quarta-feira, 31 de outubro de 2018

TREAT!

     Mediante a disjunção, só tenho uma opção.

    A máxima do "Trick or treat!" (traduzida como "Doçuras ou travessuras") deixa-me, por vezes, confuso e indeciso na escolha, seja porque gosto de doces seja porque uma travessura também sabe bem.
    Em dia de Halloween, cruzo-me com a imagem de uma abóbora (que não é menina):

Uma "pumpkin"..., ou melhor, "trumpkin

      E na ordem da nova máxima, só me resta uma escolha:
    

    Não há "trumpalhada" que resulte doce. É azeda, amarga, áspera. Nem com o espírito do Halloween é suportável. É bruxedo a mais! Não há "treat"! Contudo, se o que resta é "trump",...

     ... venha o "treat", apesar de apetecer ser travesso ("tricky"). Porque "Trump" não é alternativa para coisa nenhuma.

domingo, 28 de outubro de 2018

Anedota com muita linguística

      Entre a flexão, o traço semântico e os subentendidos pragmáticos.

      Assim que ouvi a anedota, pensei que a linguística explica tudo neste diálogo que parece existir entre um(a) professor(a) e um aluno chamado Manuel (mas que poderia também ter outro nome qualquer, nomeadamente o espertalhão do Zezinho):

      - Manuel , diga o presente do indicativo do verbo caminhar.
      - Eu caminho... tu caminhas... ele caminha...
      - Mais depressa!
      - Nós corremos, vós correis, eles correm!

      A flexão verbal em tempo, modo, pessoa e número é um dos dados de análise regular em termos morfológicos. Quanto aos traços sémicos [+rápido] e [+movimento] conjugados, dão por certo para reformular a palavra de partida e chegar a um outro verbo.
  Quanto à pragmática, ainda ali pela interpretação coerente e motivada pelo(s) subentendido(s) implicado(s) no "Mais depressa!". E caminhar mais depressa pode ser perfeitamente correr.
   
       Aluno inteligente!

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Porque sou Haddad

       Tudo por causa de princípios.

   Sou Haddad, porque não posso ser a favor de quem pense com base no preconceito, na desconsideração das minorias ou na diferenciação assumidamente sexista, religiosa, rácica, xenófoba, quanto mais quando alguém os explicita e defende publicamente.
    Sou Haddad, porque não é pela falta de referências e pela descrença na ação dissimulada e hipócrita de alguns políticos que se pode legitimar tudo, mesmo os que, tendo palavras bem distintas da política perversa que nos tem dominado, caem no erro do fundamentalismo, do extremismo, da marginalização, da repressão e de um 'one best way' (que não é para todos, garantidamente) para se responder ou sair de algumas adversidades.
    Sou Haddad, porque a corrupção reinante (de hoje e de tempos remotos) não pode destituir ou corromper o pensamento da busca de um ideal, de uma utopia ou de princípios mais humanistas, inclusivos, tolerantes, respeitadores da dignidade de todo e qualquer ser humano que pretende ser feliz e atingir o bem comum. Lutar contra a degração moral e social não pode ser sinónimo de agrilhoar a felicidade e a liberdade humanas.
    Sou Haddad, porque nenhum(a) país, sociedade, partido ou grupo pode ser avaliado(a) na base da generalização de que algumas das suas negações são espelho de que tudo falha ou de que tudo obrigatoriamente faz parte de uma só farinha no mesmo saco.
    Sou Haddad, porque, apesar de não ser brasileiro, sou falante de uma língua que já teve outros que declaradamente a usaram para deixar passar mensagens de intolerância, hipocrisia, desrespeito, prepotência, cegueira, promovendo mais desvalidos e revoltados do que protegidos e estimados no que, pela sua singularidade, de bom e de bem podem dar à sociedade.
    Sou Haddad, porque esta pode ser a alternativa a tudo o que de mais consabido há nas posições e nos discursos assumidos por quem com ele diretamente concorre.
    Sou Haddad, porque a História me ensinou que os democraticamente eleitos em situações críticas e com discursos marcados pela defesa nacionalista e pela afirmação de superioridade de alguns relativamente a outros acabam por sustentar e utilizar o poder em favor próprio, com tiranias e sinais de despotismo, típicos de regimes ditatoriais que só guerras, revoluções, resistências, vítimas, mártires e mortes permitiram a muito custo ultrapassar.   
     Apartado pelo azul de um oceano que brilha sob as estrelas, revejo-me na terra desse verde (da esperança) e amarelo (de acautelado otimismo); da Ordem e do Progresso, a firmar-se para lá da bandeira; do grito do Ipiranga, que reconfigura 'Independência ou Morte' em 'Liberdade democrática ou Jugo autoritário'.

      Quanto aos fins, que sejam os da crença na humanidade e na escolha sensata que se impõe, por mais inspiradas que sejam numa fé que as transcende.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Função sintática de uma oração

     Hoje a questão é sobre sintaxe, no âmbito das funções sintáticas.

    Chegada a pergunta (como "dúvida não existencial"), a resposta impõe-se, sem qualquer incómodo.
     
    Q: Na frase “A lei que regulava as liberdades e restrições desse povo revelava-se inútil enquanto não fosse evitada a intervenção civil na sua cristianização”, qual a função sintática da oração que vem na sequência de um predicativo do sujeito… modificador do GV ou segundo predicativo do sujeito? Obrigada.
Entrada do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa Online (adaptado)

    R: A sequência sublinhada configura a menção a uma lógica de temporalidade condicionada (o intervalo de tempo coincidente com a inutilidade revelada pela lei), segundo um processo sintático de subordinação (adverbial temporal). Neste sentido, essa sequência não é, seguramente, um segundo predicativo do sujeito. Se 'inútil' é uma propriedade ou característica do sujeito ('A lei que regulava as liberdades e restrições desse povo'), o mesmo não sucede com o sublinhado. Trata-se de um modificador do grupo verbal (ou do predicado), dada a informação lida de temporalidade.

      A questão é sobre funções; o exemplo é característico de um processo de composição frásica (subordinação adverbial) - em suma, sintaxe no seu melhor.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

É de rir... para não chorar.

      Consultado sobre o processo de formação de uma palavra, diria que nem ao diabo lembra.

        A palavra é "velhaco". E o processo de formação?
        A semântica e o léxico responderiam logo que "velhaco" nada tem a ver com velho.
       A morfologia, mesmo admitindo a inusitada hipótese de ter 'velh+aco', não veria, por certo, 'aco' como sufixo para, com regularidade, formar novas palavras. Não havendo tal sistematicidade sufixal (pouco mais além se vai de 'austríaco', 'dionísiaco', 'demoníaco' ou 'maníaco') nem se estabelecendo qualquer relação com 'velho', logo haveria razões para suspeitar da formação por derivação. 
      A consulta de alguns dicionários com informação etimológica faria o resto: 'velhaco' vem do castelhano / espanhol 'bellaco'. Trata-se, portanto, de um empréstimo, aportuguesado, mas não formado no português; constitui-se como palavra-base ou derivante para as derivadas 'velhacaria', 'velhacagem', 'velhacaz' ou 'velhacão', entre outras.

Entrada de dicionário: Priberam Dicionário Online
(cf. https://dicionario.priberam.org/velhaco)

     Pede um dos manuais do ensino básico (8º ano de escolaridade), dos mais adotados da nossa praça editorial (com todos os requisitos de revisão, consultoria científica e qualidade atestada por sabe-se lá quem), que se veja em 'velhaco' uma palavra derivada por sufixação. 

      Coitadas das crianças! Perdoai, pois há quem não saiba o que anda a fazer.

sábado, 20 de outubro de 2018

Trocas e baldrocas

      Mais trocas... sem que deixem de ser baldrocas.

     É engano e chega a ser fraude publicitária. 
    Trocar a ordem das letras / sons numa sílaba é um dado comum para quem ainda está a aprender as regras da escrita; talvez até para quem tenha ou revele problemas de processamento da escrita ou de reconhecimento de sons, com a sílaba PRE / PER a ser dos casos mais frequentes na confusão. Contudo, o mesmo não se pode dizer para quem tem a responsabilidade de divulgar produtos e jogar com a linguagem / a língua, com efeitos persuasivos (nomeadamente, os de levar à compra de algo).

Anúncio publicitário FNAC no seu pior!

     Tivesse eu a intenção de adquirir uma máquina fotográfica e teria logo desistido da ideia, perante o que um certo espaço comercial me deu a ler. Numa só linha, dois erros - troca de sílabas numa palavra; falta de acento gráfico noutra. Teria razão para pedir o livro de reclamações ou exigir um bom desconto. Reclamação oral garantida. Não haver uma pessoa, desde o chefe ao empregado, que seja capaz de verificar os erros, no mínimo, é vergonhoso / fraudulento.

     A PERSpetiva precisa de ser corrigida. Porque não há erro que constitua um bom negócio nem foto que resulte com a PERSpetiva errada. Triste de quem não evita baldrocas e as dá a ler ao público em geral. Não é caso único, mas situação garantidamente a evitar, para a boa imagem da empresa em questão. Pode lá haver partilha possível!

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Antes de a noite chegar...

      Quando, ao final do dia, se consegue o que a manhã e a tarde não deram.

      Em espaço aberto, ao ar livre, os passos levam-me a destino incerto. Simplesmente vou.
    Interessa caminhar, libertar-me, dar tempo àquilo de que gosto e não do que outros precisam. Deixo o sul, rumo ao norte, olho para este. Há um ponto de luz a dar cor ao céu e ao horizonte brumoso. Do mar, vem a ressalga das pulsantes ondas rumorosas, a atropelar e cobrir os rochedos, quase esquecendo que, depois destes, a areia espera o que delas ainda resta. 
     Inalo a frescura nebulizada dos sais marinhos e, por momentos, esqueço a prisão e o vai-e-vem das muitas horas já passadas. O instante faz-se do que devia ser mais lasso no tempo, duradouro pelo bem que faz.
      Não sei se por ânsia de agarrar o breve momento tomado ao tempo, se por desejo de o tornar mais meu e perene, registei-o em foto, antes que se apagasse da memória, entre o cansativo muito que está para vir e o apaziguador pouco que vai faltar.

 Um instante marinho em tempo de outono (Foto VO)

      Quis granjear o prazer do descanso merecido e fixei o que, em breve, deixaria de ser nota de luz e cor.

        Num pôr do sol de céu, entre o nacarado e o alaranjado, sobre oceâneo e ondulado leito, num átimo, fiz parar o tempo, para o re(vi)ver sempre que dele precisar. É outubro e o tempo aperta. 

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Entre a excelência e os superlativos...

    ... é difícil a concentração de tanto erro!

    Quando o discurso ou a retórica da excelência e do sucesso me são dados a ouvir ou a ler, espero sempre pela coerência dos atos ou das palavras. Nada como ir das palavras aos atos. Pena é quando tal não acontece. Gosto pouco de palavras vazias, sem sentido ou que não refletem a mensagem pretendida. É disso exemplo o anúncio seguinte:

Publicidade enganosa no que dá a ler (Foto VO)

     O superlativo não tem o acento gráfico devido (finíssimo); esplêndidos, a ser bem pronunciado, nunca daria lugar no escrito à sílaba 'ex'; a maiúscula de 'bolos' só por destaque ao produto se compreende, ainda que sem razão gramatical; a ausência de vírgula à esquerda do vocativo intercalado resulta em erro grave de pontuação ("Olha, minha amiga, são...").
    E no meio de tudo isto, uma exclamação sem o ponto gráfico do sinal é o absurdo na representação gráfica.

    Conclusão: acho que vou comer um bolo, dulcíssimo ou o mais esplêndido possível, para, meus amigos, esquecer este singularíssimo momento de despautério publicitário (só faltava, para ridículo total, a primeira palavra ter hífen).

domingo, 14 de outubro de 2018

Não há três sem quatro

     A contar pelas versões do filme, já não chega dizer que não há duas sem três.

    2018 é o ano para o 'remake' em terceira versão de "A Star is Born", depois do original datado de 1937. Mais de oito décadas passadas, Janet Gaynor dá lugar a Lady Gaga (depois de Judy Garland e Barbra Streisand). Um tanto de musical com um outro tanto de romantismo são ingredientes para misturar e derivar numa receita a ver na tela.

Trailer Oficial de 'A Star Is Born' (remake de 2018)

     A história consabida do músico, em final de carreira, que estimula e vê ascender artisticamente a mulher amada é o pano de fundo melodramático comum para um enredo quase secular, desta feita composto também pelo protagonismo que a música dá a ouvir na banda sonora. Os planos de 'backstage' de alguns dos concertos ou os preparativos para os shows conjugam-se nesse propósito de representar o percurso regressivo de Jack(son) e a ascensão de Ally (essa 'aliada' que se afirmou e se singularizou como estrela). Se a versão de 1976, com o par Barbra Streisand-Kris Kristofferson, tornou Evergreen melodia oscarizada, o mesmo se prenuncia com muitas das canções agora interpretadas pela dupla Lady Gaga-Bradley Cooper. 
      Talvez o dueto de "Shallow" seja um dos casos a considerar:

Montagem imagem-música (VO) para "Shallow" de 'A Star Is Born' (2008)

      SHALLOW

Tell me something, girl
Are you happy in this modern world?
Or do you need more?
Is there something else you’re searching for?

I’m falling
In all the good times
I find myself longing for change
And in the bad times I fear myself

Tell me something, boy
Aren’t you tired trying to fill that void?
Or do you need more?
Ain’t it hard keeping it so hardcore?

I’m off the deep end, watch as I dive in
I’ll never meet the ground
Crash through the surface
Where they can’t hurt us
We’re far from the shallow now

In the sha-ha- sha-ha-ha -llow,
In the sha-ha- sha-ha-ha- llow,
In the sha-ha- sha-ha-llow,
We’re far from the shallow now


    Também a cantiga final da película - "I'll never love again", numa homenagem a Jack(son) Maine (Bradley Cooper) e na interpretação de Ally Maine (Lady Gaga) - cumpre a marca de um fecho arrasador, para uma narrativa emocionalmente crescente, com a dupla romântica a afirmar-se para lá do que a morte possa impor. Uma breve analepse final traduz essa declaração de amor de Jack, num sentimento que se vê ameaçado pela doença, por um ciúme mitigado de incapacidade e perda progressivas, por jogos de interesse colaterais, por (pres)supostas experiências ou representações que o passado não deixa(ou) apagar.
     A música aproximou Jack de Ally (mesmo quando a necessidade do álcool parecia ser maior); pela música ambos sofreram, vivendo (na composição e na voz) numa entrega que nem sempre se revelou harmoniosa, mas fez vingar o que os uniu. O sonho, tornado real,  revelou-se duro, intenso, sofrido, com a "luz" a incandescer o que de mais doloroso e irónico a vida (também) tem.

      Assim nasce(u) uma estrela, dando brilho também a uma outra que a morte não conseguiu apagar.

sábado, 6 de outubro de 2018

(Mais) Uma voz que fica...

    ... nos registos da memória.

    Anunciada a morte da barcelonesa Montserrat Caballé, aos oitenta e cinco anos, pode dizer-se que esta semana foi trágica para a música internacional
   Acompanhada que foi das grandes vozes do século (como os tenores Luciano Pavarotti, Josep Carreras ou Placido Domingo), esta foi uma das sopranos mais reconhecidas mundialmente. Negado por ela mesma o estatuto de diva da ópera, o canto lírico marcou-a e deu-lhe a projeção que a sua cristalina e pianíssima voz conquistou.
     Manteve-se a humildade e a simplicidade, que não deixaram de a engrandecer, como se dá a ver num pequeno documentário biográfico difundido no país vizinho:

    Breve documentário biográfico (televisão espanhola)

    O dueto com Freddy Mercury, com "Barcelona" (1987), talvez seja dos seus momentos musicais mais significativos para o comum dos apreciadores da primeira de todas as artes; muito espetáculo marcou a sua vida, pelos palcos do mundo, num reconhecimento dessa voz possante equiparada a Maria Callas e a Renata Tebaldi.
    Aos mais de vinte minutos de aplauso que teve no início da carreira, segue-se a gratidão eterna para os que viram em "La Superba" (como também era conhecida) uma digna vocalista, merecedora das imensas honrarias recebidas (desde o Prémio Príncipe das Astúrias, em 1991, à Grã Cruz da Ordem de Mérito da República Italiana, em 2009).

     No descanso merecido, a eternidade do canto para sempre consagrar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Mau começo

     Que se pode dizer, senão isto, quando música rima com morte?

   A notícia da morte de Charles Aznavour chega com o início do mês e da semana - forma desagradável de começar, por certo, quando se fala de quem é uma das lendas vivas da canção francesa.
      Nascido em Paris (a 22 de maio de 1924), aos 94 anos mantinha-se no ativo musical, ainda com espectáculos para o grande público, como o de há cerca de dois anos em Portugal (no Altice Arena). Cantor, compositor, cantautor, ator, ativista e diplomata, foi multifacetado na sua intervenção social e artística, inclusivamente na defesa política dos mais desfavorecidos e desprotegidos (como os seus irmãos, por ascendência, arménios).
      Na minha memória ficam, entre outras, duas melodias na incontestada e reconhecida voz:

Montagem de imagem-som (VO), com 'La Bohème'

      LA BOHÈME

Je vous parle d'un temps
Que les moins de vingt ans
Ne peuvent pas connaître
Montmartre en ce temps-là
Accrochait des lilas
Jusque sous nos fenêtres
Et si l'humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C'est là qu'on s'est connu
Moi qui criait famine
Et toi qui posais nue

La bohème, la bohème
Ça voulait dire
On est heureux
La bohème, la bohème
Nous ne mangions 
qu'un jour sur deux

Dans les cafés voisins
Nous étions quelques-uns
Qui attendions la gloire
Et bien que miséreux
Avec le ventre creux
Nous ne cessions d'y croire
Et quand quelque bistro
Contre un bon repas chaud
Nous prenait une toile
Nous récitions des vers
Groupés autour du poêle
En oubliant l'hiver

La bohème, la bohème
Ça voulait dire
Tu es jolie
La bohème, la bohème
Et nous avions tous du génie

Souvent il m'arrivait
Devant mon chevalet
De passer des nuits blanches
Retouchant le dessin
De la ligne d'un sein
Du galbe d'une hanche
Et ce n'est qu'au matin
Qu'on s'asseyait enfin
Devant un café-crème
Épuisés mais ravis
Fallait-il que l'on s'aime
Et qu'on aime la vie

La bohème, la bohème
Ça voulait dire
On a vingt ans
La bohème, la bohème
Et nous vivions de l'air du temps

Quand au hasard des jours
Je m'en vais faire un tour
À mon ancienne adresse
Je ne reconnais plus
Ni les murs, ni les rues
Qui ont vu ma jeunesse
En haut d'un escalier
Je cherche l'atelier
Dont plus rien ne subsiste
Dans son nouveau décor
Montmartre semble triste
Et les lilas sont morts

La bohème, la bohème
On était jeunes
On était fous
La bohème, la bohème
Ça ne veut plus rien dire du tout


Montagem de imagem e som de Tous les visages de l'amour (ou 'She')

                  SHE

She may be the face I can't forget 
The trace of pleasure or regret 
May be my treasure or the price I have to pay 
She may be the song that summer sings 
Maybe the chill that autumn brings 
Maybe a hundred different things 
Within the measure of a day

She may be the beauty or the beast 
May be the famine or the feast 
May turn each day into a Heaven or a Hell 
She may be the mirror of my dreams 
A smile reflected in a stream 
She may not be what she may seem 
Inside her shell

She, who always seems so happy in a crowd 
Whose eyes can be so private and so proud 
No one's allowed to see them when they cry 
She may be the love that cannot hope to last 
May come to me from shadows in the past 
That I remember 'till the day I die

She maybe the reason I survive 
The why and wherefore I'm alive 
The one I'll care for through the rough in many years
Me, I'll take her laughter and her tears 
And make them all my souvenirs 
And where she goes I've got to be 
The meaning of my life is 
She, she 
Huum, she

     "La Bohème", de 1965, e "Tous les visages de l' amour" (mais conhecida na versão inglesa "She"), de 1974, são sons de marca para o mundo musical e para muitas gerações de apreciadores. Em francês ou inglês... não interessa; na língua universal da música, a beleza sente-se. Se a primeira - com um pintor a relembrar os seus anos de juventude em Montmartre - sugere uma despedida que o tempo acaba por impor, a segunda é uma das maiores e mais eternizadas expressões do amor ao feminino e à vida.

     Partiu Aznavour para a sua última viagem; ficam as letras e melodias que leitores e ouvintes farão reviver neste tempo que sempre passa.