domingo, 31 de janeiro de 2016

Não diria melhor...

     Ao final do primeiro mês do ano,...

    Tem sido tanta a loucura dos últimos dias que parece só haver um conselho a dar - pois não se vislumbra outra saída:


     Se isto é convite que se faça!
    Crescer na loucura vai dar em insanidade completa, não tenho dúvidas. Porém, como o fruto dos tempos tem seguidores que levam tudo para a frente e empurram todos para o ritmo correntoso dos dias, a palavra de ordem é nova: juntam-se partes de 'enlouqueça' com 'cresça', numa assimilação de sons tónicos / sílabas comuns, e assim se chega a uma amálgama - o que sempre dará para exemplificar um processo irregular de formação de palavras.
       Depois venham dizer-me que é preciso tratar da saúde!

   ... e ainda a procissão vai no adro (ainda bem que há algumas estrelas na escuridão do 'enloucrescimento') ou "na praça" (como diria o narrador do Memorial do Convento).
     

sábado, 30 de janeiro de 2016

Homofonias: ou (são) fases ou (não) fazes

     Depois do pensamento sério dos últimos dias, outros tempos e registos se anunciam.

     A homofonia dá para estas coisas.
     E, no jogo das palavras, a imagem seguinte lembra (que):


    Isto de se escrever diferente palavras diferentes a soar da mesma forma pode tornar-se uma situação crítica, desconcertante até. Esperemos que não o seja em demasia!

      De qualquer forma, isto de escrever com 's' ou com 'z' já não é novidade. Quanto a ler, nem tudo resulta em facilidade (tudo depende se a leitura é decifração sonora ou compreensão leitora).

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O luar... da mudança.

      ... para denunciar ou para libertar?

       Pergunta semelhante é colocada na página da companhia de teatro 'Actus': "O luar põe em cena a morte de um homem. Criminoso ou herói?" A resposta encontra-se no texto: tudo depende da perspetiva, claro. Quem está no poder vê crime; quem sofre o abuso desse poder aspira à libertação.
      Assim se deu a ler Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, na representação levada a cabo hoje na Academia de Música de Espinho, pelo grupo 'Actus', numa encenação de Tomé Vieira para o projeto 'Teatro para Escolas'.
       Um palco vazio, cheio de peças de roupa espalhadas pelo chão e correntes suspensas no teto, dava-se a ver ao público que foi enchendo a sala.
      Os (desesperançados) indigentes, os três reis absolutos e despóticos do Rossio, o interesseiro Vicente (a circular, a rodear os espectadores sentados, na sala, como se estivesse a espiar algum sinal a denunciar), as forças da opressão,  a evocação de Gomes Freire de Andrade, a revoltada Matilde de Melo surgem aos sentidos físicos de um público expectante, que assiste a uma encenação ainda (e sempre) com a atualidade típica dos grandes textos, devolvendo ao Homem a pergunta do que ele quer ser no seu tempo. Repete-se a história, com outros contornos, sempre à espera de um grito libertador.

Montagem com fotos da encenação de Felizmente Há Luar!, pelo grupo 'Actus'

        Não posso dizer que tenha sido a melhor das representações (até porque já vi melhor), mas não deixou de ser um momento capaz de desencadear um sincero aplauso e a vontade de cumprir a mudança.

        São tantas as formas de opressão deste tempo democrático que há já quem fale na ditadura da democracia. Entre os resistentes, quem vestirá a saia verde que, na noite dos tempos, o luar iluminará?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Chegado ao centenário.

     Na data de nascimento, para uma vida que deixou qualidade de escrita e pensamento.

    Talvez o de hoje não seja o melhor ou o mais positivo. Ainda assim, é certeiro e muito coincidente com o que vivo nos últimos tempos:


    É difícil não sentir o transcrito, particularmente quando se vê que, nestes tempos, ainda há quem goste de comprar e fazer guerras que não fazem bem a ninguém - não aos próprios e muito menos àqueles com quem mais diretamente vivem e dos quais se esquecem de que, de uma forma ou outra, dependem.
     E perde-se tanto tempo com coisas inúteis, inconsistentes, mascaradas de solução para não se sabe bem o quê (talvez para iludir, fazer de conta, mostrar serviço ou se acreditar que levar ao limite é prova de esforço e qualidade).

      De novo, um escritor a dar a lição que o(s) leitor(es) queira(m) aprender para a vida (para que o desgaste não seja tão desgastante). Há cem anos nasceu quem a pensou.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Enquadrar a questão...

    A dúvida precisa de ser enquadrada.

   Tudo a ver com 'quadro(s)', claro está.

  Q: A propósito do estudo das relações entre palavras, em concreto a homonímia, posso exemplificar com a palavra 'quadro'?

     R: A consulta de um dicionário apresenta uma resposta negativa a esta questão. As várias aceções listadas para o termo dependem de uma só entrada etimológica. A palavra está relacionada com a origem latina 'quadrum', independentemente dos diferentes significados associados.
       Por esta razão, trata-se de um bom exemplo de polissemia e não de homonímia, na medida em que esta última se traduz na convergência gráfica para significados marcadamente distintos, decorrentes de étimos latinos dissemelhantes. Daí os homónimos serem apresentados com entradas diferentes no dicionário, representativas de origens etimológicas distintas.


      Desde a forma de quadrilátero à obra de arte; desde os elementos de uma empresa (quadro de efetivos) ao conjunto de botões que compõe um painel de funcionamento de um sistema (quadro elétrico); desde a visão ou perceção de um grupo ou estado de coisas (quadro dantesco) à subdivisão de um texto dramático (quadro cénico); desde a estrutura de um velocípede (quadro de bicicleta) à exposição gráfica de um conjunto de dados (quadro sinótico); desde o conjunto de sintomas de um paciente (quadro clínico) ao funcionário qualificado (um alto quadro), é o campo semântico da palavra 'quadro' que está em questão, numa conjugação de traços ou zonas de significado aproximado / comum.

      Neste sentido, 'quadro' é uma palavra fortemente polissémica, sustentada num só étimo latino. Deixe-se a homonímia para casos como rio (< 'rivum', curso de água) / rio (< 'rideo', forma verbal de 'rir'); livro (< 'liber', obra publicada) / (< 'libero', forma do verbo 'livrar'); dó (< italiano 'do', nota musical) / dó (< latim 'dolus', para dor, luto), só para mencionar alguns entre muitos pares de palavras com origens bem diferenciadas.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Coisas sérias a brincar

     A começar o ano, uma mensagem televisiva para pequenos e graúdos (ou, respetivamente, mais e menos jovens).

Poster de divulgação do filme Os Croods
    É na base deste pensamento que mais um ciclo de doze meses se abre - um presente virado para futuro, sem esquecer uma nota de passado bem remoto. Vem este último a propósito de um conjunto de personagens de um filme animado: falo de Os Croods - homens das cavernas - que o canal de televisão SIC decidiu apresentar aos espectadores no início de 2016.
    Difundida há cerca de três anos, pela primeira vez, esta comédia cinematográfica chega à televisão com uma família pré-histórica, no momento em que vivencia a destruição do seu habitat. O espaço de proteção face a todos os perigos, identificado com os limites de uma caverna, conjuga-se com a regra do patriarca superprotetor Grug ("Tudo o que é novo é mau"), um contador de histórias voltadas para uma só moralidade: nunca descobrir o que é novo ou diferente. 
     Todavia, a curiosidade da jovem e forte filha Eep fará toda a diferença, inclusivamente quando conhece Guy, um rapaz astuto acompanhado de uma preguiça (mas nada preguiçoso ou acomodado) que lhe dá a conhecer a novidade (o fogo) e lhe diz que o mundo está a acabar.
      Ciente de que, a todo o momento, Eep necessitará de ajuda, Guy dá-lhe o sinal de chamamento (para que a possa ajudar sempre que necessário). Surge, assim, a oportunidade do amanhã, do futuro e a esperança de (re)encontro com a luz (em vez da limitação à destruição e escuridão).

Trailer do filme animado 'Os Croods' (2013)

    Será este adolescente sobrevivente, cheio de novas ideias, que apresentará à família Croods - desde Sandy, a bebé feroz de Grug e Ugga à sempre-viva avó, sogra de Grug - grandes desafios e contínuas adaptações a novos espaços, representados por fantásticos e coloridos cenários naturais. A descoberta de um mundo novo, com criaturas fantásticas, alterará a vida de todos, a vários níveis, nomeadamente nas relações e nos afetos.
     O filme tem uma boa mensagem, um esquema de intriga algo repetitivo (entre a destruição e o avanço para um novo cenário, ou oportunidade de vida) e um pai pré-histórico com um registo de língua muito apurado, correto e silabado para um homem das cavernas. A cor atrai, a fantasia constrói-se e as mudanças associadas ao percurso das personagens são uma possibilidade (sempre) credível para quem quer seguir caminho, andar em frente, independentemente dos males que possam ocorrer.

     Um desenho animado apostado na procura da luz e do amanhã - uma boa mensagem para começar o ano.