) para o bem comum da maioria.

     Fraco o país que se deixa levar pelos construtores da desgraça social, pelos destruidores da maioria de um povo que se arrasta e se alimenta cada vez mais da resignação e da vergonha que a minoria não tem.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Versos para os reversos deste país

     Citar versos, citar pensamentos... em resposta ao discurso político comentado neste dia, depois de uma noite em que as palmas só legitimam o que já ninguém quer.

     Só por retórica ou por cegueira se pode tomar a parte pelo todo (antes fosse o todo pela parte, porque assim o exemplo e o testemunho seriam mais credíveis). Por isso, ouvir dizer "O país está melhor" só pode ser ironia para quem trabalha ou para quem tudo perdeu, nomeadamente a dignidade pessoal na sobrevivência.
    Não pensaria, não diria nem escreveria melhor do que os versos lidos no blogue Mariana, no apontamento que hoje não pude deixar de comentar. 

"O país está melhor"?!

“O país está melhor”?!
Desculpe, sr Passos, mas não vejo nada!
Quando o ouvi, até fiquei atrapalhada,
Ou será que estou a ver pior?

Pus os óculos que preservo
Porque não os quero partir,
E será um dinheirão
Se tiver de os substituir!

“O país está melhor”?!
Sr Passos, então passe, passe aqui quando puder;
Dê no país real uns passeios a pé
Pode trazer a D. Laura, sua mulher

Olhei o meu recibo de ordenado
Que acabei de receber:
Cada vez mais minguado
Até o voltei a ler!

“O país está melhor”?!
Cá pra mim, o sr Passos sonhou!
Diz que há mais emprego?
Foi cantiga que alguém lhe cantou?

O sr Passos é um belo rapaz,
Mas se tivesse de comprar o passe,
Veria se era capaz
De viver em tanto impasse!

A sua voz de barítono
Não queira que passe à história,
Como parte de opereta
Que passa a cantar vitória.

Em muitas pensões não passou
A tesoura de Albuquerque e de Gaspar?
Só se a morte dos pensionistas
Quisessem antecipar!

Sr Passos, passe à ação
Palavras leva-as o vento!
Veja tanto jovem que emigrou
Porque em Portugal não tinha sustento.

O sr Passos não conhece
Porque tudo lhe passa ao lado
Mas há crianças e adolescentes que sofrem
Porque os pais não têm ordenado!

E quando o sr Passos passar
Para outro reino dourado,
Nem sequer se vai lembrar
Que o país ficou “lixado”.

“O país está melhor”?!
O sr Passos tem é sorte
Porque poucos portugueses se passam
E gerindo a crise lá vão.
Muitos estão, sim, senhor,
Os mais ricos e/ou da sua cor.
Mas o sr não está bom!

     Por cá passam discursos, e tudo passa ao sabor dos passos que o "sr Passos" dá (junto com mais alguns, que mais fecham portas, sem que nada fique seguro); noutros pontos da Europa, o conflito com sinais de uma guerra iminente.
    Discursos de surdos, palavras moucas que alguns versos não fazem esquecer. Nos primeiros a retórica balofa da política; nos segundos, a realidade poética vivida e sentida.

     Bem o dizia Natália Correia: "Quando a crise não é geradora de grandes audácias, mais indicado é dar-lhe o nome de agonia". E também há versos que são o reflexo verdadeiro e a imagem certeira desse estado agónico em que a maioria (do povo) sustenta a felicidade de poucos (os políticos e os governantes deste país) que embandeiram em arco um sucesso na condição da miséria.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Mau exemplo no serviço público do 'Bom Português'

      Hoje, o mau exemplo repete-se, para mal de todos os escreventes.

    Na rubrica 'Bom Português' do programa 'Bom dia Portugal' (que já por si era título que devia levar vírgula, a bem do vocativo que o fecha), o locutor começa por indicar que não há dúvidas de que amanhã é sábado (Graças a Deus!). A seguir, lá vem a habitual voz-off abrir o espaço para a questionação dos transeuntes, proferindo o seguinte enunciado: "Com o Acordo Ortográfico, a palavra sábado escreve-se com inicial maiúscula ou minúscula?"
     Sobre a diversidade de respostas dos inquiridos, registo o facto de haver respostas para todos os gostos (nomeadamente, o do senhor que diz estar "habituado ao antigo" que nunca o foi - ou seja, à grafia com maiúscula). Impõe-se, portanto, a indicação da hipótese correta, pela exibição gráfica de uma bolinha verde a marcar a resposta aceitável.


      E, pelo que se dá a ver, até aqui fica tudo bem. Contudo, no melhor pano cai a nódoa!
     Lamentável é mesmo o que se ouve, à medida que é mostrada a imagem acima: "Os nomes dos dias da semana passam a ser escritos com inicial minúscula." Apetece mesmo responder à simpática vozinha e dizer: "Não, menina. Não passa nada. Sempre foi. Nesse aspeto o Acordo Ortográfico não altera coisa nenhuma".
      Oh, santa paciência!

    Neste caso, interessa dizer que o silêncio seria de ouro e que a voz-off caladinha, ao jeito do cinema mudo, fazia melhor figura (isto só para mencionar quem dá a voz ao que lhe fazem chegar erradamente às mãos, ou aos olhos, para ler).

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Publicidade muito fonética

        É o que dá estarmos na época das constipações e das gripes

    Os cartazes de publicidade espalhados pela cidade lembram-nos o mal-estar que elas nos provocam. 
     A grafia proposta no que se lê à esquerda assim o sugere, para o que seria a realização oral do enunciado.
  Comprometida a cavidade nasal, fica a sonoridade dos sons oclusivos sem o traço da nasalidade - ou, melhor dizendo, fica o [b], [d], [g] sem a nasalidade que os transformaria em [m], [n], [ƞ].
    Fica ainda a oclusiva [t] do 'entupido' alterada para a respetiva sonora ([d]) - se tal não acontecesse, seria surdez a mais numa só palavra (com o [t] e o [p] tão próximos). A dissimilação convém para equilibrar a alternância sequencial sonoro-surdo-sonoro.
     A confusão nos sons oclusivos está instalada, portanto. Nada que um spray nasal não pareça resolver, a julgar pelo que é anunciado.
    Uma outra versão deste propósito publicitário pode encontrar-se no cartaz da direita, num contexto mais relacionado com a festividade do Dia dos Namorados (ou dos 'naborados'). É certo que, à data, este já lá vai, mas nada como cuidar do sentimento que os românicos designam como 'amor'. É que obstruído o canal nasal, transforma-se aquele em 'abor', para portugueses ou espanhóis; 'abour' para os gauleses; 'abore', para os italianos.
      
      Estivesse eu a precisar de Nasex e teria de escrever, à maneira de falante constipado, "Ai, beu Deus! Dão dá bais. Vou ali sdifar e vego já!". 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Precisa-se de explicações a Português

      A mais mediática fonte de erros do Português, na sua produção oral.

      Falasse o homem como ganha a treinar futebol, e seria um bom exemplo da retórica e da oratória. Ganhasse o treinador conforme fala, e a pobreza seria extrema.
      Só a título de exemplo, nada como ler o que terá sido dito pela figura - pérola atrás de pérola, cada qual a mais brilhante:

Uma citação escusada - Ai, Jesus!

      É só somar pontos: a péssima combinação do 'a gente' com a primeira pessoa do plural (quando deveria ser a terceira do singular) e a consequente desconexão ou discordância do singular e do plural; a utilização do presente do conjuntivo (estejamos) numa sequencialidade e temporalidade mais associada ao futuro do conjuntivo (estivermos), este último combinado com lógicas de proporcionalidade. (E não falo do 'tamos', porque quero crer que seja mera gralha gráfica de quem registou a citação, pensando que escrevia 'temos').
     Perante alguns casos críticos da oralidade da nossa língua, caso para dizer (metaforicamente) que assim não se marca golos. Só pontapés na gramática.

      A par disto só a máxima proferida numa das suas conferências de imprensa desta semana: "Os titulares é todo o plantel". Do melhor! (Ou, como dizem os nossos jovens, "Ai JASUS!").

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Dúvidas de uma sintaxe complexa na subordinação (acumulada)

     De novo, a sintaxe com alguma elipse pelo meio.
     
     A consulta, desta feita, é motivada por uma questão orientada para a formulação / construção de um teste.

     Q: Olá, Vítor.
       Em “Insistindo numa ideia que, por tão óbvia, fica muitas vezes secundarizada no argumentário da política cultural” (linhas 7 e 8), a expressão sublinhada desempenha a função sintática de
       (A) modificador restritivo do nome
       (B) complemento direto
       (C) complemento indireto
       (D) modificador apositivo do nome
       concordas que a resposta correta seja a D? Não apresenta a causa? Não é modificador do grupo verbal?

       R: Olá.
       Discordo completamente da resposta proposta. Na verdade, não há sequer um cenário correto entre os quatro apresentados nas alíneas.
    A sequência dada é uma oração subordinada gerundiva, para uma subordinante que não está apresentada. Nessa subordinada, por sua vez, há um encaixe (assinalado pelas duas vírgulas utilizadas) com uma construção adverbial equivalente a 'por ser tão óbvia'. Portanto, 'por tão óbvia' é uma realização elíptica de um segmento frásico / oracional maior, o qual surge economicamente configurado sob a forma de um modificador do grupo verbal (ou de predicado), com o sentido próprio de uma subordinada adverbial causal.

     Sublinho, por fim, que o modificador em causa situa-se a um nível de análise dependente, interno (não o principal ou subordinante) a uma subordinada cuja oração matriz não se encontra citada.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Do filme ao livro - à procura de um tesouro

     Há cerca de dois anos foi-me dado a conhecer o trabalho de uma aluna de 8º ano - um tesouro.

    A propósito do lançamento do livro O Tesouro, a autora Maria Clara Miguel foi recebida na Escola Secundária Garcia da Orta (Porto) e brindada com o seguinte trailer:


     A aluna responsável pelo trabalho (Sofia Cunha) divulgava assim, com primor, a aventura que Joana, Pedro e Afonso viviam nas cerca de cem páginas feitas de enigmas, mistério e ação. Conta a autora que, depois da apresentação feita, deu os parabéns à jovem aluna e lhe formulou agradecidamente todo o apreço sentido: ficava à espera do filme. Não é nada difícil perceber-se estas palavras.
     Na contracapa da obra, lê-se:

     "Algures no Norte do país, 
num solar, há uma estante proibida muito bem guardada. Numa manhã de agosto, desaparece um livro que esconde uma mensagem e dá-se, assim, início a uma caça ao tesouro! Conseguirão Joana, Pedro e Afonso 'ser inteligentes e acreditar', descobrindo, desse modo, o mistério?"


     No encalço de pistas muito enigmáticas, no (re)encontro com referências de muitos outros livros e textos da memória coletiva de muitos leitores, na crença de que se está prestes a chegar ao desenlace e à revelação, há um tesouro no final da narrativa. 
       O título não engana nem desilude ninguém. O livro recomenda-se.

      E mais não digo, porque há por aí uns jovens a ler / ouvir a história. No final, ficarão por certo mais ricos. Eu fiquei (apesar de não ser tão jovem quanto eles), tanto pelo que li como pela edição original que (junto com mais alguns poucos amigos) recebi.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

No dia seguinte...

    Na sequência da festividade, a criação...

    Inspirado no mito que alimenta a vida, Eros ressurgiu.

Montagem de versos à margem da pintura de Edvard Munch: "Cupido e Psiquê" (1907)

    Porque não há dia nem precisa de haver festa - só quem ame e seja amado.
    Verso e poesia.

  Seja Eros seja Cupido, há setas que atingem os frecheiros (independentemente dos nomes e dos 'desastres de amor' que possam causar), quais feitiços que se viram para os feiticeiros. E assim nascem alguns versos.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Quando nem Cupido escapou...

      O dia até pode ser de São Valentim, mas Cupido não deixa de lançar as suas setas.

    Seja pelo bispo de Roma decapitado (por celebrar casamentos à rebelia das decisões do imperador Cláudio II, que os proibira, na crença de que muitos jovens se alistariam num forte e poderoso exército) seja pelo deus archeiro, a nota do amor compõe-se de milagres e romances que o dia de hoje celebra.
      No seio da festividade, o lugar da música impõe-se com o romantismo típico de melodias combinadas com letras de apelo ao sentimento. É o caso de "All of me", de John Legend, na versão combinada com o violino de Lindsey Stirling.


               ALL OF ME

What would I do without your smart mouth
Drawing me in, and you kicking me out
Got my head spinning, no kidding, I can’t pin you down
What’s going on in that beautiful mind
I’m on your magical mystery ride
And I’m so dizzy, don’t know what hit me, but I’ll be alright

My head’s underwater
But I’m breathing fine
You’re crazy and I’m out of my mind

‘Cause all of me
Loves all of you
Love your curves and all your edges
All your perfect imperfections
Give your all to me
I’ll give my all to you
You’re my end and my beginning
Even when I lose I’m winning
‘Cause I give you all, all of me
And you give me all, all of you

How many times do I have to tell you
Even when you’re crying you’re beautiful too
The world is beating you down, I’m around through every move
You’re my downfall, you’re my muse
My worst distraction, my rhythm and blues
I can’t stop singing, it’s ringing, I my head for you

Cards on the table, we’re both showing hearts
Risking it all, though it’s hard

      À distância de um som e de uma voz, fica o par do "Give your all to me / I'll give my all to you" como expressão de uma relação feita de totalidade.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Maria e Madalena (ou a revisitação de... um pecado?)

      A vez do feminino, no lugar que foi do masculino.

      Almeida Garrett focalizou a personagem masculina de Manuel de Sousa Coutinho, tornado Frei Luís de Sousa, nessa espécie de anti-herói romântico que, tendo desafiado o destino (ao incendiar o seu próprio palácio), sofreu as consequências de um ato patriota (é certo), mas instigador e questionador do que era a ordem estabelecida.

Montagem com fotos de João Tuna, a propósito da representação 'Madalena' (do Grupo Ensemble)

     A proposta de encenação do texto dramático Frei Luís de Sousa, levada a cabo por Jorge Pinto, incide num título focado na figura feminina: Madalena. A interpretação de Emília Silvestre para esta personagem romântica aposta na dimensão psicológica de uma mulher em constante conflito consigo mesma, atormentada pelas memórias do passado; pela presença num casamento perturbado pela existência de um outro (anterior) sem provas reais de que este tivera um fim; por um tempo de nascida felicidade incompleta, adoentada e sem condições de vingar.
     D. João de Portugal - dado como morto em terras de África (desaparecido na batalha de Alcácer Quibir) - é o espectro dos medos de D. Madalena de Vilhena, dominada por pesadelos e premonições matizados por um sentido de culpa impeditivo da vivência presente ou da perspetiva de futuro; é a fantasmagórica concretização de uma ameaça persistente e do dedo inquisidor do aio Telmo Pais; é o "Ninguém" fatal que destrói qualquer possibilidade de felicidade no casamento de Manuel de Sousa Coutinho; é o romeiro portador da trágica consciência de uma relação bígama e de um sentimento adúltero já e só vivido em pensamento.
    Com Madalena morta para o mundo social, com Frei Luís de Sousa regressado ao mundo espiritual, com Maria fisicamente debilitada pela tuberculose e moribunda, o final trágico de toda uma família impõe-se, simbolicamente conotada com a expressão dos perigos de uma pátria revista em situação crítica.

Cenário no claustro do Mosteiro de São Bento da Vitória - Foto (VO)

      A peça do grupo Ensemble, estreada em 2013, foi (re)posta em cena no Mosteiro de São Bento da Vitória, buscando a identificação do texto romântico com um público contemporâneo mais jovem e sugerindo uma atmosfera de terror, "hard rock" e "gore" ("death metal"), capaz de “excitar fortemente o terror e a piedade ao cadáver das nossas plateias” (segundo as próprias palavras de Garrett, na 'Memória ao Conservatório Real'). 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Oxalá (que)...

     Com ou sem parêntesis, tanto faz.

    A questão surge a propósito de uma interjeição contemplada nas provas intermédias de Português (9º ano), cujo enunciado prevê uma instrução de reconstrução frásica com esse termo.

     Q: Uma dúvida que surgiu na sequência do teste intermédio de português de 9º ano: está correto dizer "oxalá que faça..."? Ou deve dizer-se "oxalá faça"?

      R: A julgar por uma base de dados da Agência Lusa e do jornal Público, há bastantes ocorrências de 'oxalá que' no registo escrito jornalístico corrente contemporâneo. 
       Eis alguns casos: 

a) "Oxalá que nas nossas próximas criações a coisa ainda seja mais modelada,..." ("Peixe cru também é isto" - Gonçalo Frota, 27/09/13);
b) "Talvez o próprio ElBaradei sofra de um escrúpulo parecido: ainda bem. Mas oxalá que não." ("A Aristocracia" - Miguel Esteves Cardoso, 17/07/13);
c) "... Oxalá que este exame não seja usado contra vós: ..." ("Pedido de desculpas aos alunos do 4º ano" - David Rodrigues, 10/05/13);
d) ""Oxalá que já tenhamos batido no fundo, mas aindaestamos no fundo, ou perto" ("Crescimento da economia é de ' curtíssimo prazo'..." - Lusa, 13/08/09).

        A par destes, não deixam de estar atestados casos de labor literário, como se pode ler em:

a) "Oxalá que esse mesmo trabalho, ainda que de pouca valia, não fique esmagado e sumido debaixo do Leviatã da política." (Alexandre Herculano in Harpa do Crente);
b) "oxalá que os meus tristes sonhos sejam desmentidos pelo esforço dos guerreiros godos; oxalá que não esteja para bater a derradeira hora do domínio da Cruz nesta terra do Ocidente legada pelo sangue de tantos mártires!" (Alexandre Herculano in Eurico, o Presbítero);
c) "Fique com Deus, minha senhora, e oxalá que seja feliz. Saiu Teresa, e Joaquina entrou na grade" (Camilo Castelo-Branco in Amor de Perdição); 
d) "oxalá que meus filhos, recebendo o sinistro legado, não desfaleçam como covardes." (Júlio Dinis in Os Fidalgos da Casa Mourisca')
e) "Adoeceu uma pessoa da família do tesoureiro, e este teve de retirar-se para o interior, donde oxalá que volte,..." (Machado de Assis in Balas de Estalo).

      Face aos dados expostos, e entendendo-se (ou não) o 'que' como expletivo, julgo haver ocorrências e registos significativos para se admitir a realização 'Oxalá que...' como correta, ao nível das realizações que os alunos possam apresentar numa prova de avaliação. 

      Ainda que não seja a minha realização natural, registo: oxalá (que) os resultados sejam satisfatórios, no final!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Da morte (demorada) do Conde de Andeiro

      Hoje a tarde foi muito participada na morte do Conde de Andeiro.

      A dificuldade na leitura da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, foi o motivo para um encontro com alunas de Literatura Portuguesa. Objetivo: ler em conjunto alguns excertos da obra, para se poder entender o que é assumido pelos estudantes como de difícil compreensão.
     É um facto que a leitura da prosa medieval lopiana está a revelar-se difícil, seja pelo reconhecimento de um léxico, uma sintaxe e uma ortografia bem distintos do português atual seja pelo afastamento face a lógicas de ação (das personagens) e a uma cosmovisão que praticamente nada dizem aos jovens de hoje. Também as referências históricas são reduzidas, o que nem sempre ajuda a contextualizar dados e modos de vida / pensar já muito distantes. Tudo conjugado dá a sensação de um muro impenetrável que a voz docente pode ajudar a descodificar, no ritmo que impregna na leitura oralizada do próprio texto quatrocentista.

Ilustração de Martins Barata na obra Grandes Reportagens de outros Tempos 
(reconstituídas por Amador Patrício), editado por Empreza Nacional de Publicidade, 1937

      Entre o trabalho sério e a tentativa de traduzir, por palavras contemporâneas, o que ia sendo lido, houve ainda tempo para algum riso - particularmente o motivado por alguém que, a todo o momento, estava à espera que o conde Joam Fernandez (de Ourém) morresse de vez ("É agora? Já está morto?"). Entre o anúncio e a morte efetiva, foram muitas indecisões, muitos estratagemas, muitas palavras e uma tarde com muita conspiração, para lutar contra um estádio linguístico que vai tornando obscura a mensagem.

     Morto o Conde, é a vez de ver o alvoroço que foi em Lisboa, em favor do Mestre de Avis. Vejamos se, agora, a ascensão de Dom João I se faz com a autonomia dos leitores deste século. Quanto à legitimidade do rei, o cronista quinhentista já tratou disso, há uns séculos.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O leilão (de um) surrealista que não chegou a ser

    Nem na arte há escapatória possível. Isto porque há uns "artistas" na praça muito pouco credíveis.

     Tudo a propósito de uns quadros do espanhol Joan Miró (mais precisamente oitenta e cinco), os quais estavam para ser leiloados pela Christie's, assim que o Banco Português de Negócios (BPN) os decidiu colocar à venda. Afinal, já não o vão ser, pelo menos para já, a julgar pelas palavras do primeiro-ministro (mesmo que destas pouco haja a considerar, no parco valor que vão tendo no curso dos tempos) e por uma providência cautelar do Ministério Público.
     O jogo político-económico está ao rubro, os interesses nacionais estão em discussão (entre os lucros que a venda possa vir representar e a posse de uma vasta obra, de expressão artística significativa).    

Mulher e Pássaro à Luz da Lua (1949), na Tate Modern de Londres (óleo sobre tela)

        A obra do barcelonês (1893-1983), que proclamou "o assassínio da pintura" enquanto lema da sua actividade, é apontada como um exemplo do movimento modernista surrealista

       De Miró, muitos dizem que as obras resultam da fome sentida quando o artista produzia ao final da tarde. Dos outros "artistas", antes sentissem a fome da credibilidade e da boa governação, para que alimentassem um pouco mais o espírito (próprio) e a cultura (de todos).

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Ganhar a vida

      Apontamento para Chaplin e o seu primeiro filme, estreado há um século - Making a Living.

      Dizia o ator e produtor britânico que a vida é uma peça de teatro sem ensaios. Não o creio, pelo tanto que nela erramos e procuramos reformular, corrigir. Autênticos ensaios nas tentativa-erro que nos fazem aprender. E ainda bem! O certo é que, como no teatro, a vida faz-nos representar vários papéis, em condições e instantes irrepetíveis. Daí a constante referência ao palco ou teatro da vida; ao drama que a vida propõe aos olhos de quem o vê ou lê.
      Não é de teatro, mas de cinema que hoje se fala.


    Charlie Chaplin começou no primeiro; acabou no segundo, projetando-se com essa figura de um Charlot aparecido há um século, ainda num ensaio do que viria a ser o pobre vagabundo ("little tramp") com um estrondoso sucesso na América. No papel de um jornalista, a personagem participa numa curta-metragem produzida por Mack Sennett, assumindo-se como um oportunista, um desempregado que se aproveita da máquina fotográfica de um rival (repórter) e da filmagem feita ao despenhamento de um automóvel.

Making a living (1914, 2 de fevereiro): o primeiro filme de Charlie Chaplin

       O exemplo de um "Chico esperto" que se aproveita do trabalho dos outros como seu e acaba, em conflito, com o rival, numa cidade que os atropela com os sinais de modernidade.
      Alegorias do desenvolvimento da sociedade e do empobrecimento do carácter e da dignidade humanos. Há um século (se não for mais) assim.

     Assim se faz a personagem à vida, na descoberta de um percurso que provocou o riso a muitos espectadores, ou, no mínimo, um sorriso.